Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Entrevistas
14/03/2006 (Nº 15) Entrevist@ com Vilmar Berna
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=356 
  
Nova pagina 1
Entrevist@ com Vilmar Berna
Por Berenice Gehlen Adams - bere@apoema.com.br
Para a revista eletrônica Educação Ambiental em Ação (15a. Edição)

Apresentação: Esta edição da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação tem a honra de apresentar a entrevista com o ambientalista Vilmar Berna, jornalista e editor do Jornal do Meio Ambiente (www.jornaldomeioambiente.com.br ), pessoa que muito contribuiu e contribui com a revista eletrônica Educação Ambiental em Ação, quer seja com a autorização de publicação de seus artigos, quer seja na divulgação deste trabalho que aqui realizamos. Enfim, Vilmar é muito mais do que um jornalista, ambientalista, escritor, editor. É um sonhador, é idealizador de um "mundo mais justo e fraterno que começa na gente", um batalhador incansável pelas questões ambientais, e suas ações são verdadeiras lições de Educação Ambiental. E, por falar em Educação Ambiental, vamos saber o que pensa o Vilmar sobre este assunto...
- Vilmar, conte-nos como surgiu o seu interesse pelas questões ambientais e desde quando você se dedica a esta temática?
VB: minha atuação na área ambiental não se deu por alguma necessidade profissional ou objetivo econômico, mas por um compromisso com a formação de uma nova consciência ambiental em nossa sociedade onde a maior e primeira necessidade é a de informação, pois, uma vez informado, o cidadão busca seus direitos, cumpre com seus deveres, procura formação adequada, etc. Após mais de dez anos como militante ambientalista, primeiro na Univerde, depois nos Defensores da Terra, no período entre 1984 e 1994, vi crescer a consciência ambiental na sociedade e também vi multiplicarem-se os números de novos militantes ambientalistas e de novas ONGs. Achei, então, que poderia investir minhas energias em outras frentes onde eu poderia ser mais útil na luta por uma nova consciência e atitudes com o Planeta. Por que as pessoas tinham tanta dificuldade de se mobilizarem na defesa dos seus direitos a um meio ambiente preservado e mesmo para mudarem de atitude? Existem vários fatores mas um deles, sem dúvida, é a falta de formação ambiental adequada na sociedade, o que me levou a escrever livros de educação ambiental, entre os quais "Como Fazer Educação Ambiental" que é adotado em muitas escolas e por muitos professores no país e hoje é curso à distância da UFF. Neste livro, proponho a criação de uma Rede de Clubes de Amigos do Planeta, para que as novas gerações já cresçam com a preocupação de pensar e agir concretamente na melhoria do meio ambiente em vez de ficar esperando por 'salvadores da pátria'. Esta idéia vem se multiplicando pelo país e, por exemplo, só no município de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, já são mais de 40 clubes, reunindo mais de 500 jovens que realizam ações concretas como plantio de árvores, etc. Importante também a iniciativa de criar instrumentos para favorecer a ação da sociedade através do trabalho voluntário ambiental, que resultou em inúmeras atividades concretas pela melhoria ambiental e resultou na criação do IBVA - Instituto Brasileiro de Voluntários Ambientais, atualmente presidido por mim. A diferença entre o Projeto dos Voluntários Ambientais e o Clube de Amigos do Planeta é que o primeiro se propõe a estabelecer um canal permanente para atender à demanda já existente na sociedade para o trabalho voluntário, enquanto o segundo se propõe a motivar e ajudar a organizar os jovens em idade escolar para serem voluntários ambientais. A idéia é fazer de cada escola um clube, e de cada clube uma ação concreta em benefício do meio ambiente adjacente, num trabalho que procura envolver toda a comunidade e contribuir para formar cidadãos críticos e participativos. Mas, sem informação ambiental em quantidade e qualidade suficientes, a formação de um novo cidadão ambiental mais consciente, crítico e atuante fica mais difícil, e a própria divulgação das lutas ambientais, da legislação ambiental e da educação ambiental fica comprometida. Assim, fundei em janeiro de 1996, o Jornal do Meio Ambiente, com a proposta de ser uma espécie de ponte de informação entre os diferentes segmentos da sociedade dedicados ao meio ambiente, unindo ambientalistas, empresários, governos, políticos, lideranças comunitárias, para que através do conhecimento do que cada segmento realizava o jornal atuasse como um incentivador e facilitador para o diálogo entre os multiplicadores e formadores de opinião ambientais.
    

- o que foi que te motivou ou te impulsionou para adentrar nestas questões tão importantes para a vida, e gostaria de saber,  também, se você teve um momento de "despertar"?

VB: Carta que o cacique índio Seatle, da tribo Duwamish, do Estado de Washington, escreveu ao presidente Franklin Pierce, dos Estados Unidos, em 1855, depois do governo norte-americano ter dado a entender que desejava adquirir o território da tribo. Quase 150 anos atrás, quando nem mesmo haviam inventado o termo ecologia, um índio já ensinava os mais profundos conceitos ecológicos, válidos até hoje. Foi a leitura deste texto, na década de 80, que me fez decidir pela defesa do meio ambiente.
 
O Grande Chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar nossa terra. O Grande Chefe assegurou-nos também de sua amizade e sua benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não ne­cessita da nossa amizade. Porém, vamos pensar em tua oferta, pois sa­bemos que se não o fizermos o ho­mem branco virá com armas e tomará nossa terra. O Grande Chefe em Washington pode confiar no que o chefe Seatle diz, com a mesma certeza com que os nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano. Minha palavra é como as estre­las. Elas não impalidecem.
 
Como podes comprar ou vender o céu - o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do res­plendor da água. Como podes comprá-los de nós? Decidi­mos apenas sobre o nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada uma fo­lha reluzente, todas as praias arenosas, cada véu de neblina nas flo­restas escuras, cada clareira e to­dos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na cons­ciência do meu povo.
 
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de vi­ver. Para ele um torrão de terra é igual a outro. Porque ele é um es­tranho que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e de­pois de exauri-la, ele vai embora. Deixa para trás o túmulo do seu pai, sem remorsos de cons­ciência. Rouba a terra dos seus filhos. Nada respeita. Esquece as se­pulturas dos antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empo­brecerá a terra e vai deixar atrás de si os desertos. A vista de tuas cidades é um tormento para os olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
 
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem um lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada en­tende, o barulho das cidades é para mim uma afronta contra os ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio pre­fere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pi­nho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vi­vos respiram o mesmo ar - animais, árvores, homens. Não parece que o ho­mem branco se importe com o ar que respira. Como um mori­bundo, ele é insensível ao mau cheiro.
 
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição. O ho­mem branco deve tratar os animais como se fossem irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser certo de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco, que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso do que um bisão que nós, índios, matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode afetar os homens. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto fere a terra fere também os filhos da terra.
 
Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nos­sos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio, e envenenam o corpo com ali­mentos doces e be­bidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias - eles não são muitos. Mas algumas horas, até mesmo uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos nos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos. Um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de con­fiança como o nosso.
 
De uma coisa sabemos que o homem branco talvez venha um dia a descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julgas, talvez, que O podes possuir da mesma maneira como desejas possuir a nossa terra. Mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira. E quer o bem igualmente ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. E causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo seu Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças.
 
Continua poluindo a tua própria cama e hás de morrer uma noite, sufocado nos teus próprios dejetos! Depois de aba­tido o último bisão e domados todos os cavalos silvestres, quando as matas misteriosas fede­rem à gente - onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinhas da torre, à caça do fim da vida e o começo da luta para sobreviver...
 
Talvez compreenderíamos se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos quais esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do fu­turo oferece às suas men­tes para que possam formar os desejos para o dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do ho­mem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos, temos de escolher o nosso próprio caminho. Se consen­tirmos, é para ga­rantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez pos­samos viver os nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vender­mos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueças como era a terra quando dela tomaste posse. E com toda a tua força, o teu poder, e todo o teu coração con­serva-a para teus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.

- Como você percebe a Educação Ambiental (EA) de uma forma geral? Ou, como você definiria EA em poucas palavras?
VB: a Educação Ambiental é en­sino para a cidadania ambiental crítica e transformadora. 

- Quais relações são possíveis de serem feitas entre a Educação Ambiental e Jornalismo? Qual é a importância da informação para a consolidação da Educação Ambiental?
VB: Só democratizar a informação ambiental não é suficiente sem uma articulação com a educação ambiental, afinal, não é pelo maior ou menor volume de informações que a população aprende a pensar criticamente e atuar em seu mundo para transformá-lo, se não tiver uma cultura e uma formação que predisponha as pessoas a valorizar esta informação. Sem isso, as pessoas vão pouco a pouco tornando-se insensíveis diante da informação, como se fosse mais uma espécie de poluição onde as palavras perdem o significado e importância, e tanto faz saber que derrubaram uma árvore ou uma floresta. A educação, por sua vez, não se dá ao vácuo, mas inserida em seu tempo e no contexto. Deve, portanto, saber aproveitar dos meios de comunicação seu compromisso com o contemporâneo, trazendo a realidade vivida para o processo educativo, crítico e participativo, adequado à realidade dos alunos.  Por outro lado, não há educação ambiental sem participação política. Não basta estimular a participação dos cidadãos e não garantir os instrumentos de acesso à informação, primeiramente, pois sem ela dificilmente o cidadão consegue se mobilizar, e garantir canais de participação, com comitês e conselhos paritários, e, finalmente, instrumentos que permitam aos cidadãos participarem do estabelecimento das regras do jogo. A educação ambiental é fundamentalmente uma pedagogia de ação. Não basta se tornar mais consciente dos problemas ambientais, sem se tornar também mais ativo, crítico e participativo. O comportamento dos cidadãos em relação ao seu meio ambiente, é indissociável do exercício da cidadania.
    É preciso reconhecer que os meios de comunicação, por sua pró­pria natureza, estão muito mais em sintonia com o que a sociedade está que­rendo num determinado momento do que o sis­tema educacional. A dife­rença se dá no tempo. Os meios de comu­nicação procuram mos­trar o fato quando o mesmo ocorre, ao vivo, ou quase. É tão eficiente, quanto mais rápido conseguir infor­mar. Não há tempo para explicações didáticas e, com isso, pode ocorrer uma verdadeira confusão de conceitos envolvendo ter­mos como ecologia, meio ambiente, preservação ambiental, controle de poluição, combate ao desperdício de recursos naturais, pro­teção à fauna e flora etc. Ecologia é um tema do cotidiano das pessoas. Por isso, o ideal é que que a educação ambiental formal utilize jornais em sala de aula, ou mesmo vídeo com programas e shows com temas ambientais como motivadores para aulas bem interessantes e, sobretudo, próximas da realidade vivida. Desta forma, a educação ambiental formal incorpora a educação informal, garantindo maior agilidade ao processo educativo, le­vando o aluno a fixar o aprendizado ao mesmo tempo em que se torna capaz de pensar critica­mente sobre sua realidade e também de influir sobre ela.
    O Jornal do Meio Ambiente lançou o projeto "O JMA em Sala de Aula" (veja em http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-Escola.asp  ) inspirado no livro “Educação Ambiental - Uma Abordagem Pedagógica da Atualidade”, editado pelo CEDI/CRAB sugere o uso do jornal em sala de aula como instrumento didático. “(...) O jornal é um instrumento privilegiado para se articularem os conhecimentos espontâneos dos alunos, os conteúdos escolares e os temas do presente. (...)Vale enfatizar a necessidade de que os alunos tenham contato com o jornal como um todo, antes de partir para o estudo de um artigo específico. Assim, além de identificar os assuntos tratados nas diversas seções, eles podem constatar qual a importância dada a cada notícia; podem observar quais notícias merecem destaque na primeira página e quais merecem apenas uma nota num canto de seção. (...) É interessante os alunos observarem como a questão ambiental é enfocada. Muitas vezes, uma mesma notícia pode ser tratada de formas diferentes, dependendo do veículo de informação. Os alunos podem ser incentivados ainda a comparar o noticiário da imprensa com o da televisão. (...) O jornal pode ser um excelente material didático para introduzir a atualidade em sala de aula e abrir a escola para a realidade cotidiana dos estudantes. No que diz respeito aos temas ambientais, ele é um recurso indispensável para que possam relacionar as grandes questões mundiais, nacionais ou regionais com as suas experiências vividas, com suas percepções do que é o meio ambiente e qualidade de vida. Desde cedo, a criança e o adolescente podem formar suas opiniões e se posicionar diante dos fatos que ocorrem ao seu redor. O trabalho com jornal é ainda uma boa oportunidade de integrar os conteúdos de linguagem com os das outras disciplinas curriculares. Os estudantes podem, por meio dele, desenvolver sua capacidade lingüística não apenas decorando regras e categorias gramaticais, mas utilizando o texto para compreender criticamente a realidade.”


- Em suas atividades relacionadas à Educação Ambiental especificamente, quais são as maiores dificuldades que você enfrenta nesta prática?
VB: A distância entre a boa intenção ambiental e o gesto concreto. Cada vez mais pessoas tem a consciência que o meio ambiente é importante, que precisamos mudar nosso jeito de estar no Planeta, mas daí para a prática ainda há um enorme abismo que precisamos ultrapassar através de pontes como a educação e a comunicação ambiental pois não dá para esperar que a sociedade mude a tempo de preencher o abismo. Por trás de nossos problemas ambientais, não está apenas a ação de poluidores, o desmantelamento dos órgãos públicos de controle ambiental, ou a falta de consciência ambiental, mas também um tipo de atitude e valores, que julga natural explorar ao meio ambiente e aos nossos semelhantes para atingir um modelo de desenvolvimento que, por si só, gera agressões ambientais e problemas sociais. Logo, não basta exigir mudança de comportamento de empresas e governos. Precisamos ser capazes de enfrentar a nós próprios, pois não haverá planeta suficiente capaz de suprir as necessidades de quem acha que a felicidade e o sucesso estão na posse de cada vez mais bens materiais. Também não basta se tornar mais consciente dos problemas ambientais sem se tornar também mais ativo, crítico participativo. Em outras palavras, o comportamento dos cidadãos em relação ao seu meio ambiente, é indissociável do exercício da cidadania. Só que tem gente que acha mais fácil ficar reclamando que ninguém ajuda, mas não se pergunta se está fazendo a sua parte. Acha mais prático ficar esperando que o governo ou algum político salvador da pátria faça alguma coisa - afinal, costuma argumentar, já se paga tanto de impostos -, em vez de arregaçar as mangas por sua comunidade ou escola. Na base da falta de participação não está a ausência da consciência ambiental, mas de cidadania. Então, como convencer os outros a modificarem seus hábitos, se não modificamos os nossos primeiro? Como exigir que os poluidores deixem de envenenar o ar da comunidade, se os fumantes jogam sua fumaça no ar de quem está do lado, mesmo sabendo que incomoda e prejudica a saúde do vizinho? Se queremos uma natureza preservada, devemos começar mudando nossos hábitos, comportamentos e atitudes com o planeta, os animais, as plantas, o meio ambiente e, principalmente, com o nosso próximo, pois não há coerência em quem ama os animais e as plantas mas explora, humilha, discrimina, odeia seus semelhantes. Sem coerência, a comunicação é vazia, seja atuando em nível familiar, seja no bairro, seja através do próprio trabalho na escola, na Prefeitura, na comunidade, na empresa, sindicato etc.

- Deixe uma frase, uma palavra, uma poesia ou uma idéia que você pode compartilhar com os/as leitores/as da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação:
VB: O mundo melhor que sonhamos não depende nem começa no outro, mas em nós. Sugiro que façamos um esforço para romper com o imobilismo de apenas reclamar e não fazer nada, ou de viver encontrando desculpas para não fazer as coisas acontecerem, e passemos a encontrar um jeito de fazer. Sugiro ainda que façam o curso de educação ambiental à distância da UFF ( http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-cursouff.asp ) e que ajudem a implantar um Clubes de Amigos do Planeta para sairmos da teoria e da boa vontade para a prática ( http://www.jornaldomeioambiente.com.br/ClubedeAmigosdoPlaneta/index.asp ) ou organizem uma ação voluntária ambiental em seu local de moradia ou trabalho (veja em http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-Voluntarios.asp ).
    Minha palavra final deixo aos professores que desejam enfrentar o desafio de fazer uma educação ambiental crítica e transformadora com seus alunos:
       
Defina palavras e conceitos - Defender a natureza, a flora e a floresta, o meio am­biente, a ecologia, preservar os ecossistemas e os habitats, combater a depre­dação dos recursos naturais, a poluição de ma­nanciais e do lençol freático, são palavras e conceitos que se tornaram comuns hoje em dia, mas afinal, do que se trata? É preciso definir o que se está falando, tomando o cuidado de não cair num tecnicismo que distancie o aluno da ação transformadora que ele precisa empreender como cidadão de seu tempo.
 
Mostre a importância - Por mais sério que seja, ninguém consegue ter a sen­sação de im­portância por uma coisa abstrata, fora de sua reali­dade. Antes de se importar com a sobrevivência das outras espé­cies, o aluno precisa es­tar consciente de sua própria importân­cia, sua capacidade de interferir no meio ambiente e de agir como cidadão. Afinal, como respeitar es­pécies consideradas inferiores se o aluno percebe que não há respeito entre os indivíduos de sua própria espécie?
 
Estimule a reflexão - A cada ação deve corresponder uma reflexão, pois não é possível pretender transformar o mundo ou criar uma relação mais harmônica com a natureza ou os outros indivíduos de nossa própria espécie baseando-se apenas no academicismo, onde se acumula um volume imenso de conhe­cimentos e informações sem que isso reverta em melhoria das condições de vida; ou no tare­fismo, onde se procura transformar o mundo pela ação direta, como se nosso esforço fosse o suficiente para contagiar a to­dos. O equilíbrio entre as duas forças deve ser o objetivo de uma boa educação para o meio ambiente.
 
Estimule a participação - Uma vez que o aluno já domina um mínimo de conhecimen­tos sobre palavras e conceitos e está consciente sobre a impor­tância de seu pa­pel como agente transformador o próximo passo é a participação. É no enfrentamento dos problemas de seu cotidiano que o aluno se formará como cidadão. Além disso, o jovem não precisa chegar à maioridade ou ter um diploma técnico para só então defender seus direitos a um meio ambiente preservado, pois cada omissão equivale à destruição de mais e mais re­cursos naturais, de mais e mais poluição. A mu­dança deve começar já, inicialmente através de novas atitudes e comportamentos, mas logo a seguir procurando engajar-se nas ações da sociedade em defesa do meio ambiente e da qualidade de vida. Para estimular os alunos, uma boa técnica é estabelecer parceiras com os grupos ecológicos comunitários do lugar, convidando-os para se integrarem ao trabalho na escola.
 
Interesse-se a descobrir coisas novas - Um diploma de conclusão de curso não significa o domí­nio total de um conhecimento. A gente continua aprendendo sem­pre. Interesse seus alunos pelos estudos da natureza, lendo com eles notícias recentes de jornais e revistas, comentando a úl­tima programação sobre ecologia na televisão. Estimule canti­nhos da natureza na sala de aula, museus na­turais, álbum de re­cortes, leituras coletivas de materiais etc.
 
Faça junto com eles - O exemplo vale mais do que mil palavras. Os alunos são bastante impressionáveis diante da figura do profes­sor. Ver o professor falar, falar, mas não agir conforme o que fala é desestimu­lante para os alunos e, ao mesmo tempo, um apelo ao não-agir, conside­rar o ensino para o meio ambiente como mais uma disciplina aborrecida que deve ser estudada ape­nas para tirar uma boa nota. Aproveite a oportunidade e engaje-se com seus alunos na tarefa de se construir as novas relações com o planeta, afinal, essa é uma tarefa de cidadania, muito mais que um compromisso de trabalho.

Saia da sala de aula - O meio ambiente da sala de aula não é o mais adequado para en­sinar sobre o mundo que está lá fora. Sair da sala de aula, entre­tanto, traz inúmeros problemas quando se dispõe de apenas 45 minutos para uma aula. Uma das soluções pode ser mutirão peda­gógico com co­legas de outras disciplinas, o que reforça o caráter interdiciplinar do ensino para o meio ambiente. Outra possibilidade é sugerir aos pais dos alunos que façam incursões em finais de semanas ou feriados para realizar estudos do meio ou investigar e fotografar um problema ambiental, levando no carro dois, três ou mais coleguinhas dos filhos. E isso nem é uma proposta absurda, já que muitos pais ajudam os filhos nos trabalhos escolares, e não deixa de ser um passeio interessante, além de promover a integração entre pais e alunos, escolas e comunidade.

Vilmar, nós, Editoras e Colaboradores(as) da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação agradecemos imensamente pela gentileza de conceder-nos esta entrevist@. Aproveitamos para agradecer pela constante parceria e pelo compartilhamento de seus saberes com a EA em Ação desde o início. Muito Obrigada!
Ilustrações: Silvana Santos