Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Reflexão
14/12/2006 (Nº 19) Crianças e Peixes
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Crianças e Peixes

Berenice Gehlen Adams

(Sobre o acidente ecológico que provocou a morte de milhares de peixes (4 toneladas) no Rio dos Sinos, no município de Sapucaia do Sul, a pouco menos de 20 quilômetros de Porto Alegre/RS, em outubro de 2006)

 

Uma menina com seus quatro ou cinco anos de idade depara-se, pela primeira vez, com uma cena que provavelmente levará na lembrança pelo resto da vida: milhares de peixes mortos boiando na superfície do Rio dos Sinos. Seu olhar vago, sua postura, sua inércia diante do que estava vendo naquele sábado à tarde, evidenciaram o nascimento de muitas questões: “O que está acontecendo?”, “Quem fez isto?”, “Por quê estes peixinhos estão todos de barriga para cima, mortos?” – se é que ela já entende o que é a morte. Vai ser bem difícil para ela assimilar o que presenciou. Assim como ela, dezenas de crianças que estavam a bordo do Martim Pescador e que presenciaram a cena em pleno momento de atividades de Educação Ambiental, certamente ficaram sem compreender aquela visão assustadora, além de outras centenas de milhares de crianças que tomaram conhecimento do desastre através dos meios de comunicação.

É urgente apresentar respostas a estas crianças. E o que explicar? Como explicar? Por onde começar uma conversa sobre um assunto tão complexo e difícil até para nós adultos compreendermos?

É uma dura tarefa, porém, necessária: é preciso esclarecer os fatos, aos poucos, e ajudar as crianças a lidarem de forma significativa – e não fantasiosa - com o ocorrido, envolvendo-as em atividades de sensibilização e de reflexão, possibilitando a compreensão de como funciona o ciclo da vida, e de como é delicado o ecossistema frente a nossa forma de viver que reflete a cultura do consumo e da utilização desenfreada dos recursos naturais.

Através das fotos do desastre veiculadas nos meios de comunicação, é possível visualizar muito lixo (garrafas pet, embalagens, galões e outras coisas que bóiam), além dos peixes mortos, e, independente de a causa ter sido um fato isolado (que eu não acredito) ou ter sido resposta a uma situação cumulativa de poluição ambiental, é preciso levar respostas a estas crianças, antes que elas se sintam desprotegidas, a mercê de uma cultura que dia após dia degrada mais e mais a terra em que vivem, e, principalmente, antes que elas já não acreditem mais nos adultos que as educam.

 

´Publicado também em www.apoema.com.br

 

Ilustrações: Silvana Santos