Entrevista
com Nadia Cozzi sobre Alimentação Consciente (13a. edição da revista eletrônica
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO)
Por Berenice Gehlen Adams
Apresentação:
Esta edição comemorativa de três anos da revista eletrônica Educação
Ambiental em Ação tem a honra de apresentar a publicitária e pesquisadora
Nadia Cozzi, uma paulista engajada há 10 anos nas questões da alimentação
consciente. Nadia é formada em Publicidade e Propaganda e é Pesquisadora do
Tema Agricultura Pura. Também é Coordenadora do Núcleo Alimentação
Consciente da ONG Caminho Kyusei Kannon - Desenvolvimento Humano (www.ckk.org.br).
Vamos conhecer um pouco mais da sua rica experiência, que muito contribuirá
para incentivar posturas alimentares sadias e conscientes, necessárias para a
saúde humana, porém, abafadas pela forma de vida atriblada dos dias atuais.
- Nadia, conte-nos como surgiu
o seu interesse pela alimentação saudável.
Foi uma série de coincidências, se é que elas existem. Na minha
época de Publicitária atendi contas de agrotóxicos em todas as agências em
que trabalhei. Depois passei para a área de eventos numa empresa de cozinhas
industriais. Tive meu próprio restaurante e assim conheci todos os lados do
alimento, do envenenamento por agroquímicos ao envenenamento pelo sentimento
na compra e preparo dos pratos, onde tudo o que importa é o lucro financeiro.
Há 10 anos tive contato com o conceito Agricultura Pura desenvolvido na década
de 30 por Meishu Sama, um mestre japonês.
Fiquei encantada com o respeito ao solo, a valorização do trabalho
do agricultor e o cuidado com a saúde das pessoas e do meio ambiente, e a
partir daí passei a me dedicar inteiramente ao assunto. Peguei o conceito e
o desenvolvi em relação
a todos os setores da alimentação dos hortifruti até os industrializados,
oferecendo alternativas de uma alimentação mais pura, mesmo que não se
tenha acesso ao orgânico.
- Como você avalia os atuais
hábitos alimentares das pessoas, de uma forma geral?
Sofríveis, parece que as pessoas esqueceram que a verdadeira função do
alimento é a de gerar vida, nosso bem maior. Em nome da economia, da
praticidade, da rapidez, perdeu-se o sabor, a beleza, o perfume, a crocância
natural e o enorme prazer de preparar com suas próprias mãos uma refeição
para a família. Nossos 5 sentidos foram colocados de lado, a energia gerada
pelo alimento empobreceu. Quem perdeu com isso? A Vida.
- Quais são as conseqüências
mais sérias provocadas pelos maus hábitos alimentares?
Infelizmente as consequências não são sentidas na hora, o efeito da química
do alimento é cumulativo, e aliando-se a outros fatores, pouco a pouco
vamos ficando doentes, física, mental e emocionalmente. Assim surgem diversos
tipos de câncer, artroses, reumatismos, doenças nos nervos, síndromes,
depressão, hiper atividade. O corpo se abate, a mente anuvia, vamos ficando
cada vez mais apáticos, nossa vontade cada vez mais influenciada
negativamente.
- As crianças são
extremamente influenciadas pela mídia. Para você, qual o papel dos veículos
de comunicação em promover hábitos alimentares saudáveis?
A indústria alimentícia gera grandes rendas publicitárias, os veículos de
comunicação até tratam do assunto da química no alimento, mas de maneira
superficial, infelizmente. Fala-se das vantagens da soja, dos tomates , dos
morangos, por exemplo, mas não se alerta que se forem
convencionais, perdem parte de seus nutrientes, além da grande quantidade de
agrotóxicos que neles são colocados, ou do uso das sementes transgênicas.
- Muitas pessoas dizem que têm
pouco tempo para prepararem alimentos mais naturais e argumentam que esses
produtos são mais caros. O que você acha deste posicionamento e o que é
possível sugerir para elas?
Aqui temos dois pontos a ressaltar. E ambos vão gerar polêmicas com certeza.
O primeiro (fator tempo) refere-se a um posicionamento herdado de uma revolução
feminista, que,
como toda boa revolução parte para os extremos para se chegar ao equilíbrio.
Nossa geração aprendeu que deveríamos refutar tudo o que lembrasse a
"servidão" da mulher. Assim deixamos de lado máquinas de costura,
agulhas de tricot e crochê, panelas, etc. Essas aptidões passaram a ser
encaradas como coisas menores, tinha-se orgulho até em dizer "
nem sei onde fica a cozinha da minha casa", não é
assim? A mulher saiu para a batalha, para se igualar e até superar o homem.
Conseguiu,
mas
é feliz?
Comparando à Natureza, a essência
da mulher é a Terra, aquela que gera, que dá vida, que sonha. A essência do
homem é a do Agricultor, que cuida da Terra, que provê, que luta para
realizar o sonho. Um completa o outro.
Preparar uma refeição para a família está longe de ser um papel menor, é
um arte, um encantamento. Ao calor do fogo misturam-se ingredientes e desejos,
sonha-se o futuro dos filhos, projeta-se a relação com o marido,
fortalecem-se os elos de uma verdadeira família. Querem um exemplo de quanto
isso é forte? Quem não tem na lembrança o sabor de um
prato especial da infância, que a avó, a tia ou a mãe faziam e que hoje
ninguém consegue imitar? A receita era diferente? Não, o ingrediente
especial era o sentimento colocado. Longe de mim querer levantar a bandeira da
mulher submissa, eu também trabalho fora, eu também me realizo, deve sim
haver um equilíbrio. A arte da culinária está sendo redescoberta até como
terapia, não é necessário despender horas para se preparar um alimento, eu
mesma tenho uma apostila com 90 receitas feitas no liquidificador, tudo rápido,
saboroso e melhor feitas com alimentos orgânicos, fruto de minha própria
experiência como dona de casa e profissional. Só uma coisinha mais
para ressaltar: os homens já descobriram os encantos de se preparar um
jantarzinho à luz de velas, cuidado meninas (risos).
Quanto ao segundo ponto,
o preço, tenho algumas considerações. Em primeiro lugar a
demanda ainda é pequena o que acarreta perdas, etc... etc. Em segundo lugar o
alimento orgânico tem mais nutrientes, no caso das carnes tem menor perda de
água, não causam doenças, não poluem o meio ambiente, não destroem a
fauna e a flora, tem por traz um grande projeto de responsabilidade social, não
utilizam mão de obra infantil, valorizam as pequenas propriedades diminuindo
o êxodo rural, consequentemente os problemas sociais das grandes cidades. Por
tudo isso já valeria a pena investir nos alimentos orgânicos. Mas, o que
quero ressaltar é o que se valoriza realmente na sociedade atual. Acha-se
caro um pé de alface custar R$ 1,70, mas compra-se pelo mesmo preço um
pacote de salgadinho, um refrigerante, um pastel de feira. Será que nossos
valores não estão de ponta cabeça? Sem falar naquelas pessoas que reclamam
do preço dos orgânicos, mas vestem jeans que custam R$ 300,00, sapatos e
acessórios de grife, e usam shampoos e cremes caríssimos.
- Você acha que a Educação
Ambiental pode colaborar para o desenvolvimento de hábitos alimentares
conscientes?
Acho, desde que os educadores ambientais se conscientizem de seu papel, de
nada adianta falar de ecologia, de meio ambiente, da poluição das águas e
em nossas atitudes diárias, como por exemplo, na hora das refeições
patrocinar empresas de agrotóxicos, de conservantes de alimentos, de
pesquisas transgênicas e assim por diante. As mudanças devem acontecer
primeiro em nossas casas
, em nossas atitudes, senão ficam inconsistentes e sujeitas
à meras discussões egóicas.
- Normalmente as escolas mantêm
cantinas ou bares onde vendem guloseimas dos mais variados tipos. O que você
pensa sobre isso?
Aqui em São Paulo já existe uma grande preocupação por parte das escolas
na troca dos salgadinhos, frituras, biscoitos recheados e refrigerantes por
frutas, sucos, lanches mais naturais, inclusive com a contratação de
nutricionistas para orientar o pessoal da cantina. Mas esbarram com a falta de
apoio dos pais,
muitas vezes as crianças trazem de casa o que a escola não oferece
mais,
- O que você considera
inaceitável ou mais prejudicial nos hábitos alimentares atuais?
A grande quantidade de alimentos industrializados presentes à nossa mesa.
Ninguém se preocupa em ler os ingredientes constantes nas embalagens e ver a
quantidade de produtos químicos que se ingere diariamente. Que bem pode fazer
à saúde um leite que dura 6 meses dentro de uma caixa, alimentos recheados
de agrotóxicos, carnes inchadas com promotores de crescimento, um complexo de
substâncias químicas e cremosas intitulado margarina que se passa
generosamente em pães que à custa de conservantes duram mais de 30 dias numa
prateleira de supermercado.E assim por diante, basta raciocinar um pouquinho.
- Muitas pessoas falam sobre
os prejuízos de se utilizar o microondas. Mesmo assim, há uma generalização
cada vez maior pelo uso deste equipamento nas cozinhas. Qual é o seu
posicionamento em relação a utilização deste equipamento para o preparo
dos alimentos?
De novo é uma questão de raciocínio. Um freezer por exemplo, já perceberam
que fazemos comida nova para colocar no freezer e comemos a velha para que não
se estrague?
O microondas para mim é como os transgênicos, alguns dizem que faz mal,
outros não. Como diria minha avozinha, onde há fumaça há fogo.Todos
sabemos que devemos cuidar da manutenção do aparelho para que não haja
vazamento das microondas que podem afetar a nossa saúde. Mas não são elas
que agem sobre o alimento e promovem o aquecimento?
Mas eu só esquento água ou o jantar das crianças e do marido
(coitadinhos!). Não cozinho nele.Mais uma vez incoerente, em primeiro lugar
estou gastando energia elétrica o que já é uma atitude antiecológica, em
segundo lugar quanto tempo leva uma água para ferver, será que vale a pena
arriscar minha saúde e da minha família em função do ganho de alguns
minutos?
Sabem porque normalmente colocamos um bolo no forno pré-aquecido? Para que
ele encontre um ambiente caloroso como a barriga de uma mãe que gera seu
filho, que gera vida. Será que existe então diferença entre aquecer a refeição
das crianças e do marido no forno convencional, onde tudo se aquece no tempo
certo mantendo as características e o sabor, e no forno de microondas, tudo
em nome da pressa, da rapidez? Porque se corre tanto, onde queremos chegar?
Ah... voltando aos transgênicos, se são tão bons porque não colocar nos rótulos
dos alimentos, assim poderíamos escolher não é mesmo?
- Deixe seu recado para os/as
leitores/as da revista Educação Ambiental em Ação: um conselho, uma frase
ou uma dica:
A Vida é nosso bem mais precioso, cuidem dela por favor. Repensem atitudes e
valores, a felicidade é simples e mora dentro de nós. Resgatem o sabor da
Vida.
Nadia,
nós, Editores(as) e Colaboradores(as) da revista eletrônica Educação
Ambiental em Ação agradecemos imensamente pela gentileza de conceder-nos
esta entrevist@. Muito Obrigada!
Informações adicionais:
Email
para contato com Nadia Cozzi: nacozzi@hotmail.com.
A
ONG Caminho Kyusei Kannon - Desenvolvimento Humano (www.ckk.org.br)
promove cursos, palestras em empresas, escolas, e onde são solicitados, além
dee seminários sobre Alimentação Consciente, e dispõe de apostilas
sobre a nova postura ecológica, que são:
Bio Culinária - Alimentação Consciente - receitas de liquidificador
Bio Conservação de Alimentos - conservando de maneira natural
Industrializado feito em Casa - tirando os aditivos da mesa
Bio Cosmética - o alimento como produto de beleza
Bio Limpeza - limpando a casa sem poluir o planeta
Nadia Cozzi
(11) 9158.4451