Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
06/12/2018 (Nº 66) AUTOMAÇÃO COMO SUPORTE AO MANEJO SUSTENTADO DA IRRIGAÇÃO
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=3497 
  

AUTOMAÇÃO COMO SUPORTE AO MANEJO SUSTENTADO DA IRRIGAÇÃO

Marcelo Machado Cunha¹, Waldiney Giacomelli², Gregorio Guirado Faccioli³

mcelobr@yahoo.com.br, waldiney.giacomelli@ifs.edu.br, gregorioufs@gmail.com

¹Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal de Sergipe.

²Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal de Sergipe.

³Doutor em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, Professor do programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe.

Resumo

O presente trabalho foi desenvolvido na área experimental do projeto “Pequeno Produtor Grande Empreendedor”, no município de Itabaiana-SE, em uma área de produção de hortaliças. O objetivo do trabalho foi projetar e criar um controle automatizado de um sistema de irrigação por gotejamento, que associado ao trabalho de educação ambiental, junto aos produtores rurais, viabiliza a sustentabilidade ambiental. O cálculo para a reposição de água no solo foi baseado na estimativa da evapotranspiração a partir da leitura das grandezas climatológicas realizadas pela estação agrometeorológica instalada no local do experimento. Utilizou-se a equação de Penman-Monteith, considerada padrão desde 1998 e recomendada pela FAO. Conhecida a evapotranspiração estimada, o sistema de controle realizou os cálculos para estabelecer o tempo necessário para a reposição da lâmina de água necessária. A comparação entre o experimento e a produção habitual utilizada pelo produtor aponta um ganho significativo no consumo de água e de energia elétrica. Com isso, apresenta-se um produto que aliado ao trabalho de conscientização, através da educação ambiental, possibilita um maior ganho econômico, contribuindo para melhoria de vida dos pequenos produtores, dos indicadores socioeconômicos e a sustentabilidade dos recursos hídricos.

Palavras chaves: Manejo de irrigação, automação, educação ambiental.

Abstract

The present work was developed in the experimental area of ​​the project "Small Producer Large Entrepreneur", in the municipality of Itabaiana-SE, in an area of ​​vegetable production. The objective of this work was to design and create an automated control of a drip irrigation system, which, together with the rural producers, associated environmental education work, makes environmental sustainability feasible. The calculation for the replacement of water in the soil was based on the estimate of the evapotranspiration from the reading of the climatological magnitudes performed by the agrometeorological station installed at the experiment site. The Penman-Monteith equation, considered standard since 1998 and recommended by the FAO, was used. Once the estimated evapotranspiration was known, the control system performed the calculations to establish the necessary time for the replacement of the required water blade. The comparison between the experiment and the usual production used by the producer indicates a significant gain in the consumption of water and electricity. With this, a product is presented that, together with the work of raising awareness, through environmental education, allows a greater economic gain, contributing to the improvement of life of small producers, socioeconomic indicators and the sustainability of water resources.

Keywords: Irrigation management, automation, environmental education.

Introdução

Um dos importantes desafios da agricultura atual é o aumento da competitividade e qualidade dos produtos, associada à conservação do meio ambiente, permitindo benefícios sustentáveis na agricultura. Neste contexto é importante avaliar e adequar cada um dos fatores que compõem o sistema de produção, incluindo a eficiência e o manejo da água de irrigação.

Irrigar é fornecer água de forma a suprir as necessidades hídricas das culturas e possibilitar seu desenvolvimento de forma otimizada. Para Mantovani et al. (2012) a irrigação tem como função o aumento da produção de forma sustentável, a preservação do meio ambiente e a criação de condições para manutenção do homem no campo.

O manejo de qualquer sistema de irrigação deve considerar os aspectos sociais e ecológicos da região, a fim de maximizar a produtividade e a eficiência no uso da água, minimizar os custos, mantendo as condições de umidade do solo e de fitossanidade favoráveis ao bom desenvolvimento da cultura irrigada (Bernardo et al., 2011).

Segundo Moraes et al. (2011) a agricultura é das atividades econômicas que apresenta maior dependência das condições ambientais, especialmente as climáticas. As condições atmosféricas afetam as etapas das atividades agrícolas, desde o preparo do solo para semeadura até a sua colheita.

Um dos principais problemas enfrentados pelos agricultores irrigantes está associado a aplicação da quantidade de água adequada a cada cultura. A irrigação inadequada, aplicação de pouca água, pode gerar prejuízos na produção, tendo em vista que não obterá o benefício esperado. Por outro lado, a aplicação excessiva é bastante destrutiva, porque satura o solo, impedindo a sua aeração, lixívia nutrientes, induz maior evaporação e salinização (Guimarães e Bauchspiess, 2012). Além disso, o excesso propicia microclima favorável ao desenvolvimento de doenças, que podem causar prejuízo a cultura (Andrade e Borges Júnior, 2008).

A irrigação aparece como de fundamental importância para atender as necessidades hídricas das culturas, seja para corrigir a distribuição natural das chuvas ou modificar as possibilidades agrícolas de determinada região, exemplo o semiárido nordestino, que se caracteriza por apresentar baixas precipitações pluviométricas e má distribuição temporal das chuvas, visando assegurar a produção dos alimentos de forma adequada (Carvalho, 2011).

Uma das principais metodologias para a determinação das necessidades hídricas de uma cultura é a estimativa da evapotranspiração. A condição ideal é a medição dessa grandeza, porém, esse procedimento torna-se economicamente inviável aos pequenos produtores. Para superar essa dificuldade, parte-se das medidas das condições climáticas envolvidas na área de plantio e através de cálculos empíricos referenciados e indicados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em seu relatório FAO 56, chega-se aos valores aceitos para a evapotranspiração de referência (ETo).

O conceito de evapotranspiração de referência serve para o estudo da demanda de evapotranspiração da atmosfera, independente do tipo e do desenvolvimento da cultura, como também das práticas de manejo (Allen et al. 1998). Os fatores que afetam a ETo são os parâmetros climáticos e, portanto, podem ser calculados a partir de dados meteorológicos. Para a estimativa da evapotranspiração a FAO recomenda o método de Penman-Monteith, por ser um método que apresenta resultados relativamente exatos e consistentes, tanto em climas áridos com em climas úmidos (Allen et al., 1998).

Agregando-se as características de cada cultura e o tipo de irrigação a ser utilizada é possível estabelecer um sistema de controle para a reposição de água evapotranspirada no dia anterior, mantendo desta forma a lâmina d’água necessária em nível ideal para o melhor desenvolvimento da cultura.

A proposta desse trabalho é de criar um equipamento de baixo custo que seja capaz de calcular o tempo de irrigação necessário a partir da informação da evapotranspiração, passando a controlar o fluxo de água no processo de irrigação, visando otimizar os recursos naturais envolvidos, melhorar a produção e conscientizar os agricultores da região quanto ao uso sustentável dos recursos hídricos, através da educação ambiental. Pois segundo Leff (2015), é mais que necessário as mudanças nos valores e comportamentos dos indivíduos, centrados numa educação ambiental para formação econômica, técnica e ética.

Diante do exposto, pretende-se oferecer aos pequenos produtores uma maior competitividade, associada a um maior ganho econômico, contribuindo com a permanência do homem no campo e melhoria da qualidade de vida. Já que segundo Sachs (2008), a agricultura familiar é responsável por 77% da ocupação no meio rural e responde por 37% da produção agrícola brasileira.

A demanda por água na irrigação no Brasil deve continuar sua tendência de crescimento, uma vez que a área atualmente irrigada representa menos de 20% da área potencialmente irrigável, de aproximadamente 30 milhões de hectares (Embrapa, 2014). O que evidencia a necessidade dos produtores irrigantes, seus principais usuários, manejarem esse recurso com a maior eficiência possível, pois as reservas de água de boa qualidade se apresentam cada vez mais escassas.

Dentre os possíveis recursos existentes no mercado encontram-se os temporizadores, controladores lógicos programáveis (CLP) e os microcontroladores. Os temporizadores são equipamentos que podem ser programados quanto aos horários de inicio e término das atividades de controle, são de baixo custo, porém não calculam o tempo necessário para irrigação. Já os CLPs possuem capacidade de processamento, programação e cálculos, porém possui um custo alto para aquisição.

Diante disso, o projeto utilizou-se de um microcontrolador da família PIC por ser de fácil aquisição e baixo custo. Ele apresenta uma das melhores relações custo benefício, possui um valor comercial médio de R$ 20,00 em 2018. Ao mesmo tempo, por ser uma tecnologia amplamente conhecida e de baixo valor comercial facilita sua reposição, adaptação e futuros melhoramentos.

Material e Métodos

Este trabalho foi desenvolvido no município de Itabaiana - SE, na Fazenda Modelo, Projeto Pequeno Produtor – Grande Empreendedor, envolvendo a empresa G. Barbosa através de seu Instituto e a Universidade Federal de Sergipe (UFS).

O município de Itabaiana está localizado no agreste sergipano, em uma região denominada “cinturão agrícola”, caracterizada por um grande número de pequenas propriedades rurais nas quais as famílias, em sua grande maioria, produzem hortaliças e ervas medicinais, que aliadas a produção da farinha de mandioca, tornam-se a base de sua renda familiar (Souza et al., 2009).

Os agricultores da região, no tocante ao nível de escolaridade, possuem 70% nível fundamental incompleto e 13,33% são analfabetos. Além disso, a produção se caracteriza por ser familiar existindo uma insatisfação desses agricultores, no tocante a atividade desenvolvida, por ser considerada de baixo rendimento e sem perspectivas de crescimento (Souza et al., 2009). Dessa forma, torna-se essencial o desenvolvimento de projetos que proporcionem melhor rendimento nos negócios, gerando uma remuneração condizente com o trabalho e os capacite quanto ao uso racional dos recursos hídricos.

A cultura utilizada para testes foi a da alface, planta herbácea pertencente à família das Cichoriaceas, tendo sua cultura no Brasil em grande destaque, uma vez que está entre as folhosas de maior aceitação pelos consumidores.

Conforme Filgueira (1982), a alface é uma das hortaliças mais exigentes no requisito água, em que experimentos com irrigação controlada demonstram que o peso da planta e a produtividade aumentam linearmente com a quantidade de água aplicada. Para Andrade Junior et al. (1992), por ser uma hortaliça exigente em água, ao encontrar condições ideais de umidade, aumentará a produtividade, bem como a qualidade de suas folhas.

As mudas foram preparadas na casa de vegetação sendo semeadas em bandejas de polietileno expandido com 128 cavidades. A semeadura ocorreu em 05 de dezembro contendo substrato agrícola Hortimix constituído por casca de pinus bioestabilizada e compostada, vermiculita, NPK e micronutrientes; e foram transplantadas no dia 20 do mesmo mês.

A área destinada ao cultivo foi organizada em fileiras, dispondo o espaçamento entre as plantas de 30 cm. As fileiras foram dimensionadas com 30 cm entre elas, utilizando-se de 7 fileiras, sendo 3 de testemunha e 4 utilizadas para testes do controle automático da irrigação, que totaliza uma área de 50 metros quadrados, conforme figura 1.

Figura 1: Dia do transplante das mudas

Fonte: Autores

A figura 1 mostra a área do experimento no dia em que as mudas foram transplantadas, 20 de dezembro, passando por um molhamento através de micro aspersores. Esse procedimento foi realizado para que as mudas tivessem o enraizamento adequado. O processo repetiu-se nos 7 dias anteriores ao início do sistema de controle automatizado de irrigação.

O método utilizado foi por gotejamento, em que as mangueiras foram dispostas ao longo dos canteiros, sendo utilizadas duas por extensão de canteiro. O sistema de controle elaborado controla o acionamento da bomba de recalque de água, utilizando-se de informações da evapotranspiração do dia anterior. O modelo do microcontrolador utilizado foi o 16F877A, que por meio de botões possibilitou a inserção do valor da ETo e visualização do tempo de irrigação através de um display de cristal líquido. A figura 2 demonstra a instalação do sistema de controle ao lado da estação meteorológica da UFS.

Uma vez inserido o valor da ETo, o sistema calcula o valor do tempo de irrigação e aciona as eletroválvulas dos setores das áreas de testes. Em caso de situações de emergência, a interrupção do programa poderá ser feita através do botão de reinício, figura 2.

Figura 2: Instalação do sistema de controle

Fonte: Autores

Para o cálculo da estimativa da evapotranspiração foram utilizados dados climáticos da região obtidos através de leituras das estações agrometeorológica automáticas da UFS e do Sistema Nacional de Dados Ambientais (SINDA). Durante o período de testes do sistema, compreendido entre 27 de dezembro a 30 de janeiro, foi utilizado o software EToCALC para o cálculo da evapotranspiração.

Definiu-se como padrão para a estimativa da ETo, conforme a FAO, o valor de Kc=1. O valor de Ks adotado foi igual a 1, devido ao fato, previsto no relatório FAO 56, de não haver stress hídrico uma vez que a irrigação foi feita diariamente.

A lâmina líquida (LL) a ser resposta foi determinada pela expressão: LL = ETo, adotando Kc e Ks igual a 1.

A partir desse valor foi estabelecido o valor da lâmina bruta (LB) de irrigação considerando o tipo de irrigação utilizado. No caso do projeto, como foi utilizada a irrigação por gotejamento, a LL foi dividida por 0,95 representando a eficiência do sistema de irrigação por gotejamento, de acordo com Faccioli (2006).

O controle do tempo total de irrigação foi definido conforme a equação:

Ti = (LB . Aplanta ) / (n . q)

Onde Ti é o tempo total de irrigação, Aplanta é o espaço entre as plantas, n o número de gotejadores por planta e q a vazão do gotejador. Aplanta foi utilizado 0,09 m2, para o espaço entre as plantas de 30x30 cm, o número de gotejadores por planta 1,5 e a vazão do gotejador 1,5 litros.

Na tabela 1 estão relacionados os valores obtidos de temperatura média (Tmed ºC), mínima (Tmin ºC) e máxima (Tmax ºC), umidade relativa do ar (HR %) e radiação solar (Rs MJ. m-2. dia-1) e o valor da evapotranspiração de referência (ETo mm) para cada dia do experimento. A umidade relativa foi calculada a média para cada dia e a radiação solar como sendo o total de radiação acumulada ao longo do dia.

Tabela 1: Dados climáticos diários

Data

Tmed

Tmin

Tmax

HR

Rs

ETo

27/dez

25,76

21,15

32,51

75,58333

23,2

5,10

28/dez

25,67

19,92

33,04

78,27083

20,6

4,60

29/dez

26,27

20,73

33,71

75,89583

23,4

5,40

30/dez

26,91

23,47

32,66

76,89583

18,1

4,70

31/dez

26,35

22,79

32,53

76,06250

15,3

4,20

1/jan

25,67

22,35

31,65

78,70833

20,6

4,70

2/jan

25,97

20,83

32,59

75,77083

21,5

4,90

3/jan

26,48

21,61

32,84

78,02083

20,9

4,80

4/jan

26,50

22,38

32,91

79,00000

23,6

5,30

5/jan

26,20

21,96

32,31

77,91667

23,5

5,20

6/jan

25,65

21,72

31,51

76,70833

21,6

4,80

7/jan

25,66

20,62

32,12

77,35417

18,4

4,30

8/jan

25,93

21,61

32,84

79,33333

21,9

4,90

9/jan

24,29

21,86

28,00

88,02083

15,3

3,20

10/jan

25,79

21,69

31,33

81,10417

18,8

4,20

11/jan

27,09

23,30

33,95

77,06250

18,6

4,70

12/jan

26,79

23,68

32,63

81,04167

15,4

4,00

13/jan

26,46

22,77

32,60

80,35417

19,9

4,60

14/jan

25,90

21,71

32,01

76,58333

22,7

5,00

15/jan

25,77

21,02

31,92

79,45833

20,7

4,50

16/jan

26,54

20,91

33,64

76,52083

23,1

5,30

17/jan

26,62

21,96

32,87

74,33333

21,8

5,30

18/jan

25,03

18,97

31,61

74,60417

16,7

3,90

19/jan

25,26

19,30

32,66

78,75000

21,5

4,70

20/jan

25,77

21,76

32,05

82,22917

19,1

4,20

21/jan

24,41

22,67

27,01

89,77083

7,6

1,90

22/jan

25,46

20,35

31,98

81,60417

17,0

3,90

23/jan

24,31

21,67

30,04

88,85417

13,5

3,00

24/jan

25,40

21,61

31,29

79,79167

19,1

4,20

25/jan

25,82

20,43

32,37

80,10417

22,8

4,90

26/jan

25,93

22,08

31,44

83,18750

16,3

3,70

27/jan

24,34

22,75

29,54

94,31250

15,7

3,20

28/jan

25,21

21,79

30,37

82,02083

16,5

3,70

29/jan

25,51

21,26

31,08

82,31250

17,8

3,90

30/jan

25,60

22,19

29,96

86,06250

16,3

3,50

31/jan

26,22

22,20

32,10

82,00000

19,2

4,20

Fonte: Autores

Os valores apresentados tiveram para temperatura mínima 18,97º, para máxima 33,95% e média de 25,79 ºC, mostrando-se compatível com a média anual de 24,7º C conforme valores do SINDA. O valor médio da umidade relativa do ar foi de 80,16% e radiação solar 19,11 MJ.m-2.dia-1, também considerados normais para a época do ano.

O controle de irrigação iniciou-se no dia 27 de dezembro e encerrou-se em 30 de janeiro, com um total de 35 dias, ocorrendo a colheita no dia 31 de janeiro. Durante esse período somente nos dias 03, 23 e 27 de janeiro não foi utilizado a automação em função da adubação e precipitação chuvosa.

É importante ressaltar que durante todo o processo de desenvolvimento desta pesquisa, os pequenos produtores rurais participaram ativamente, seja coletando dados na estação meteorológica, inserindo esses dados no sistema proposto, acompanhando o processo de irrigação na área de testes, com também irrigando de forma empírica a área de testemunha. Desta forma, a educação ambiental foi promovida de forma processual, prática e coletiva, tendo em vista que agricultores e pesquisadores promoveram um diálogo de saberes que repercutiu na conscientização para sustentabilidade dos recursos hídricos.

Resultados e Discussões

Durante o período de testes do sistema foram detectados alguns problemas, mas nada referente ao processo de automatização. A maior parte dos problemas está relacionada aos diversos pontos de vazamentos e conexões que não suportavam a pressão do sistema de bombeamento. E a medida que ocorria o aumento da pressão da água bombeada, esta fazia com que novos pontos de vazão surgissem e até mesmo a desconexão das mangueiras de gotejamento dos pontos de conexão com a distribuição principal. Outro problema também presente foi o entupimento de gotejadores, que comprometeram o desenvolvimento de algumas plantas, inclusive a morte por falta de água.

O tempo total de irrigação controlado pelo sistema foi de 10 h 55 min 22 s e na área de testemunha de 28 h 39 min 8s. Quando questionados quanto ao tempo de irrigação utilizado pelos agricultores nas áreas de testemunha, tivemos como resposta: “hoje está muito calor”, sendo o único critério utilizado pelos agricultores, visto que todo o controle é realizado pelo homem do campo.

Devido ao fato de utilizar as instalações previamente instaladas, não foi possível medir a quantidade exata de água e energia elétrica utilizada. Então foram utilizados os tempos cronometrados ao longo do período de teste como base para o cálculo dos custos e comparações entre as duas áreas irrigadas.

Baseado nos valores medidos e adotando a área de controle como referência foi possível constatar que o tempo de irrigação nas áreas de testemunha foi 2,58 vezes maior que na área de controle. Portanto pode-se afirmar que ocorreu um excesso de aplicação de água na área de testemunha e que ocorreu a percolação desse excesso provocando o fenômeno da lixiviação.

O cálculo do consumo de energia elétrica foi feito tendo como base a capacidade nominal de operação da bomba de recalque de água, sendo essa de 2 CV, fazendo a conversão para Watts, tem-se que a cada hora de operação a bomba consome 1,47 KW. A tarifa cobrada no período do experimento foi de R$ 0,75. Assim, a área de teste por ter um período de 10,92 h de funcionamento gastou R$ 8,19 e a área de testemunha 28,65 h com um custo de R$ 21,49. Observa-se que o consumo de água e energia elétrica apresentaram valores bastante significativos de economia na área do experimento, tendo valores percentuais de 61,89% de economia em relação ao que era praticado.

Assim, observou-se que o sistema de controle automático proporcionou uma economia de R$ 13,13 para um período de 35 dias de irrigação em uma área de 50 m2. Se aplicado em uma propriedade com 10.000 m2, o consumo seria 200 vezes maior, portanto, haveria uma economia de R$ 2.626,00 para 35 dias e em um ano R$ 27.385,43 por hectare.

No tocante ao quantitativo da produção, a tabela 2 apresenta a dimensão da produção nas duas áreas.

Tabela 2: Quantitativo de produção

Número de plantas

Área de teste

Área de testemunha

Previstas

184

184

Efetivamente plantadas

176

169

Mortas

23

16

Abaixo de 70 g

52

89

Acima de 70 g

101

64

Fonte: Autores

Por ocasião da colheita, assumiu-se o valor de 70 g como o peso mínimo em função do aspecto da planta para sua comercialização. Dessa forma observou-se que algumas plantas deveriam permanecer no campo por mais alguns dias para alcançar o peso considerado para o comercio. Assim, na área de controle foram consideradas 52 plantas abaixo do peso e 101 adequadas a comercialização, em um total de 153 plantas úteis.

Já na área de testemunha foram obtidas 89 plantas abaixo do peso de 70 g e 64 com peso apropriado para o comércio. Observa-se que apesar da área testemunha ter recebido um volume de água 2,58 maior que a área de teste, as plantas tiveram um desenvolvimento inferior que a área de teste.

Outro aspecto analisado, após colheita, foi o das características físicas das plantas, onde foram feitas amostras de todas as plantas com peso acima de 70 g, determinando para todas as amostras o número de folhas (NF) e a massa de matéria fresca (MMF). O resumo do qualitativo de produção pode ser observado na tabela 3.

Tabela 3: Características físicas das plantas


Plantas pesadas

Peso total (g)

Quantidade de folhas

MMF média (g. planta-1)

NF média (folhas.planta-1)

Área de Teste

101

18880

2625

186,93

25,99

Área de testemunha

64

10440

1607

163,12

25,11

Fonte: Autores



Após a análise dos resultados da MMF das áreas monitoradas, pode-se afirmar que para o manejo de irrigação a utilização do sistema controlado aliado ao sistema de irrigação por gotejamento tornou-se adequado.

Conclusão

O equipamento projetado para o controle automático da irrigação funcionou de forma adequada durante o período de observação. Não foi necessária nenhuma ação de manutenção corretiva ou preventiva, seja de hardware ou software, estando no final do período de teste em perfeitas condições de funcionamento.

Outro ponto de destaque, mesmo que de forma indireta, é com relação à manutenção dos equipamentos instalados como: motor bomba, eletroválvulas, mangueiras. Uma vez que obtivemos resultados melhores da colheita com 40% do tempo de funcionamento, teremos uma vida útil 2,5 vezes maior nos equipamentos de irrigação.

Além disso, com o desenvolvimento da pesquisa foi possível comprovar a existência de desperdício de água no atual processo de irrigação da produção da alface, sendo esse processo efetivado sem nenhum critério científico. Todo o procedimento era realizado através da percepção de algum trabalhador do campo em avaliar a demanda da água necessária para cultura através de sua sensação de calor, ou exposição ao sol, levando a uma condição de insustentabilidade dos recursos hídricos aparentemente abundantes para a comunidade em estudo.

Outro fato evidente foi a questão cultural que influenciou diretamente no manejo da irrigação. Durante o período de testes, os agricultores reiteradas vezes verbalizaram que o sistema em estudo não funcionaria, já que a quantidade de água aplicada era pouca. O que observou-se, através dos experimentos, foi um desenvolvimento da cultura na área do sistema equivalente ao da área de testemunha e uma economia de água e energia elétrica em torno de 60%.

Além disso, o sistema de controle projetado atendeu ao requisito de baixo custo, mostrando-se confiável e estável, tornando-se uma opção de fácil implantação para realização de manejo de irrigação, proporcionando economia de água e energia elétrica. Ao mesmo tempo, de todos os possíveis controles aplicáveis à irrigação, a solução apresentada mostrou-se como a opção mais econômica comparada aos equipamentos industrializados concorrentes.

Esses resultados são considerados relevantes devido a importância da conscientização dos agricultores para o uso racional da água, e qualificação dos mesmos quanto ao uso de tecnologias que auxiliem na realização do manejo de irrigação e no desenvolvimento de suas atividades. Como consequência imediata a utilização desse sistema permitirá aos agricultores do cinturão agrícola uma maior lucratividade, evidenciando a importância de realizar o manejo de irrigação.

Desta forma, através da prática, os agricultores puderam verificar que se gasta água em demasia para poder produzir. Acredita-se que os envolvidos foram conscientizados quanto a importância do manejo de irrigação para evitar desperdícios, aumentar a lucratividade e degradar menos o meio ambiente. Esse fato evidencia que o trabalho de educação ambiental juntos aos produtores rurais é de suma importância para sustentabilidade ambiental.

Referências

ANDRADE, C. L. T.; BORGES JÚNIOR, J. C. F. Seleção do Método de Irrigação. In: ALBUQUERQUE, P. E. P.; DURÃES, F. O. M. (Org.) Uso e manejo de irrigação. Brasília, Embrapa, 2008.

ALLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration: guidelines for computing crop water requirements. Rome: FAO, 1998. 300 p. (FAO. Irrigation and Drainage Paper, 56).

ANDRADE JUNIOR, A.S., DUARTE, R.L.R., RIBEIRO, V.Q. Resposta de cultivares de alface a diferentes níveis de irrigação. Horticultura Brasileira, Brasília-DF, v.10, n.2, p.95- 97, 1992

BERNARDO, S.; SOARES, A. A.; MANTOVANI, E. C. Manual de irrigação. 8. ed., Viçosa: Ed. UFV, 2011.

CARVALHO, H. B. Automação como suporte à otimização do uso da água e energia na cultura do coco irrigado no município de Neópolis. Dissertação de mestrado em desenvolvimento e meio ambiente, Universidade Federal de Sergipe, 2011.

EMBRAPA. Visão 2014 – 2034: o futuro do desenvolvimento tecnológico da agricultura irrigada brasileira. Brasília-DF, 2014, 194p.

FACCIOLI, G. G.; OLIVEIRA, A. S.; RIBEIRO, T. A. P. Manejo básico da irrigação na produção de hortaliças. Coleção Tecnologia fácil nº 18. 1ª edição. LK. Brasília: 2006. 152p.

FILGUEIRA, F.A.R. Manual de Olericultura: cultura e comercialização de Hortaliças. São Paulo: Agronômica Ceres, 1982. 357 p.

GUIMARÃES, V. G.; BAUCHSPIESS, A. Automação e monitoramento remoto de sistemas de irrigação visando a agricultura familiar. XIX Congresso Brasileira de Automática, 2012.

LEFF, E. Saber Ambiental: Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 11° ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

MANTOVANI, E. C; BERNARDO, S.; PALARETTI, L. F. Irrigação: princípios e métodos. 3° ed. Viçosa, MG: Editora UFV, 2012, 355 p.

MORAES, W. B.; JESUS JUNIOR, W. C.; MORAES, W. B.; CECILIO, R. A. Potenciais impactos das mudanças climáticas globais sobre a agricultura. Revista Trópica: Ciências Agrárias e Biológicas, v. 5, n. 2, 2011.

SACHS, I. Desenvolvimento: includente, sustentável e sustentado. Garamond. Rio de Janeiro: 2008. 152p.

SOUZA, D. T. B.; GOMES, L. J.; SILVA, E. R. Perfil Socioeconômico de Produtores de Hortaliças: Estudo de Caso em Itabaiana/SE. Caderno de Pesquisa e Extensão Desafios Críticos CPEDeC, v. 3, p. 1-115, 2009.

Ilustrações: Silvana Santos