Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
19/09/2003 (Nº 2) QUANDO O QUINTAL É O MAR A VIDA SÓ PODE SER UMA AVENTURA
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Entrevista: QUANDO O QUINTAL É O MAR A VIDA SÓ PODE SER UMA AVENTURA
Por: Berenice Gehlen Adams
Entrevistados: Vera e Yuri Sanada (www.aventura.com.br - o primeiro portal
de aventuras do Brasil)

Conheci Vera Sanada por uma feliz coincidência, e passei a ser sua fã
minutos depois de uma rápida conversa. Seu envolvimento com aventura e
viagens me fascinou. É uma satisfação poder apresentar o olhar de Vera e
Yuri, aos leitores desta revista eletrônica, sobre a maneira peculiar e
extraordinária de viver: juntos, vivem a bordo de um veleiro, viajam pelo
mundo redescobrindo encantos da terra e do mar, além de desenvolverem um
trabalho fantástico. Como será que é isto? É o que vamos saber...


- É preciso de muita coragem e espírito de aventura para largar tudo, ou
adaptar tudo, e ir morar em uma casa sobre as ondas. Como isto aconteceu?

Realmente, coragem é preciso, pois não é fácil se desprender da terra e
soltar as amarras. Mas tudo é uma questão de gosto. Yuri e eu nos
conhecemos na Inglaterra e estando na Europa, você quer viajar e conhecer o
máximo de lugares possíveis. Começamos a viajar de carona em veleiros, e aí
o sal entrou em nossas veias. Então é só um ventinho soprar a favor e você
escolhe a sua nova morada.

- Qual é, para vocês, a diferença entre morar em terra firme e morar sobre a
água, e o que isto modifica em termos de hábitos de uma forma geral?

Morar em um barco, tem-se a vantagem de soltar as amarras e conhecer novos
lugares e pessoas, é uma janelinha para o mundo, onde você continua a levar
a sua história onde você vai. O barco é o nosso lar, é a nossa vida, é o
nosso mundo. Os hábitos mudam de uma forma natural, você torna-se uma pessoa
mais simples até na maneira de se vestir, basta uma bermuda e camiseta e
você está bem. Você tem mais contato com a natureza, aliás você se sente
como se fosse a própria natureza.

- Aqui da cidade quase não enxergamos as estrelas, e deve ser um grande
privilégio contemplar o infinito sem influência de luzes artificiais. Como é
o céu visto do meio do oceano, a noite?

O céu é maravilhoso e imenso, como todos sabem, mas do meio do oceano é
inexplicável a sua magnitude, só quem já esteve a luz do luar e estrelas com
um oceano ao redor poderá saber o que estamos falando.
No mês de abril e maio deste ano aconteceu o alinhamento dos planetas, e nós
pudemos vê-los. Você já se imaginou no meio do oceano apenas com o barulho
do mar conduzindo um veleiro sobre um céu estrelado? Quando você tiver esta
oportunidade entenderá a sua magia.

- Qual é a sensação de conhecer, olho no olho, o maior de todos os animais
terrestres, a Baleia Azul?

Quando vimos pela primeira vez uma baleia azul ao lado de nosso pequeno
veleiro, sentimos um pouco de medo, pois se ela resolvesse dar uma viradinha
poderia bater em nós. Mas depois que caímos em nós e entendemos
quem estava ao nosso lado, tão formosa e tranqüila sentimos um pouco mais a
imensidão da natureza. Foi um momento de contemplação e respeito.

- Como é a rotina a bordo?

Nós escrevemos livros e fazemos documentários em vídeos. Quando estamos
navegando, aproveitamos o tempo para ler, pesquisar e escrever. Yuri, depois
de captarmos algumas imagens, aproveita para fazer as edições, pois temos
uma ilha de edição não linear a bordo do Clach na Sula. Só que o barco não
pára no meio do oceano para dormirmos, você imagina quantos metros de cabos
e correntes seria necessário para ancorarmos na imensidão azul? Como o
veleiro continua navegando, normalmente com piloto automático, fazemos
turnos de vigia, pois mesmo com o radar ligado, precisamos estar atentos a
algum obstáculo que possa estar em nossa rota, como bancos de
areia, navios até mesmo uma baleia. Os turnos normalmente são de duas
em duas horas, para que possamos descançar. Aconteceu conosco próximo a
Dakar na costa da África, quando Yuri estava no convés arrumando uma peça
que havia quebrado, quando olhou para o horizonte e viu uma espuma branca em
nossa frente. Pediu-me rapidamente para mudar de curso. Fomos verificar na
carta náutica atualizada e nada constava, como o Clach na Sula tem mais de
27 anos, mantivemos as cartas originais e verificamos que naquele local
estava um banco de areia, poderíamos encalhar a mais de 200
milhas da costa africana.

- Em relação às questões ambientais, como vocês vêem a degradação do meio
ambiente?

O planeta está em constante evolução, e com ele o homem. E com esta evolução
rápida, o homem não está conseguindo acompanhar os efeitos que tem causado
ao meio ambiente, e cada vez vai ficando mais tarde para encontrar uma
solução. Realmente a tecnologia facilitou a nossa vida,
principalmente na área médica, pois as pessoas vivem mais e proliferam
mais. Essa história de clone, ao nosso ver, não é muito positiva, pois o
planeta está ficando lotado, causando algumas mudanças um tanto drásticas a
natureza, e quem sai prejudicado somos nós mesmos.

- O que poderia ser dito sobre os livros, produções em vídeo, cursos que
vocês desenvolvem?

Quais são as suas principais metas?
Sobre os livros, só podemos dizer, LEIAM. Aliás nós brasileiros precisamos
criar este hábito. Quando resolvemos morar a bordo e fazermos nossas
produções, queremos transmitir as nossas experiências e conhecimentos.
Nossos livros mostram o lado da vida a bordo, do comportamento e de
histórias. O livro Braazi, lançado em 2001, é uma nova experiência em
romance histórico, baseado na bíblia e numa expedição que
realizamos em busca de informações. Nossas aventuras, sempre tem um cunho
cultural. Ainda em 2002 lançaremos mais dois livros. E também estará
veiculando em breve nossos documentários em emissora nacional.
Administramos palestras em empresas, baseadas em nossas experiências
dirigidas ao planejamento, logística, administração, qualidade
de vida, até mesmo vendas. Um dos livros a ser lançado este ano, envolve
estes temas.
Para aqueles que querem mais detalhes sobre nossos livros e também produções
e palestras, podem visitar o site aventura.com.br.

- Qual a mensagem que vocês poderiam deixar para os leitores da revista
eletrônica Educação Ambiental em Ação?

Não ter medo de soltar as amarras e buscar a sua realização e qualidade de
vida.
Ilustrações: Silvana Santos