Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Educação
Ambiental e Alfabetização Ecológica: passos percorridos, caminhos a desvendar Clarissa Lobato da Costa,
Bióloga e educadora Ambiental Msc. Sustentabilidade de
Ecossistemas – Universidade Federal do Maranhão Referência Profissional Técnica do Núcleo de
Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Educação São Luís – MA/
Professora de Biologia do Ensino Médio. Associada as ONG´s maranhenses:
Instituto Maranhense de Meio Ambiente e Recursos Hídricos –IMARH e Associação
Maranhense para a Conservação da natureza – AMAVIDA Endereço: Rua dos Manacás
Bloco D apto 101 – Condomínio Jardim Passarada Bairro São Francisco Cep
65076 -210 Fone: (98) 3227-7825 email clarissalobato@yahoo.com.br Resumo O
presente texto faz referência à história da educação ambiental no Brasil
abrangendo principalmente a época de 70 aos dias atuais. O artigo é uma
leitura crítica das relações estabelecidas entre seres humanos e o ambiente
em que os cerca envolvendo aí a questão da educação ambiental como uma
importante ferramenta de mudança, juntamente com a alfabetização ecológica
trabalhada por Capra. O texto se apropria de documentos como o Tratado de Educação
Ambiental para Sociedades Sustentáveis, Agenda 21 e alguns movimentos
importantes como o Slow Food e Slow School que tratam da desaceleração da alimentação e da
educação para que juntos possamos analisar e construir sociedades sustentáveis
no planeta. Diante
de um tempo onde o capitalismo prevalece como sistema político-ideológico
vitorioso, após a Primeira e Segunda Guerra Mundial, passando a disputa de
dominação entre as potências soviética e americana, durante a finada guerra
fria, tem-se nos movimentos ambientalistas uma ideologia para um mundo de mais
prosperidade, contrapondo o capitalismo selvagem. A
cada dia nos parece mais óbvio que se não cuidarmos do planeta a vida dos
seres humanos poderá entrar em colapso. Problemas como mudanças climáticas,
aquecimento global e desmatamento ganham visibilidade a todo o momento e é
perceptível que os problemas ambientais não se restringem a determinado
estado, país ou classe social, são questões que não possuem fronteiras, ou
seja, todo o planeta acaba sendo afetado. É
preciso sentir o planeta como Gaia, ou seja, um organismo vivo dotado de fluxo
de movimentos e transformações constantes, buscando uma harmonia e compensando
as perdas de energia. Para interagir com esse macro-organismo, o ser humano
precisa perceber-se como parte integrante de seus processos vitais ao invés de
tentar dominar o ritmo da natureza por meio da tecnologia. Se assim a humanidade
continuar agindo vai acumular desequilíbrios e tensões que se manifestaram por
meio das catástrofes ambientais e conflitos entre sociedades. Chega-se em um
ponto onde não há escolha: o ser humano precisa pensar e possibilitar
mecanismos que viabilizem uma vida sustentável se quiser continuar no planeta. De
acordo com esta perspectiva, convido o leitor não só a ler, mas acima de tudo
agir para que possamos ter um mundo sustentável. Aqui, caminhos como a educação
ambiental e alfabetização ecológica são colocados como essenciais na construção
de sociedades sustentáveis. Diferentes
cenários do Movimento Ambientalista e Educação Ambiental Anos 70: Preocupação com a natureza Quando surgem os
primeiros problemas ambientais? Eis uma questão difícil de responder. Se nos
determos ao Brasil, tem-se registro de que no ano de 1605 foi editado o
“Regimento do Pau-Brasil”, estabelecendo rígidos
limites à prática de exploração do pau-brasil no período
colonial.(CARVALHO, 1967; MIRANDA, 2004 in Medeiros, 2006). O
“Regimento do Pau-Brasil”, previa inclusive pena de morte e confisco de bens
a quem desobedecesse a lei da Coroa Portuguesa. Medidas
como essas estavam embasadas em inventários realizados a serviço da corte real
com o objetivo de identificar a existência de recursos naturais estratégicos
que poderiam ser explorados e controlados. Em relação a outros
países, a Inglaterra adotou uma política protecionista no início do século
XIX em função da extinção de algumas espécies animais. Os Estados Unidos
cria o seu primeiro Parque Nacional no ano de 1872 (Medeiros, 2006), visando
preservar espaços ambientais estratégicos para a biodiversidade. É
possível dizer então que a preocupação com o ambiente em que vivemos já
acontece faz bastante tempo, entretanto, nota-se o caráter protecionista
(voltado para a proteção de espécies da fauna e flora) e preservacionista
(ligado à proteção de uma determinada área) existentes nos períodos
citados, que defendiam os recursos naturais da forma de exploração predatória
exercida pelos seres humanos. Aqui,
tomaremos como marco os anos 70. É nesta época que eclode no mundo movimentos
de contra-cultura como a liberação feminina, o movimento “rock anda roll”,
marcado pelo clássico festival de Woodstock e a política do “faça amor, não
faça guerra”. Tais movimentos estavam dirigidos contra o modelo capitalista e
industrialista que priorizavam o acúmulo de bens materiais a cima das melhorias
sociais. No Brasil, o período é marcado pela Ditadura Militar e a música de
Geraldo Vandré, onde a estrofe diz “Vem vamos embora que esperar não é
saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer...” é palavra de ordem para
a juventude brasileira. Em contrapartida, o modelo de desenvolvimento era regido
(e ainda é) pelo maior lucro em menor escala de tempo. No
contexto mundial, o relatório Limites do Crescimento, publicado pelo Clube de
Roma ( grupo formado por 30 especialistas de vários países para discutir a
crise atual e futura da humanidade) no ano de 1972.O relatório denunciava que o
crescente consumo mundial levaria a humanidade a um limite de crescimento, e
possivelmente a um colapso (Dias, 1992). Em meio a tudo isso, ainda
em 1972, ocorre a I Conferência Mundial da Organização das Nações Unidas
sobre o Ambiente Humano. Nesta conferência, de acordo com McCormicK, 1992
(Educação Ambiental, 2000) houve os seguintes avanços: ·
Princípios preservacionistas da
natureza e conservacionistas dos recursos naturais passaram ao entendimento da má
gestão da biosfera pelos seres humanos; ·
Prioridades e necessidades
ambientais, antes determinadas só pelos países desenvolvidos, foram estendidas
para os países em desenvolvimento, tornando-se um fator preponderante na
determinação das políticas ambientais internacionais; ·
Criação do Programa de Meio
Ambiente das Nações Unidas; ·
O termo “ecodesenvolvimento”
surge pela primeira vez como alternativa por um outro tipo de desenvolvimento
menos agressivo à natureza. O termo foi amadurecido em 1973 por Ignacy Sachs
tendo como base os seguintes critérios: justiça social, prudência ecológica
e eficiência econômica ( Sachs, 1993: in EducaçãoAmbiental, 2000). No
ano após a conferência, o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas
(PNUMA) trabalhou a “Vertente Ecológico-Preservacionista” da educação
ambiental, inspirada em uma ética centrada na natureza. Em
meados dos anos 70, mais precisamente em 1975, aconteceu a Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental, na cidade de Tblisi, na Geógia
(antiga URSS). Nessa
conferência foram definidos os objetivos e as estratégias pertinentes em nível
nacional e internacional. Postulou-se que a Educação Ambiental é um elemento
essencial para uma educação global orientada para a resolução dos problemas
por meio da participação ativa dos educandos na educação formal e não-formal,
em favor do bem-estar da comunidade humana. Acrescentou-se aos princípios básico
da Educação Ambiental nessa conferência a importância que é dada às relações
natureza-sociedade, que, posteriormente, na década de 1980, dará origem à
vertente socioambiental da Educação Ambiental (Medina). Anos 80: Consumismo e Reciclagem Década
acompanhada de crise econômica nos países do mundo e gravidade mais evidente
dos problemas ambientais. No Brasil, expandiram-se os espaços sobre as questões
ambientais na mídia, ampliou-se o movimento de defesa da Amazônia e campanhas
ambienatalistas passaram a ter mais visibilidade. Neste cenário emergem
organizações não governamentais, associações amadoras e movimentos sociais
de cunho ambientalista tendo um perfil profissional voltado para gestão
ambiental e defesa do meio ambiente. Medina
coloca que a perspectiva global é evidenciada nos anos 1980: globalidade dos
fenômenos ecológicos, as inter-relações entre economia, ecologia e
desenvolvimento, políticas ambientais e cooperação internacional. As relações
entre a economia e a ecologia levam à necessidade de adoção de um novo
sistema de contabilidade ambiental e novos indicadores de bem-estar social e
econômico. No
ano de 1987 o Relatório de Nosso Futuro Comum, da Comissão sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento, também conhecido com Relatório Brundtland, foi publicado. O
documento possui três vertentes principais: crescimento econômico, equidade
social e equilíbrio ecológico. Coloca a pobreza material com uma das
principais causas e um dos principais efeitos dos problemas ambientais a nível
mundial. O relatório adota o conceito de “desenvolvimento sustentável”
como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a satisfação
das necessidades das gerações futuras” (Nosso futuro comum, 1998: in Educação
Ambiental, 2000). O desenvolvimento sustentável aponta compatibilidade do
crescimento econômico, com desenvolvimento humano e qualidade ambiental.
O relatório “Nosso Futuro Comum” é criticado por muitos estudiosos
por pensar nas gerações futuras quando a geração atual não possui condições
de atender as suas necessidades básicas, bem como por não discutir de forma
mais aprofundada a mudança nos padrões de produção e a possibilidade do
consumo sustentável. Para
que os aspectos citados no parágrafo anterior sejam modificados, é preciso
modificar também a educação. Demo (2007) enfatiza que “no neoliberalismo, a
valorização quase uníssona que se faz de educação tem como razão de ser
apenas a competitividade...”. O autor nos remete ainda que “o conhecimento
nascido do ser humano, não se volta para ele, mas submete-se ao mercado, e
depreda, com tranqüilidade cínica, o ser humano e a natureza”. Assim o poder
nas mãos de poucos continua sendo mantido e a mudança nas estruturas sociais
cada vez mais mascaradas. Logo abaixo, tem-se um exemplo de como projetos que
aparentemente apregoam relações socioambientais mais profundas podem ser
direcionados envolvendo apenas aspectos superficiais. A
popularização do conceito de desenvolvimento sustentável criou terreno para
que a Pedagogia dos 3 R´s (reduzir, reutilizar e reciclar),
passasse a ser reproduzida em diversos estabelecimentos de ensino, sem
discutir o modo de produção das empresas e trabalhando principalmente a
reciclagem como “solução” dos problemas ambientais. Layrargues, em seu
artigo intitulado Cinismo da Reciclagem: o significado ideológico da reciclagem
da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental, alerta:
“Essa prática educativa, que se insere na lógica da metodologia da resolução
de problemas ambientais locais de modo pragmático, tornando a reciclagem de
lixo uma atividade-fim, em vez de considerá-la um tema-gerador para o
questionamento das causas e conseqüências da questão do lixo, remete-nos de
forma alienada à discussão dos aspectos técnicos da reciclagem, evadindo-se
da dimensão política.” No
caso em questão, para que a Pedagogia dos 3R´s seja executada de forma
efetiva, deve-se pensar primeiramente em reduzir o consumo, reutilizar aquilo
que for possível para então realizar a reciclagem. Não é possível entender
a reciclagem como algo que perpetue e estimule o consumo de excessos. Nesse
período, a educação ambiental tem aspecto conservacionista
desenvolvimentista, ou seja, conserva-se áreas, no sentido de utilizá-las sem
destruí-las, mas não se pensa em instrumentos efetivos para mudar os padrões
de consumo. Anos 90: Eco- 92 A
década de 90 é marcada pela realização da Conferência
das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
(CNUMAD), também conhecida como Eco-92 ou Rio-92. Cerca de 179 países
participaram do evento que teve como principais produtos os seguintes
documentos: ·
Agenda
21 –
documento de 40 capítulos, onde o século XXI é planejado levando em consideração
as dimensões socais, econômicas e ambientais; É um documento que estabeleceu
a importância de cada país
se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos,
empresas,
organizações não-governamentais e todos
os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os
problemas sócio-ambientais (http://pt.wikipedia.org/wiki/Agenda_21). ·
Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global – é um documento elaborado por pessoas de vários países
do mundo, publicado durante a Rio-92, que se tornou referência para a Educação Ambiental. O processo de construção
do Tratado é relatado por Moema Viezzer, militante ambientalista e autora de
diversos livros.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Educa%C3%A7%C3%A3o_Ambiental_para_Sociedades_Sustent%C3%A1veis_e_Responsabilidade_Global) Alguns
participantes da Rio-92 criticam o Desenvolvimeto Sustentável, por entenderem
que ele não explicita mudanças efetivas no modo de produção, priorizando o
modelo de desenvolvimento atual dos países capitalistas. Fora isso
a palavra “des-envolvimento”, é considerada como não-envolvimento
(prefixo des, significa negação). Em
relação ao Desenvolvimento Sustentável, Diegues afirma que: “não
leva em conta todo um conjunto de problemas, especialmente os conflitos de
interesses entre Norte e Sul, o controle das empresas multinacionais sobre novas
tecnologias e seu poder de se opor às iniciativas que colidem com suas estratégias
globais, às relações desiguais no comércio mundial. Em segundo lugar, a crítica
pressupõe “uma confiança velada nas soluções de mercado para os problemas
ambientais, minimizando-se a lógica empresarial de externalizar esses
custos...” Termos
como Sustentabilidade e Sociedades Sustentáveis passaram a ser utilizadas
propondo um ambiente socialmente justo, ambientalmente equlibrado e
economicamente próspero por um longo período, para isso, é preciso rever e
modificar os modos de produção, assim como padrões de consumo. As pessoas
podem usar a lógica de trabalhar para viver, ao invés de viver para trabalhar,
e, consequentemente para consumir. Será que para ser feliz é realmente necessário
ter último lançamento de celular, o carro do ano e a televisão de plasma? De
que adianta tudo isso se não mantermos boas relações com a famíla e com os
amigos, e se, ainda por cima, temos um país medíocre, onde a pobreza se
instala em educação, saúde, políticas públicas não executadas, dentre
outros aspectos? Demo
2008, em seu artigo Pobreza Política faz um alerta: “Ser
pobre não é apenas não ter certas coisas. É principalmente ser destituído
de ter e, em especial, de ser, um tipo de exclusão que tem em sua origem não só
em carências materiais, mas mormente em imposições mobilizadas por processos
de concentração de bens e poder por parte de minorias. Mera carência não
gera pobreza necessariamente. Por exemplo, falta de chuva em certas regiões
gera problemas de acesso à água, mas, sendo esta falta comum a todos os
habitantes, não origina, por si só, pobres. Pobreza é carência politizada,
no sentido de a carência servir para o favorecimento de alguns em detrimento de
muitos. Seca gera pobreza quando aparece a “indústria da seca” (Demo, 2007:
in Demo 2008), através da qual uma carência material se converte em ocasião
para angariar privilégios e impor exclusões.” A idéia de Sustentabilidade é um combate vemente ao âmago da pobreza.
Essa idéia avança para o conceito de
"sociedades sustentáveis" , que de acordo com Diegues possibilita a
cada sociedade definir seus padrões de produção e consumo, bem como o de
bem-estar a partir de sua cultura, de seu desenvolvimento histórico e de seu
ambiente natural. Além disso, deixa-se de lado o padrão das sociedades
industrializadas, enfatizando-se a possibilidade da existência de uma
diversidade de sociedades sustentáveis, desde que pautadas pelos princípios básicos
da sustentabilidade ecológica, econômica, social e política. Com base no Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global, a educação ambiental atinge avanços significativos,
tendo caráter conservacionista socioambiental, esclarecendo que as relações
ambientais estão firmadas em valores humanos como a solidariedade e o respeito
de forma planetária. 2000: no rumo da Alfabetização Ecológica A alfabetização ecológica
é um processo que possibilita caminhos para operacionalizar a sustentabilidade
ambiental a partir de conhecimentos ecológicos fundamentais para a existência
da vida. Nunes reforça que a
alfabetização ecológica pretende contribuir para que a educação ambiental
agregue às suas múltiplas dimensões, a alfabetização ecológica, como àquela
que abarca a dimensão biológica do ser humano, considerado enquanto ser
bio-psico-social. De acordo com Capra
(2006), a alfabetização ecológica está pautada no princípio de que a
natureza sustenta a vida ao criar e nutrir comunidades. Para elucidar o
processo, é preciso trabalhar alguns conceitos: ·
Redes
- a sustentabilidade não é um processo individual, mas um processo de conexão,
onde diversos segmentos precisam fazer parte, construindo e alimentando a rede; ·
Sistemas
aninhados – nas escalas da natureza, temos sistemas vivos dentro de outros
sistemas vivos, ou seja, redes dentro de redes. Por exemplo, GAIA, o planeta
Terra é um sistema vivo maior que engloba diversos outros sistemas vivos; ·
Interdependência – nenhum organismo individual pode existir isoladamente, ele depende
de outros componentes do ecossistema. Tem-se o exemplo de animais herbívoros
que dependem de plantas para suprirem suas necessidades energéticas; as plantas
dependem do gás carbônico produzido pelos animais e do nitrogênio produzido
pelas bactérias em suas raízes. Esses elementos: animais, plantas e
microrganismos regulam a biosfera e mantém condições propícias a vida. ·
Diversidade
– ligada a estrutura de redes do sistema, bem como a capacidade de recomposição
do sistema. Daí a importância da diversidade étnica e cultural entre os seres
humanos. ·
Ciclos
– através da teia da vida a matéria se recicla de forma permanente; ·
Fluxos
– parte da idéia de que sistemas vivos são abertos e que a maioria desses
sistemas dependem da energia solar para que possam ser impulsionaldos, desta
forma, sociedades sustentáveis poderiam dar mais ênfase a utilização da
energia capturada do sol, investindo em aquecimento solar,energia fotovltáica,
eóloica, entre outras ·
Desenvolvimento
– os sistemas vivos se desenvolvem
e todo desenvolvimento envolve aprendizagem. ·
Equilíbrio
dinâmico – Todos os ciclos ecológicos funcionam como laços de realimentação,
assim, a comunidade ecológica está sempre se
auto-regulando e auto-organizando. A alfabetização ecológica
trata da construção do conhecimento a partir de experiências práticas e
atitudes que levam a interiorização de novos valores. O conhecimento é sistêmico.
Demo (2007) coloca que “o sistema se assemelha a colcha de retalhos de
sub-redes armadas por um processo complexo de arranjos, muito diverso de desenho
limpo e unificado.” Essa abordagem abrangente permite a visão de que
problemas e soluções envolvem diversos grupos e variados olhares que precisam
se percebidos na hora da tomada de decisão. O processo de
aprendizagem na alfabetização ecológica desenvolve autonomia e se assemelha
com o pensamento do sociólogo Pedro Demo no que se refere a aprendizagem. Capra
(2006) cita “quando você ensina algo a alguém, você está privando a pessoa
da experiência de aprender isso. Você precisa tomar cuidado para não tirar
essa experiência de ninguém.” Já Demo (2007) diz que: “a melhor maneira
de aprnder não é escutar aula, mas pesquisar e elaborar com mão própria, sob
orientação do professor...”. A aula atualmente é vista como “café
requentado”, onde professores, por não saberem estudar e aprender, repassam
conhecimento ultrapassado e o aluno, por sua vez, reproduz mecanicamente tais
“conhecimentos”. O processo de aprendizagem precisa gerar indagações,
rever valores e estimular o processo de autoria. O aluno precisa tirar conclusões
próprias. No livro ‘Alfabetização
Ecológica, Frijot Capra ( 2006) relata a dois movimentos interessantes: o Slow
Food e Slow School , ambos
referem-se a desaceleração nos processos de alimentação e educação. O Slow
Food vem de encontro aos valores da Fast
Food e propõe projetos como
“Pátio Escolar” para demonstrar a relação que o ser humano tem com aquilo
que planta, colhe e se alimenta, evidenciando o conceito de redes, sistemas
aninhados, interdependência, dentre outros, onde o aluno aprende com prática e
responsabilidade os valores de uma alimentação saudável. A Slow
Food é conhecida como um movimento de dignidade cultural, uma
batalha contra o modo de vida baseado unicamente na pressa e conveniência. Capra (2006) chama
atenção que instituições culturais que poderiam difundir os valores de uma
alimentação consciente e desacelerada, como os museus de História Natural,
por exemplo, apresentam um self-service
como opção para alimentação. Frijot Capara argumenta que espaços como esses
poderiam ser ambientes essenciais para a divulgação de uma alimentação saudável
onde os visitantes teriam a oportunidade de vivenciar relações ecológicas
entre o que se ingerimos e o que se planta. A Slow
School, de acordo com Capra (2006), não possui nenhuma regra rígida, cada
um pode ser diferente, assim como são diferentes suas comunidades. Mas a escola
precisa se situar em um contexto, e entender a comunidade de entorno em termos
sociais, políticos e econômicos e ambientais. Pode-se integrar disciplinas
afins, como física, química e biologia, por exemplo, visando conexões no
processo de aprendizagem. A Slow School
tem como um dos seus principais objetivos chegar ao entendimento, e não a obediência. Neste sentido, a
alfabetização ecológica ganha adeptos de pessoas que buscam viver
fraternamente, consumindo o necessário. CONCLUSÃO A história dos
movimentos ambientalistas no Brasil e no mundo contribuem para entendermos as
vertentes da educação ambiental, que tiveram “ondas” protecionistas,
preservacionistas, conservacionistas desenvolvimentistas e conservacionistas
socioambientais. O entendimento e
enraizamento dos princípios da ecologia e da vida precisam urgentemente ser
assimilados pela humanidade, pois somente desta forma será possível continuar
a história da raça humana no planeta. Esse entendimento e
enraizamento se dão através de processos de aprendizagem, onde é exercida a
autonomia, leitura e autoria como principais mecanismos geradores de
conhecimento. A sustentabilidade
sempre envolve a comunidade na sua totalidade. Essa é a lição que natureza
nos ensina. As trocas de energia e recursos de um ecossistema são mantidas pela
cooperação de todos. A vida não tomou o planeta de assalto, mas por meio da
cooperação, parceria e participação em rede. Para promover a
sustentabilidade deve-se rever os padrões de consumo, aplicando o consumo
sustentável, bem como investir em mecanismos limpos, que não poluam, ou que
minimizem os efeitos da poluição no ambiente causados principalmente pela indústria. Por fim, é preciso
integrar a perspectiva ambiental nas políticas públicas de forma efetiva, como
elemento estratégico, que oriente programas e projetos, reconhecendo os valores
e serviços prestados a nós, seres humanos, pelos recursos naturais.
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