Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Meio Ambiente e Experiência da Diferença
05/09/2006 (Nº 18) Experiências Ambientais - Entrevista a Maria da Penha Padovan
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Experiências Ambientais - Entrevista a Maria da Penha Padovan


Maria da Penha Padovan, bióloga, MSc Conservação de Biodiversidade, coordenadora de Meio Ambiente do Incaper – Instituto Capixaba de Pesquisa, assistência técnica e extensão rural do Espírito Santo e coordenadora do comitê estadual de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.


  Márcia - Qual a importância das unidades de conservação no processo de educação ambiental?
 
Penha - As unidades de conservação estão se consolidação cada vez mais como espaços de lazer, recreação e educação ao ar livre. Em alguns países, as unidades de conservação são destinos certos das famílias em épocas de férias e de estudantes em períodos escolares.  Determinadas categorias de manejo e, mais especificamente, os parques, têm um potencial fundamental de contribuir para mudanças de comportamento com relação ao ambiente. Um parque estruturado com centro de visitantes, auditório e trilhas interpretativas possui os meios que facilitam a formação de cidadãos mais responsáveis com a conservação dos recursos naturais. Os que não contam com esta estrutura e organização, atualmente, podem contar com mecanismos de apoio para o seu planejamento e implantação como, por exemplo, o Fundo Nacional do Meio Ambiente, assim como outras fontes de financiamento direcionadas à conservação. 


 Márcia - Gostaria que você falasse sobre a experiência que mais lhe marcou na área de  conservação:
 
Penha - A minha experiência mais interessante no trabalho com as unidades de conservação foi, sem dúvida, a criação e estruturação do Parque Estadual de Itaúnas, no município de Conceição da Barra, Espírito Santo, em 1991. Na época, eu estava trabalhando na implantação da base do Projeto TAMAR em Itaúnas, quando a tentativa de estabelecer um loteamento e um hotel ao lado das dunas, em uma área totalmente susceptível à erosão e com clara vocação para a conservação, motivou a criação do Parque. Este fato trouxe um tema totalmente novo para a comunidade local, que se alimentava dos ovos de tartarugas e sobrevivia basicamente da pesca no rio e no mar. Foi necessário um trabalho de educação ambiental muito intenso junto aos moradores e que teve como foco principal a escola. Uma das estratégias mais importantes foi, além da presença constante nas salas de aula, a promoção de excursões a outros municípios. Fomos com a escola e lideranças locais a Linhares, onde é feito um trabalho de conservação das tartarugas marinhas de forma bastante integrada com a comunidade de Regência, na qual crianças e adultos tiveram a oportunidade de conhecer e ficaram encantadas com a foz do rio Doce. As visitas ao Mosteiro Zen  Morro da Vargem,  ao Museu de Biologia Mello Leitão e à Reserva Santa Lúcia proporcionaram o conhecimento de outras realidades (muitos nunca tinham tido a oportunidade de sair da Vila nem mesmo tinham ido à sede do município) e perceberam que a conservação da natureza era um tema que também era vivenciado em outros lugares e que merecia a atenção da comunidade. Os resultados logo se fizeram notar no respeito e participação nos projetos que eram desenvolvidos. Os ovos de tartaruga deixaram de fazer parte do cardápio e começou um movimento primeiro pela limpeza urbana e pelo cuidado com os espaços públicos. Infelizmente, o turismo veio e cresceu muito mais rápido que o trabalho de valorização da cultura e do ambiente local e essa é mais uma razão para que a educação ambiental seja um processo constante e que contribua para o equilíbrio não apenas ambiental, mas também cultural dos cidadãos. 

 Márcia - E sobre a experiência na Costa Rica, o que você destacaria como aprendizado, no que se refere ao turismo e à educação ambiental?
 
Penha - Tive a oportunidade de fazer o mestrado na Costa Rica, na América Central, em 2001 e pude conhecer um país realmente fantástico e uma referência para o mundo na conservação e manejo dos recursos naturais. A Costa Rica tem pouco mais de 4 milhões de habitantes e um índice de analfabetismo que não chega a 4%. Os investimentos em educação têm sido contínuos nos últimos 60 anos e os reflexos são visíveis. Aliado à capacidade de geração de tecnologias, o país conta com uma natureza privilegiada e protegida em mais de 25% de áreas de vegetação natural. Banhada pelos oceanos Atlântico e Pacífico, a Costa Rica é atravessada por uma cadeia de montanhas que chega a quase quatro mil metros de altura, proporcionando uma grande diversidade de ambientes e, conseqüentemente, uma das mais ricas diversidades biológicas do planeta. A proximidade com os países da América do Norte facilita o desenvolvimento do turismo ecológico e as unidades de conservação públicas e privadas são os principais centros desta atividade. O país tem feito muitos avanços em termos de avaliar a capacidade de carga e analisar a capacidade de manejo das unidades de conservação, visando atingir os objetivos de educação ambiental. A educação ambiental na Costa Rica vai além de suas fronteiras quando trabalha fortemente com grupos de estudantes estrangeiros, que passam uma parte de seu horário acadêmico percorrendo as unidades de conservação e conhecendo a rica biodiversidade tropical.
 
  
Márcia – Penha, conviver, estudar e realizar projetos com você tem sido uma constante aprendizagem e uma experiência sempre nova, quer na área ambiental, quer na área humana, pela sensibilidade e dignidade que imprime a tudo o que faz.
 
 
                                                                                        Márcia Lins Rosas
                                                                        psicóloga, especialista em psicologia social
Ilustrações: Silvana Santos