Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/09/2008 (Nº 25) PESQUISA DE OPINIÃO SOBRE MORCEGOS COM FREQÜENTADORES DO PARQUE DA PRAINHA, RIO DE JANEIRO
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Educação Ambiental em Ação 25

PESQUISA DE OPINIÃO SOBRE MORCEGOS COM FREQÜENTADORES DO PARQUE DA PRAINHA, RIO DE JANEIRO.

 

 

Roberto Leonan Morim Novaes

Graduando em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

Luis Fernando Menezes Jr.

Mestrando em Biologia Animal, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

Ana Carolina Duarte

Mestranda em Biologia Animal, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

Ana Cristina Façanha

Bióloga, Universidade Veiga de Almeida, RJ.

 

 

Laboratório de Mastozoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Km 47 da antiga estrada Rio-São Paulo, 23890-000, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil.

 

 

Correspondência: Rua Quaxima, 45, Madureira. CEP: 21310-250. Rio de Janeiro, RJ. Tel.: (21) 2451 0628 / 8781 6057. promorcegos@yahoo.com.br

 

 

Resumo: A fim de saber o grau de conhecimento de freqüentadores do Parque da Prainha, foi realizada uma pesquisa investigativa com oito perguntas de múltipla-escolha. Ao serem feitas análises das questões, verificamos que, das oito perguntas, apenas duas foram respondidas com maior índice de acerto. Este resultado comprova que é necessário um intenso trabalho de educação ambiental para que os mitos e lendas sobre este grupo sejam derrubados e essa perseguição acabe, além de propiciar um direcionamento das ações educativas para os tópicos mais importantes e que apresentaram maiores índices de erros.

 


Palavras-chave: Educação, enquete, preconceito, mito.

 

           

            Os morcegos representam o grupo de mamíferos, e talvez o de animais, mais rodeados de mitos, o que não lhes dá uma imagem carismática ao grande público (Marilho-Filho & Sazima, 1998). Por serem noturnos e voarem, as pessoas nao costumam ter contato visual freqüente, o que acaba alimentamdo o imaginário popular. Drummond (2004) compilou diferentes histórias e mitos acerca dos morcegos e constatou que em diversas partes do planeta existem mitos sobre esse curioso mamífero, e essas crendices acabam prejudicando os morcegos, criando uma imagem negativa e irreal desses animais.

            O objetivo deste trabalho foi verificar quais são os mitos mais freqüentes e quais são os erros mais comuns cometidos pela população, com o intuito de direcionar aulas de educação ambiental para o esclarecimento dos principais erros acerca dos morcegos.

            A fim de saber o grau de conhecimento dos freqüentadores do Parque Natural Municipal da Prainha, localizado na zona oeste do município do Rio de Janeiro, foram desenvolvidas oito perguntas de múltipla-escolha que abordam os temas mais discutidos sobre os quirópteros. Entre novembro e dezembro de 2006, foram entrevistadas 122 pessoas, com idades de 20 à 40 anos e com nível de escolaridade diverso. Os participantes tiveram que responder um questionário com oito perguntas de múltipla-escolha que abordavam aspectos sobre a biologia e sobre os mitos que cercam os morcegos. As perguntas obtiveran as seguintes respostas:

 

1) Na sua opinião, a qual grupo os morcegos pertencem?

 

46% - Aves

23% - Mamíferos

16% - Répteis

13% - Insetos

 

            A maior parte dos entrevistados associam os morcegos às aves, informação essa, atribuída erroneamente devido a sua capacidade de vôo. Isso prova que na concepção popular nenhum mamífero voa, e por isso os morcegos são vistos como aves. Um erro frequentemente cometido e que poderia ser sanado com encremento de atividades educacionais sobre a fauna silvestre.

 

2) Você acha que existe alguma relação entre ratos e morcegos?

 

61% - Sim

39% - Não

 

            Ao perguntarmos qual seria essa relação, a maioria das pessoas respondeu que morcegos são ratos velhos, um mito popular que é acrescido pela desinformação. Essa resposta foi no mínimo contraditória, já que a maior parte dos participantes, na pergunta anterior, respondeu que morcegos pertencem ao grupo das Aves, e logo em seguida os compararam com ratos, um mamífero roedor. Isso demonstra a tamanha falta de conhecimento e informação da população sobre morcegos. Desinformação essa que acaba gerando um conflito de opiniões entre os entrevistados.

 

3) Que tipo de alimento os morcegos consomem?

 

38% - Sangue

26% - Varia de acordo com a espécie

15% - Frutas

13% - Insetos

  8% - Pequenos vertebrados

 

            Este resultado mostra que a maior parte das pessoas acredita que todos os morcegos se alimentam de sangue, o que acaba criando uma imagem negativa em torno dos quirópteros. Bernard (2005: pp. 44-49) trata do preconceito em torno dos morcegos e cita que este mesmo fica ainda mais acentuado em morcegos hematófagos. Neste caso, o vago conhecimento sobre o hábito alimentar de algumas espécies acaba sendo pior que o total desconhecimento, já que todos os morcegos acabam sendo chamados de vampiros, generalização errada, já que das 1113 espécies de morcegos existentes no mundo, apenas três são hematófagas (Simmons, 2005; Peracchi et al. 2006: pp. 162-165).

 

4) Morcegos atacam pessoas?

 

55% - Sim

26% - Não

10% - Só quando ameaçados

  9% - Depende da espécie

 

            Grande parte da população teme os morcegos, e muitos crêem que estes animais atacam pessoas, o que comprova mais ainda a falta de informação sobre estes, já que quirópteros não costumam atacar pessoas, a menos que seja molestados ou que tentem capturá-los.

 

5) Os morcegos podem transmitir doenças?

 

73% - Sim

27% - Não

 

            Destas pessoas que responderam Sim, 46% disseram Raiva, 19% Leptospirose, 13% Tétano, 6% Dengue e 16% responderam outras doenças. O conhecimento popular nesta pergunta foi correto, já que a maior parte dos entrevistados sabem que morcegos podem transmitir Raiva. No entanto, fica claro também a desinformação quanto a outras doenças, o que por fim, faz com que as pessoas atribuam qualquer moléstia aos morcegos.

 

6) Você acha que os morcegos possuem alguma importância para o meio ambiente?

 

77% - Sim

23% - Não

 

7) Qual seria essa importância?

 

35% - Não sei responder

24% - Desequilibrio ecológico

23% - Nenhuma

  8% - Dispersão de sementes e controle populacional

 

            Uma grande parte do participantes reconhece que os morcegos desempenham funções importantes no meio ambiente, no entanto, 35% não souberam responder qual, desconhecendo a importância destes animais na dispersão de sementes e no controle populacional de insetos.

 

 

8) Se você encontrasse um morcego em sua residência, o que faria?

 

29% - Tentaria capturá-lo para depois soltar

28% - Acenderia as luzes

25% - Chamaria um orgão competente

18% - Mataria

 

            29% dos entrevistados, mesmo tendo boa intenção, erraram essa pergunta. Morcegos não devem ser manipulados. Essa pergunta também acentua uma questão interessante. Boa parte dos participantes acenderia as luzes, isso corrobora com o mito de que morcegos só gostam de escuridão e não toleram luminosidade alguma, outro erro freqüente.

 

            Os resultados desta pesquisa mostram que 62,9% das respostas foram erradas, indicando que a população acredita nos mitos, lendas e crendices ou desconhece a importância ecológica deste grupo.

            Diferente de uma pesquisa feita por Esbérard et al. (1996), onde a maior parte das pessoas entrevistadas demonstraram ter um conhecimento razoável acerca dos morcegos, no presente estudo, somente 37,1% das respostas estavam corretas, indicando o baixo conhecimento popular sobre a Ordem Chiroptera.

            Este resultado demonstra a importância da educação ambiental para informar a população e sugere que mais pesquisas de opinião, enquetes e palestras sejam destinadas ao público com a finalidade de orientar a população, desmistificando os morcegos para que se possa conservá-los de forma íntegra. Mini-cursos e palestras que abordem os morcegos como tema principal poderiam dedicar parte do seu conteúdo para tratar sobre a importância ecológica, conservação, manejo e até mesmo sobre a raiva e já que morcegos são cosmopolitas, tão importante quanto a derrubada dos mitos, é a orientação sobre como proceder em caso de morcegos se abrigando em residências ou em casos de ataques a animais e pessoas.

           

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BERNARD, Enrico. “Morcegos Vampiros: Sangue, raiva e preconceito”, Ciência Hoje, Rio de Janeiro,  nº 214, vol. 36, abril 2005, pp.44-49.

 

ESBÉRARD, Carlos Eduardo, CHAGAS, Alexander., LUZ, Eliane & CARNEIRO, Rodrigo. “Pesquisa com público sobre morcegos”, Chiroptera Neotropical, Brasília, nº 1, vol. 2,  junho 1996, pp.44-45.

                                                                                                                         

DRUMMOND, Sávio. Morcegos: Verdades e Mitos. Uma análise acerca do conhecimento sobre os morcegos na sociedade: folclore, realidade e cultura. Bahia: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. (Monografia), 2004.

 

MARINHO-FILHO, Jader & SAZIMA, Ivan. “Brazilian bats and conservation biology: a first survey”. In: KUNZ, Thomas & RACEY, Paul (Eds). Bats biology and conservation. Washigton DC: Smithsonian Instituition Press, 1988.

 

PERACCHI, Adriano Lúcio, LIMA, Isaac, REIS, Nélio, NOGUEIRA, Marcelo & OTÊNCIO-FILHO, Henrique. “Ordem Chiroptera”. In: REIS, Nélio, PERACCHI, Adriano Lúcio, PEDRO, Wagner André & LIMA, Isaac (Eds). Mamíferos do Brasil. Londrina: Editora da UEL, 2006.

 

SIMMONS, Nancy. “Order Chiroptera”. In: WILSON, Don & REEDER, D.M. (Eds). Mammal species of the World: a taxonomic and geographic reference. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2005.

Ilustrações: Silvana Santos