Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
23/05/2006 (Nº 17) Entrevist@ com Alexandre Pedrini
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Entrevist@ com Alexandre Pedrini
Por Berenice Gehlen Adams -
Para a revista eletrônica Educação Ambiental em Ação (17a. Edição)



Apresentação: Esta edição comemorativa da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação, que abre o seu 5o. ano de atuação, tem a honra de apresentar a entrevist@ com Alexandre de Gusmão Pedrini, que é professor adjunto do Instituto de Biologia da UERJ, doutor pela UFRJ e analista em
C&T da CNEN. Ele tem diversos livros publicados, dos quais foi organizador e autor. Publicou também trabalhos no Brasil e no exterior, além de ter participado da organização do I, II e III Congressos Mundiais de EA e do V Congresso Ibero-Americano de EA. Sua bagagem de experiências e pesquisas em Educação Ambiental é valiosíssima e pretendemos dividí-la com nossos/as assíduos/as leitores/as da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação. Então, vamos ao que interessa, a nossa entrevist@:


- Prezado Pedrini, agradeço pela sua participação nesta edição comemorativa, e inicio esta entrevista perguntando como iniciou o seu envolvimento com a Educação Ambiental? Houve algum momento específico que o motivou a olhar mais de perto a Educação Ambiental? Conte-nos um pouco do início da sua trajetória.

Meu envolvimento com a EA se deu motivado pela consciência de perceber o caos socioambiental em que vive o Brasil e os países latino-americanos. Como era um biólogo-botânico e especialista em algas marinhas de costões e lagoas percebi que poderia atuar na EA. A EA na época estava carente de gente séria e experiente no campo das ciências naturais e decidi junto com meus estagiários (Joel Campos de Paula e Valéria Cassano) também botânicos a dar parte de nosso tempo para atuar em EA. Daí, programamos um curso, no qual, seríamos professores e alunos e fizemos uma abordagem multidisciplinar. O curso foi divulgado amplamente pelas televisões e rádios e cerca de 200 pessoas compareceram a UERJ, e destes, cerca de 80 foram selecionadas. A partir de então, constatamos que as meninas aluna-internas em internatos urbanos não recebiam nenhuma atenção dos educadores ambientais e resolvemos atuar neste recorte social. Nossa experiência está relatada na coletânea Educação Ambiental;reflexões e práticas contemporâneas, editado pela Vozes que já está na sua quinta edição. Com o tempo identifiquei várias demandas na EA e resolvi atuar avaliando a teoria e prática da EA no Ecoturismo e também na gestão ambiental.


- Com poucas palavras, se é que é possível, como você define a Educação Ambiental?

Não há uma definição fechada, mas didaticamente eu diria que minha concepção calcada na Declaração de Tbilisi seria: processo permanente, contextual e total que busca a mudança de hábitos, condutas e posturas do cidadão,visando uma nova visão de mundo em que seja possível a construção de sociedades auto-sustentáveis.

- Fale-nos um pouco sobre sua experiência com a Rede Latino-Americana de Educação Ambiental, como e quando começou, quais as principais atividades realizadas e como ela está hoje.

A Rede na realidade foi a primeira tentativa no campo virtual de congregar desde educadores até leigos interessados no campo da EA, cobrindo o contexto latino-americano. Daí,ela passou a ser o único modo de comunicação entre educadores ambientais, essencialmente brasileiros. Estudos da efetividade desta lista foram publicados e sua própria construção coletiva. Uma homepage foi construída por um professor da UNICAMP, mas foi abandonada face à falta de financiamento. A lista congregou cerca de 300 pessoas com colegas da maioria dos estados do Brasil e colegas da Argentina, Colômbia, Venezuela, México,Peru, Chile, Porto Rico, dentre outros países. Seus resultados foram apresentados no I Encontro da Rede
Brasileira de EA, mas os colegas que escrevem a respeito de redes nunca citam este dado. Colaborou para a criação desta lista o Aluisio Cardoso de Oliveira, da prefeitura de Belo Horizonte.


- Como você percebe a inserção da Educação Ambiental nas séries iniciais da Educação Básica em relação ao preparo do corpo docente?

Eu creio que os docentes não se sentem estimulados nem capacitados para realizarem atividades de EA formal. Assim, tenho lutado há anos para que as licenciaturas tenham uma disciplina com caráter metodológico em EA, tal como existe na licenciatura em Biologia e Pedagogia da UERJ. Porém, como a EA é responsabilidade de todos, segundo a PNEA e o ProNEA eu creio que deveríamos lutar para a inserção da EA em todos os cursos de graduação como disciplina obrigatória.


- Quais os maiores avanços que a Educação Ambiental têm demonstrado nestes últimos anos?

Eu tenho graves preocupações sobre este tema, pois sou pessimista neste aspecto, porque desconhecemos a efetividade da EA em termos de atingir seus objetivos. A EA carece de avaliações de seu desempenho em todas as unidades de sua realização, tais como, ações, atividades, campanhas, projetos e programas. Podemos começar pelo desconhecimento da eficácia da EA governamental tanto em nível municipal como em outros níveis de governo. Assim, o que posso dizer é que apenas no nível acadêmico percebe-se claramente um avanço inestimável na construção de um arcabouço teórico-conceitual e metodológico da EA. Neste caso, a EA deve agradecer aos pesquisadores universitários. Outro campo que eu arriscaria a apontar avanço seria na “educomunicação” ambiental, por exemplo, com a criação de EA-NET por parte de organizações não governamentais. Desse modo, cabe ao meio acadêmico e às ONG´s grande responsabilidade na capacitação de educadores ambientais munidos de referencial conceitual e metodológico respeitável.

- Qual é, na sua opinião, o maior problema que a Educação Ambiental enfrenta?

A EA não possui ainda uma área, ou subárea, do conhecimento em órgãos a fomentadores de pesquisa no Brasil como o CNPq e FAP´s. Isso fragiliza o pesquisador em EA quando ele solicita apoio para sua participação num congresso, ou num curso, ou mesmo para seus projetos. Isto pode ser devido ao fato de que esses órgãos vêm a EA como atividades desarticuladas e sem eficácia comprovada. A criação recente da Rede de Fundos Ambientais com linhas específicas e permanentes em EA facilitará o desafogar este
gargalo.Se pudéssemos medir o percentual de trabalhos financiados pelo bolso do educador ambiental que participou do V Congresso Ibero-Americano de EA realizado em 2006 em Santa Catarina veríamos que seriam mais de 90% dos trabalhos inscritos. Isto é deprimente! Os meus próprios trabalhos em EA são na sua quase totalidade financiadas por mim mesmo, enquanto que minhas pesquisas em botânica recebem financiamento do CNPq e FAPERJ.

- Quais são seus projetos para este ano? Alguma publicação a vista?

Esse ano eu pretendo expandir meus trabalhos na avaliação conceitual e metodológica da EA realizada na gestão ambiental empresarial, pois minha hipótese de trabalho é a de que na realidade, se trata apenas de treinamento e de qualidade variável. Estou tendo dificuldades de acesso aos projetos empresariais, pois as grandes empresas se negam a que se estude seus programas e projetos apesar de sua alardeada transparência. Isto reforça a hipótese da má qualidade de sua educação corporativa. Em contato recente com a coordenação de EA da CVRD durante o Ibero o discurso apresentado mostrou um diferencial de qualidade nos programas em EA empresarial, mas aguardamos convite dela para construirmos uma
parceria visando testar a hipótese alinhavada.

Quanto aos trabalhos, submeti um sobre a EA e a biodiversidade no Brasil, apresentando um estudo de caso sobre a EA submarina realizada por pesquisadores da Universidade de São Paulo. Submeti também à editora Manole uma coletânea tratando de metodologia de pesquisa e trabalho em EA Não Formal e com exemplos nas áreas lúdicas, empresarial, EA formal, dentre outras.

Estou também participando de um pool de cerca de 20 docentes doutores da UERJ que pretende criar um programa de mestrado em Biologia Vegetal, no qual, haverá uma área de Educação Ambiental. Como tenho sido bastante convidado para palestras no interior do Brasil, estou também ajudando esses grupos novos com orientação de trabalhos conjuntos. Outra novidade é minha participação no MBA em Gestão Ambiental da Universidade Candido Mendes, no Rio de Janeiro.


- Quais são suas coletâneas?

PEDRINI, A,. de G. (Org.) Ecoturismo e Educação Ambiental. Rio de janeiro: Publit, 2005.

PEDRINI, A de G. (Org) O contrato social da ciência unindo saberes em Educação Ambiental. Petrópolis: Vozes, 2002.


PEDRINI,A de G. (Org.) Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis: Vozes, 2002. 5ª. ed.


PEDRINI, A de G.(Org.) Metodologia
em Educação Ambiental: um caminho das pedras.Submetido à editora Manole (SP) em 2005


- Aproveite para deixar uma mensagem aos/as leitores/as da Educação Ambiental em Ação, uma palavra, uma frase, algo inspirador...

O mais importante na EA contemporânea é aceitar os estrangeiros da EA brasileira que mesmo diferindo de nossos postulados podem trazer grande contribuição para o nosso crescimento e amadurecimento através do debate franco e respeitador sobre o diferente. Que os discursos dos ícones da EA brasileira se transformem em práticas realmente tolerantes com aqueles que discordam do paradigma governamental vigente.

Querido Pedrini, agradecemos, de coração, pela sua participação nesta edição tão especial. Muito obrigada! Bere Adams e colaboradores da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação.

Ilustrações: Silvana Santos