Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Para Sensibilizar
01/06/2015 (Nº 1) O LOBO MAU
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O LOBO MAU

Leif Fearn, San Diego, Califónia

A floresta era minha casa. Eu vivia lá e cuidava dela. Eu tentava mantê-la em ordem e limpa.

Então, num dia ensolarado, enquanto eu limpava o lixo que alguns campistas haviam deixado, ouvi ruídos de passos. Pulei para trás de uma árvore e observei uma garotinha bastante comum vindo pela trilha, carregando uma cesta. Eu fiquei desconfiado da menina no mesmo instante, porque ela estava vestida de maneira esquisita – toda de vermelho e com a cabeça escondida em um capuz, como se não quisesse ser reconhecida. Naturalmente, eu me aproximei para descobrir quem era ela. Perguntei seu nome e para onde ela ia, de onde vinha, coisas assim. Ela respondeu com uma canção e uma dança que ela ia até a casa de sua avó para levar-lhe um lanche. Ela parecia ser uma pessoa honesta, mas ela estava em minha floresta e certamente parecia suspeita com aquele jeito esquisito de se comportar. Então eu resolvi ensinar-lhe que não era conveniente aventura-se pela floresta sem ser anunciada e vestida de forma tão esquisita.

Deixei que ela prosseguisse em seu caminho, mas corri à frente para a casa de sua avó. Quando encontrei a velhinha simpática, expliquei-lhe meu problema e ela concordou que sua neta precisava de uma lição. A velha senhora concordou em se esconder, até que eu a chamasse. De fato, ela se escondeu embaixo da cama.

Quando a garota chegou, eu pedi que ela entrasse no quarto, onde eu estava deitado na cama, vestido com as roupas da avó. A menina entrou com suas bochechas coradas e fez um comentário desagradável sobre minhas grandes orelhas. Como eu já tinha sido insultado antes, não me importei e disse que minhas orelhas grandes me ajudavam a ouvi-la melhor. O que eu queria dizer é que eu gostava dela e desejava prestar atenção no que ela estava dizendo. Mas ela fez outra crítica sobre meus olhos saltados. Agora eu comecei a perceber que esta menina, apesar da aparência simpática, era uma pessoa muito irritante. Mesmo assim, eu ofereci a outra face, dizendo que meus olhos grandes me ajudavam a vê-la melhor.

Mas seu próximo insulto realmente me irritou. Eu sou complexado por causa dos meus dentões. E a menina caçoou deles. Eu sei que eu deveria ser mais controlado, mas eu pulei na cama e rosnei que meus dentes poderiam ajudar-me a comê-la depressa.

Agora, vamos encarar os fatos: todo mundo sabe que um lobo jamais comeria uma menina – mas aquela garotinha maluca começou a correr pela casa gritando – e eu atrás dela, tentando acalmá-la. Eu tirei as roupas da avó, mas isso só piorou as coisas. E de repente, a porta se abriu e um lenhador grandalhão entrou com seu machado. Quando olhei para ele, senti que eu estava encrencado. Então fugi pela janela que estava aberta ao meu lado.

Gostaria de acrescentar que foi assim que a coisa terminou. Mas a avó da menina nunca contou o meu lado da história. Não demorou para a fofoca se espalhar, dizendo que eu era um sujeito mau e perigoso. Todos começaram a me evitar. Eu não sei o que aconteceu com a garotinha de vestido vermelho esquisito, mas a minha vida nunca mais foi feliz depois disso.

In:
GRAHAM, P. SELBY, D. Educação Global: o aprendizado global. Vol.1. São Paulo: TEXTONOVO, 1999. p.83.
Ilustrações: Silvana Santos