Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Relatos de Experiências
06/12/2018 (Nº 66) A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA FORMAÇÃO E CUIDADOS COM O SOLO DESENVOLVIDA COM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL I.
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=3488 
  

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA FORMAÇÃO E CUIDADOS COM O SOLO DESENVOLVIDA COM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL I.

1Eliane Cristina Fernandes, 2Claudia Regina Xavier

1Professora da rede Municipal de Curitiba e Mestranda da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. elianefernandes137@gmail.com

2Docente do Programa de Pós-Graduação e Formação Científica, Educacional e Tecnológica na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. cxaier.utfpr@gmail.com

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi desenvolver ações de Educação Ambiental através de atividades contextualizadas e interdisciplinares sobre a formação e o cuidado com o solo utilizando uma Sequência Didática elaborada para estimular nos participantes a conscientização e a sensibilização ambiental. Esta sequência Didática foi aplicada para uma turma de quarto ano do Ensino Fundamental I de uma Escola Municipal de Curitiba. Utilizamos aproximadamente 8 horas/aula para a aplicação da SD onde os alunos tiveram contato com atividades as quais favoreceram a construção do conhecimento a partir de discussões, rodas de conversa e aulas práticas.

Palavras chave: sequência didática, ensino de solos, sensibilização ambiental



INTRODUÇÃO

O constante crescimento científico e tecnológico que presenciamos hoje, trouxe uma melhor qualidade de vida para as sociedades, em contra partida precisamos conviver com os danos causados ao meio ambiente, tais como a exploração indiscriminada dos recursos naturais, emissão de poluentes, poluição dos recursos hídricos, do solo e do ar que respiramos. Identificam-se hoje desequilíbrios climáticos cada vez mais intensos.

Com os danos causados ao ambiente, este se torna incapaz de suportar os impactos comprometendo assim, a qualidade de vida antes conquistada. Desta forma o ser humano começa a se preocupar com ações para minimizar tais efeitos.

Assim na escola, a Educação Ambiental (EA), apresenta-se como uma das formas mais eficientes de combater a degradação do meio ambiente a partir da construção do conhecimento e por conseguinte a formação de conceitos pelos próprios alunos. Para Effting (2007), a EA é um método de aprendizagem para o gerenciamento e melhoramento das relações entre a sociedade humana e o meio ambiente de forma integrada e sustentável. A EA expõe à relação homem/natureza, bem como as maneiras de preservar, conservar e administrar seus recursos de uma forma mais adequada.

A principal função do trabalho com o tema Educação Ambiental a partir do estudo de solos é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de conteúdos. Esse é um grande desafio para a educação. Gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes, participação em pequenas negociações são exemplos de aprendizagem que podem ocorrer na escola.

O solo é um representante importante do ambiente. No entanto, sua importância não é percebida por muitos, talvez por não saberem exatamente o seu significado ou, até mesmo, por não terem o conhecimento do que vem a ser solo. Segundo Lima (2005, p.383), o estudo científico do solo, a aquisição e a disseminação de informações do papel que o mesmo exerce e sua importância na vida do ser humano são condições que auxiliam na sua proteção e conservação.

Embora a preocupação ambiental faça parte do cotidiano das pessoas, a percepção do ambiente e seus componentes ainda são incompletos, especialmente no que se refere ao solo.  Diante da carência de sensibilidade da maioria das pessoas frente ao solo, a educação se faz ainda mais necessária, no sentido de se promover uma mudança de valores e atitudes. Isto se conquista por meio da realização de trabalhos que buscam ampliar a percepção do solo como um componente essencial do meio natural e humano, que está extremamente presente em nossa vida (GUIMARÃES et al., 2012).

Nessa perspectiva  têm-se observado que a abordagem da temática solos nas aulas de Ciências tem sido feita de modo impreciso e superficial, muitas vezes descontextualizado da realidade do estudante e desvinculado da Educação Ambiental como proposta transversal, transdisciplinar e interdisciplinar. Nossa realidade é marcada por currículos fragmentados e desarticulados, onde as disciplinas são estudadas de forma isolada. Neste contexto propõe-se o uso de atividades voltadas para a integração dos saberes, onde ações interdisciplinares resultem num ensino mais contextualizado para os alunos. Desta forma trabalhamos a Educação Ambiental associada a temática Educação em Solos, a qual deve ser contemplada durante todo ensino fundamental. Neste sentido buscou-se proporcionar aos alunos um ambiente coerente e facilitador para uma mudança de pensamento e comportamento diante do meio onde ele vive, se tornando cidadãos conscientes de suas responsabilidades, capazes de atitudes de proteção e melhoria com relação ao meio ambiente.

Uma SD aliada a interdisciplinaridade, permite que o tema a ser estudado seja desenvolvido a partir de várias perspectivas, contemplando a relevância da pesquisa, da escrita e da leitura científica. Partindo de uma sequência bem elaborada, podemos diversificar as aulas de Ciências, interdisciplinando-a com outros conteúdos, tornando a aprendizagem mais efetiva. Sim, a sequência didática é uma proposta diferenciada para estudar de forma interdisciplinar um assunto importante para a sociedade (FAZENDA, 2008).

Assim, o objetivo desse trabalho foi desenvolver ações de Educação Ambiental através de atividades contextualizadas e interdisciplinares sobre a formação e o cuidado com o solo utilizando uma Sequência Didática elaborada para estimular nos participantes a conscientização e a sensibilização ambiental.

METODOLOGIA

Essa pesquisa foi realizada em uma escola pública de Curitiba na região sul da cidade, numa turma com 32 alunos do Ensino Fundamental, a partir da aplicação de uma sequência didática desenvolvida e aplicada pela Professora regente da turma e mestranda do Programa de Pós-Graduação e Formação Científica, Educacional e Tecnológica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

As temáticas abordadas na Educação em solos ( formação e cuidados com o solo) e a Educação Ambiental, foram trabalhadas de forma a despertar no aluno a conscientização e sensibilização no que se refere ao solo como parte de um ambiente maior o qual pertencemos. A sequência didática elaborada objetivou um trabalho onde o aluno, a partir dos momentos de reflexão e discussão, compreendesse a importância do solo para o meio ambiente. A cada aula onde essa sequência era aplicada observava-se alguns elementos que nos permitiu evidenciar indícios da conscientização e sensibilização ambiental, tais como: participação, envolvimento, motivação e mudança atitudinal.

Dividimos as atividades em duas partes, sendo a primeira parte atividades relacionadas com a formação do solo e na segunda parte as atividades correspondentes a conservação do solo. Na tabela 1, a seguir apresentam-se os temas e as disciplinas envolvidas em cada aula.

Tabela 1 – Temas e disciplinas envolvidas nas respectivas aulas.

Primeira parte




-



Formação do Solo

Aula

Tema

Disciplinas envolvidas

1

Formação do Solo.

Ciências, Arte e Língua Portuguesa.



2

Roda de conversa.

Ciências e Língua Portuguesa.



3



Como se formou o Solo? (Aula prática)



Ciências e Língua Portuguesa.



4



Como se formou o Solo? (Produção de texto)



Ciências e Língua Portuguesa.



5

Do que é formado o Solo? (Aula prática com construção de gráficos)

Ciências e Língua Portuguesa e Matemática



Segunda parte



-



Cuidados com o Solo

Aula

Tema

Disciplinas envolvidas

6

Degradação do Solo

Ciências, Informática e Língua Portuguesa.

7

Importância do Solo para os seres humanos

Ciências, História e Língua Portuguesa.

8


Cuidados com o Solo I

Ciências, Geografia, Arte e Língua Portuguesa.

9


Cuidados com o Solo I

Ciências, Arte e Língua Portuguesa.

Fonte – A autora

Durante a aplicação da SD foram realizados registros em diário de bordo da docente e foram avaliados alguns indicadores da Sensibilização Ambiental dos participantes.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na tabela 2, abaixo apresentada, estão descritos os elementos indicadores da Sensibilização Ambiental observados durante a aplicação da SD.

Tabela 2 – Elementos indicadores da Sensibilização Ambiental

Indicadores

Características observadas

Observações feitas de acordo com o descrito por

Participação

  • Comprometimento com as temáticas sugeridas;

  • Participação espontânea dos alunos

  • Diminuição da quantidade de lixo no chão da sala.

Butzke, Pereira e Noebauer (2007, p.8).

Envolvimento

  • Compromisso de estar presente nas aulas;

  • Indisciplina foi dando espaço a discussões sobre as temáticas das aulas;

Felicetti e Morosini (2010).

Motivação

  • Curiosidade dos alunos sendo aguçada e seu interesse pela temática do Solo e pelas atividades crescendo, conforme registrado no DB da pesquisadora;

  • A turma se mostrou participativa, envolvida e curiosa com as aulas.

Rosa (2012);

lleris (2006)

Mudança Atitudinal

  • Nossa, se um dia todo o Solo do mundo deixar de ser fértil, não teremos mais comida.

  • Quando se faz queimadas, é como se estivesse matando muitos animais que vivem no Solo.

  • Todos os seres vivos dependem do Solo, por que então que o homem destrói ele?

  • Será que meus filhos conhecerão o que é uma árvore?

  • Eu queria poder mudar a realidade da natureza!

  • Iniciativa dos estudantes para apresentar seus trabalhos à comunidade.

Azevedo (2009).

As características observadas estão de acordo com o descrito pelos seguinte autor Azevedo (2012), na mudança atitudinal estão relatadas as falas de alguns alunos e a iniciativa que partiu do grupo.

A cada aula que aplicou-se a sequência didática os alunos demonstraram um maior envolvimento, observamos que houve um notável crescimento intelectual, motivacional e relacional dos participantes, eles expandiram seu vocabulário diante das reescritas dos textos e relatórios, houve uma mudança da linguagem do senso comum para uma linguagem científica, ampliaram sua capacidade de participação nas aulas e nas discussões, na argumentação e na oralidade, melhoraram sua criatividade nos desenhos e observamos um maior interesse dos alunos frente as atividades propostas. Numa sala onde o número de faltas dos alunos é considerável, notou-se que, após as primeiras aulas as faltas diminuíram, o que nos leva a entender que os alunos se sentiram motivados a irem para a escola.

Os resultados foram satisfatórios, produzindo nos alunos uma compreensão sobre a formação e cuidados com o solo a partir da produção de conhecimentos que foram norteadas pelas atividades propostas. Segundo os indicadores da Sensibilização Ambiental observadas, se conclui que os alunos desenvolveram uma consciência voltada para a importância do solo para o ambiente.

O início do processo de Sensibilização Ambiental pôde ser observado nos alunos participantes desse trabalho. Embora, as mudanças atitudinais não possam ser conhecidas em sua plenitude devido a questão temporal os primeiros passos foram dados para que os alunos que participaram desse projeto se tornassem cidadãos mais responsáveis e preocupados com o meio onde vivem e que reconhecem a importância e os cuidados necessários com o solo.

O estudo sobre a formação e os cuidados com o solo através de atividades contextualizadas e interdisciplinares possibilitou a Sensibilização Ambiental de estudantes de Ensino Fundamental.

BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO, Rita Teixeira d’. Sensibilização Ambiental – Importância e relação com gestão ambiental. 2009.

BUTZKE, I.C; PEREIRA, G.R.; NOEBAUER, D. Sugestão de indicadores para avaliação do desempenho das atividades educativas do sistema de gestão ambiental. SGA da Universidade Regional de Blumenau, FURB, 2007.

EFFTING, T. R. Educação Ambiental nas Escolas Públicas: Realidade e Desafios. 2007. 90 f. Monografia (Pós Graduação em “Latu Sensu” Planejamento Para o Desenvolvimento Sustentável) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Paraná. 2007. Disponível em: . Acesso em 10 out. 2012.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Org.). O que é interdisciplinaridade? São Paulo: Cortez, 2008.

FELICETTI, Vera Lucia ; MOROSINI, Marília Costa . Do compromisso ao comprometimento: o estudante e a aprendizagem . Curitiba, Brasil,: Editora UFPR. 2010. p. 23-44 p. n especial 2.

GUIMARÃES, Hayda Maria Alves et al. Educação Ambiental: Nossos Solos, Nossa Vida., 2012. Disponível em: <http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1270>. Acesso em: 29 set. 2018.

ILLERIS, Knud (Org.). Uma compreensão abrangente sobre a aprendizagem humana. In: Teorias contemporâneas da aprendizagem. Porto Alegre: Penso, p. 15-30, 2013.

LIMA, Marcelo Ricardo. O solo no ensino de Ciências no Nível; Fundamental Ciência & Educação. 2005. 386 p. v. 11.

ROSA, Alice Backes da. Aula diferenciada e seus efeitos na aprendizagem dos alunos: o que os professores de Biologia têm a dizer sobre isso?  Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Biociências. . Porto Alegre. 2012. 7 p.



Ilustrações: Silvana Santos