Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/03/2009 (Nº 27) Educação Ambiental e Alfabetização Ecológica: passos percorridos, caminhos a desvendar
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Educação ambiental em ação

 

Educação Ambiental e Alfabetização Ecológica: passos percorridos, caminhos a desvendar

 

Clarissa Lobato da Costa, Bióloga e educadora Ambiental

Msc. Sustentabilidade de Ecossistemas – Universidade Federal do Maranhão

Referência Profissional

Técnica do Núcleo de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Educação São Luís – MA/ Professora de Biologia do Ensino Médio. Associada as ONG´s maranhenses: Instituto Maranhense de Meio Ambiente e Recursos Hídricos –IMARH e Associação Maranhense para a Conservação da natureza – AMAVIDA

Endereço: Rua dos Manacás Bloco D apto 101 – Condomínio Jardim Passarada Bairro São Francisco Cep 65076 -210

Fone: (98) 3227-7825 email clarissalobato@yahoo.com.br

 

Resumo

 

O presente texto faz referência à história da educação ambiental no Brasil abrangendo principalmente a época de 70 aos dias atuais. O artigo é uma leitura crítica das relações estabelecidas entre seres humanos e o ambiente em que os cerca envolvendo aí a questão da educação ambiental como uma importante ferramenta de mudança, juntamente com a alfabetização ecológica trabalhada por Capra. O texto se apropria de documentos como o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, Agenda 21 e alguns movimentos importantes como o Slow Food e Slow School que tratam da desaceleração da alimentação e da educação para que juntos possamos analisar e construir sociedades sustentáveis no planeta.

  

Diante de um tempo onde o capitalismo prevalece como sistema político-ideológico vitorioso, após a Primeira e Segunda Guerra Mundial, passando a disputa de dominação entre as potências soviética e americana, durante a finada guerra fria, tem-se nos movimentos ambientalistas uma ideologia para um mundo de mais prosperidade, contrapondo o capitalismo selvagem.

A cada dia nos parece mais óbvio que se não cuidarmos do planeta a vida dos seres humanos poderá entrar em colapso. Problemas como mudanças climáticas, aquecimento global e desmatamento ganham visibilidade a todo o momento e é perceptível que os problemas ambientais não se restringem a determinado estado, país ou classe social, são questões que não possuem fronteiras, ou seja, todo o planeta acaba sendo afetado.

É preciso sentir o planeta como Gaia, ou seja, um organismo vivo dotado de fluxo de movimentos e transformações constantes, buscando uma harmonia e compensando as perdas de energia. Para interagir com esse macro-organismo, o ser humano precisa perceber-se como parte integrante de seus processos vitais ao invés de tentar dominar o ritmo da natureza por meio da tecnologia. Se assim a humanidade continuar agindo vai acumular desequilíbrios e tensões que se manifestaram por meio das catástrofes ambientais e conflitos entre sociedades. Chega-se em um ponto onde não há escolha: o ser humano precisa pensar e possibilitar mecanismos que viabilizem uma vida sustentável se quiser continuar no planeta. De acordo com esta perspectiva, convido o leitor não só a ler, mas acima de tudo agir para que possamos ter um mundo sustentável. Aqui, caminhos como a educação ambiental e alfabetização ecológica são colocados como essenciais na construção de sociedades sustentáveis.

Diferentes cenários do Movimento Ambientalista e Educação Ambiental

Anos 70: Preocupação com a natureza

Quando surgem os primeiros problemas ambientais? Eis uma questão difícil de responder. Se nos determos ao Brasil, tem-se registro de que no ano de 1605 foi editado o “Regimento do Pau-Brasil”, estabelecendo rígidos limites à prática de exploração do pau-brasil no período colonial.(CARVALHO, 1967; MIRANDA, 2004 in Medeiros, 2006). O “Regimento do Pau-Brasil”, previa inclusive pena de morte e confisco de bens a quem desobedecesse a lei da Coroa Portuguesa. Medidas como essas estavam embasadas em inventários realizados a serviço da corte real com o objetivo de identificar a existência de recursos naturais estratégicos que poderiam ser explorados e controlados.

Em relação a outros países, a Inglaterra adotou uma política protecionista no início do século XIX em função da extinção de algumas espécies animais. Os Estados Unidos cria o seu primeiro Parque Nacional no ano de 1872 (Medeiros, 2006), visando preservar espaços ambientais estratégicos para a biodiversidade.

É possível dizer então que a preocupação com o ambiente em que vivemos já acontece faz bastante tempo, entretanto, nota-se o caráter protecionista (voltado para a proteção de espécies da fauna e flora) e preservacionista (ligado à proteção de uma determinada área) existentes nos períodos citados, que defendiam os recursos naturais da forma de exploração predatória exercida pelos seres humanos.

Aqui, tomaremos como marco os anos 70. É nesta época que eclode no mundo movimentos de contra-cultura como a liberação feminina, o movimento “rock anda roll”, marcado pelo clássico festival de Woodstock e a política do “faça amor, não faça guerra”. Tais movimentos estavam dirigidos contra o modelo capitalista e industrialista que priorizavam o acúmulo de bens materiais a cima das melhorias sociais. No Brasil, o período é marcado pela Ditadura Militar e a música de Geraldo Vandré, onde a estrofe diz “Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer...” é palavra de ordem para a juventude brasileira. Em contrapartida, o modelo de desenvolvimento era regido (e ainda é) pelo maior lucro em menor escala de tempo.

No contexto mundial, o relatório Limites do Crescimento, publicado pelo Clube de Roma ( grupo formado por 30 especialistas de vários países para discutir a crise atual e futura da humanidade) no ano de 1972.O relatório denunciava que o crescente consumo mundial levaria a humanidade a um limite de crescimento, e possivelmente a um colapso (Dias, 1992).

Em meio a tudo isso, ainda em 1972, ocorre a I Conferência Mundial da Organização das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano. Nesta conferência, de acordo com McCormicK, 1992 (Educação Ambiental, 2000) houve os seguintes avanços:

·      Princípios preservacionistas da natureza e conservacionistas dos recursos naturais passaram ao entendimento da má gestão da biosfera pelos seres humanos;

·      Prioridades e necessidades ambientais, antes determinadas só pelos países desenvolvidos, foram estendidas para os países em desenvolvimento, tornando-se um fator preponderante na determinação das políticas ambientais internacionais;

·      Criação do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas;

·      O termo “ecodesenvolvimento” surge pela primeira vez como alternativa por um outro tipo de desenvolvimento menos agressivo à natureza. O termo foi amadurecido em 1973 por Ignacy Sachs tendo como base os seguintes critérios: justiça social, prudência ecológica e eficiência econômica ( Sachs, 1993: in EducaçãoAmbiental, 2000).

No ano após a conferência, o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA) trabalhou a “Vertente Ecológico-Preservacionista” da educação ambiental, inspirada em uma ética centrada na natureza.

Em meados dos anos 70, mais precisamente em 1975, aconteceu a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, na cidade de Tblisi, na Geógia (antiga URSS).

Nessa conferência foram definidos os objetivos e as estratégias pertinentes em nível nacional e internacional. Postulou-se que a Educação Ambiental é um elemento essencial para uma educação global orientada para a resolução dos problemas por meio da participação ativa dos educandos na educação formal e não-formal, em favor do bem-estar da comunidade humana. Acrescentou-se aos princípios básico da Educação Ambiental nessa conferência a importância que é dada às relações natureza-sociedade, que, posteriormente, na década de 1980, dará origem à vertente socioambiental da Educação Ambiental (Medina).

Anos 80: Consumismo e Reciclagem

Década acompanhada de crise econômica nos países do mundo e gravidade mais evidente dos problemas ambientais. No Brasil, expandiram-se os espaços sobre as questões ambientais na mídia, ampliou-se o movimento de defesa da Amazônia e campanhas ambienatalistas passaram a ter mais visibilidade. Neste cenário emergem organizações não governamentais, associações amadoras e movimentos sociais de cunho ambientalista tendo um perfil profissional voltado para gestão ambiental e defesa do meio ambiente.

Medina coloca que a perspectiva global é evidenciada nos anos 1980: globalidade dos fenômenos ecológicos, as inter-relações entre economia, ecologia e desenvolvimento, políticas ambientais e cooperação internacional. As relações entre a economia e a ecologia levam à necessidade de adoção de um novo sistema de contabilidade ambiental e novos indicadores de bem-estar social e econômico.

No ano de 1987 o Relatório de Nosso Futuro Comum, da Comissão sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecido com Relatório Brundtland, foi publicado. O documento possui três vertentes principais: crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico. Coloca a pobreza material com uma das principais causas e um dos principais efeitos dos problemas ambientais a nível mundial. O relatório adota o conceito de “desenvolvimento sustentável” como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras” (Nosso futuro comum, 1998: in Educação Ambiental, 2000). O desenvolvimento sustentável aponta compatibilidade do crescimento econômico, com desenvolvimento humano e qualidade ambiental.  O relatório “Nosso Futuro Comum” é criticado por muitos estudiosos por pensar nas gerações futuras quando a geração atual não possui condições de atender as suas necessidades básicas, bem como por não discutir de forma mais aprofundada a mudança nos padrões de produção e a possibilidade do consumo sustentável.

Para que os aspectos citados no parágrafo anterior sejam modificados, é preciso modificar também a educação. Demo (2007) enfatiza que “no neoliberalismo, a valorização quase uníssona que se faz de educação tem como razão de ser apenas a competitividade...”. O autor nos remete ainda que “o conhecimento nascido do ser humano, não se volta para ele, mas submete-se ao mercado, e depreda, com tranqüilidade cínica, o ser humano e a natureza”. Assim o poder nas mãos de poucos continua sendo mantido e a mudança nas estruturas sociais cada vez mais mascaradas. Logo abaixo, tem-se um exemplo de como projetos que aparentemente apregoam relações socioambientais mais profundas podem ser direcionados envolvendo apenas aspectos superficiais.

A popularização do conceito de desenvolvimento sustentável criou terreno para que a Pedagogia dos 3 R´s (reduzir, reutilizar e reciclar),  passasse a ser reproduzida em diversos estabelecimentos de ensino, sem discutir o modo de produção das empresas e trabalhando principalmente a reciclagem como “solução” dos problemas ambientais. Layrargues, em seu artigo intitulado Cinismo da Reciclagem: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental, alerta: “Essa prática educativa, que se insere na lógica da metodologia da resolução de problemas ambientais locais de modo pragmático, tornando a reciclagem de lixo uma atividade-fim, em vez de considerá-la um tema-gerador para o questionamento das causas e conseqüências da questão do lixo, remete-nos de forma alienada à discussão dos aspectos técnicos da reciclagem, evadindo-se da dimensão política.”

No caso em questão, para que a Pedagogia dos 3R´s seja executada de forma efetiva, deve-se pensar primeiramente em reduzir o consumo, reutilizar aquilo que for possível para então realizar a reciclagem. Não é possível entender a reciclagem como algo que perpetue e estimule o consumo de excessos.

Nesse período, a educação ambiental tem aspecto conservacionista desenvolvimentista, ou seja, conserva-se áreas, no sentido de utilizá-las sem destruí-las, mas não se pensa em instrumentos efetivos para mudar os padrões de consumo.

Anos 90: Eco- 92

A década de 90 é marcada pela realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como Eco-92 ou Rio-92. Cerca de 179 países participaram do evento que teve como principais produtos os seguintes documentos:

·        Agenda 21 – documento de 40 capítulos, onde o século XXI é planejado levando em consideração as dimensões socais, econômicas e ambientais; É um documento que estabeleceu a importância de cada país se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, organizações não-governamentais e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas sócio-ambientais (http://pt.wikipedia.org/wiki/Agenda_21).

·        Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global – é um documento elaborado por pessoas de vários países do mundo, publicado durante a Rio-92, que se tornou referência para a Educação Ambiental. O processo de construção do Tratado é relatado por Moema Viezzer, militante ambientalista e autora de diversos livros. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Educa%C3%A7%C3%A3o_Ambiental_para_Sociedades_Sustent%C3%A1veis_e_Responsabilidade_Global)

Alguns participantes da Rio-92 criticam o Desenvolvimeto Sustentável, por entenderem que ele não explicita mudanças efetivas no modo de produção, priorizando o modelo de desenvolvimento atual dos países capitalistas. Fora isso  a palavra “des-envolvimento”, é considerada como não-envolvimento (prefixo des, significa negação).

Em relação ao Desenvolvimento Sustentável, Diegues afirma que:  “não leva em conta todo um conjunto de problemas, especialmente os conflitos de interesses entre Norte e Sul, o controle das empresas multinacionais sobre novas tecnologias e seu poder de se opor às iniciativas que colidem com suas estratégias globais, às relações desiguais no comércio mundial. Em segundo lugar, a crítica pressupõe “uma confiança velada nas soluções de mercado para os problemas ambientais, minimizando-se a lógica empresarial de externalizar esses custos...”

Termos como Sustentabilidade e Sociedades Sustentáveis passaram a ser utilizadas propondo um ambiente socialmente justo, ambientalmente equlibrado e economicamente próspero por um longo período, para isso, é preciso rever e modificar os modos de produção, assim como padrões de consumo. As pessoas podem usar a lógica de trabalhar para viver, ao invés de viver para trabalhar, e, consequentemente para consumir. Será que para ser feliz é realmente necessário ter último lançamento de celular, o carro do ano e a televisão de plasma? De que adianta tudo isso se não mantermos boas relações com a famíla e com os amigos, e se, ainda por cima, temos um país medíocre, onde a pobreza se instala em educação, saúde, políticas públicas não executadas, dentre outros aspectos?

Demo 2008, em seu artigo Pobreza Política faz um alerta: “Ser pobre não é apenas não ter certas coisas. É principalmente ser destituído de ter e, em especial, de ser, um tipo de exclusão que tem em sua origem não só em carências materiais, mas mormente em imposições mobilizadas por processos de concentração de bens e poder por parte de minorias. Mera carência não gera pobreza necessariamente. Por exemplo, falta de chuva em certas regiões gera problemas de acesso à água, mas, sendo esta falta comum a todos os habitantes, não origina, por si só, pobres. Pobreza é carência politizada, no sentido de a carência servir para o favorecimento de alguns em detrimento de muitos. Seca gera pobreza quando aparece a “indústria da seca” (Demo, 2007: in Demo 2008), através da qual uma carência material se converte em ocasião para angariar privilégios e impor exclusões.”

A idéia de Sustentabilidade é um combate vemente ao âmago da pobreza. Essa idéia avança para o conceito de "sociedades sustentáveis" , que de acordo com Diegues possibilita a cada sociedade definir seus padrões de produção e consumo, bem como o de bem-estar a partir de sua cultura, de seu desenvolvimento histórico e de seu ambiente natural. Além disso, deixa-se de lado o padrão das sociedades industrializadas, enfatizando-se a possibilidade da existência de uma diversidade de sociedades sustentáveis, desde que pautadas pelos princípios básicos da sustentabilidade ecológica, econômica, social e política.

Com base no Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, a educação ambiental atinge avanços significativos, tendo caráter conservacionista socioambiental, esclarecendo que as relações ambientais estão firmadas em valores humanos como a solidariedade e o respeito de forma planetária.

2000: no rumo da Alfabetização Ecológica

A alfabetização ecológica é um processo que possibilita caminhos para operacionalizar a sustentabilidade ambiental a partir de conhecimentos ecológicos fundamentais para a existência da vida.

Nunes reforça que a alfabetização ecológica pretende contribuir para que a educação ambiental agregue às suas múltiplas dimensões, a alfabetização ecológica, como àquela que abarca a dimensão biológica do ser humano, considerado enquanto ser bio-psico-social.

De acordo com Capra (2006), a alfabetização ecológica está pautada no princípio de que a natureza sustenta a vida ao criar e nutrir comunidades. Para elucidar o processo, é preciso trabalhar alguns conceitos:

·        Redes - a sustentabilidade não é um processo individual, mas um processo de conexão, onde diversos segmentos precisam fazer parte, construindo e alimentando a rede;

·        Sistemas aninhados – nas escalas da natureza, temos sistemas vivos dentro de outros sistemas vivos, ou seja, redes dentro de redes. Por exemplo, GAIA, o planeta Terra é um sistema vivo maior que engloba diversos outros sistemas vivos;

·        Interdependência – nenhum organismo individual pode existir isoladamente, ele depende de outros componentes do ecossistema. Tem-se o exemplo de animais herbívoros que dependem de plantas para suprirem suas necessidades energéticas; as plantas dependem do gás carbônico produzido pelos animais e do nitrogênio produzido pelas bactérias em suas raízes. Esses elementos: animais, plantas e microrganismos regulam a biosfera e mantém condições propícias a vida.

·        Diversidade – ligada a estrutura de redes do sistema, bem como a capacidade de recomposição do sistema. Daí a importância da diversidade étnica e cultural entre os seres humanos.

·        Ciclos – através da teia da vida a matéria se recicla de forma permanente;

·        Fluxos – parte da idéia de que sistemas vivos são abertos e que a maioria desses sistemas dependem da energia solar para que possam ser impulsionaldos, desta forma, sociedades sustentáveis poderiam dar mais ênfase a utilização da energia capturada do sol, investindo em aquecimento solar,energia fotovltáica, eóloica, entre outras

·        Desenvolvimento – os sistemas vivos se desenvolvem  e todo desenvolvimento envolve aprendizagem.

·        Equilíbrio dinâmico – Todos os ciclos ecológicos funcionam como laços de realimentação, assim, a comunidade ecológica está sempre se  auto-regulando e auto-organizando.

 

A alfabetização ecológica trata da construção do conhecimento a partir de experiências práticas e atitudes que levam a interiorização de novos valores. O conhecimento é sistêmico. Demo (2007) coloca que “o sistema se assemelha a colcha de retalhos de sub-redes armadas por um processo complexo de arranjos, muito diverso de desenho limpo e unificado.” Essa abordagem abrangente permite a visão de que problemas e soluções envolvem diversos grupos e variados olhares que precisam se percebidos na hora da tomada de decisão.

O processo de aprendizagem na alfabetização ecológica desenvolve autonomia e se assemelha com o pensamento do sociólogo Pedro Demo no que se refere a aprendizagem. Capra (2006) cita “quando você ensina algo a alguém, você está privando a pessoa da experiência de aprender isso. Você precisa tomar cuidado para não tirar essa experiência de ninguém.” Já Demo (2007) diz que: “a melhor maneira de aprnder não é escutar aula, mas pesquisar e elaborar com mão própria, sob orientação do professor...”. A aula atualmente é vista como “café requentado”, onde professores, por não saberem estudar e aprender, repassam conhecimento ultrapassado e o aluno, por sua vez, reproduz mecanicamente tais “conhecimentos”. O processo de aprendizagem precisa gerar indagações, rever valores e estimular o processo de autoria. O aluno precisa tirar conclusões próprias.

No livro ‘Alfabetização Ecológica, Frijot Capra ( 2006) relata a dois movimentos interessantes: o Slow Food e Slow School , ambos referem-se a desaceleração nos processos de alimentação e educação.

O Slow Food  vem de encontro aos valores da Fast Food  e propõe projetos como “Pátio Escolar” para demonstrar a relação que o ser humano tem com aquilo que planta, colhe e se alimenta, evidenciando o conceito de redes, sistemas aninhados, interdependência, dentre outros, onde o aluno aprende com prática e responsabilidade os valores de uma alimentação saudável.

A Slow Food  é conhecida como um movimento de dignidade cultural, uma batalha contra o modo de vida baseado unicamente na pressa e conveniência.

Capra (2006) chama atenção que instituições culturais que poderiam difundir os valores de uma alimentação consciente e desacelerada, como os museus de História Natural, por exemplo, apresentam um self-service como opção para alimentação. Frijot Capara argumenta que espaços como esses poderiam ser ambientes essenciais para a divulgação de uma alimentação saudável onde os visitantes teriam a oportunidade de vivenciar relações ecológicas entre o que se ingerimos e o que se planta.

A Slow School, de acordo com Capra (2006), não possui nenhuma regra rígida, cada um pode ser diferente, assim como são diferentes suas comunidades. Mas a escola precisa se situar em um contexto, e entender a comunidade de entorno em termos sociais, políticos e econômicos e ambientais. Pode-se integrar disciplinas afins, como física, química e biologia, por exemplo, visando conexões no processo de aprendizagem. A Slow School tem como um dos seus principais objetivos chegar ao entendimento, e não a obediência.

Neste sentido, a alfabetização ecológica ganha adeptos de pessoas que buscam viver fraternamente, consumindo o necessário.

 

 

CONCLUSÃO

 

A história dos movimentos ambientalistas no Brasil e no mundo contribuem para entendermos as vertentes da educação ambiental, que tiveram “ondas” protecionistas, preservacionistas, conservacionistas desenvolvimentistas e conservacionistas socioambientais.

O entendimento e enraizamento dos princípios da ecologia e da vida precisam urgentemente ser assimilados pela humanidade, pois somente desta forma será possível continuar a história da raça humana no planeta.

Esse entendimento e enraizamento se dão através de processos de aprendizagem, onde é exercida a autonomia, leitura e autoria como principais mecanismos geradores de conhecimento.

A sustentabilidade sempre envolve a comunidade na sua totalidade. Essa é a lição que natureza nos ensina. As trocas de energia e recursos de um ecossistema são mantidas pela cooperação de todos. A vida não tomou o planeta de assalto, mas por meio da cooperação, parceria e participação em rede.

Para promover a sustentabilidade deve-se rever os padrões de consumo, aplicando o consumo sustentável, bem como investir em mecanismos limpos, que não poluam, ou que minimizem os efeitos da poluição no ambiente causados  principalmente pela indústria.

Por fim, é preciso integrar a perspectiva ambiental nas políticas públicas de forma efetiva, como elemento estratégico, que oriente programas e projetos, reconhecendo os valores e serviços prestados a nós, seres humanos, pelos recursos naturais. 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

CAPRA, F. C. et al. Alfabetização Ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Editora Cultrix. 2006.

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Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global

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Ilustrações: Silvana Santos