Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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PESQUISA DE OPINIÃO SOBRE
MORCEGOS COM FREQÜENTADORES DO PARQUE DA PRAINHA, RIO DE JANEIRO. Roberto Leonan Morim Novaes Graduando
em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Luis Fernando Menezes Jr. Mestrando
em Biologia Animal, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ana Carolina Duarte Mestranda
em Biologia Animal, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ana Cristina Façanha Bióloga,
Universidade Veiga de Almeida, RJ. Laboratório de Mastozoologia, Instituto de Biologia, Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Km 47 da antiga estrada Rio-São Paulo,
23890-000, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil. Correspondência:
Rua Quaxima, 45, Madureira. CEP: 21310-250. Rio de Janeiro, RJ. Tel.: (21)
2451 0628 / 8781 6057. promorcegos@yahoo.com.br Resumo:
A fim de saber o grau de conhecimento de freqüentadores do Parque da Prainha,
foi realizada uma pesquisa investigativa com oito perguntas de múltipla-escolha.
Ao serem feitas análises das questões, verificamos que, das oito perguntas,
apenas duas foram respondidas com maior índice de acerto. Este resultado
comprova que é necessário um intenso trabalho de educação ambiental para
que os mitos e lendas sobre este grupo sejam derrubados e essa perseguição
acabe, além de propiciar um direcionamento das ações educativas para os tópicos
mais importantes e que apresentaram maiores índices de erros. Palavras-chave:
Educação, enquete, preconceito, mito.
Os morcegos representam o grupo de mamíferos, e talvez o de animais,
mais rodeados de mitos, o que não lhes dá uma imagem carismática ao grande público
(Marilho-Filho & Sazima, 1998). Por serem noturnos e voarem, as pessoas nao
costumam ter contato visual freqüente, o que acaba alimentamdo o imaginário
popular. Drummond (2004) compilou diferentes histórias e mitos acerca dos
morcegos e constatou que em diversas partes do planeta existem mitos sobre esse
curioso mamífero, e essas crendices acabam prejudicando os morcegos, criando
uma imagem negativa e irreal desses animais.
O objetivo deste trabalho foi verificar quais são os mitos mais freqüentes
e quais são os erros mais comuns cometidos pela população, com o intuito de
direcionar aulas de educação ambiental para o esclarecimento dos principais
erros acerca dos morcegos.
A fim de saber o grau de conhecimento dos freqüentadores do Parque
Natural Municipal da Prainha, localizado na zona oeste do município do Rio de
Janeiro, foram desenvolvidas oito perguntas de múltipla-escolha que abordam os
temas mais discutidos sobre os quirópteros. Entre novembro e dezembro de 2006,
foram entrevistadas 122 pessoas, com idades de 20 à 40 anos e com nível de
escolaridade diverso. Os participantes tiveram que responder um questionário
com oito perguntas de múltipla-escolha que abordavam aspectos sobre a biologia
e sobre os mitos que cercam os morcegos. As perguntas obtiveran as seguintes
respostas: 1) Na sua opinião, a qual
grupo os morcegos pertencem? 46% - Aves 23% - Mamíferos 16% - Répteis 13% - Insetos
A maior parte dos entrevistados associam os morcegos às aves, informação
essa, atribuída erroneamente devido a sua capacidade de vôo. Isso prova que na
concepção popular nenhum mamífero voa, e por isso os morcegos são vistos
como aves. Um erro frequentemente cometido e que poderia ser sanado com
encremento de atividades educacionais sobre a fauna silvestre. 2) Você acha que existe
alguma relação entre ratos e morcegos? 61% - Sim 39% - Não
Ao perguntarmos qual seria essa relação, a maioria das pessoas
respondeu que morcegos são ratos velhos, um mito popular que é acrescido pela
desinformação. Essa resposta foi no mínimo contraditória, já que a maior
parte dos participantes, na pergunta anterior, respondeu que morcegos pertencem
ao grupo das Aves, e logo em seguida os compararam com ratos, um mamífero
roedor. Isso demonstra a tamanha falta de conhecimento e informação da população
sobre morcegos. Desinformação essa que acaba gerando um conflito de opiniões
entre os entrevistados. 3) Que tipo de alimento os
morcegos consomem? 38% - Sangue 26% - Varia de acordo com a espécie 15% - Frutas 13% - Insetos 8% - Pequenos vertebrados
Este resultado mostra que a maior parte das pessoas acredita que todos os
morcegos se alimentam de sangue, o que acaba criando uma imagem negativa em
torno dos quirópteros. Bernard (2005: pp. 44-49) trata do preconceito em torno
dos morcegos e cita que este mesmo fica ainda mais acentuado em morcegos hematófagos.
Neste caso, o vago conhecimento sobre o hábito alimentar de algumas espécies
acaba sendo pior que o total desconhecimento, já que todos os morcegos acabam
sendo chamados de vampiros, generalização errada, já que das 1113 espécies
de morcegos existentes no mundo, apenas três são hematófagas (Simmons, 2005;
Peracchi et al. 2006: pp. 162-165). 4) Morcegos atacam pessoas? 55% - Sim 26% - Não 10% - Só quando ameaçados 9% - Depende da espécie
Grande parte da população teme os morcegos, e muitos crêem que estes
animais atacam pessoas, o que comprova mais ainda a falta de informação sobre
estes, já que quirópteros não costumam atacar pessoas, a menos que seja
molestados ou que tentem capturá-los. 5) Os morcegos podem
transmitir doenças? 73% - Sim 27% - Não
Destas pessoas que responderam Sim, 46% disseram Raiva, 19% Leptospirose,
13% Tétano, 6% Dengue e 16% responderam outras doenças. O conhecimento popular
nesta pergunta foi correto, já que a maior parte dos entrevistados sabem que
morcegos podem transmitir Raiva. No entanto, fica claro também a desinformação
quanto a outras doenças, o que por fim, faz com que as pessoas atribuam
qualquer moléstia aos morcegos. 6) Você acha que os morcegos
possuem alguma importância para o meio ambiente? 77% - Sim 23% - Não 7) Qual seria essa importância? 35% - Não sei responder 24% - Desequilibrio ecológico 23% - Nenhuma 8% - Dispersão de sementes
e controle populacional
Uma grande parte do participantes reconhece que os morcegos desempenham
funções importantes no meio ambiente, no entanto, 35% não souberam responder
qual, desconhecendo a importância destes animais na dispersão de sementes e no
controle populacional de insetos. 8) Se você encontrasse um
morcego em sua residência, o que faria? 29% - Tentaria capturá-lo para depois soltar 28% - Acenderia as luzes 25% - Chamaria um orgão competente 18% - Mataria
29% dos entrevistados, mesmo tendo boa intenção, erraram essa pergunta.
Morcegos não devem ser manipulados. Essa pergunta também acentua uma questão
interessante. Boa parte dos participantes acenderia as luzes, isso corrobora com
o mito de que morcegos só gostam de escuridão e não toleram luminosidade
alguma, outro erro freqüente.
Os resultados desta pesquisa mostram que 62,9% das respostas foram
erradas, indicando que a população acredita nos mitos, lendas e crendices ou
desconhece a importância ecológica deste grupo.
Diferente de uma pesquisa feita por Esbérard et
al. (1996), onde a maior parte das pessoas entrevistadas demonstraram ter um
conhecimento razoável acerca dos morcegos, no presente estudo, somente 37,1%
das respostas estavam corretas, indicando o baixo conhecimento popular sobre a
Ordem Chiroptera.
Este resultado demonstra a importância da educação ambiental para
informar a população e sugere que mais pesquisas de opinião, enquetes e
palestras sejam destinadas ao público com a finalidade de orientar a população,
desmistificando os morcegos para que se possa conservá-los de forma íntegra.
Mini-cursos e palestras que abordem os morcegos como tema principal poderiam
dedicar parte do seu conteúdo para tratar sobre a importância ecológica,
conservação, manejo e até mesmo sobre a raiva e já que morcegos são
cosmopolitas, tão importante quanto a derrubada dos mitos, é a orientação
sobre como proceder em caso de morcegos se abrigando em residências ou em casos
de ataques a animais e pessoas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERNARD, Enrico. “Morcegos Vampiros: Sangue, raiva e preconceito”, Ciência
Hoje, Rio de Janeiro, nº 214,
vol. 36, abril 2005, pp.44-49. ESBÉRARD, Carlos Eduardo, CHAGAS, Alexander., LUZ, Eliane &
CARNEIRO, Rodrigo. “Pesquisa com público sobre morcegos”, Chiroptera Neotropical, Brasília, nº 1, vol. 2, junho
1996, pp.44-45.
DRUMMOND, Sávio. Morcegos:
Verdades e Mitos. Uma análise acerca do conhecimento sobre os morcegos na
sociedade: folclore, realidade e cultura. Bahia: Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia. (Monografia), 2004. MARINHO-FILHO, Jader & SAZIMA, Ivan. “Brazilian bats and
conservation biology: a first survey”. In: KUNZ, Thomas & RACEY, Paul
(Eds). Bats biology and conservation.
Washigton DC: Smithsonian Instituition Press, 1988. PERACCHI, Adriano Lúcio, LIMA, Isaac, REIS, Nélio, NOGUEIRA, Marcelo
& OTÊNCIO-FILHO, Henrique. “Ordem Chiroptera”. In: REIS, Nélio,
PERACCHI, Adriano Lúcio, PEDRO, Wagner André & LIMA, Isaac (Eds). Mamíferos
do Brasil. Londrina: Editora da UEL, 2006. SIMMONS, Nancy. “Order Chiroptera”. In: WILSON, Don & REEDER,
D.M. (Eds). Mammal species of the World:
a taxonomic and geographic reference. Baltimore: Johns Hopkins University
Press, 2005. |