Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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EDUCAÇÃO
AMBIENTAL: PRÁXIS EDUCATIVA TRANSFORMADORA Nilton Manoel Lacerda Adão (niltonadao@hotmail.com) Geógrafo (FURG-RS); Especialista em Sociologia Política e Cultura
(PUC-RJ); Planejamento e Educação
Ambiental (UCAM-RJ); e História do Brasil (UFF-RJ). Professor do Ensino Técnico e Superior (SENAI) em Joinville, SC. RESUMO O posicionamento crítico
se faz necessário ao pensar em uma reestruturação social. As premissas que
sugerem mudanças podem ser forjadas em um processo educativo transformador.
Partindo-se desta evidência, torna-se visível a importância da Educação
Ambiental na busca de um planeta ecologicamente equilibrado e com equidade
social. Com base nesses fundamentos, este trabalho foi construído com o intuito
de promover uma discussão equilibrada das possibilidades de um novo paradigma
de sociedade forjado em uma Educação que se intitule “Ambiental”.
Palavras-chave:
Educação Ambiental, democracia, posicionamento crítico, transformação. INTRODUÇÃO Educar
é transformar o coração e o espírito. Mais do que nunca na história da
humanidade a necessidade de transformação se faz necessária. A proeminência
desta realidade pode ser estruturada, de forma interdisciplinar e holística,
nos pressupostos da Educação Ambiental (EA). Quebrar os axiomas, dogmas e
ortodoxias se faz necessário para a desconstrução do “homem e natureza
objetos”. Assim, para desconstruir o processo de dominações existentes,
faz-se pertinente uma reformulação social com uma visão menos econômica
e mais ecológica. Partindo desta realidade, este ensaio teórico
procura promover a EA como uma práxis educativa parte de um processo
dialógico de promoção de uma sociedade sustentável. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diante
de uma economia globalizada os avanços técnicos e científicos
dinamizam a compreensão humana da complexa
interdependência existente entre espaço e tempo. Como aborda Harvey
(1992, p. 219) “ [... ]o espaço parece encolher numa aldeia global de
telecomunicações e numa espaçonave terra de interdependência ecológicas e
econômicas”. O acesso instantâneo à uma grande quantidade de informações
estimula a formação de novas possibilidades de produção e acesso ao
conhecimento. Paralelamente, de forma desmedida, valoriza-se sociedade de
consumo. Há um entrelaçamento complexo entre as boas e más possibilidades de
vivencias possíveis na Terra. No entanto, já é de conhecimento de todos que o
planeta dá sinais de insustentabilidade. Obviamente este fato traz dúvida
quanto ao futuro da humanidade. Hobsbawn (2006, p. 562) é categórico ao
afirmar que “se a humanidade quer ter um futuro reconhecível, não pode ser
pelo prolongamento do passado ou do presente. Se tentarmos construir um terceiro
milênio nessa base, vamos fracassar.” Faz-se necessário encontrar uma práxis
educativa que visione uma nova compreensão de mundo. Um conhecimento
estruturado e direcionado na busca da sustentabilidade pode promover mudanças
comportamentais visionando uma relação harmoniosa entre sociedade e natureza.
TEIXEIRA ( 2000, p. 102) define o homem como “o animal que se educa,
adaptando-se sem cessar, alargando, dia a dia, a sua compreensão, tornando-se,
enfim, um instrumento permanente de progresso e mudança da própria
natureza.” Neste sentido, a priori, qualquer mudança é possível através da
educação. A riqueza de conhecimentos gerada pelo homem na sua curta passagem,
no planeta, fundamenta a esperança da continuidade da espécie. Para tanto, há
a necessidade de uma ruptura com o modelo atual de sociedade. Na
perspectiva de encontrar um novo paradigma, a Educação Ambiental pode
apresentar-se como uma pedagogia crítica e democrática. Compreende-se por crítica
a busca da verdade em uma dialética axiológica desprendendo-se das pré-noções
e pré-conceitos que geram os axiomas existentes. Na conjetura crítica a única
verdade permanente é a busca incansável da realidade desprovida das
camuflagens apresentadas pelos interesses dominantes. Não havendo a criticidade
não há mudanças a contento e as alienações persistem. Para FREIRE (2003, p.
103) “quanto menos criticidade em nós, tanto mais ingenuamente tratamos os
problemas e discutimos superficialmente os assuntos.” O posicionamento crítico
não só gera o aprofundamento em relação aos assuntos pertinentes, como também,
proporciona a compreensão de que o diálogo deve ser intenso, permanente e,
principalmente, democrático. A
democracia permite uma discussão que agrega além dos conhecimentos eruditos o
conhecimento empírico. Para Perrenoud (2001, p. 151) “seria absurdo
considerar todos os saberes eruditos como declarativos ou fundamentais, ou todos
os saberes do senso comum como aplicados, procedimentais ou pragmáticos.”
Partindo-se, desta possibilidade, haveria uma concepção de mundo que
transcenderia os muros acadêmicos e promoveria uma práxis de compreensão da
realidade passível a todos. Assim, todo indivíduo valeria-se destes
conhecimentos e reconheceria a sua importância como “sujeito” e o seu papel
como inquilino do planeta Terra. Uma dialética crítica fomentaria a
responsabilidade para com o “outro”, construindo noções de valores a
partir de um constante processo de retificação e (ou) ratificação de
atitudes. Manacorda
(1996, p. 7) aponta a necessidade de uma “nova coordenação do saber, de uma
nova articulação entre o conhecer e fazer, que transforma a vida do homem e
exige homens novos.” O primeiro
passo seria reconhecer-se a necessidade de mudança. Os meios são possíveis de
serem encontrados na própria natureza, Lutzenberger (1985, p.102) defendia a
tese de que há modelos de convivências nos sistemas naturais intactos que
podem ser relevantes para a condição humana. Segundo ele, nestes sistemas “não
existem estruturas de poder central, hegemonias, dominação. O que existe é
constelação de equilíbrios.” Dependendo do aprofundamento das discussões,
vários seriam os meios possíveis de se construir um processo educativo em prol
de uma finalidade maior: uma sociedade mais harmônica reconhecendo-se como
parte de um sistema maior chamado Terra. Para Fazenda (1995, p. 51) “toda prática
verdadeira está intimamente correlacionada ao fim que o homem tem em vista e a
seu engajamento no processo produtivo.” Vale mencionar, que a humanidade
construiu seu desenvolvimento histórico através de uma relação de domínio
com a natureza. A partir das transformações dos recursos naturais, por meio do
trabalho, seres humanos construíram o mundo histórico. Saviani (1997) define
que a essência da realidade humana é o trabalho, através dele que o homem age
transformando a natureza de acordo com as suas necessidades. Nestas bases,
construiu-se os processos civilizatórios que forjaram a sociedade atual. É
perceptível na atualidade, a necessidade de um rompimento com esta compreensão
do mundo que preponderou durante toda a história da humanidade.
Diante desta realidade as conquistas do passado devem ser reavaliadas e
uma nova relação com a natureza deve ser buscada. Porém, isto só é possível
quando a compreensão de mundo, que cada indivíduo possui, sobressair-se em
relação aos interesses individuais ampliando os horizontes atitudinais para a
objetivação de uma humanidade que utilize as conquistas científicas para o
progresso social e para o bem estar dos aspectos naturais, na qual o ser humano
está incluso. Wilson
(2002, p.175) acredita na possibilidade de se “procurar uma base comum na qual
o progresso econômico e a conservação possam ser tratados como uma única
meta.” Torna-se claro que a idéia de progresso também deve ser redefinida
apontando como meta a redução da poluição, uso com melhor aproveitamento das
matérias primas reduzindo desperdícios e aumentando a produtividade. Ao
encontro deve-se promover uma “reengenharia” que propicie também o
surgimento de novos empregos, um grande desafio para o atual mundo globalizado.
No que se refere ao campo político as conquistas sociais são o grande desafio
para os países em desenvolvimento na conjuntura neoliberal. Faz-se necessário
um planeta que propiciem a todos o
acesso à novas tecnologias fundamentando-se em necessidades e não apenas “em
consumir pelo simples ato de consumir”. Contrariando o fato que
epistemologicamente consumir é sinônimo de exaurir e destruir,
a prática do consumo deve estar arcada nos interesses coletivos que,
diante desta premissa, torna-se consciente e regulado. Com
base em ações coerentes e harmônicas com a natureza a EA emerge com o seu
papel transformador. Uma sociedade nova necessita de indivíduos conscientes.
Lovelock (2006, p. 142) é coerente ao afirmar que precisamos de uma população
“que se mobilize de forma espontânea e promova, generosamente, uma retirada
ordeira e sustentável para um mundo onde tentemos viver em harmonia com Gaia.”
Cabe a EA promover o diálogo que impulsione esta mobilização. Para Silveira
(1998, p.230) o diálogo é “um movimento de dentro para fora, e vice-versa”
abrangendo os níveis objetivos e subjetivos “que passam a regular e coordenar
o comportamento em sociedade.” O interesse dessa busca é uma sociedade mais
justa e democrática em um mundo ecologicamente equilibrado. Com esta consciência
todos podem contribuir neste diálogo. Reigota (1997, p.62) é muito coerente ao
afirmar que a EA como educação política pode estar “empenhada na formação
do cidadão nacional, continental e planetário, baseando-se no diálogo de
culturas e conhecimento entre povos, gerações e gêneros.” Vale-se nestes
argumentos, o fato que o conhecimento mais do que transmitido é produzido. Não
se aprende do outro, mas com o outro. Eis um dos fundamentos de uma pedagogia crítica
e democrática e por fim transformadora. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este breve ensaio teórico buscou
dentro de um pensamento crítico construir, de forma dialógica, novas
perspectivas sociológicas visando uma sociedade democrática adequada à
necessidades individuais e coletivas da humanidade norteando-se no imperativo da
construção de uma nova consciência ambiental. É fato a necessidade de um
constante processo de transformação de mundo. Este argumento apresenta-se com
melhor clareza diante dos desgastes socioeconômicos e ambientais transcendentes
na contemporaneidade. O antagonismo existente entre o avanço técnico-científico
e a falta de acesso de parte da população mundial deve ser analisado de forma
crítica orientando-se em novas possibilidades, fundamentando-se não nos
fetiches consumistas, mas na construção de uma sociedade sadia (física e
mentalmente) e também, consciente da necessidade de se preservar e conservar o
meio ambiente. Diante destas questões, fica claro que a discussão apresentada
é pertinente e necessária quando uma nova consciência é a meta. E também há
veracidade na afirmação de que todos, de alguma forma, podemos e devemos mudar
visando o equilíbrio com a natureza e uma nova justiça sócio-ambiental.
BIBLIOGRAFIA FAZENDA, Ivani Catarina
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