Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Breves Comunicações
10/03/2009 (Nº 27) A importância da Educação Ambiental na valorização do Patrimônio Natural
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Educação ambiental em ação

A importância da Educação Ambiental na valorização do Patrimônio Natural

 

 

Shênia Patrícia Cassiano de Oliveira, Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Ouro Preto, Mestranda em Patrimônio e desenvolvimento pela Universidade de Cabo Verde.

Endereço para correspondência: Terra Branca, Cidade da Praia. Ilha de Santiago. Cabo Verde.

Email: sheniapatricia@yahoo.com.br    Tel.: (238) 97 57 990

 

Resumo

O presente artigo faz um paralelo entre a Educação Ambiental e a estrutura conceitual do patrimônio natural. Transforma-se a multidisciplinaridade do patrimônio e da educação ambiental em interdisciplinaridade atestada pela análise de algumas das principais vertentes de ambos.

 

Palavras-chave: patrimônio natural, educação ambiental, valorização, reconhecimento, reflexão.

 

  

            O presente artigo propõe uma reflexão que suscita a importância da Educação Ambiental na valorização do patrimônio natural. Se configura em um breve estudo analítico de cunho multidisciplinar que transcorre para a  interdisciplinaridade.

            É analisada a estrutura conceitual de patrimônio, a destacar o natural, salientando as vertentes que contribuem para sua salvaguarda e são dialogadas e reforçadas pela educação ambiental.

Busca-se ressaltar  que a identificação do ser humano enquanto parte da natureza em uma relação de sustentabilidade, reconhecimento e atribuição de valor, estabelece questões convergentes tanto para a educação ambiental quanto para a  instituição do patrimônio natural.

A Educação Ambiental visa a conscientização do ser humano através da abordagem das relações históricas, sociais, culturais e econômicas, todas em interação com a natureza em uma associação de bem estar mútuo. O processo de aprendizagem ambiental é constante e vitalício e se dá de diversas maneiras, em todos os momentos e lugares. Ela surge como agente intensificador do contato entre o homem e a natureza e do conhecimento de suas inter-relações em busca de um equilíbrio.

Os meios e métodos de difusão da educação ambiental devem ser discutidos, valorizados e aprimorados, pois a mesma abrange  problemas que repercutem na convivência e sobrevivência em todo o planeta, buscando a sustentabilidade e a preservação do meio para gerações futuras.

Cabe ressaltar que ela promove as bases para as práticas de reconhecimento e  valorização do patrimônio, a destacar, o patrimônio natural. Ela pode ser veiculdada de forma a contribuir  com o sentimento de pertença, de identidade, perante este tipo de patrimônio.

A conscientização a respeito do patrimônio natural  é reforçada pelas idéias promovidas na educação ambiental, no modo como a natureza deve ser tratada, sentida e fruída. Em patrimônio há o valor da sensiblidade, este valor vai contra o superficial, o fugaz, o efêmero.

Todos têm seu próprio conceito de patrimônio e este não deve ser  padronizado. Muitas opiniões tendem a enriquecer um conceito, que inclusive, está em constante mutação, de acordo com o espaço e tempo em que é instituído. No presente trabalho não pode-se pensar apenas no patrimônio natural classificado pela UNESCO[i], mas em todos que de alguma forma têm mérito para tal. Ou seja, possuem uma percepção humana privilegiada.  

Não obstante, se analisarmos a fundo a origem de patrimônio, chegaremos ao aspecto humano. Um elemento patrimonial foi construído pelo homem e para o homem e cabe a ele valorizar ou não este bem, a fim de mantê-lo para continuar integrando o meio ambiente.

             Deste modo encontramos um dos pilares reforçados pela educação ambiental. Homem e natureza como uma unidade, o patrimônio natural é na verdade fruto de uma construção social- definição de Prats (1997) . Ele reflete a natureza humana, pois quem o promoveu se identificou com o mesmo. Ele pode ser visto como uma extensão humana dignificada

E como surge a idéia de patrimônio?

Para Ballart (1997) a noção de patrimônio surge “quando um indivíduo ou grupo de indivíduos  identifica como seu um objecto ou um conjunto de objectos.”

A idéia de patrimônio também se configura, quando se fala em testemunho de um contexto específico, porém que pode ser valorizado em âmbito geral.

Quem escolhe o que é patrimônio? Pode-se dizer que há uma “seleção natural”, ou seja, só sobrevive a representatividade mais forte, e que merece perdurar ao longo do tempo. Que sua escolha enquanto patrimônio colabore para o desenvolvimento da espécie humana., como algo que ganhou destaque, teve utilidade, e tem autenticidade evidente. Pode-se até ir mais longe e dizer que o patrimônio é escolhido por mérito primeiramente e depois por excepcionalidade, ele carrega grande informação, seja natural, seja cultural.  

Vejamos outra opinião sobre a seleção do que é patrimônio, por Silva (s.d.) :

“o patrimônio não é só o legado que é herdado, mas o legado que, através de uma seleção consciente, um grupo significativo da população deseja legar ao futuro.”

Podemos afirmar que, existe uma escolha cultural subjacente à vontade de legar o patrimônio natural às gerações vindouras.

 

É importante destacar é que existe também uma noção de posse por parte de um determinado grupo relativamente ao  patrimônio natural, ( a educação ambiental alerta sobre este fato)  neste caso este sentimento deverá ser o de integração.

O patrimônio pode ser escolhido por  ser de grande utilidade, por ser diferente, por ter beleza e valor estético reconhecidos, por ter sido patrimônio herdado, por simbolizar uma cultura, dentre outros. São inúmeras as opções da conotação de um  elemento/ lugar enquanto patrimônio.

Outro aspecto relevante na compreensão patrimonial é a análise da função prática (de uso), estética (imagem, estrutura física) e simbólica (significado construído através da vivência, intuitivo, que é representatividade de alguma coisa, alegórico, quando expressa uma idéia de forma figurada).  Cabe destacar que a função prática do patrimônio natural nunca se torna obsoleta.  

            É oportuno salientar outra idéia pertinente na educação ambiental: a sustentabilidade, a preservação dos recursos naturais, a manutenção dos ecossistemas. Todos estes se configuram com elementos proponentes no que concerne  à existência do patrimônio natural. Este é singular e memorável. Resgato aqui as palavras que compõem a definição da UNESCO que dizem que o patrimônio é uma fonte insubstituível de vida e inspiração.[ii]

 

Considerações finais

  

            Diante da complexidade e relevância da análise feita neste artigo, propõe-se que mais estudos sejam feitos relacionando especificamente o patrimônio natural e sua difusão pela educação ambiental. Sabe-se que ela nos fornece também uma visão histórica das relações homem-natureza e do conceito de sustentabilidade associado ao desenvolvimento humano e preservação natural. Além disso, promove uma conscientização em torno da utilização de metodologias para preservação ecológica, bem como da viabilidade de intervenção mínima e da manutenção dos ecossistemas.

            Há muito o que se estudar com relação ao binômio patrimônio natural-educação ambiental, acredita-se  que o presente estudo é de grande importância e poderá servir de estímulo aos pesquisadores de áreas afins. Sugere-se temas relacionados às questões práticas da evolução conjunta deste binômio a fim de proporcionar um melhor desenvolvimento nas relações entre o meio acadêmico e as comunidades em geral.

 

Referências bilbliográficas

   

BALLART, Josep. El Patrimonio Histórico y Arqueológico: Valor y Uso. Barcelona: Ariel, 1997.

B. PRIMARCK, Richard; RODRIGUES, Efraim. Biologia da conservação. Londrina: Planta,2001.

CHOAY, Françoise. Alegoria do Património. Lisboa: Ediçoes 70, 2006.

SILVA, Elza Peralta da. Património e identidade. Disponível em: http://www.aguaforte.com/antropologia/Peralta.html. Acesso em 17 de Junho de 2008.

PRATS; Llorenç. Antropologia e Patrimônio. Barcelona: Editorial Ariel, 1997.

RUBEM, Alves. Educação dos sentidos e mais. Campinas:Editora Versus, 2005.

SERRANO, Célia. A Educação pelas pedras: ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000.

 


[i] United Nations Education Science and Culture Organization

Ilustrações: Silvana Santos