Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PRÁTICA:
CAPACITAÇÃO PARA IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS DE DESLIZAMENTOS NO BAIRRO DO
WEHMUTH NA CIDADE DE BLUMENAU/SC. Francisco
Salau Brasil Formado
em Engenharia Civil, Mestrando em Engenharia Ambiental Estudante Contatos:
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CEP: 89050-020 (47)
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Otte Formada
em Arquitetura e Urbanismo, especialista em Design de Móveis com enfoque em
Ecodesign e Mestranda em Engenharia Ambiental. Arquiteta,
Ecodesigner e Professora Univali-Itajaí e IBDI-Blumenau e Balneário Camboriú Contatos:
Rua Chile 320, bairro Ponta Aguda, Blumenau/SC, Cep 89050-040 (47)
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Cardoso Neto Formado
em Direito, Advogado, especialista em Planejamento Turístico Gestão e
Marketing, especialista em Direito Ambiental e Mestrando em Engenharia
Ambiental. Advogado
Ambientalista e Professor Senai/Blumenau. Contatos:
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RESUMO No Brasil o crescimento
populacional nos centros urbanos aliado ao êxodo rural tem contribuído em
muito para uma excessiva e descontrolada urbanização das cidades,
principalmente das áreas impróprias para ocupação. Esta ocupação não
ocorre de forma livre e espontânea, se dá pela exclusão social e pela falta
de oportunidades, levando famílias sem opção, a ocupar áreas de risco.
Assim, estas ocupações indevidas, aliado à falta de conhecimentos técnicos
por parte da população, aumentam a exposição a riscos de deslizamentos. A
intenção da realização de um curso de formação na comunidade do Wehmuth é
de levar conhecimento através da Educação Ambiental, para tanto foram
utilizados meios clássicos e alternativos para a formação, dentre eles:
exposição de conteúdo, jogo lúdico adulto e infantil, fazendo com que todos
os participantes atuassem e interagissem com o grupo. Palavras-chave: deslizamento,
percepção e educação ambiental, área de risco. 1. INTRODUÇÃO O crescimento
populacional aliado ao êxodo rural e principalmente ao modo de vida tem
contribuído em muito para uma excessiva e descontrolada urbanização das
cidades. Este nível cada vez maior de urbanização, aliado ao desenvolvimento
econômico responsável por uma incrível exclusão social, contribuem para que
um número cada vez maior de famílias construa suas residências em terrenos
irregulares e impróprios para a construção, como encostas e em topo de
morros, em áreas alagadiças, etc. Amartya
Sen, em sua obra “Desenvolvimento como liberdade” comenta que, embora uma
baixa renda não signifique pobreza, mas sim privação de capacidades, quando
uma pessoa encontra-se privada de sua liberdade econômica a ponto de se chegar
a uma situação de extrema pobreza, esta falta de liberdade no aspecto econômico
pode rapidamente tornar-se privação de outros tipos de liberdade, o que é
exemplificado aqui como a falta de opção para se construir sua casa em lugares
seguros. No caso de Blumenau, Santa Catarina, outro fator que contribui na ocupação
de morros é a grande área inundável existente (PINHEIRO, 1987 apud PINHEIRO,
TACHINI e RIEKMANN, 2005). Acontecendo a ocupação
nas áreas de risco, várias modificações são feitas pelo homem, ocasionando
as alterações das características originais do terreno, as quais pode-se
citar: a retirada de vegetação nativa, movimentações de terra (com exposição
de solos localizados em camadas mais profundas, que são mais suscetíveis a
escorregamentos), aterros com solos diferentes do original ou com condições de
compactação e proteção diferentes da original e deposição de outros
materiais no terreno, como lixo e entulho de construção e/ou demolição (FARAH,
2003). Assim, as ocupações indevidas aliada à falta de conhecimentos técnicos
por parte da população aumentam a exposição a riscos de deslizamentos. Prova
maior disso é que em outubro de 1990 ocorreram 21 mortes e 784 pessoas ficaram
feridas devido a deslizamentos apenas na região sul de Blumenau (BLUMENAU, 2004
apud PINHEIRO, TACHINI e RIEKMANN, 2005). O objetivo deste
artigo é demonstrar à necessidade de se trabalhar a percepção das pessoas
que habitam estas áreas de riscos, bem como de que forma trabalhar a educação,
não somente com informações e adestramento, mas sim, com trabalhos de Educação
e Percepção Ambiental que auxiliem a formação do senso crítico e análise
das situações diárias que envolvem risco à população. Dentro deste
pensamento, BRÜGGER (1994) enfatiza em seu texto a necessidade de que toda a
educação deveria ser ambiental, pois a “educação ambiental” não pode
ser encarada como uma modalidade da educação tradicional, atualmente o que se
tem é a idéia de compartimentalização da dimensão ambiental. Outro aspecto
que o autor destaca é a abordagem eminentemente liberal e humanista do ensino,
ignorando algumas relações aparentemente externas, tais como relações econômicas,
o terceiro aspecto destacado é a importância da escolha dos termos ou palavras
a serem utilizados nos discursos e ensinamentos, substituindo o adestramento
pela formação que é mais ampla e que permite à discussão dos assuntos. A
atual crise ambiental necessita de novas posturas diante da natureza e das relações
humanas, para isto as disciplinas não devem ser meramente informativas, elas
devem ultrapassar a perspectiva técnico-ambiental. Existe a necessidade da
implementação da interdisciplinaridade, porém esta não pode ser uma mera
justaposição de disciplinas. Além do mais, a Lei
Federal – 9795/99 ainda estipula em seu artigo 2º que a educação
ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional,
devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades
do processo educativo, em caráter formal e não-formal. A
escolha da comunidade do Wehmuth para realizar uma prática de Educação
Amiental partiu de uma necessidade já verificada em trabalhos anteriores
realizados no local, e comprovadamente ser um ambiente propício a ocorrer
deslizamentos, carente de recursos e de informações sobre o assunto. Outro
fator relevante se deve ao fato de no passado já terem sido oferecidos cursos
para essa comunidade de Blumenau/SC e o acesso ao presidente da Associação, um
ator da comunidade que sempre demonstrou solícito a projetos na comunidade.
Ainda deve-se ressaltar que promovendo um curso na mesma localidade é possível
verificar a eficácia ou não de cursos antigos, outro objetivo do artigo. Um
fator interessante e que deve ser destacado é que nas discussões da elaboração
dos objetivos e do plano de ação a ser executado no dia da Educação
Ambiental, foi possível identificar os diferentes pontos de vista dos
componentes que elaboraram a Ação, pois existia uma gama diversificada de
formações profissionais, como: biólogos, engenheiro, arquitetos, advogados.
Esta diversidade foi positiva, pois toda a formação deve possuir uma visão
sistêmica e articulada dos assuntos. 2.
METODOLOGIA Primeiramente foi
discutido em sala de aula, pela turma da matéria de Percepção e Educação
Ambiental, qual o tipo de abordagem a ser utilizado para a prática da Educação
Ambiental. Com base nos textos estudados na disciplina, principalmente o texto
de BRUGGER, 1994, buscou-se adequação do nome que seria dado a este trabalho
prático elucidando as particularidades de se utilizar treinamento, formação,
mini-curso, capacitação, entre outras. Em paralelo foram estudas alternativas
de como chamar o público foco para o trabalho. A partir das idéias iniciais a
turma foi divida em equipes, para agilizar cada uma das etapas do trabalho prático,
todavia todos discutiram sobre cada etapa da metodologia, sendo assim um
trabalho conjunto. 2.1
Planejamento do Curso Com a discussão em
sala feita sobre deslizamentos e já com alguns conceitos trabalhados, a equipe
do mestrado começou então a discutir sobre as estratégias que seriam
utilizadas. Pela falta de horários compatíveis entre os vários membros do
mestrado e da comunidade, foi decidido como melhor horário para a prática um sábado
pela manhã, com o encontro contendo de O primeiro ponto
levantado foi sobre como seria feita a divulgação, decidindo-se que seria
importante a realização de um café no intervalo, como forma não somente de
atrair um público maior como também tornar o encontro algo agradável para os
moradores, que também seriam informados da entrega de certificados aos
participantes. Além de designar uma
equipe de mestrandos para fazer a divulgação, foram também especificadas
equipes que teriam como responsabilidade diferentes atividades que seriam
realizadas no encontro: distribuição de fotos para avaliação do risco de
deslizamento, elaboração de uma breve apresentação sobre temas relacionados
com deslizamento, confecção de um jogo que seria aplicado com os moradores e
uma avaliação final de risco que seria feita após a apresentação, o
objetivo era poder analisar e comparar os dois momentos (antes e após a exposição). A primeira atividade,
a avaliação de fotos, permite identificar o conhecimento das pessoas. (UNESCO/UNEP/IEEP
apud DIAS, 1993). A avaliação das mesmas fotos no término da manhã resultará
numa melhor percepção de quais os assuntos foram melhor assimilados pela
comunidade, contribuindo no aperfeiçoamento contínuo da apresentação feita. Concorda-se com Dale
(apud DIAS, 1993) quando este chama a atenção para que o ensinamento puramente
teórico seja evitado, porém se reconhece a importância nesta etapa de informação.
No jogo, que é a outra etapa do evento, as pessoas simulam situações reais
ligadas à temática, sendo uma técnica que permite grande participação dos
envolvidos, além de permitir a vivência de situações concretas (UNESCO/UNEP/IEEP
apud DIAS, 1993). 2.2
Convidando a Comunidade A divulgação foi
tratada como de importância fundamental, buscou-se estratégias para “chamar
o público”, pois era do conhecimento do grupo a dificuldade de se reunir
pessoas de comunidades carentes em cursos de Educação e Percepção Ambiental. Por isso foi decidido
fazer um convite e um cartaz elucidativo, informando que seria realizado um café-curso,
optou-se por uma palavra conhecida do público: “curso”, mas sabendo de
antemão que não seria o termo mais correto e que seria esclarecido no dia do
evento. “O emprego de algumas palavras
em detrimento de outras é uma escolha política” (BRUGGER, 1994, 79). Já
no certificado o termo utilizado foi capacitação. Outro chamariz para o
evento seria a distribuição de brinquedos, refrigerantes e doces que seriam
doados à comunidade para incrementar o evento de Natal do local que se
aproximava. O convite à população
local foi feito uma semana antes por dois dos mestrandos que, acompanhados pelo
presidente da associação de moradores, visitaram cerca de 60 residências
entregando convites e fixando cartazes do curso em pontos estratégicos da
comunidade, como mercado, igreja, bares, etc... (os demais convites que não
puderam ser entregues no mesmo dia ficaram com o presidente da associação de
moradores, que os entregou durante a semana). O fato de este conhecer toda a
comunidade facilitou muito o trabalho de divulgação. Neste processo foi possível
perceber que, apesar da temática do curso ser de suma importância e interesse
direto a todos, dois fatores despertaram bastante atenção dos moradores quanto
a realização do curso, o da distribuição de certificados logo após o
encerramento da atividade a cada participante e o oferecimento de um café no
intervalo do curso. 2.3
Realização do Curso Quanto à importância
da distribuição de certificados esta pode ser notada não somente pela expressão
dos moradores assim que era mencionada a distribuição destes, mas também no
fato dos participantes do encontro realizado anteriormente perguntarem sobre o
certificado. Durante a entrega dos convites, pode-se perceber também que o
perigo de deslizamentos existe em um grande número de residências do local.
Outro fator importante foi levantado pelo presidente da associação de
moradores, que sugeriu ressaltar a temática do lixo durante o mini-curso.
Chamou a atenção também os convites não serem entregues aos evangélicos.
Isto se deve ao fato de que as reuniões da associação de moradores não
contarem com a presença destes, pois o local onde são realizados é a capela
Santa Bárbara. Na tentativa de sanar este empecilho que dificulta a integração
da comunidade, a associação está pleiteando na prefeitura municipal a compra
de um terreno na comunidade, possibilitando assim a construção de uma sede própria
para a associação de moradores, separando qualquer interesse religioso ao
executado pela associação do bairro. Na última aula antes
do encontro a ser realizado foram confeccionados os certificados. Foram também
avaliadas as fotos que seriam utilizadas, bem como repassadas a apresentação
da parte teórica e o jogo, para que todos da equipe pudessem opinar e conhecer
detalhadamente sobre tudo o que seria feito. A primeira das etapas a serem
vencidas no encontro foi a apresentação da equipe aos moradores e identificação
de todos os participantes (da FURB e moradores) com uma etiqueta contendo o nome
de cada um. Esta medida, apesar de simples, contribuiu em muito para tornar o
ambiente mais amigável, com as pessoas chamando as outras pelo nome, eliminando
a idéia da relação professor-aluno que por muitas vezes faz-se presente
quando se trata de eventos de educação ambiental. 2.3.1
Apresentação da programação do curso Foi pensado em
elaborar um cartaz e explicar como funcionaria todo o evento, cada etapa dentro
da programação. Assim a comunidade poderia acompanhar e situar-se ao longo do
período. O cartaz também foi pensado para facilitar a logística do evento
para a equipe como um todo. Passado este primeiro momento foi então exposto à
comunidade a programação prevista para o encontro. 2.3.2
Apresentação teórica sobre o tema Antes
da apresentação, foi distribuído a cada um dos presentes uma folha com quatro
fotos cada. As fotos representavam residências com diferentes riscos quanto ao
deslizamento, foi solicitado a cada um dos participantes que identificassem nas
fotos os eventuais riscos de deslizamento que as casas das imagens apresentavam,
também existia um espaço de quatro linhas para que se pudessem fazer comentários
sobre as diversas situações. “Psicologicamente
cada pessoa tem uma percepção do meio ambiente e de sua qualidade, percepção
esta que é individual, incomunicável e irreversível” (OLIVEIRA, 1983,
p.5) “Cada
imagem e idéia sobre o mundo são compostas de experiência pessoal,
aprendizado, imaginação e memória” (MACHADO,
1988, p.97). A experiência pessoal cada morador possui, pois convive
diariamente e diretamente com os problemas a serem explanados; a imaginação é
inerente do ser humano; a memória existe, mas por vezes precisa ser reavivada,
e por último a imagem ou idéia do mundo é composta pelo aprendizado, que pode
ou não ter existido e mesmo se já ocorreu, pode ser complementado. Uma vez preenchidas,
as folhas foram recolhidas para então seguirem-se as atividades conforme
programado. Em seguida foi
realizada a apresentação sobre os riscos de deslizamentos, como: lixo, esgoto,
aterro e remoção da vegetação. Para a apresentação foram utilizados
recursos de informática para se projetar as fotos. Um ponto importante a se
ressaltar é que nesta etapa foi dada muito maior ênfase ao conteúdo da
apresentação. BRÜGGER (1994), acerca da utilização de novos recursos didáticos
em educação ambiental afirma que “privilegiar o método é uma maneira de
enfatizar a forma em detrimento do conteúdo.” 2.3.3
O lanche Outro aspecto levado
em consideração durante a apresentação foi quanto à linguagem, buscando
sempre se fazer entender, como é caso da utilização do termo deslizamento, que é o termo utilizado pela comunidade. BRÜGGER,
1994 ressalta que “as palavras são
muito mais do que uma mera forma de expressão e esse é sem dúvida um aspecto
de suma importância que não pode passar despercebido”. O que se procurou
fazer foi aliar o principal objetivo da apresentação, fornecer alguns
conceitos e aconselhamentos importantes para se evitar a ocorrência de
deslizamentos na região, com a utilização de fotos. Pois se julgou o recurso
visual como melhor forma de reconhecimento de situações que ocorrem na
comunidade e que contribuem para acontecimento de escorregamentos. Conforme o prometido
no convite de divulgação após a explanação teórica foi servindo um lanche
para a comunidade contendo cucas, sanduíches e refrigerantes. Sendo assim um
divisor no cronograma do evento. Encerrado
o lanche, a próxima atividade realizada foi o jogo, que foi desenvolvido com o
objetivo de reforçar aquilo que foi passado durante a apresentação bem como
possibilitar uma maior interação com a comunidade devida a dinâmica deste. 2.3.4
O jogo Lúdico Terminada a apresentação
e encerrado o lanche, a próxima atividade realizada foi um jogo, que foi
desenvolvido com o objetivo de reforçar aquilo que foi passado durante a
apresentação, bem como, possibilitar uma maior interação com a comunidade
devido a dinâmica deste. Este
jogo consistia de um tabuleiro com quatro casas (peão individual de cada
jogador), onde cada participante jogava um dado e andava o número de casas de
acordo com o lance do dado feito anteriormente. Após isto, o mesmo participante
retirava uma carta de um monte e entregava ao monitor do jogo (membro da equipe
do mestrado) que então fazia a leitura da mesma. As
cartas continham informações de situações acerca de deslizamentos, metade
das cartas traziam situações positivas e a outra metade com situações
negativas. Um exemplo de uma situação negativa: “Pra construir sua casa, você
desmatou toda encosta, deixando todo solo exposto...”, uma situação positiva
foi “A casa de seu vizinho está construída em área de risco de
deslizamento. Você, solidariamente avisou a ele dos riscos que ele e sua família
correm”. Feita a leitura da
carta, a pessoa que escolheu a mesma era indagada sobre o que foi lido,
expressando-se sobre o risco ou sobre a hipótese de atuação positiva, após a
resposta os demais participantes também comentavam. Esta dinâmica permitiu uma
discussão sobre todos assuntos, envolvendo todos os participantes do jogo.
Encerrada a discussão, o jogador move sua casa para frente, caso tenha retirado
uma carta contendo uma situação positiva, ou então para trás, em caso contrário
ao primeiro. Encerrado este ciclo, passava-se a vez ao próximo jogador. Como pode-se perceber,
o único fator necessário para se “vencer” neste jogo era a sorte. Aquele
que obtivesse apenas lances 6 no dado e retirasse somente cartas com situações
positivas fatalmente venceria o jogo, a não ser é claro que outro participante
tivesse tamanha sorte. Isto foi feito propositadamente, uma vez que o objetivo
do jogo, como citado anteriormente, não era vencer, tampouco criar uma competição
entre os participantes. Pelo contrário, em algumas cartas continham ocasiões
em que se traziam a discussão sobre valores como cooperação e solidariedade,
como no exemplo citado acima. “O conflito também faz parte da essência do próprio pensamento e,
assim, quaisquer perspectivas de mundo ficariam incompletas sem ele” (BRUGGER,
1994, p. 93) Sem a competição
para “vencer” os participantes que ainda não tinham tanto conhecimento não
se sentiam inibidos, ou com a vontade de vencer não deixariam de ajudar o outro
competidor quando alguém não sabia a resposta. Conforme destaca MACHADO, 1998
deve-se ter cuidado, pois cada um percebe diferente, as vezes, na necessidade de
resultados rápidos desconsidera-se as experiências de cada um. E ainda para
favorecer a cooperação entre os competidores membros da mesma comunidade
algumas cartas continham situações em que se traziam a discussão sobre
valores como cooperação e solidariedade. O formato dado ao
jogo, somado ao fato de que cada tabuleiro participavam quatro pessoas da
comunidade além de uma pessoa da equipe do mestrado, favoreceu a união do
conhecimento cientifico com o conhecimento de causa, acrescentando muito ao
jogo, pois a interação equipe-comunidade foi significativamente maior no jogo
do que aquela verificada na apresentação teórica. 2.3.5
Avaliação do Risco de Deslizamentos Encerrado o jogo, as
folhas que foram utilizadas pela comunidade na primeira atividade de avaliação
do risco de deslizamentos, foram devolvidas. A folha foi devolvida aos
participantes para que estes pudessem, com base nos conhecimentos adquiridos
durante todo o encontro, identificar novos riscos de deslizamento em cada uma
das quatro fotos, para isto cada um utilizou uma cor diferenciada de caneta para
fazer a nova análise. Desta forma foi possível fazer uma comparação entre
dois momentos: antes e após a exposição.Esta etapa é essencial para que se
tenham instrumentos e critérios de análise se o programa de Educação
Ambiental surtiu efeito. 2.3.6
Entrega de certificados Outro item reforçado
durante a distribuição dos convites seria a entrega de um certificado. Este é
de extrema importância, pois legitima o conhecimento adquirido durante o
evento. Também é um documento que é levado pra casa e pode ser mostrado para
outras pessoas. Também foi elaborado
um folder contendo algumas dicas sobre como evitar ou diminuir os riscos de
deslizamento, bem como cartazes ilustrativos. 3. RESULTADOS A
divulgação foi certeira, logo comprovada pelo número de pessoas da comunidade
que apareceram no dia e no horário identificados no convite. O ator comunitário
influente ajudou no acesso e criou confiança na comunidade de que seria um
evento sério. Não pode-se negar que o fato o nome “café-curso” e da
distribuição de brinquedos foi outro chamariz importante, sendo que a equipe
era constantemente indagada como seriam e quando ocorreriam ambos. A
utilização da identificação logo na chegada de cada participante, atingiu
seu objetivo, com as pessoas chamando umas as outras pelo nome e quebrando
barreiras de comunicação, impedindo assim níveis hierárquicos, aproximando
comunidade e equipe. Na primeira etapa de
avaliação das fotos, como algumas pessoas não sabiam escrever, foi necessário
pensar numa alternativa. Logo que se notou o problema a comunidade foi avisada
de que bastaria marcar com um “x” ou com círculos onde eles identificam o
risco de deslizamento. Na apresentação das
fotos com o equipamento de multimídia ocorreu um grave problema que poderia ter
comprometido toda a capacitação. Faltou um item do equipamento que sem ele
este não funcionava. Felizmente pode-se buscá-lo, mas por pura sorte e
disponibilidade de tempo. Este fato demonstra que revisar tudo, várias vezes,
é necessário e sempre deve-se pensar em alternativas, porque mesmo com o
equipamento completo este poderia não funcionar. O lanche foi essencial
não só para chamar o público para a capacitação, mas também foi uma pausa
estratégica no evento para não tornar maçante. Por outro lado temia-se que após
o lanche muitos iriam embora, o que não aconteceu, demonstrando assim o
interesse da comunidade e o sucesso do formato como foi levado o encontro. Com o início do jogo
outro ponto negativo ficou evidente: o público alvo, pois apareceram muitas
crianças, em número superior ao de adultos, que não poderiam participar do
jogo. Mas logo a equipe teve uma solução, as crianças foram convidadas a
participar de atividades do lado externo à Capela Santa Bárbara. Tais
atividades foram coordenadas por duas mestrandas que, através desta iniciativa,
tornaram possível uma melhor dinâmica durante o jogo. Por sua vez o formato do
jogo permitiu uma discussão sobre todos assuntos, envolvendo todos os
participantes do jogo e ocorrendo uma maior interação equipe-comunidade, sendo
mais significativa que aquela verificada na apresentação. Durante
o jogo, algumas situações interessantes ocorreram, como o caso de uma senhora
que apenas durante o jogo percebeu que a presença de rachaduras nas paredes
podem ser um indício maior de um futuro escorregamento. Após esta discussão,
esta senhora comunicou que iria inclusive ver se o mesmo ocorria em residências
vizinhas para que se contatasse a defesa civil de Blumenau para melhorar
averiguar o risco de deslizamento que o local continha. A cada nova equipe de
quatro participantes mais descobertas e mais casos foram verificados,
principalmente da comunidade visualizando as situações hipotéticas em situações
reais do Wehlmuth. Ressalta-se
aqui que a educação é um processo de transformação e requer, portanto, uma
adequação. O fundamental é que tal adequação deve privilegiar a dimensão
do coletivo, porém assegurando o florescimento dos atributos de cada indivíduo.
Como as análises efetuadas nas fotos a questão individual foi privilegiada e
ao mesmo tempo pode-se perceber se a capacitação surtiu algum efeito.
Analisando as fotos com as marcações antes e depois pode-se perceber
claramente como os participantes conseguiram identificar mais pontos problemáticos.
Deve-se ressaltar que alguns já na primeira etapa de análise das fotos
conseguiram identificar todos os pontos, sendo que estas pessoas que conseguiram
identificar haviam participado de outro evento sobre deslizamentos realizado na
mesma comunidade. Quanto
à importância da distribuição de certificados esta pode ser notada não
somente pela expressão dos moradores assim que era mencionada a distribuição
destes, mas também no fato de no dia do evento os participantes perguntarem
sobre o Certificado, este foi outro fator que também garantiu a presença dos
participantes até o final da capacitação, onde foram entregues pessoalmente
os certificados aos participantes. 4. CONSIDERAÇÕES
FINAIS Eventos como este,
devem sempre ser passíveis de possíveis mudanças como, por exemplo, as que
ocorrem na fase de avaliação das fotos, quando foi permitido que ao invés de
escrever as pessoas poderiam simplesmente assinalar os fatores de risco. É essencial trabalhar
com uma equipe bastante flexível e sempre preparada para imprevistos, contando
com alternativas para as atividades programadas. O comprometimento de toda a
equipe também é fundamental, assim como seu engajamento. Existem ainda os
imprevistos que fogem do controle da organização como intempéries e o tempo
disponível para preparar um bom material. No caso desta capacitação, as
chuvas que ocorreram antes da data foram um imprevisto positivo que fizeram
aumentar o interesse pelo assunto deslizamento. É importante sempre
fazer alguma forma de avaliação antes e depois de um trabalho de Educação
Ambiental, para desta forma, verificar se os objetivos foram atingidos, o que
neste caso do Welmuth foi bastante positivo. A educação deve também
aceitar situações de conflito e discussões, o que não ocorre O homem transforma o mundo e o mundo transforma o
homem. 5.
REFERÊNCIAS BRASIL.
Lei n.º 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental,
institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.
Disponível em: BRÜGGER, P. Educação
ou adestramento ambiental? Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1994 DIAS,
Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios
e práticas. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Gaia, 1993. FARAH,
Flávio. Habitação e encostas.
São Paulo: 2003. Disponível em <http://www.habitare.org.br/publicacao_colecao3.aspx>
Acessado em 26 jan. 2007. MACHADO, Lucy Maron C. P. A
Serra do Mar Paulista: um estudo de paisagem valorizada. Tese de Doutorado.
Rio Claro: IGE, UNESP, 1988. OLIVEIRA, Lívia. A
percepção da qualidade ambiental. In: A ação do homem e qualidade
ambiental. Rio Claro: Associação dos Geógrafos/ Câmara Municipal, 1983.
Mimeo. PINHEIRO, Adílson; TACHINI,
Mário; RIEKMANN, Carlos Guilherme. ESTUDO DAS CORRELAÇÕES ENTRE PRECIPITAÇÕES
E OS ESCORREGAMENTOS EM ÁREAS DE RISCO EM BLUMENAU – SC. In: Um olhar
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da prevenção. Blumenau: 2005.
Disponível em <http://www.blumenau.sc.gov.br/defesa/publica.htm>
Acessado em: 11 dez. 2006. SEN,
Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Tradução
de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. |