Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Dicas e Curiosidades
23/05/2006 (Nº 17) CUIDADOS COM A SAÚDE
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CUIDADOS COM A SAÚDE *

 

 

Nos dias de hoje, buscamos a saúde de várias formas, seja de forma direta, pela cura ou tratamento de patologias; ou de forma indireta por medidas preventivas, tais como a prática de exercícios físicos regulares, a introdução de uma alimentação mais saudável e a eliminação de maus hábitos.

 

O público, em geral, tem um grande fascínio pelas novas descobertas no campo da saúde, visto que elas dão esperanças de cura, de prolongamento da vida e da juventude. A própria mídia acaba enfatizando bastante essa busca, contribuindo para o aumento da demanda por consultas médicas especializadas. Contudo, muitas das informações sobre medicamentos veiculadas na mídia são tendenciosas, predominando as boas notícias e a supervalorização das propriedades medicamentosas, estimulando também o autoconsumo de medicamentos. (3)

 

Além da mídia, no Brasil existem vários fatores culturais que levam grande parte da população a não buscar a orientação de um profissional qualificado para resolver seus problemas de saúde, preferindo muitas vezes as práticas da “vizinhoterapia”. É raro encontrar uma pessoa que nunca tenha pedido algum conselho para um amigo, algum parente ou até mesmo para o vizinho.(2)

 

Infelizmente, nem tudo o que dá certo para o vizinho dá certo para nós. Isso pode ser comprovado pelas estatísticas do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). De 1993 a 1996, foram registrados no Brasil, 217.512 casos de intoxicação humana, com um total de 1.483 óbitos. Nesse período, os medicamentos se destacaram entre os agentes tóxicos, contribuindo com 27% dos casos registrados pela Rede de Centros de Controle de Intoxicações e ocupando o primeiro lugar nas estatísticas relativas a esses eventos.(1) Simplificando, temos que praticamente 1/3 dos casos de intoxicação acontecem pelo mau uso ou uso indevido de medicamentos, sendo a principal causa de todas as intoxicações.

 

Vivemos numa época que temos medicamentos específicos para todos os males: temos medicamentos para tratamento de ejaculação precoce, impotência, depressão, mau-humor, preguiça crônica, distraibilidade, etc. Isso tudo vem se traduzindo numa medicalização da vida cotidiana, pretendendo a simplificação e o menor esforço. Não se pode negar os enormes avanços que os recursos farmacológicos têm ocasionado, minorando o sofrimento daqueles que padecem de enfermidades físicas ou psíquicas.(2)

 

A medicação vem sendo utilizada não somente como forma de alívio ou de cura de uma determinada síndrome, mas também como a suposta promessa de restaurar a natureza humana normal. (2) Devido a esses fatores, as pessoas muitas vezes têm banalizado o uso dos medicamentos e ingerindo algo que muitas vezes nem é necessário.

 

Passando por um momento de tristeza, muitos já recorrem ao uso de antidepressivos; buscando uma redução no peso, vão direto para medicamentos que eliminem a fome. As pessoas não se esforçam mais para conseguir alcançar seus objetivos em médio prazo, desejam que tudo seja instantâneo e se resolva com a ingestão de uma única pílula.

 

São as tentativas de utilizarmos as medicações para constituirmos um sujeito sem conflitos, sem angústias, sem limitações. Dizendo de um modo ainda mais claro, parece lícito afirmar que, se é fato que as medicações tratam com eficácia os transtornos patológicos, transcende as suas possibilidades e objetivos imaginarmos que, com a sua ajuda, o homem não terá mais que lidar com angústias, sofrimentos, melancolias.(2)

 

 

Referências Bibliográficas:

 

1. BORTOLETTO, M. É.; BOCHNER, R. Drug impact on human poisoning in Brazil. Cad. Saúde Pública, vol.15, no.4, p.859-869, oct./dic. 1999. Disponível em: . ISSN 0102-311X.

 

2. Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. II Seminário: Fracionamento de Medicamentos – Acesso x Uso Racional. São Paulo, 26 de Maio de 2006.

 

3. LAGE, E. A.; FREITAS, M. I. de F. e ACURCIO, F. de A.  Information on medicines in the media: a contribution to rational use?. Ciênc. saúde coletiva, vol.10, p.133-139, Sept./Dec. 2005. Disponível em : .

 

4. RODRIGUES, J. T.. Medicine as an unique answer: a contemporaneous illusion. Psicol. estud., vol.8, no.1, p.13-22, Jan./June 2003, disponível em: . ISSN 1413-7372.

 

 

Colaboração: Iahel Manon de Lima Ferreira

Farmacêutica, CRF 36.279

Contato: iahelmanon@hotmail.com

 

*Essa coluna visa abordar alguns assuntos relacionados a cuidados com a saúde. Se você desejar que algum tópico seja abordado especialmente, entre em contato e envie sua sugestão.

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos