Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Educação Ambiental: A
responsabilidade individual pARA UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL Márcio
Balbino Cavalcante Especialista
em Ciências Ambientais pelas Faculdades Integradas de Patos – FIP, Geógrafo
pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Professor-visitante do
Instituto de Educação de Cajazeiras – ISEC. Av. Celso Lisboa,1198, centro,
Passa e Fica – RN. CEP: 59.218-000. cavalcantegeo@bol.com.br
RESUMO O
presente artigo aponta a necessidade de se promover a Educação Ambiental como
primeiro passo a ser dado, quando se deseja mobilizar pessoas para ações
relacionadas à ética e a cidadania ambiental. Para isto, faz-se necessário
promover um conhecimento capaz de educar e formar cidadãos conscientes de suas
responsabilidades individuais, em relação a preservação e conservação do
ambiente global. Desse forma, uma atividade de Educação Ambiental deve se
constituir um processo contínuo,
no qual os indivíduos e comunidades envolvidas tomem consciência da
possibilidade de um colapso ecológico e adquiram conhecimentos, valores,
habilidades, experiências e determinação que os tornem aptos a agir,
individualmente e coletivamente, tendo como princípio básico o respeito a
todas as espécies de vida. 1.
Introdução Desde o surgimento da espécie humana na Terra, as
formas de modificação e apropriação em relação a natureza se
intensificaram e ocasionaram diversos impactos ambientais. O advento do hábito
sedentário levou o homem a desenvolver novas habilidades tecnológicas necessárias
a edificações de casas, manejo do solo, uso do fogo, produção de tecidos e
vestuários; ferramentas de trabalho; o transporte; a roda; a tração animal; o
aproveitamento de energia; dentre outras. Contudo, as sociedades primitivas sempre mantiveram
uma relação mais próxima com a natureza procurando conviver em equilíbrio
com os elementos naturais, Elisabet Sahtouris na obra A dança da Terra (1997) destaca o exemplo de povos indígenas das
mais diversas regiões do planeta, como sociedades que convivem de maneira mais
equilibrada com a natureza, adotando um estilo vida baseando em uma ordem muito
antiga, as leis da naturais.
Nessa mesma direção
Almeida (2000), apresenta estudos acerca da relação de convivência sustentável
homem-natureza e da utilização do conhecimento da tradição como base
epistemológica fundamental para a sobrevivência das populações diante de
ambientes inóspitos. Estudo realizado por Almeida, na Lagoa do Piató no município
de Assú, Rio Grande do Norte, permite compreender como os
agricultores-pescadores tomam por base elementos naturais, como flora, fauna e
fenômenos físicos, para fazer a leitura do tempo e desenvolver técnicas de
uma melhor convivência com as estiagens durante os períodos de seca. Surge então
uma importante questão: com a devastação do ecossistema local, o que os
habitantes da região farão para preservar esses saberes milenares que são a
base de sustentação da vida? Como sabemos, em aproximadamente duzentos anos de
industrialização do planeta, a produtividade de bens materiais e seu consumo
se deu de forma bastante acelerada, ocorrendo uma considerável degradação do
meio ambiente, comprometendo a qualidade de vida da população. Nesse sentido,
a crise ecológica que destrói o planeta Terra, põe em risco a sobrevivência
da diversidade dos sistemas vivos, incluindo aí o próprio homem. A maioria dos
problemas ambientais do planeta provém de um certo estilo de cultura adotado
pela sociedade. Este estilo desconsidera a interdependência
existente na natureza, como ilustra a afirmação de Guatarri na obra As
três ecologias (1997, p.07), “o Planeta Terra vive um período de
intensas transformações técnico-científicos, em contrapartida das quais
engendram-se fenômenos de desequilíbrios ecológicos, que se não forem
remediados no limite, ameaçam a implantação da vida em sua superfície.
Paralelamente a tais perturbações, os modos de vida humanos individuais e
coletivos evoluem no sentido de uma progressiva deterioração.” Na obra Terra-Pátria,
(2001), Edgar Morin propõe a reformulação do pensamento para a compreensão
da crise planetária que se instalou na Terra. Nesse contexto observa que as
civilizações dispersas do planeta estão vivendo um momento de necessidade de
interdependência em todos os aspectos e é preciso, então, que se consolide a
fraternidade que surge com a conscientização da importância dessas inter-relações
entre a comunidade humana e o cosmo. Fala ainda da era planetária em que
vivemos e a sua agonia, do cartão de identidade terrena, dos objetivos
terrestres e da responsabilidade do ser humano na transformação da Terra-Pátria
que deve iniciar-se pela transformação do pensamento.
Assim, apontamos a necessidade de se promover a Educação Ambiental como
primeiro passo a ser dado, quando se deseja mobilizar pessoas para ações
relacionadas à ética e a cidadania ambiental. Para isto, faz-se necessário
promover um conhecimento capaz de educar e formar cidadãos conscientes de suas
responsabilidades individuais, em relação a preservação e conservação do
ambiente global, e assim promover o que Morin denomina de “cidadania
terrestre”.
A situação vigente requer um trabalho de Educação Ambiental, que faça
uso de estratégias dinâmicas e se ampare numa visão transdisciplinar, para
assim proporcionar conhecimentos, habilidades e criticidade aos indivíduos,
sensibilizando-os para a importância da natureza como meio à perpetuação da
vida.
Tem razão também Morin (2000a), quando afirma que uma lógica da
complementaridade nos faz pensar para além das excludências e distinções.
Essa lógica supõe o intercâmbio entre diferentes áreas de conhecimentos,
sobretudo quando se trata do meio ambiente, tema que por si próprio demanda vários
enfoques e disciplinas.
Desse modo, os cuidados com o planeta deve ser uma preocupação de
profissionais de todas as esferas, em especial de educadores, no sentido de
(re)educar ambientalmente os cidadãos terrestres.
2. A eclosão de uma consciência ecológica
Todos sabemos que há muito tempo encontramos alterações ambientais e
movimentos que defendem a preservação da natureza e a melhoria da qualidade de
vida. Assim, os movimentos ambientalistas têm contribuído para o surgimento e
desenvolvimento da Educação Ambiental.
A obra da jornalista Ranchel Carson (1962), intitulada “Primavera
Silenciosa” fermentou ainda mais as discussões acerca da questão ambiental
no mundo inteiro. Nela Carson aborda a perda da qualidade de vida em várias
partes do planeta, causada, sobretudo pela crescente queda da qualidade
ambiental, produzida pela ganância dos lucros a qualquer custo, por meio da
exploração predatória.
Encontros mundiais foram realizados para discutir os problemas ambientais
do planeta e apontaram para o desenvolvimento da Educação Ambiental como
estratégia de preservação. Destacamos alguns dos mais importantes fóruns.
Em 1972, a Educação Ambiental se destacou como principal resultado da
Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano,
realizada em Estocolmo, na Suécia. “A Conferência gerou a declaração sobre
o meio ambiente que reconheceu o desenvolvimento da Educação Ambiental como
elemento crítico para o combate à crise ambiental no mundo”. (Zeppone, 1999,
p.17).
No ano de 1975, foi realizou-se em Belgrado o Encontro Internacional de
Educação Ambiental, onde foram discutidos os princípios e orientações para
o Programa Internacional de Educação Ambiental UNESCO/UPUMA. Nesse mesmo
momento ocorreu também a formulação da Carta de Belgrado, que alertou o mundo
quanto às conseqüências do crescimento econômico e tecnológico sem limites.
“A Educação Ambiental é citada como um dos elementos mais críticos para
que se possa combater com mais rapidez a degradação da biosfera“ (Leff,
1999, p.113).
As recomendações desses encontros e de outros que se realizaram também
em âmbitos regionais documentadas, serviram de subsídio para a Conferência
Internacional sobre Educação Ambiental em 1977, que realizou-se em Tbilisi na
Geórgia (ex-URSS).
De acordo com esta Conferência a Educação Ambiental deve se
fundamentar em dois princípios básicos: o primeiro consagra-a como uma nova ética
que orienta os valores e comportamentos para os objetivos de sustentabilidade
ecológica e a eqüidade social; o
segundo apresenta uma nova concepção do mundo como sistemas complexos, a
reconstituirão do conhecimento e o diálogo de saberes. Neste sentido, podemos
considerar a transdisciplinaridade como um princípio importante para o
desenvolvimento da Educação Ambiental.
No ano de 1992 realizou-se no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, a
Conferência Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio 92, que culminou
na articulação de tratados, acordos e convenções para a sustentabilidade da
vida na Terra. Como resultado apresentou-se um plano de ação para o presente século,
visando o equilíbrio e o respeito a vida – Batizada Agenda 21 - se configura numa carta de compromissos assumidos
em relação ao ambiente, constituindo-se como estratégia de sobrevivência a
todos os seres vivos. (Barbiere, 1998).
A nível sub-regionais foi realizado em 1979, na Costa Rica, o Seminário
de Educação Ambiental para a América Latina. Em 1998, realizou-se em Buenos
Aires o Seminário Taller Latino Americano de Educação Ambiental. Todos
promovendo recomendações e contribuindo importantemente para o
desenvolvimento, a sistematização e a divulgação dos conhecimentos
relacionados com a Educação Ambiental. Na Conferência de Tbilisi a Educação Ambiental
foi definida como uma dimensão que deveria ser dada ao conteúdo e à prática
educacional, buscando a resolução dos problemas ambientais, via enfoques
interdiciplinares e de uma ativa e responsável participação de cada indivíduo
e da coletividade como um todo.
No Brasil pode-se verificar uma diversidade de opiniões quanto a definição
de Educação Ambiental. Conforme Dias (1994) de um lado, o meio ambiente é
apenas um tema neutro de estudo, de outro, estão incluídos o elemento humano e
os fatores que interferem em suas relações com o ambiente. Tal análise
envolve fatores políticos, sociais, econômicos e culturais. Desta forma
podemos ressaltar que a Educação Ambiental está deixando de ser concebida com
ênfase em apenas um dos seus aspectos, que é o ecológico, e levando-se em
consideração também os outros aspectos: econômico, social, ético,
político, científico, tecnológico e cultural.
A este respeito Dantas (2001) nos diz que “estamos todos, ricos e miseráveis,
no mesmo barco, ou melhor, na mesma nave. Se ela despencar vamos todos ao
abismo. E já está na hora de entendermos que não podemos estimular a manutenção
de diferenças sociais e sim de sermos responsáveis, de sermos éticos com a
vida de todos os seres vivos”.
A concepção de natureza como objeto de apropriação, para obtenção
de lucros, vinculada principalmente a partir dos séculos XVII e XVIII,
assim como a compreensão do homem como elemento independente dos sistemas
naturais, necessitam serem repensadas. Morin (2001) aponta para necessidade de um
pensamento ecológico que leve em considerando a ligação vital de todos os
sistemas vivos, ao seu ambiente. Essas questões, entretanto, necessitam de atenção
especial por parte dos órgãos nacionais e internacionais responsáveis pela
conservação da natureza, bem como, da população em geral, uma vez que para
se alcançar sucesso na realização de qualquer trabalho de nível conscietizatório,
é preciso a participação ativa da população. Desse forma, uma atividade de Educação Ambiental
deve se constituir um processo contínuo,
no qual os indivíduos e comunidades envolvidas tomem consciência da
possibilidade de um colapso ecológico e adquiram conhecimentos, valores,
habilidades, experiências e determinação que os tornem aptos a agir,
individualmente e coletivamente, tendo como princípio básico o respeito a
todas as espécies de vida. De acordo com Silva; Martim (2001) a Educação
Ambiental é um instrumento poderoso de que a sociedade dispõe no momento para
resgatar valores capazes de induzir crianças e jovens a perceberem a natureza
como um bem comum, a ser compartilhado com base no sentimento de solidariedade e
responsabilidade. O desafio de superar a crise ecológica a nível
global deve ser, sem dúvida, uma preocupação de todas as esferas do poder público
e de a humanidade como um todo, nessa direção, em temos constitucionais, na década
de 1980 (cf. Wainer, 1991) a Educação Ambiental passou a ser um dos
instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, com a promulgação da
Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988, que no seu artigo
225, diz que: “Todos
têm direito ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. No mesmo documento se destaca como função do poder
público “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
No âmbito escolar a Educação Ambiental vem sendo instrumento de
preocupação das novas tendências curriculares. A esse respeito o MEC dentro
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), propõe temáticas transversais
que abrem espaço para se abordar o meio ambiente em todas as disciplinas do
Ensino Fundamental.
Contudo, ao mesmo tempo que estes documentos apontam a importância, a
transversalidade e a natureza transdisciplinar do tema, deixam também, o espaço
para questionamentos, como: até que ponto os professores das diversas
disciplinas articulam os conteúdos curriculares aos conteúdos ambientais? Qual
será a preparação e quais os recursos que esses docentes dispõem para
abordar esses conteúdos?
Nesse sentido conclui-se que o desenvolvimento de um trabalho da Educação
Ambiental formal ou informal pode ser considerado prioritário no atual momento
da história da humanidade. Essa retomada de consciência deve acontecer com o
apoio de profissionais das diversas áreas de conhecimento, uma vez que deve-se
considerar a inter-relação existente nos diversos elementos da natureza, assim
como a conexão entre os saberes.
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