Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Breves Comunicações
08/12/2007 (Nº 22) É preciso novos hábitos
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=515 
  
Educação Ambiental em Ação 22

É preciso novos hábitos

Grazielle Coelho Medeiros Stiefelmann

CENED

 

O Homem vem agindo e interferindo no meio ambiente desde a Revolução Industrial (final séc. XVIII) e suas ações causam impacto e  vem se alarmando. Estudos relatam que a partir da década de 80, a maioria dos países criou leis ambientais ou tornou as existentes mais restritivas, regulando assim as atividades industriais e comerciais, que concerne os impactos sobre o solo, a água e o ar. Para a garantia das leis foram criados órgãos específicos e Ong’s, aumentando a conscientização ambiental.

Em 1996 foram criadas no Brasil as normas de qualidade ambiental da serie ISO 14000, com o intuito de que a organização minimize os efeitos nocivos do ambiente, causados por suas atividades.

Segundo os estudiosos de problemas relacionados à deterioração do ambiente nas últimas décadas, a reversão deste quadro indica que um esforço imprescindível deve ser realizado: consiste em fazer com que as extremidades ambientais (isto é, conseqüências indiretas de iniciativas econômicas sobre a natureza) sejam internalizadas à racionalidade dos sistemas produtivos e de mercado. Dentro dessa perspectiva, é considerado necessário interromper a exaustão de diferentes tipos de recursos naturais, por meio de fazer com que passem a ser considerados nos processos produtivos. (FERREIRA, 2004, p.19)

  Diante dos dados obtidos podemos unir a psicologia ambiental e um sistema de gestão ambiental que possa analisar, explicar e fornecer informações capazes de identificar as condições envolvidas na relação homem X meio ambiente e no bem estar, ajudando assim na tomada de decisões relacionadas as questões ambientais.

A Psicologia ambiental estuda o homem em seu contexto físico e social. Busca suas inter-relações com o ambiente, atribuindo importância às percepções, atitudes, avaliações ou representações ambientais, ao mesmo tempo considerando os comportamentos associados a ela.

Segundo Pinheiro, Gunther e Guzzo, 2004, p.7:

 

“A psicologia ambiental se interessa pelos efeitos das condições do ambiente sobre os comportamentos individuais tanto quanto como o individuo percebe e atua em seu entorno. Os efeitos destes fatores físicos e sociais, estão associados à percepção que se tem deles, e, nesse sentido, estudando-se as interações. Tem sido considerada como a Psicologia do Espaço, analisando percepções, atitudes e comportamentos de indivíduos e comunidades em estreitas relações com o contexto físico e social”.

 

A psicologia possibilita intervenção, conscientização e a mudança de comportamento, que podem auxiliar na construção de um sistema de gestão ambiental satisfatório. Propondo uma política ambiental que apresenta vantagens econômicas e reconhecimento social para as organizações.

A gestão ambiental visa a importância da eco-eficiência, que tem como finalidade operar uma empresa reduzindo ao máximo o consumo de matérias-primas, insumos e energia, otimizando todo o processo produtivo e reduzindo o impacto ambiental; inclui também a utilização de tecnologias menos poluentes ou perigosas (tecnologias limpas) e técnicas de prevenção de poluição; proporcionando assim práticas de gerenciamento voltadas para uma atuação empresarial responsável, baseada nos parâmetros do desenvolvimento sustentável, que visa suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações, planejando e reconhecendo que os recursos naturais são finitos; e sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos, e o aumento da reutilização e da reciclagem.

A conscientização ambiental é cada vez mais importante em um mercado onde leis ambientais tendem a ser mais rigorosas, os consumidores mais exigentes e os concorrentes mais eficientes. As empresas que não respeitam as leis ambientais estão sujeitas a comprometer a própria existência em função de multas e sanções. É possível respeitar o meio ambiente e ser lucrativo, crescer e ser ambiental e socialmente responsável. As empresas que gerenciam melhor o impacto ambiental são as que representam o menor risco de crédito e por isso pagam menos juros. A gestão eco-eficiente traz outros resultados práticos as empresas, tais como: redução dos custos de produção; redução do número de acidentes de trabalho; redução dos custos de seguro; melhor relacionamento com órgãos de controle ambiental; aumento da cotação de ações da empresa e a melhoria da imagem da empresa perante os consumidores e a comunidade. Os investidores confiam na gestão financeira de empresas ambientalmente sustentáveis, sendo assim, os fundos dedicados a investimentos sustentáveis, têm registrado um retorno financeiro acima da média.

Para modificar o comportamento de empresas e pessoas que degradam o meio ambiente, precisamos de reformas não apenas tributárias e trabalhistas (indutoras de comportamento), mas também de uma reforma de valores,  conscientização,  mudança de comportamento e repensar as ações.

Os problemas humanos, quer sejam econômicos, políticos ou sociais, dependem do centro psicológico da motivação, dos valores e atitudes que dirigem as energias para os objetivos. Os problemas ambientais ressaltam também mudanças de valores e atitudes, igualmente responsáveis por densas e profundas alterações na qualidade de vida dos cidadãos. A percepção que os usuários possuem a respeito de seu potencial de participar em decisões sobre seu ambiente, contribui para que enxerguem seus próprios valores contextuais expressos nas suas ações, assim serão participantes e não apenas observadores passivos.

Partindo da sensibilização, da conscientização e da mudança comportamental com uma ética ecológica e de uma preocupação com o bem-estar das futuras gerações, dos funcionários e da organização, temos como ponto de partida a mudança dos valores existentes na cultura organizacional. Podendo incluir valores voltados à preocupação com o ambiente. Mostrando que o crescimento econômico ilimitado em um planeta finito leva conseqüentemente a desastres ecológicos.

Hoje temos como desafio possibilitar que as pessoas se tornem agentes ativos do processo de conscientização ecológica, criando estratégias que modifiquem e mobilizem as pessoas, proporcionando também formas de educação ambiental que se estenda para a sociedade.

O futuro depende mais do que nunca da nossa capacidade de encontrar soluções conjuntas, que incluam e envolvam a todos, compartilhando benefícios e dividindo dificuldades, pois é a partir de pequenas alterações em nossos hábitos, que conseguiremos grandes benefícios para nós mesmos e para todas as formas de vida do planeta.

Percebendo e transmitindo para as pessoas que o homem é parte integrante do meio ambiente, que é composto pelos elementos da natureza e pelos elementos construídos pelo homem. Portanto, fazemos parte da natureza e não podemos viver sem ela. Para satisfazermos nossas necessidades, precisamos utilizar racionalmente os recursos naturais, tais como as florestas que podem ser renovados pela ação da natureza e às vezes com a ajuda do homem; mas existem outros que, uma vez utilizados, não poderão ser repostos.

Sabemos que ao longo da história a relação do homem e ambiente tem sido muito desfavorável para o planeta. Desde o surgimento da espécie humana, o homem utilizou os recursos naturais, gerou resíduos com baixo nível de preocupação, degradando-o primeiro através de queimadas e depois com a evolução tecnológica/industrial, surgem novas maneiras de agredir a natureza, isto é, os recursos eram abundantes e a natureza aceitava sem reclamar os despejos realizados já que o enfoque sempre foi diluir e dispersar. Atualmente existe a consciência que a degradação de qualquer ambiente  provoca vários impactos, de baixa ou alta relevância, mas que somados podem levar ao desaparecimento de ecossistemas inteiros.

            Para que haja uma mudança de postura, dentro desta realidade em que vivemos, se faz necessário à percepção de que a degradação ambiental já está passando a causar graves problemas, assim o conhecimento das situações prevê as tendências para o futuro no qual à motivação deve existir nas pessoas e nas empresas para a realização das mudanças necessárias no comportamento frente à questão ambiental.

            De acordo com Reis e Queiroz (2002, p.62) a alta administração das empresas tem um papel chave a desempenhar na conscientização e motivação dos empregados, explicando os valores ambientais da organização e comunicando o seu próprio comprometimento com a política ambiental. É o comprometimento individual das pessoas, no contexto dos valores ambientais compartilhados, que faz com que a mudança de comportamento saia da intenção e se transforme em um processo eficaz. Os autores dizem que é recomendado que todos os membros da organização correspondam e sejam estimulados a aceitar a importância de atingir objetivos e metas ambientais, pelos quais são responsáveis. Afirmam que a motivação para a melhoria contínua pode ser reforçada quando os empregados são reconhecidos pelo atendimento dos objetivos e metas ambientais e encorajados a apresentar sugestões que conduzam a um melhor desempenho ambiental.

Portanto, é preciso sensibilizar e conscientizar a sociedade na qualidade de membros do planeta Terra, que o ser humano deve perceber individualmente depois atingir coletivamente que é necessário ocorrer mudanças no comportamento, para que tenha mudança no meio ambiente esclarecendo que o uso indevido e sem controle dos recursos naturais acabará por voltar-se contra todos nós.

O psicólogo se insere neste contexto detendo o poder e o conhecimento da modificação não só comportamental como cognitiva, isto é, mudança de comportamento e de pensamento dos componentes da sociedade. Com a inserção do trabalho do psicólogo na organização este torna-se responsável pela conscientização e pela aplicação de técnicas oriundas de teorias científicas que serão responsáveis pela efetiva mudança comportamental e cognitiva.

 

Referências:

 

FERREIRA, Marcos Ribeiro. Psicologia problemas ambientais como desafio para a psicologia. In. PINHEIRO, José Q.; GUNTHER, Hartmut e GUZZO, Raquel S. L. (orgs). Psicologia Ambiental: entendendo as relações do homem com seu ambiente. São Paulo: Alínea, 2004

PINHEIRO, José Q.; GUNTHER, Hartmut e GUZZO, Raquel S. L. Psicologia Ambiental: área emergente ou referencial para um futuro sustentável?. In: PINHEIRO, José Q., GUNTHER, Hartmut e GUZZO, Raquel S. L. (orgs). Psicologia Ambiental: entendendo as relações do homem com o seu ambiente. São Paulo: Alínea, 2004.

REIS, Luis Filipe Sanches de Sousa Dias; QUEIROZ, Sandra Maria Pereira de. Gestão ambiental em pequenas e médias empresas. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.

Ilustrações: Silvana Santos