Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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06/12/2018 (Nº 66) HORTA VERTICAL: UM INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E SUSTENTABILIDADE EM UMA ESCOLA PÚBLICA NO SERTÃO PARAIBANO
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HORTA VERTICAL: UM INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E SUSTENTABILIDADE EM UMA ESCOLA PÚBLICA NO SERTÃO PARAIBANO

Renato de Freitas Souza¹, Veralucia Santos Barbosa²

¹Graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Campina Grande, (renato.defs@gmail.com).

²Doutora em Biologia Vegetal (UFPE). Professora adjunta da Universidade Federal de Campina Grande (veraluciasb@hotmail.com).

Resumo: O presente estudo teve por objetivo montar uma Horta Vertical, por meio da reutilização de garrafas PET, possibilitando ao estudante repensar sua relação com o ambiente e uma alimentação saudável, numa abordagem interdisciplinar. A metodologia aplicada é caracterizada como uma pesquisa-ação de abordagem quanti-qualitativa. Foram aplicados questionários semiestruturados, pré e pós-teste, com estudantes do 2° (segundo) ano do ensino médio (EJA) de uma escola localizada no município de Cajazeiras - PB. A horta propiciou uma reflexão sobre sustentabilidade e alimentação saudável, através da reutilização do PET e do cultivo de alimentos orgânicos, e também possibilitou aos estudantes conhecerem os benefícios das plantas medicinais.

Palavras-chave: Alimentação saudável. Educação ambiental. Garrafa PET. Plantas medicinais.

Abstract: The present study aimed to set up a Vertical Vegetable Garden, through the reuse of plastic bottles, enabling the student to rethink their relationship with the environment and healthy eating, in an interdisciplinary approach. The applied methodology is characterized as an action research of quantitative-qualitative approach. Semi-structured pre and post-test questionnaires were applied to students from the 2nd (second) year of high school (EJA) of a school located in the municipality of Cajazeiras – PB. The vegetable garden provided a reflection on sustainability and healthy eating, through the reuse of plastic bottles and the cultivation of organic food, and also allowed students to know the benefits of medicinal plants.

Key-words: Healthy Eating. Environmental education. Plastic bottles. Medical plants.

INTRODUÇÃO

Atualmente tem sido cada vez mais recorrente que as escolas busquem alternativas de ensino que rompam com o modelo tradicional e que motivem os estudantes a aprender, possibilitando seu envolvimento e contato com os objetos de estudo. Nas palavras de Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011), o docente precisa direcionar sua atuação de forma a propiciar a apropriação crítica pelos estudantes, para que o conhecimento incorpore-se efetivamente no universo das representações sociais, constituindo-se como cultura.

Neste sentido, a escola, enquanto formadora de cidadãos, deve encontrar meios efetivos para que cada estudante compreenda os fenômenos naturais, as ações humanas e suas consequências para consigo, sensibilizando os indivíduos para que ajam de modo responsável e com consciência, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro (EFFTING, 2007).

Considerando o caráter transformador da educação e o fato de que os estudantes da EJA (Educação de Jovens e Adultos) também fazem parte do processo de formação e transformação do meio onde vivem, além disso, é de suma importância o desenvolvimento de ações de EA (Educação Ambiental) na EJA em razão da carência de atividades voltadas para esta modalidade de ensino (ALBUQUERQUE, 2013).

Partindo deste pressuposto, a Horta Vertical surge no ambiente escolar como uma proposta de ensino interdisciplinar, capaz de tirar os estudantes da sala de aula e mostrar novas possibilidades de aprendizagem, mais significativa e interessante, de modo que se sintam motivados a realizá-la (BRITO, 2014). Além disso, o fato da Horta Vertical ocupar pequenos espaços, ela pode incentivar os estudantes a levar a proposta para suas casas e comunidade, transformando-se num agente disseminador (FERREIRA, 2012), através de “mudanças comportamentais e tomadas de atitudes para manutenção do meio ambiente mais equilibrado e socialmente mais justo” (SEABRA, 2009, p.15).

A Horta Vertical pode transmitir aos estudantes conceitos importantes como a reutilização e a destinação correta do lixo. Para Talamori e Sampaio (2003), a cultura do consumismo está degradando o planeta pelo abuso do uso de recursos naturais, sendo o lixo seu produto mais problemático. Neste cenário, a escola deve proporcionar elementos de conhecimento que permitam situar a sociedade de consumo de maneira crítica, consciente e responsável. Como por exemplo, promover ações com a reutilização do PET/resíduos sólidos no ambiente de ensino onde é possível estimular os estudantes a repensarem o destino do lixo.

As garrafas PET levam anos para se decompor e, quando deixadas em aterros sanitários, acabam por impermeabilizar as camadas em decomposição, prejudicando a circulação de gases e líquidos (GONÇALVES-DIAS; TEODÓSIO, 2006). Entretanto, seu material pode ser 100% reutilizável, mostrando-se como uma alternativa economicamente mais acessível que a reciclagem, através de ações de coleta seletiva e incentivo a práticas de reaproveitamento, como por exemplo, a montagem de hortas verticais.

Além disso, a horta vertical possibilita instruir os estudantes sobre importância das hortaliças para a saúde, suas formas de plantio, seu cultivo e cuidados (CRIBB, 2010). Por apresentarem um ciclo de vida curto, todo o desenvolvimento das hortaliças pode ser acompanhado pelos estudantes durante o período escolar, do plantio a colheita. Possibilitando ainda, que estes conheçam as características da produção com vistas para o autoconsumo (LINHARES; ROJAS; RODRIGUES, 2017).

A Horta Vertical também traz a possibilidade de cultivar plantas medicinais que podem propiciar aos estudantes uma oportunidade de aprender sobre Fitoterapia e Etnobotânica. Conforme Badke (2011) e Batista e Oliveira (2014), as plantas medicinais foram, por muito tempo, o principal recurso terapêutico para tratar a saúde de comunidades, contribuindo com estudos farmacológicos, bem como para com a preservação da cultura e do meio ambiente, através da educação e a valorização dos saberes tradicionais.

Para tornar possível essa experiência no ambiente de escolar, tomou-se como estratégias de ensino as oficinas pedagógicas e os jogos didáticos. De acordo com Paviani e Fontana (2009), as oficinas possibilitam a vivência de situações concretas e significativas, com objetivos pedagógicos ligados ao sentir-pensar-agir, mudando o foco tradicional da aprendizagem, para incorporar a ação, reflexão, bem como, a construção e produção de conhecimentos teóricos e práticos de forma ativa e reflexiva. Com relação aos jogos, Falkembach (2006) apresenta como benefício destes a multiplicação dos apelos sensoriais que influenciarão no interesse dos estudantes para a construção de uma bagagem de conhecimento expressivamente maior, e que permitirão que estes atribuam significados às informações de maneira a facilitar o processo de ensino e aprendizagem.

Desta forma, o presente estudo teve por objetivo montar uma Horta Vertical, por meio da reutilização de garrafas PET, possibilitando ao estudante repensar sua relação com o ambiente e uma alimentação saudável, numa abordagem interdisciplinar, através de oficinas pedagógicas com estudantes do 2° ano do ensino médio da EJATEC da Escola Estadual Ensino Fundamental e Médio Professor Manoel Mangueira Lima.

METODOLOGIA

Caracterização da área de estudo

O presente estudo foi desenvolvido, no período de 01 de fevereiro a 30 de março de 2018, no anexo da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Manoel Mangueira Lima que atua com Educação de Jovens e Adultos com Tecnologia (EJATEC). A escola está localizada no município de Cajazeira, no estado da Paraíba, Região Nordeste do país (Figura 01). A escolha do anexo deu-se em decorrência do público ao qual a instituição atende, formado por jovens e adultos.

Figura 01 - Localização da EJATEC anexo da EEEFM Professor Manoel Mangueira Lima.

Fonte: Pinheiro (2018).

Classificação da pesquisa

A pesquisa em questão é classificada como uma pesquisa aplicada que objetiva gerar conhecimentos práticos e é dirigida à solução de problemas específicos, envolvendo verdades e interesses locais (SILVA, 2005). Em relação à forma de abordagem do problema, trata-se de uma pesquisa quanti-qualititativa de modo a obter uma compreensão e explicação mais ampla do tema estudado, a partir da possibilidade de um tratamento interpretativo e estatístico das informações (GIDDENS, 2012).

Do ponto de vista de seus objetivos, a pesquisa é classificada como exploratória que, conforme Gil (2002), proporciona uma maior familiaridade com o problema, tornando-o mais explícito e ajudando até mesmo a constituir hipóteses. Sobre os procedimentos técnicos, é caracterizada como uma pesquisa-ação que, segundo Thiollent (2002, p. 75), quando aplicada à educação torna possível a produção de conhecimentos de uso mais efetivo, inclusive ao nível pedagógico e gerando condições para promoção de ações e transformações de situações dentro da própria escola.

Sujeitos da pesquisa

A pesquisa foi realizada com 12 alunos do 2° do ensino médio (EJA), do turno da tarde, da EJATEC, anexo da Escola Estadual de Ensino Fundamental Médio Professor Manoel Mangueira Lima.

Instrumentos de coleta de dados e intervenção pedagógica

Inicialmente, foi aplicado um questionário pré-teste semiestruturado, com 14 questões, com o intuito de verificar a percepção dos estudantes sobre educação ambiental, alimentação saudável, agroecologia e plantas medicinais.

Durante período de intervenção da pesquisa foram realizadas visitas ao ambiente escolar para o desenvolvimento de ações com os estudantes do 2° ano do ensino médio (EJA):

1° Consciência Ambiental: Realizou-se uma dinâmica com objetivo de promover uma reflexão sobre a importância da reutilização de resíduos sólidos. Para isso, cada estudante recebeu um papel em formato circular, onde foram instruídos a listarem o que pode ser reutilizável em se tratando de resíduos sólidos. Tal intervenção possibilitou aos estudantes perceberem que muitos objetos descartados diariamente podem ser reutilizados evitando-se a produção de lixo. Em seguida, os mesmos estudantes receberam um papel em formatado de garrafa PET e foi solicitado as estes que refletissem e escrevessem qual a importância de sua reutilização.

2° Montagem de uma Horta: Teve por objetivo, a montagem de uma Horta Vertical com garrafas PET. A montagem e plantio da horta vertical seguiram as orientações de Clemente e Haber (2012) e Costa et al. (2010). Inicialmente, os estudantes foram incentivados a coletar garrafas PET para montagem da horta (Figura 03). Para facilitar a orientação, os estudantes foram divididos em quatro grupos. As instruções para a montagem da horta foram transmitidas passo a passo e acompanhou-se de perto o trabalho dos grupos. Durante a oficina buscou-se desenvolver as habilidades de trabalho em equipe. Os estudantes plantaram Alface Mimosa (Lactuca sativa L.), Coentro (Coriandrum sativum), Cebolinha (Allium schoenoprasum), Couve-flor (Brassica oleracea var. botrytis L.), Alecrim (Rosmarinus officinalis), Hortelã (Mentha spicata), Malva (Malva sylvestris L.) e Erva cidreira (Melissa officinalis).

Figura 02 - Fases do desenvolvimento da Horta Vertical no ambiente escolar: (A) Limpeza do local; (B) Montagem da horta; (C) Momento de plantio e cuidado da horta.

Fonte: Dados da pesquisa(2018).

3° Agrotóxicos x Alimentação saudável: Foi realizado um jogo didático (Figura 03) com um tabuleiro, onde se objetivou levar os alunos a refletir sobre os impactos da utilização de agrotóxicos ao meio ambiente e à saúde humana, além da importância da adoção de atividades agroecológicas. O jogo foi composto por perguntas sobre agrotóxicos, agroecologia e alimentação saudável, e os estudantes deveriam lançar o dado e escolher um cartão (com uma pergunta) pela cor (preto, rosa e laranja). Se o estudante errasse, passava a vez, se acertasse poderia realizar mais uma jogada. Além disso, havia também no tabuleiro, casas com as seguintes frases: “Você aplicou agrotóxico em sua plantação, volte 1 casa”; “Parabéns! Você cultivou alimentos orgânicos, avance 1 casa”; “Você consumiu alimentos orgânicos, avance 1 casa”; “Você consumiu alimentos inorgânicos, volte 1 casa”. Desde o início, os estudantes foram orientados que não importava vencer, mas construir conhecimentos através da interação lúdica e coletiva.

Figura 03 - (A) Tabuleiro usado na oficina; (B) Estudantes participando do jogo didático.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

4° Plantas Medicinais: Teve como objetivo demonstrar os benefícios das plantas medicinais no tratamento de doenças. Inicialmente, dividiu-se a turma quatro grupos e entregou-se a cada grupo um pacotinho com folhas secas e frescas de plantas medicinais cultivadas na horta: Alecrim (Rosmarinus officinalis), Hortelã (Mentha spicata), Malva (Malva sylvestris L.) e Erva cidreira (Melissa officinalis); e um papel com os nomes de fitoterápicos. Solicitou-se, então, que os estudantes sentissem o cheiro e a textura das plantas, e após esse momento eles deveriam escrever as doenças que podem ser tratadas com cada planta (Figura 04). Posteriormente, montou-se um mural onde os estudantes colaram as folhas secas, acompanhadas de fotos, e foram convidados a ir até o mural e falar o que sabiam sobre planta e seu uso medicinal. Nesse momento ocorreram debates onde os estudantes puderam confrontar seus conhecimentos prévios com o cientifico sobre as plantas medicinais expostas na oficina. Além disso, explicou-se como eles poderiam produzir fitoterápicos a partir daquelas plantas e sobre a utilidade de outras partes como caule e raiz, além da importância de seu manejo sustentável.

Figura 04 - Estudantes discutem sobre os benefícios das plantas medicinais cultivadas na horta vertical.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

5° Varal de Memórias: teve como objetivo promover uma reflexão acerca do percurso individual e coletivo durante todas as atividades desenvolvidas no projeto, recordando o que foi vivenciado e aprendido. os estudantes receberam fotos registradas no decorrer da intervenção pedagógica e um papel para escrever uma mensagem sobre o que aprenderam durante a experiência propiciada pelo projeto (Figura 05). Posteriormente, foi montando um varal com barbante onde os alunos foram convidados a ir até este varal, ler sua mensagem e fixá-la, com prendedor de madeira, juntamente com as fotografias no varal.

Figura 05 - Durante a oficina do Varal de Memorias, estudantes contando sobre suas vivências no decorrer do projeto.

Fonte: Dados da pesquisa(2018).

Após o período de intervenção pedagógica, aplicou-se o questionário pós-teste, o mesmo aplicado antes das intervenções, para verificar se houve uma melhora efetiva na compreensão dos estudantes sobre assunto trabalhado.

Análise dos dados

O tratamento dos dados ocorreu com base na análise de conteúdo de Bardin (2011), sendo os dados coletados através da aplicação de questionários semiestruturados e as informações obtidas, categorizadas, descritas e interpretadas. Para facilitar o tratamento da informaçõs, os questionários foram identificados com letras e números, por exemplo: no pré-teste utilizou-se A1, B1, C1; e no pós-teste A2, B2, C2, e assim sucessivamente. Esse procedimento fez-se necessário para identificar os questionarios dos quais retirou-se as unidades de contexto mantendo o anonimato dos estudantes participantes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perfil dos estudantes participantes

Durante a pesquisa foram aplicados questionários pré e pós-teste no sentido de averiguar os conhecimentos prévios dos estudantes sobre educação ambiental, hortas verticais, práticas agroecológicas, alimentação saudável e plantas medicinais e verificar se as atividades desenvolvidas ao longo da intervenção pedagógica propiciaram uma melhora significativa nos conhecimentos dos estudantes sobre estes temas. Os dados coletados mostraram que os estudantes participantes da pesquisa, estão numa faixa etária de 16 a 28 anos (Gráfico 01). Destes, 58,3% são do gênero masculino e 41,7% feminino. Observou-se ainda que 66,7% dos estudantes residem na zona Rural e 25 % na Zona Urbana (Gráfico 02).

Gráfico 01 - Faixa etária dos estudantes participantes da pesquisa.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Gráfico 02 - Região onde os/as estudantes residem.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).



Conhecer a área do município onde o estudante reside é importante para buscar compreender suas percepções e conhecimentos previamente construídos através de sua interação com a comunidade. O trabalho de Bordin et al. (2014), mostrou que existem duas percepções sobre o meio ambiente entre os estudantes da área urbana e da área rural, os primeiros concebem o meio ambiente de forma antropocêntrica, por outro lado, na maioria dos estudantes da área rural predomina a visão naturalista.

Educação ambiental e reutilização de resíduos sólidos

Considerando o papel da educação ambiental na formação do sujeito capaz de conviver em equilíbrio com o ambiente, foi proposto aos estudantes, no pré-teste, que escrevessem o que entendiam sobre a educação ambiental (EA) e 41,7% dos estudantes não opinaram, o que pode de certa forma estar relacionado à carência de informações sobre o tema por parte dos estudantes, 25% consideravam a educação ambiental como sendo o estudo do ambiente, e 33,3% responderam que a EA ensina a cuidar do meio ambiente. Após as oficinas, questionou-se novamente, no pós-teste, sobre o que os estudantes entediam por EA e 25% afirmaram que a EA estuda a relação entre o ser humano e o ambiente; para 50% a EA transmite uma ideia de cuidar do meio ambiente; e para outros 25% o conceito está ligado ao respeito à natureza.

Tabela 01 - Percepção de Educação Ambiental dos estudantes da instituição.

CATEGORIA

Pré-teste

Pós-teste

Cuida do ambiente

0

50

Estudo do ambiente

25

0

Relação ser humano e ambiente

33,3

25

Respeito à natureza

0

25

Não opinou

41,7

0

Σ=

100

100

(Σ= somatório da categoria, os valores estão em porcentagem).

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Diferente do observado no pré-teste, onde 41,7% não opinaram sobre EA, após as oficinas, todos os estudantes demonstraram ter uma percepção formada sobre o tema e isso se deve em grande parte às oficinas desenvolvidas. Conforme Melo (2007), as oficinas têm como característica a superação do modelo de ensino que entrega um conhecimento pronto e fragmentado, possibilitando uma prática capaz de estabelecer um paralelo entre a biodiversidade ambiental e diversidade cultural, entre transformação natural e intervenção humana no ambiente.

A EA pode ser entendida como os processos onde indivíduos constroem coletivamente valores sociais, conhecimentos e competências direcionadas à conservação do meio ambiente, essencial à sua sadia qualidade de vida e à sustentabilidade (BRASIL, 1999). No entanto, Souza, Holanda e Castro (2016), chamam a atenção para o fato de que muitos estudantes ainda vêm associando o conceito de EA como uma ideia de “adestramento ambiental”, onde as práticas desenvolvidas na escola não propiciam a apropriação crítica pelo estudante e, portanto, não condiz com a proposta da EA em promover uma reflexão sobre a relação entre ser humano e meio ambiente.

Sobre as possibilidades para a redução dos impactos causados ao meio ambiente pela produção exagerada de garrafas PET (Tabela 02), no início do estudo 41,7% dos estudantes mostraram-se favoráveis à reciclagem e 58,3% favoráveis à reutilização. Esses dados evidenciam que boa parte dos estudantes já apresentava certa consciência sobre a importância de reutilizar as garrafas PET e também de sua reciclagem. Fato que foi reafirmado após as oficinas, no pós-teste, onde 75% mostraram-se favoráveis à prática de reutilização do PET que, inclusive, foi desenvolvida ao longo das intervenções pedagógicas e pode ser considerada uma prática economicamente mais acessível que a reciclagem. Sobre a prática da reciclagem, Layrargues (2002), argumenta que muitos programas de EA na escola são implementados de modo reducionista, desenvolvendo apenas a coleta seletiva de lixo, em detrimento de uma reflexão crítica e abrangente a respeito dos valores culturais da sociedade de consumo e dos aspectos políticos e econômicos da questão do lixo.

Tabela 02 - Melhor forma de reduzir impactos causados pelo PET ao ambiente, segundos os estudantes.

CATEGORIA

Pré-teste

Pós-teste

Reciclar as garrafas

41,7

25

Reutilizar as garrafas

58,3

75

Σ=

100

100

(Σ= somatório da categoria, os valores estão em porcentagem).

Fonte: Dados da pesquisa(2018).

O desenvolvimento de ações de EA com reutilização resíduos sólidos no ambiente de ensino possibilita aos estudantes não apenas aprender sobre a separação do lixo, mas também incentiva a prática da reutilização. Durante a realização das oficinas (Figura 06), os estudantes puderam compreender a importância de repensar a destinação das garrafas PET. Isto vem ao encontro do trabalho de Petry (2012), que concluiu que economicamente o PET apresenta vantagens tanto em sua reciclagem como em sua reutilização. No caso da reutilização, uma grande variedade de novos produtos pode ser criada a partir de garrafas PET, que vão desde artesanatos, vasos (horta vertical), brinquedos, até mesmo móveis. Essas ações podem diminuir significativamente a produção de plástico PET, propiciando uma economia de petróleo e energia usados na sua produção.

Figura 06 - (A) e (B) Estudantes participando da oficina sobre consciência ambiental, onde refletiram sobre a reutilização do PET.

Fonte: Dados da pesquisa(2018).



Horta Vertical como estratégia de promoção da saúde na escola

Considerando a necessidade de se promover uma educação alimentar e o conhecimento sobre plantas medicinais na escola, construiu-se uma Horta Vertical. Com relação aos conhecimentos dos estudantes sobre a mesma, observou-se no pré-teste que 25% dos estudantes não sabiam o que era uma Horta Vertical, enquanto 75% afirmaram saber do que se tratava definindo-a como: (1) uma horta na parede: “É uma horta estendida na parede” – resposta do/a estudante D1; (2) plantação de hortaliças: “É um horta de coentro de cebola e de alface” – resposta do/a estudante G1. Com o desenvolvimento da horta, todos os estudantes afirmaram saber o que é uma horta vertical no pós-teste, sendo as principais respostas: (1) horta na parede: Horta suspensa de garrafas PET colocadas na parede” – resposta do/a estudante F2; (2) uma forma de reutilizar o PET: “É uma horta feita com a reutilização de garrafa PET” – resposta do/a estudante D2.

Tabela 03 - Estudantes que sabem o que é uma horta vertical.

CATEGORIA

Pré-teste

Pós-teste

Sabe

75

100

Não sabe

25

0

Σ=

100

100

(Σ= somatório da categoria, os valores estão em porcentagem).

Fonte: Dados da pesquisa(2018).

Constatou-se que boa parte dos estudantes já apresentava uma percepção prévia do que seria uma horta vertical, o estudo veio reforçar seu significado e trazer para a vivência dos estudantes os benefícios propiciados pela horta à saúde e ao meio ambiente. Conforme Böhm et al. (2017), em uma sociedade que prioriza o consumo, não existe a preocupação com a produção e descarte dos produtos, sendo necessária a promoção de um debate guiado pela educação ambiental nas escolas para repensar esse comportamento. De acordo com Morgado e Santos (2008), a horta escolar constitui-se como laboratório vivo e traz consigo a possibilidade de desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas de educação ambiental e alimentar de forma contextualizada, unindo teoria e prática. Além disso, auxilia no estreitamento das relações através da promoção do trabalho coletivo.

Dentre as razões para adotar o cultivo de uma horta em casa (Tabela 04), segundo 32,3% dos estudantes a horta propicia uma melhora na saúde, para 25,8% nos leva a consumir menos agrotóxicos, para 19,4% leva a consumir alimentos saudáveis, enquanto que para 9,7% a horta propicia uma economia de gastos. No pós-teste, os estudantes afirmaram que a horta leva a consumir menos agrotóxicos (34,3%) e pode melhorar a saúde (31,4%). Além disso, os estudantes também a consideram como um importante meio de incentivo ao consumo de alimentos saudáveis (25,7%).

Tabela 04 - Razões para adotar o cultivo de uma Horta no ambiente residencial.

CATEGORIA

Pré-teste

Pós-teste

Aprender técnicas jardinagem e artesanato

3,2

0

Consumir alimentos saudáveis

19,4

25,7

Consumir menos agrotóxicos

25,8

34,3

Economia

9,7

2,9

Melhorar a saúde

32,3

31,4

Ter algo para cuidar

6,5

5,7

Não opinou

3,2

0

Σ=

100

100

(Σ= somatório da categoria, os valores estão em porcentagem).

Fonte: Dados da pesquisa(2018).

Os dados mostram que os estudantes passaram a entender a importância do cultivo e consumo de alimentos orgânicos, além da relevância da produção para autoconsumo como uma estratégia menos agressiva ao meio ambiente. Irala e Fernandez (2001) relatam a importância de aprender sobre uma horta, como plantar as hortaliças e saber quais os nutrientes que elas contêm. Outro aspecto levantado por Buratto et al. (2011), é que a horta, incentiva o interesse dos estudantes para com assuntos relacionados ao meio ambiente e à saúde, incluindo na sua formação conceitos importantes para proporcionar uma visão mais ampla do meio ambiente.

Os estudantes foram questionados se o cultivo de uma horta vertical pode levar o indivíduo a adotar hábitos alimentares mais saudáveis e 42,4% dos/as estudantes não responderam, enquanto que 56,6% consideraram que a horta pode levar à adoção de hábitos saudáveis. As principais respostas foram: (1) é livre de agrotóxicos, “O alimento é cultivado sem agrotóxicos” – resposta do/a estudante B1; (2) alimentos são naturais “Os alimentos são naturais e mais saudáveis” – resposta do/a estudante C1. Após o desenvolvimento das atividades da horta, no pós-teste, 100% dos estudantes afirmaram que a horta possibilita a adoção de bons hábitos alimentares, sendo as principais respostas: (1) o alimento é livre de agrotóxico: “Quando cultivamos nosso próprio alimento cuidamos bem, sem o uso de agrotóxicos ou injetáveis” – resposta do/a estudante A2; (2) os alimentos da horta são mais saudáveis: “Porque quando se tem uma horta em casa, você começa a comer coisas mais saudáveis” – resposta do/a estudante D2. Esses dados revelam uma mudança de percepção dos estudantes em relação aos alimentos e a seus hábitos alimentares.

Constatou-se que os estudantes já tinham uma percepção sobre os benefícios do cultivo orgânico de hortaliças, e a prática de cultivo e cuidado da horta vertical veio reforçar esse conhecimento. Coelho e Bógus (2016) relatam que uma horta na escola estabelece uma relação diferente entre os estudantes e os alimentos, gerando um ambiente profícuo para expressão da curiosidade e aprendizagem para sua produção por meio do conhecimento da cadeia alimentar e a origem dos alimentos, contribui também para que o estudante crie um elo com seu alimento rompendo com a ideia de um alimento moderno, padronizado e sem identidade.

Com relação às hábitos alimentares que os estudantes consideram como importantes hábitos saudáveis (Tabela 05), o pré-teste evidenciou que 50% dos estudantes consideravamo consumo de verduras e frutascomo um importante hábito saudável, citaram também alimentar-se na hora certa (25%) e beber muita água (15%), enquanto que 10% não opinaram. No pós-teste, 52,2% dos estudantes apontaram o consumo de verduras e frutas como hábito saudável, houve um aumento no número de estudantes que consideram importante beber muita água (26,1%), em seguida veio a alimentação na hora certa (21,7%).

Tabela 05 - Hábitos alimentares apontados pelos estudantes.

CATEGORIA

Pré-teste

Pré-teste

Alimentar-se na hora certa

25

21,7

Beber muita água

15

26,1

Consumir frutas e verduras

50

52,2

Não opinou

10

0

Σ=

100

100

(Σ= somatório da categoria, os valores estão em porcentagem).

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Notou-se que os estudantes perceberam a importância da alimentação na hora certa e da hidratação para que os nutrientes provenientes dos alimentos sejam bem aproveitados pelo nosso organismo. Segundo Santos (2005), é de suma importância aprofundar a discussão acerca do papel da educação alimentar e nutricional, bem como sua contribuição para adoção de práticas alimentares saudáveis. Nas palavras de Zancul e Oliveira (2007, p. 226), “atividades educativas promotoras de saúde na escola são muito importantes se considerarmos que pessoas bem informadas têm mais possibilidades de participar ativamente na promoção do seu bem-estar”.

No intuito de entender o perfil alimentar dos estudantes, questionou-se sobre quais são os alimentos que estes consideram indispensáveis no seu dia a dia (Tabela 06), dentre os alimentos apontados pelos estudantes no pré-teste estão o feijão (22,9%) e o arroz (14,3%), ambos considerados tradicionais na mesa dos brasileiros, também tiveram destaque a batata (17,1%), salada (11%) e o suco (11%). Comparando os dados obtidos no início e no fim do estudo, observa-se uma significativa mudança de posicionamento dos estudantes frente ao consumo de determinados alimentos citados no pré-teste, como pão (2,9%), doce (2,9%) e refrigerante (2,9%), enquanto que no pós-teste, estes alimentos não foram mencionados pelos estudantes, evidenciando a tomada de consciência destes em relação à necessidade reduzir o consumo de alimentos de alto teor calórico. Observou-se também no pós-teste que os alimentos mais citados foram: feijão (19,7%), arroz (18%), salada (18%) e carne (19,7%), o estudo não considerou o tipo de carne, mas as oficinas abriram espaço para uma reflexão sobre a importância do consumo moderado de alimentos.

Tabela 06 - Alimentos considerados indispensáveis ao dia-a-dia pelos/as estudantes.

ALIMENTOS

Pré-teste

Pós-teste

Arroz

14,3

18

Batata

11,4

9,8

Carne

8,6

19,7

Doce

2,9

0

Feijão

22,9

19,7

Macarrão

2,9

6,6

Pão

5,7

0

Refrigerante

2,9

0

Salada

17,1

18

Suco

11,4

8,2

Σ=

100

100

(Σ= somatório da categoria, os valores estão em porcentagem).

Fonte: Dados da pesquisa(2018).

Atitudes como a de evitar o consumo de refrigerantes e outros alimentos industrializados e consumir alimentos mais saudáveis devem ser incentivadas pela escola visando reduzir o grande consumo de alimentos industrializados e/ou de alto teor calórico. Na visão de Ferreira (2012) a preocupação com a alimentação saudável vem sendo deixada de lado em nosso dia a dia. Muitas vezes por questão de tempo, o que nos leva a preferir alimentos industrializados de rápido preparo e manipulação, mas de má qualidade nutricional.

Sobre a frequência com que os estudantes consomem hortaliças(Tabela 07), no pré-teste, 75% dos estudantes afirmaram que consumiam hortaliças apenas às vezes, enquanto que 16,7% consumiam regularmente. Com a prática de cultivo da horta vertical no ambiente escolar e a realização das oficinas pedagógicas o número de estudantes que afirmaram consumir hortaliças regularmente aumentou para 58,3% evidenciando os benefícios da horta vertical na adoção hábitos alimentares saudáveis pelos estudantes.

Tabela 07 - Frequência que os/as estudantes consomem hortaliças.

CATEGORIA

Pré-teste

Pré-teste

Às vezes

75,0

33,4

Regularmente

16,7

58,3

Não respondeu

8,3

8,3

Σ=

100

100

(Σ= somatório da categoria, os valores estão em porcentagem).

Fonte: Dados da pesquisa(2018).

É evidente a importância do consumo hortaliças pelos estudantes considerando seu valor nutricional e sua importância para uma dieta balanceada. Deste modo, a escola, independente de sua modalidade de ensino, pode promover ações de incentivo ao consumo de hortaliças como estratégia de educação alimentar.

Para tanto, as alternativas alimentares procuradas pelos jovens e adolescentes levam em consideração fatores socioeconômicos, familiares e ambientais, e que não se restringem apenas ao ponto de vista nutricional, desse modo, é importante incentivar ações para uma alimentação saudável e sustentável (LOUREIRO, 2004). Neste contexto, a horta vertical (Figura 07) surge como uma estratégia para promoção de uma alimentação saudável aliada à produção sustentável para autoconsumo, como foi explicado em uma das oficinas.

Figura 07 - (A) Horta vertical durante o desenvolvimento das plantas medicinais e hortaliças; (B) Alface desenvolvida, após o período do cuidado pelos estudantes.

Fonte: Dados da pesquisa(2018).

Por meio da horta vertical o estudante pode reutilizar algumas garrafas PET (que iriam para o lixo), solo e um pacotinho de sementes tradicionais, que custa em média R$: 1,00 (um real), para cultivar, por exemplo, 100 pés de alface. Com a montagem da horta na escola e a realização das oficinas, os estudantes puderam por em prática essa estratégia de produção sustentável, que inclusive, causou espanto para alguns estudantes devido à economia de gastos propiciada. Isso sem mencionar a possibilidade de produzir adubo a partir do lixo orgânico.

Sobre a opinião dos estudantes acerca da utilização de agrotóxicos na agricultura, no pré-teste, 25% o consideravam prejudicial ao meio ambiente: É muito ruim para o meio ambiente”– resposta do/a estudante D1; para 33,4% o agrotóxico é prejudicial à saúde:“O agrotóxico faz mal a saúde da pessoa”– resposta do/a estudante G1; segundo 8,3% devem ser usados com cautela: “Acho que o agrotóxico não pode ser utilizado de forma exagerada, tem que ser na quantidade certa para cada alimento”– resposta do/a estudante E1; 8,3% consideravam o uso de agrotóxico necessário à agricultura: “Diminui os impactos causados por ‘pragas’ na agricultura” – resposta do/a estudante H1; 25% optaram por não responder ao questionamento.

Após a realização das oficinas, o pós-teste revelou um aumento nonúmero de estudantes que consideram o agrotóxico prejudicial à saúde (83,3%): “Os agrotóxicos não fazem bem a saúde, prefiro alimentos plantados na horta em casa”– resposta do/a estudante F2; enquanto que 16,7% dos/as estudantes consideram o uso de agrotóxicos prejudicial ao ambiente e ao ser humano: “É prejudicial tanto para o solo quanto para nós”– resposta do/a estudante E2. As falas dos estudantes evidenciam a mudança de posicionamento em relação ao consumo de alimentos com agrotóxicos.

Percebeu-se que os estudantes tomaram consciência dos malefícios do uso de agrotóxicos para o ambiente e para sua saúde. Sobre isso, Böhmet al (2017) alertam que muitos têm a noção do que seja um alimento saudável, entretanto, não têm consciência dos riscos de uma alimentação rica em resíduos de agroquímicos e conservantes alimentares que, ao longo do tempo, podem causar doenças crônicas. Do ponto de vista de Cribb (2010), a horta escolar pode contribuir para que os estudantes compreendam os perigos da utilização de agrotóxicos para a saúde humana e para o meio ambiente; possibilitando um debate necessário a preservação do meio ambiente.

Horta Vertical como um resgate do conhecimento Etnobotânico

Considerando a importância da valorização do conhecimento etnobotânico, questionou-se no pré-teste se os estudantes já fizeram uso de plantas medicinais para tratar doenças (Tabela 08), observou-se que 58,3% destes afirmaram ter utilizado, enquanto que 33,4% não utilizaram e 8,3% não responderam. Após as oficinas pedagógicas, o número de estudantes que afirmaram ter feito uso de plantas medicinais passou a ser de 91,7%.

Tabela 08 - Estudantes que afirmaram terem usado plantas medicinais.

CATEGORIA

Pré-teste

Pós-teste

Utilizou

58,3

91,7

Não utilizou

33,3

8,3

Não respondeu

8,3

0

Σ=

100

100

(Σ= somatório da categoria, os valores estão em porcentagem).

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Esses números evidenciam que a utilização de plantas medicinais é um hábito relativamente comum que tem como base o saber popular, passado por gerações, principalmente em comunidade rurais. Chamou atenção o fato de que os estudantes participantes da pesquisa são em sua maioria residentes da zona rural (66,7%) e de certa forma podem estabelecer um maior contato com a natureza, em especial com espécies de plantas consideradas medicinais, hábito que não é muito comum para os estudantes residentes nazona urbana. Como relata Veiga Júnior. (2008), a urbanização e o êxodo rural levam à perda de conhecimento acumulado pelos seus antepassados sobre o uso medicinal de plantas, seja pela falta de contato ou mesmo desinteresse em aprender.

Para os estudantes que afirmaram ter feito uso de plantas medicinais no tratamento de doenças, questionou-se sobre quais plantas foram utilizadas(Tabela 09). No pré-teste, 26,7% dos estudantes citaram Camomila (Matricaria chamomilla), 16,7% Macela (Achyrocline satureioides), 16,7% Boldo (Peumus boldus), 16,7% Hortelã (Mentha spicata). Com a realização da oficina sobre plantas medicinais, observou-se que as plantas cultivadas na horta vertical foram citadas em maior número pelos estudantes como a Malva (Malva sylvestris L.) com19,4% e a Erva-cidreira (Melissa officinalis) com 16,7%. O número de estudantes que citaram a Camomila (Matricaria chamomilla) reduziu para 13,9%, o que pode está relacionado com o fato que os estudantes entraram em contato com outras espécies que antes eles desconheciam seus benefícios.

Tabela 09 - Plantas medicinais utilizadas pelos/as estudantes.

Nome Popular

Nome Cientifico

Pré-teste

Pré-teste

Alecrim

Rosmarinus officinalis

3,3

8,3

Boldo

Peumus boldus

16,7

16,7

Camomila

Matricaria chamomilla

26,7

13,9

Capim Santo

Cymbopogon citratus

3,3

0

Erva cidreira

Melissa officinalis

6,7

16,7

Hortelã

Mentha spicata

16,7

13,9

Macela

Achyrocline satureioides

16,7

11,1

Malva

Malva sylvestris L.

10

19,4

Σ=

100

100

(Σ= somatório da categoria, os valores estão em porcentagem).

Fonte: Dados da pesquisa(2018).



Os resultados observados no pós-teste, podem estar relacionados ao conhecimento adquirido sobre as funcionalidades das plantas bem como sua possibilidade de cultivo nas residências dos estudantes. Sobre o uso de plantas medicinais, durante as oficinas (Figura 08) os estudantes puderam conheceralgumas plantas medicinais e seus benefícios que, inclusive, boa parte dos estudantes desconheciam. Outro ponto é que a horta vertical representa a possibilidade de cultivo e obtenção de recursos fitoterápicos sem prejudicar o meio ambiente. Como salientam Souza et al. (2017), é de suma importância promover ações para formação de uma consciência ambiental para o manejo sustentável dos recursos naturais, levando em consideração que a extração desenfreada de recurso fitoterápicos pode causar sérios impactos a vegetação.

Figura 08 - (A) Mural montado pelos estudantes durante o desenvolvimento da oficina sobre plantas medicinas cultivadas na horta vertical; (B) Uma das plantas usadas durante a oficina.

Fonte: Dados da pesquisa(2018).

Quanto à forma como estudantes utilizam as plantas medicinais no tratamento de doenças, no início do estudo todos os estudantes citaram o chá. No pós-teste, 76,9% dos estudantes citaram o chá e 23,1% a garrafada. Questionou-se também sobre quem havia indicado o uso de plantas medicinais (Tabela 10), no pré-teste, segundo 45,5% dos estudantes o uso foi indicado pelos pais, 45,5% pelos avós, enquanto que para 9,1% foi indicado pelo/a tio/a. No pós-teste, 42,9% citaram os pais, 35,7% avós, 7,1% tio/as e 14,3% o/a professor/a.

Tabela 10 - Como os/as estudantes se informaram sobre os benefícios das plantas medicinais.

CATEGORIA

FR

FR

Avós

45,5

35,7

Pais

45,5

42,9

Tio/a

9,1

7,1

Professor/a

0

14,3

Σ=

100

100

(Σ= somatório da categoria, os valores estão em porcentagem).

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Constata-se a partir dos dados obtidos que o conhecimento sobre o uso de plantas medicinais é algo transmitido de geração a geração e, de acordo com Batista e Oliveira (2014), se mantém presente na comunidade por meio das chamadas “receitas caseiras”, ensinadas por pais e avós, ou por representantes e anciões dotados desse saber tradicional. Porém, Maciel et al. (2002, p.433) defendem a importância da realização de estudos no sentido viabilizar a validação prévia do uso terapêutico de plantas medicinais utilizadas em vários estados do Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Horta Vertical representa uma mudança na maneira de se ensinar Ciências e Biologia possibilitando ao estudante o contato com o conteúdo de maneira contextualizada. Constituindo-se como uma proposta de promover ações educativas interdisciplinares para formação da consciência ambiental e alimentar no estudante. Além de propiciar um momento de reflexão e construção do pensamento crítico e reflexivo acerca da convivência entre o ser humano e o ambiente, capaz de propiciar a adoção de atitudes e ações para que essa relação se processe de maneira harmônica e sustentável.

Para tal, é de suma de importância a adoção de práticas pedagógicas emancipatórias como oficinas e jogos que juntamente com a horta podem contribuir para a renovação do ensino. Como no caso da reutilização de resíduos sólidos, onde muitos estudantes não possuíam conhecimentos das vantagens e múltiplas possibilidades de reaproveitamento tanto da garrafa PET como de outros resíduos sólidos, estes perceberam também que o ato de reutilizar é bem mais barato que o processo de reciclagem, embora ambos devam ser incentivados. Trouxe a tona, questões como agriculta urbana para autoconsumo, os malefícios do uso de agrotóxicos à saúde a ao solo.

Os estudantes que antes desconheciam os perigos do uso agrotóxico passaram compreender a importância da agroecologia nos dias atuais como os benefícios do plantio e consumo de alimentos orgânicos na promoção de hábitos alimentares saudáveis. Percebeu-se que antes das oficinas alguns estudantes nunca haviam usado plantas medicinais para tratar doenças. Estes puderam ainda aprender sobre o uso de plantas medicinais, as espécies possíveis de serem cultivadas em suas residências, bem como o preparo e uso de fitoterápicos para tratamento de doenças e suas indicações.

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Ilustrações: Silvana Santos