Profa.
Ms. Célia Regina Russo
celiarusso@terra.com.br
Bióloga, Especialista em Ecologia Geral, Mestre em Ciência Ambiental,
Docente Universitária, mantém parceria técnica científica com a
FLONA de Ipanema, IBAMA.
“Quem planeja a curto prazo deve plantar cereais,
A médio prazo, plantar árvores,
A longo prazo, deve educar pessoas”.
*(Kwantzu,
China, A.C in Medina e Santos, 1999)
RESUMO
O principal enfoque deste trabalho se situa entre os pólos da prática,
que debate e participação da cidadania a longo prazo, e da ciência,
que procura produzir ensaios que identifiquem os problemas e ofereçam
medidas concretas para resolvê-los. Nesta linha, há a inserção do
Desenvolvimento Sustentável. Conceito articulado em todas as dimensões,
e requer uma reflexão sobre os valores sociais para que promova uma
mudança no consumo de bens materiais e sua velocidade de uso, para só
então se perceber uma mudança cultural. Tal conceito presume a adoção
de posturas sociais sustentáveis, e para tanto, há que se contar com o
auxílio instrumental da Educação Ambiental, cuja dimensão trabalha
para alterar as percepções humanas, mostrando, identificando e
posteriormente, mudando condutas a partir da sensibilização na direção
da conscientização. O elemento essencial é a solidariedade, pois a
partir de novos conceitos tais como entender a natureza como provedora
de serviços ambientais que devem ser pagos pelos consumidores, ou então,
protegidos de sua exaustão, a Educação Ambiental e o Turismo procuram
proporcionar novas visões sobre antigos problemas. Debatendo temas como
Agenda 21, Certificações Ambientais e as atribuições imediatas do
Turismo, este artigo procura trazer ao debate temas importantes, muitas
vezes pouco dialogados nos cursos de Graduação em Turismo, sem, no
entanto, procurar esgotá-los. Procura também aclarar a substantiva
contribuição da Educação Ambiental para a implantação do Turismo
Sustentável, já que para tanto, parte-se da hipótese de que se deve
consolidar antes a ideologia da sustentabilidade nas relações do
sistema do turismo exposto por Beni (1998).
Palavras-chave:
Turismo, Cidadania, Cultura, Agenda 21, Pesquisa.
Abstract
The main focus is placed between the poles of practicality, which
debates the citizenship participation at long term, and the science,
which looks forward to produce a trial which may identify a Sustainable
Development. It is an articulated concept in all directions, which
requires a deliberation about the social values in order to promote a
change might be noticed. This concept presumes the adoption of
sustainable social attitudes, and to do so, it needs to count on an
instrumental help from the Environmental Education, which dimension
works to alter the human perception, pointing out, identifying and
subsequently, modifying behaviors through the sensibility and guiding to
consciousness. The fundamental element is solidarity, ones it is from
new concepts as understanding the nature as provider of environmental
services which must be paid by the consumers, or at least, be protected
from its exhaustion. The Environmental Education and the Tourism look
forward to providing new visions of old problems. Discussing issues as
Action 21, Environmental Certification and Tourism's immediate
attributions, this article tries to bring into debate important
subjects, which are, many times, not very dialogued in Tourism
Graduation Courses, without, however, letting them exhausted. It also
tries to elucidate the substantial contribution of the Environmental
Education to the introduction of the Sustainable Tourism, seeing that
the ideology of the sustainable ability in the tourism system's
relations must be consolidated first, as exposed by Beni (1998).
Key words: Tourism, Citizenship, Culture, Action 21, Research.
Acknowledgements
My special thanks to Jorge Adriano de Carvalho – Human’s Resource
Consultant – for his help.
Desenvolvimento
Sustentável e Turismo – Conceito e Origem
O conceito de desenvolvimento sustentável originou-se das preocupações
lançadas em 1972, na Reunião da ONU para o Meio Ambiente, em
Estocolmo. Naquela época, já se cogitavam as urgências de medidas
contra a escassez dos recursos naturais em escala global, tais como água
potável, aquecimento global e por conseqüência ar puro, solo com
qualidade para o plantio e produção de alimentos, mediante o excesso
de lixo urbano acumulados pela larga escala do crescimento e expansão
das manchas urbanas, e, o desmesurado consumo de bens materiais.
Em Le Preste (2000), encontram-se delineados os paradigmas do que, então,
chamou-se desenvolvimento durável, ou seja, desenvolvimento econômico
pautado pela justiça em um planeta habitável pelas gerações atuais e
futuras.
Percebiam-se dois problemas de escala mundial a serem sanados, ou seja,
o aumento vertiginoso da pobreza e da degradação ambiental
proporcionados pelo modelo de crescimento econômico com bases no
capitalismo neoclássico que, por sua vez, propiciou o círculo vicioso
entre ambos (Sachs,1993).
Conforme Sachs, o que importava enfatizar era a viabilidade de alcançar
aqueles dois objetivos em termos de capacidade de carga global do
planeta, presumindo-se sua gestão racional. Já em 1976, uma equipe
latino-americana, fundamentando-se em importante estudo baseado num
modelo global (Herrera et alli,1976 apud Sachs, 1993) chegou a essa
conclusão, confirmada por simulações do Instituto Internacional de Análise
Sistêmica Aplicada – IIASA (Shaw et alli, 1991 apud Sachs, 1993). Os
problemas da pobreza e do meio ambiente, muitas vezes degradados pelas
guerras poderiam ser sanados e evitados.
Não há quaisquer limites ecológicos ou falta de tecnologia que impeçam
sua superação. Conclui-se assim, que os obstáculos são sociais e políticos
(Sachs, 1993).
Para a economia, é fundamental internalizar os valores ambientais para
aumentar a capacidade de carga dos mesmos. A origem da idéia de
desenvolvimento sustentável e Agenda 21 se deu a partir dos resultados
revelados pelo relatório Nosso Futuro Comum (Comissão Brundtland,
1991), cujos esforços foram medidos entre 1972 e 1987. A partir de então,
considerou-se a emergência do reordenamento das prioridades das esferas
ambiental, econômica e social no mundo. Naquela época, entendeu-se que
havia a possibilidade de ações em comum no plano mundial, derivando
para a então conhecida Agenda 21 (ou Action 21 como é denominada
internacionalmente), que, resgatando o conceito de agenda, entendeu a
urgência de medidas a curto, médio e longo prazos, reinventando a
governança global, nacional e local, posto que, a economia, as questões
relacionadas ao emprego, salário, dignidade e qualidade de vida,
pudessem ser equacionadas pelas parcerias entre governos, ONGs, setor
privado, comunidades acadêmicas e científicas. Entretanto, o único
defeito da agenda elaborada às vésperas do Século XXI foi não ter
rompido com as questões do status
quo.
Como um dos produtos finais da Rio 92, a Agenda 21 propõe um amplo diálogo
entre os pares sociais visando ao alcance de prioridades definidas pelas
bases das diversas comunidades locais. Contendo 40 capítulos, a Agenda
21 Global é matriz para as Agendas 21 Nacionais e Locais. No caso da
brasileira, dispõe em seu capítulo 36 a necessidade da inserção da
Educação Ambiental em todos os níveis, posto que, como alavanca para
alcançar a meta máxima do desenvolvimento sustentável, pode
proporcionar através de seus métodos, o exercício da cidadania, o diálogo
e o enfrentamento dos problemas locais tendo por alicerce a história e
a democracia já consagrados na legislação brasileira pertinente ao
tema (Lei Federal 9.795/99).
Compreendendo também que a pobreza, ou seja, viver com menos de U$ 1,00
por dia, iria se alastrar pelo mundo, e que, o modelo de desenvolvimento
capitalista não abrangia o conceito de desenvolvimento real em seu mais
amplo sentido, a Agenda 21, escrita na Conferência Rio 92, se propôs a
erradicá-la a partir de metas ambientais a serem alcançadas a médio
prazo. Tais metas, provenientes de acordos entre os países
desenvolvidos e em desenvolvimento, tais como Suécia, Alemanha,
Dinamarca e Brasil, desenvolveu investimentos de 0,7% do PIB daqueles países
em ações coletivas, em projetos de despoluição e campanhas de Educação
Ambiental que envolvessem ONGs e comunidades definitivamente excluídas
do processo de desenvolvimento, ou seja, pobres!
De acordo com Gutierre a Agenda 21 é um compromisso moral dos países
desenvolvidos com os países em desenvolvimento, na medida em que
procura minimizar os danos ambientais causados nestes países por força
dos modelos de colonização que, na América do Sul, revelou-se
espoliativo e degradador pela extração de riquezas naturais tais como
o Pau-Brasil (Caesalpinea echinata) e ouro, entre outros.
Para o Turismo, enquanto administração de negócios, a idéia de
desenvolvimento sustentável deve envolver instituições tais como
empresas, operadoras, agências e ONGs em parcerias que auxiliem ao
viajante a adotar serviços que valorizem e invistam em comunidades
locais e tentem minimizar os impactos ambientais e culturais
classicamente promovidos pelas atividades turísticas (Mastny, 2002).
Entretanto, como forma de desenvolvimento econômico, o Turismo tem suas
peculiaridades que devem ser observadas, e por isso, Mastny (2002)
aponta para a utilidade de reflexão sobre a “Agenda 21 do Turismo”,
escrita em 1996, pela OMT e WTTC (Organização Mundial do Turismo e
Conselho Mundial de Viagens e Turismo, respectivamente).
Patrocinada pela indústria turística, a Agenda 21 do setor colocou uma
ênfase significativa na auto-regulamentação, ao tempo em que continua
a sustentar o papel dominante de mercados abertos e competitivos,
privatização e desregulamentação no encorajamento do turismo. Faz
pouca referência à supervisão governamental direta ou instrumentos
internacionais como impostos turísticos. Ademais, embora muitos esforços
envolvam uma mudança em direção à sustentabilidade ambiental, há
uma menor propensão em incorporar necessidades sociais e culturais,
incluindo o enfoque sobre questões de mão-de-obra e emprego, proteção
de culturas e maximização de elos com economias e comunidades locais
(Mastny, 2002).
Em síntese, governos e comunidades locais não se encontram na Agenda
21 do Turismo. Todavia, para que haja sustentabilidade, a prioridade é
reorientar o padrão de consumo em todas as esferas. Além disso, é
mais do que necessária a participação da população fixa, como também
dos trabalhadores do turismo. Mais que isso, é necessário que os
governos, não só por seus instrumentos econômicos, mas também, por
sua inquestionável contribuição oferecida pelos institutos de
pesquisas, ofereçam parâmetros, ambientais ou não, para um
planejamento coerente.
Assim, muitos documentos acadêmicos seguem refletindo sobre os turistas
(apontados como os principais causadores dos impactos) pois, pode-se
consumir cultura, paisagens, como também, aprender novas formas de
solucionar problemas observando o folclore e as culturas tradicionais,
posto que, o homem da terra (ou comunidades tradicionais) em sua
simplicidade, antes observa o movimento da natureza pela força das estações
do ano e, então, compõem seus cardápios, menus e utensílios domésticos
que, para o homem urbano, são mais do que fonte de suavidade e alegria,
mas antes, supõem o resgate da finalidade inicial do turismo exposta
por Margarita Barreto (2000), a saber, educação do espírito humano,
até que medidas mais abrangentes e eficazes sejam mais conseqüentes
sobre o tema.
Turismo e Meio Ambiente – As Questões Cruciais sobre os Impactos
O turismo vem percebendo um aumento considerável sobre as demandas
relacionadas às áreas consideradas como paraísos naturais, e por
conseguinte, numa relação intrínseca derivada do próprio mercado
emergente neste ramo, encontra paraísos naturais em conseqüência da
demanda gerada pelo inquestionável estresse urbano.
Como atividade de mercado, o Turismo é a atividade menos regulamentada
do mundo (Mastny, 2002), e na justa medida do consumo dos passivos
ambientais, os problemas relacionados na ampla literatura sobre o tema
identifica o consumo exagerado de energia como a origem da poluição
dos mananciais entre outros bens naturais, e como não poderia deixar de
ser, a intensa produção de lixo e sua disposição final no extremo
limite da cadeia produtiva. Além disso, classifica-se o despreparo dos
destinos turísticos para lidar com os danos como o ponto crucial deste
problema claro.
Isto posto, Mastny (2002), descreveu dados da Organização
Internacional do Trabalho que qualifica o trabalhador da indústria turística
como aquele que ganha 20% menos que o trabalhador comum, entre os quais
46% são mulheres, e, 19 milhões são crianças menores de 18 anos.
Este, como muitos outros apontam para uma dura realidade em que, os
impactos derivados da recepção de pessoas conclamam à academia para
pensar soluções de amplo espectro, para que, no mínimo, se estruturem
novos Bacharéis em Turismo melhor qualificados para a pesquisa e o
planejamento.
Entretanto, a maioria dos problemas, em especial os de ordem ambiental,
por hora, permanecem sem equação possível de generalizações para o
sistema do turismo como um todo, mas antes, elege as populações locais
para a cidadania responsável, imbuída de diálogo transparente em face
dos conflitos claramente conhecidos.
Na verdade, o que está em questão são os modelos urbanos absorvidos
pela sociedade contemporânea, que por sua vez, adota o lazer em
shopping-centers, compras e bens materiais como sinônimos de bem estar,
em detrimento de qualquer outra forma de entretenimento.
Por este ponto de vista já consagrado nos meios acadêmicos, as próprias
destinações entendem a remodelação de suas paisagens autênticas,
naturais ou construídas pela cultura local, como fonte inequívoca de
turistas, e, portanto, lucro. Nesta linha Yázigi (2000) considerou a
construção de mais um Shopping Center, todo metálico na Praia do
Itaguá em Ubatuba -SP, como um marco fundamental da descaracterização
da alma do lugar.
Se entendido como garantia e necessidade da sociedade pós-industrial
que, em síntese, se ressente da falta de segurança oriunda da violência
urbana, ou ainda, condições de oferta de um lazer com “mais
qualidade” e conforto, então, há que se refletir em profundidade
sobre qualidade da sociedade em que se vive, e que portanto, se produz o
turismo.
Pelo exposto, muitas pesquisas científicas buscam caminhos, estratégias
e metodologias para mudar os paradigmas sociais que, para este artigo, o
entendimento está na ausência de lazeres urbanos nas fontes emissoras
de turistas e não nas fontes receptoras, que, no entanto não podem
prescindir da equivalência de preocupações na recepção de
visitantes, sejam eles de qualquer natureza (excursionistas, turistas,
veranistas ou outros).
Do ponto de vista da Educação Ambiental, há que se transformar a
percepção dos turistas sobre o ambiente visitado para que se processem
intuições e mudanças de valores, inclusive no comportamento das
pessoas, não só durante a visitação como também em seus retornos,
tendo em vista que uma viagem tem o potencial de transformar a vida
humana pela aquisição de cultura e observação de outras formas de
comportamento.
Em se tratando da formação dos alunos de graduação em Turismo,
revela-se de grande importância o diálogo e a delimitação clara
sobre as funções clássicas de cada área, cujo envolvimento com o
Turismo, em muito acrescenta no universo dos jovens.
Assim, conforme Mastny (2002) são funções clássicas do Turismo os
deslocamentos, a hospedagem e o lazer. Nestes termos, segundo Yasoshima
(2000) o turismo, no século XX, presenciou a inovação técnica mais
contundente de todos os tempos, a saber, o automóvel, que contribuiu
para a democratização do turismo dando a liberdade de viajar fora dos
rígidos traçados das ferrovias, e também, barateando os custos das
longas viagens de navio ou até as ainda caras viagens de avião.
A partir disso, Yasoshima entende que, a sensação de independência
conferida aos viajantes condicionou a popularização dos equipamentos
do receptivo, tais como os motéis (ou motor hotel), para hospedar aos
motoristas e suas famílias durante os percursos. Não há como discutir
a necessidade de liberdade e independência da natureza humana, no
entanto, deve-se postular a interrogação sobre a ousadia para o acesso
a áreas naturais protegidas, como também, a eventual resistência ao
cumprimento, respeito e observação de regras e normas que visam a ética
dos usos e costumes imanentes de cada localidade turística.
O homem do século XX tornou-se mais independente, autônomo em suas
decisões e iniciativas, entretanto, não se tornou mais generoso ou
solidário. Ao contrário, retrocedeu nas relações sociais talvez como
forma de autoproteção para suas próprias limitações relacionais e
afetivas.
Não obstante tal fato, Yasoshima esclarece que, após a Segunda Grande
Guerra Mundial, homens e mulheres que tinham trabalhado durante a guerra
sentiam-se mais independentes; agora, queriam retornar aos campos de
batalha na condição de visitantes. Não resta dúvida que os
movimentos sociais, inclusive o das minorias excluídas, iniciadas a
partir da década de 1950, foram a base condicionante dos comportamentos
sociais atuais. Houve conquistas positivas nas quais não se pretende
retroceder; no entanto, há paradoxos sociais que se refletem no
turismo, pois, como atividade social e humana, o turismo revela o
universo cultural em que está contido bem como a sociedade que o
promove.
Acerca disso, a Educação Ambiental foi pensada pela comunidade mundial
como forma de refazer as relações entre homem e natureza pois,
entendendo que a degradação da natureza só se dá mediante a degradação
do ambiente humano, as metodologias atualmente conhecidas para o
desenvolvimento dos trabalhos em Educação Ambiental são, em todas as
medidas, interdisciplinares, tais como o Turismo, e também, entendida
como alavanca para o desenvolvimento sustentável, pode-se recorrer ao
exposto no primeiro princípio da Carta da Terra (outro produto da Rio
92), tal como narrado em Sachs (1993:97), os seres humanos são o centro
de preocupação do desenvolvimento sustentável. Têm o direito a uma
vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.
A Educação Ambiental e sua Contribuição para a Sustentabilidade
Em princípio, há que se delimitar estes dois conceitos antes que um
seja tomado pelo outro. Nestes termos, sustentabilidade é uma ideologia
que procura permear as relações sociedade e Estado, e assim, marca as
atitudes dos cidadãos em seu meio.
Para Krause (1997), há que se ter uma sólida e diversificada formação
alicerçada do saber que elabora uma reflexão crítica sobre o atual
modelo de civilização agonizante. Para o autor, há uma frustração
imensa quando da constatação do enorme fosso que separa a elaboração
teórica e a retórica política das práticas sociais que desviam a
humanidade de seus laços com o mundo da natureza.
Entendendo as responsabilidades da sociedade atual, o que se propõe é
uma sólida reflexão sobre as demandas oriundas da depredação da
natureza derivadas da ganância econômica, e que hoje, são mais
perceptíveis pelo organismo social e mais tangíveis pelos tradicionais
critérios de avaliação das ações governamentais.
Ao definir sustentabilidade, Krause a entende como um conceito muito
mais amplo do que se pretende qualificá-lo, a saber, como um simples
atributo de um tipo de desenvolvimento. Referendando as necessidades do
século XXI, sustentabilidade é um projeto de sociedade alicerçado na
consciência crítica do que existe e um propósito estratégico como
processo de construção do futuro e no diálogo.
Mais concretamente, sustentabilidade é o desejo manifesto nas ações
da sociedade em suas reivindicações e parcerias com os governos, que
por sua vez, observando um cidadão mais esclarecido e participativo,
tenderá a ser mais transparente e construtivo no alcance de suas metas
e propostas de políticas públicas para um organismo social mais saudável.
Para tanto, a sustentabilidade não se afirma como resultado, mas sim,
como processo de transformação social, cujo escopo universal incorpora
vigor emancipacionista porque surge no espaço da discrepância entre as
instituições existentes e a emergência de novas idéias (Russo,
2002).
Além de fundador, a sustentabilidade é um conceito que integra e
unifica. Produz, desta forma, um impacto devastador sobre a noção
tradicional de progresso, infinito e linear, perfeito e sem retornos ou
perdas. Sustentabilidade, em linhas gerais, admite o humano como parte
do processo e exclui, definitivamente, as urgências materialistas na
relação custo-benefício do que se entende por bem viver.
Ademais, apaga a cosmovisão dualista que separa o homem da natureza, o
mundo material do espiritual, a natureza da cultura, a razão da emoção,
Deus do mundo. Não há mais separação entre progresso e humanismo
universal porque se enuncia como cidadania ativa (Russo, 2002).
Para entender sustentabilidade como ideologia, é também preciso
definir esse conceito, tendo em vista, que por trinta anos sob regime de
exceção e com diálogo escasso para fundamentar do que se trata o
termo ideologia, Marilena Chauí o define com espontaneidade.
Freqüentemente se ouve dizer expressões do tipo “partido político
ideológico”, “é preciso ter uma ideologia”, ou ainda,
“falsidade ideológica”. Essas expressões tomam a palavra ideologia
para com ela significar “conjunto sistemático e encadeado de idéias”.
Ou seja, confundem ideologia com ideário (Chauí, 2002).
Segundo Chauí (2002) o real e o total não são constituídos por
coisas. A experiência direta e imediata da realidade leva a imaginar
que o real é feito de coisas (sejam elas vindas da natureza ou da
construção humana), isto é, de objetos físicos, psíquicos,
culturais, oferecidos à percepção e às vivências. O real é
constituído de idéias ou pela representações das coisas e os
significados que as diversas culturas lhes atribuíram .
Em sociedades divididas em classes, nas quais uma das classes explora e
domina as outras, surgem idéias e explicações do real, como relações
de causa e efeito. Essas representações são difundidas pela classe
dominante para assegurar seu poder político, econômico e social.
Ocultada dos homens, essas idéias sobre como as relações sociais
foram produzidas e a origem das formas sociais de exploração econômica
e de dominação política que produzem as experiências sociais e seus
sentimentos, a esse ocultamento, denomina-se ideologia, e, por seu
intermédio a ética toma corpo e se transforma em prática (Chauí,
2002), produzindo ações que atingem
toda a sociedade.
Ao se denominar um modelo de desenvolvimento pelo adjetivo “econômico”
e, ao se conotar uma sociedade como “de consumo” se está também
aferindo suas formas condicionadas de interagir no meio circundante.
Muito embora a sociedade industrial tenha proporcionado uma forma de
agir, divisões em classes sociais e contribuído, por suas especializações,
para a melhoria da condição de vida humana aumentando sua longevidade,
hoje, na sociedade pós-industrial cujas formas de distribuir emprego e
salário não encontram na indústria suas principais fontes, o homem
que nela vive também se ressente da necessidade de mudar.
Mudar, para qual forma de consumo? Ideologia? Qual, se há uma reformulação
de forças presentes no mundo? Cidadão, sem consumo? Como usufruir dos
benefícios da cidade se não for pelo uso do dinheiro? Cidade? Qual, se
todas parecem tão urbanas e iguais? Espaço social e dialógico ou espaço
de negociações políticas atendendo à mais evidente natureza humana?
Político? Como se, ao certo, não se sabe ou exercitou com clareza a
cidadania para poder qualificá-la como o simples gesto natural de
trocar informações, coisas, orações, como construir um brinquedo, o
nome do bar da moda, o telefone de um amigo ou até a intenção
manifesta de mudança do trajeto do percurso de um ônibus para melhor
atender os usuários da linha?
Nestes termos, a primeira definição de Educação Ambiental teve âmbito
internacional e foi adotada pela International Union for the
Conservation of Nature (IUCN, 1971 apud Sato, 2002), que, enfatizou os
aspectos ecológicos da conservação da natureza. Basicamente a Educação
Ambiental estava relacionada à conservação da biodiversidade e dos
sistemas de vida. A Conferência de Estocolmo, em 1972, ampliou sua
definição a outras esferas do conhecimento e, em Tbilisi 1977,
internacionalmente mais aceita, definiu que:
A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e
clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento de
habilidades e modificando atitudes em relação ao meio, para entender e
apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e
seus meios biofísicos. A Educação Ambiental também está relacionada
com a prática de tomadas de decisões e a ética que conduzem para a
melhoria da qualidade de vida (Sato, 2002).
Ante este desafio, educar passa a adquirir novos significados no
processo de construção de uma sociedade sustentável, democrática,
participativa e socialmente justa, capaz de exercer efetivamente a
solidariedade com as gerações presentes e futuras. Esta é uma exigência
indispensável para a compreensão do binômio “local-global” e para
a preservação e conservação dos recursos naturais e socioculturais,
patrimônios da humanidade (Medina e Santos, 1999).
Para tanto, há que se propor novas fórmulas para promover a formação
de profissionais capacitados para o desenvolvimento de projetos da área
ambiental, tendo em vista não só as necessidades do futuro do planeta
e da humanidade, como também, oferecer chances de se alcançar o
aprendizado pela prática da Educação Ambiental, em cujo escopo se
sedimenta a noção de sustentabilidade (Russo, 2002).
Como instrumento para a promoção do desenvolvimento sustentável, a
Educação Ambiental deve promover de modo amplo e concreto, atividades
e conteúdos programáticos que contribuam para a formação holística
dos jovens profissionais.
Muito pouco é possível fazer sem que transformações mais amplas
operem nas relações políticas entre o Estado, a sociedade e os
mecanismos clássicos da democracia representativa (Krause, 1997). Sem
que se amplie a consciência ambiental; sem que se busque uma reelaboração
interdisciplinar dos saberes; sem que haja uma disposição pessoal e
transparente para com o conjunto, não há Educação Ambiental, e por
fim, não há sustentabilidade.
Isto posto, para que se “construa a cultura da sustentabilidade”
como ideologia distante das utopias marxistas ou capitalistas, há que
se observar alguns elementos essenciais, são eles:
1. sólida consciência social em relação ao direito a um ambiente
saudável e produtivo.
2. reconhecimento universal quanto ao valor da biodiversidade biológica,
de heterogeneidade cultural e do pluralismo político.
3. respeito e ética.
4. elevação da qualidade de vida e inclusão social.
5. incorporação de uma dialética que não apenas opõe, mas que
aproxima o particular do universal, o local do global, o individual e o
coletivo.
6. cidadania e seu saudável exercício.
Ou seja, é a cidadania ativa proposta por Vieira e Bredariol (1998). É
também ter acesso à decisão política, ser um possível governante,
um homem político. O cidadão tem direito não apenas a eleger
representantes, mas a participar diretamente na condução dos negócios
da cidade.
Com efeito, a prática da cidadania participativa ou ativa, depende da
habilitação dos indivíduos para a participação da vida em
comunidade, para que possam expandir a opinião pública, a opinião política
e testar o julgamento, pois a nova cidadania não deseja ser apenas uma
nova forma de integração social, mas em primeiro plano, se pretende a
formação de cidadãos conscientes de suas responsabilidades e dos
efeitos de seus atos perante a coletividade, posto que, esta é a única
forma de romper com os “não-cidadãos” que preferem as relações
de clientelismo, ou ainda, as relações de favor que embasam a
cidadania regulada ou concedida que em nada contribuem para a formação
da nova sociedade onde os cidadãos são reconhecidos e respeitados
(Vieira e Bredariol, 1998).
Do mesmo modo, para que haja um trabalho de construção em Educação
Ambiental, é necessário antes saber-se como membro de um grupo ou
comunidade, para que assim, se possa desempenhar o papel de educador(a)
pois, optar pela Educação Ambiental é, antes de mais nada, optar pela
vida.
A formação em Educação Ambiental leva a olhar a vida com novos olhos
e a propor interrogações novas que vão desde a concepção do
ambiente até a maneira de os indivíduos se situarem nele (Viezzer
& Ovalles, 1995).
Educação Ambiental e Turismo
Em se tratando de Educação Ambiental, muitas vezes pode-se recorrer à
legislação relacionada ao tema que identifica Educação Ambiental em
níveis pretendidos para o alcance de resultados e, obviamente, público-alvo
a que se destina. Em qualquer das hipóteses, o método interdisciplinar
procura sempre atender ao pressuposto de que, a divulgação e o
esclarecimento, não só dos danos atuais, como também as
possibilidades de danos futuros provenientes das ações humanas podem
efetuar impactos definitivos na natureza.
Assim sendo, a Educação Ambiental formal, procura alcançar resultados
concretos e objetivos em ações ou projetos tais como reciclagem de
lixo, coleta seletiva, replantio de mudas, despoluição de águas de
qualquer natureza (fluviais, marinhas ou lacustres), e com isso,
pretende alcançar metas objetivas. Ou seja, tantas toneladas de lixo a
menos nos lixões, tantas latinhas de alumínio recicladas em um período
previamente escolhido, ou ainda, tantos metros cúbicos de água limpos
ou economizados em tempo determinado.
Para tanto, devem existir profissionais capacitados para lidar com uma
comunidade, ou público-alvo, em projetos escolares ou projetos de gestão
ambiental. Assim, os documentos de Certificação Ambiental da linha ISO
14000 como forma de gestão, industrial ou não, têm em seus selos o
controle total e absoluto de todo processo de produção, consumo e
destino final do produto consumido, e, a garantia de que não poluem ou
causam danos à natureza.
Desse modo, o programa ECOTEL certificou 23 hotéis na América Latina,
7 nos Estados Unidos e México, 5 no Japão e 1 na Índia, atribuindo de
zero a cinco globos como base no compromisso ambiental, gestão de lixo,
eficiência energética, conservação da água, Educação Ambiental e
compromisso comunitário. Os hotéis passam por inspeções a cada dois
anos, podendo ocorrer inspeções aleatórias. Este é um projeto do
grupo de consultoria turística HVS International. Nesta linha, existem
casos bem sucedidos tais como Hilton International, Singapore Marriot e
Tang Plaza, Sheraton Rittenhouse, Hotéis e Resorts Inter-Continental e
Holiday Inn Crowne Plaza entre muitos outros (Mastny, 2002).
Por outro lado, existe a Educação Ambiental não-formal, muito
utilizada no Turismo sob a forma de Ecoturismo. Neste, os resultados
esperados não são objetivos, pois dependem do público praticante e da
equipe que promove a viagem. Assim, é necessária a formação em Educação
Ambiental para monitores e guias, não só para as questões técnicas
como primeiros socorros e ecologia básica para entender e interpretar a
natureza. É de fundamental importância que tais profissionais entendam
os objetivos de sensibilização da Educação Ambiental para melhor
contemplar o trabalho de interpretação ambiental ou da natureza, e
definitivamente, somar pontos no corpo da sociedade para mudanças de
paradigmas nas formas de relações humanas e padrões de consumo.
Muitas vezes, auxiliar no processo de Educação Ambiental no âmbito do
turismo está na simples distribuição de folhetos explicativos,
atendendo ao PRONEA que alia escolas das destinações turísticas e
operadoras de turismo tais como o caso relatado abaixo.
Cerca de 65% dos peixes do mundo, como o colorido frade, vivem junto aos
recifes de coral da zona tropical dos oceanos. E, das 350 espécies de
coral, 18 ocorrem na costa brasileira – oito são endêmicas -, numa
extensão que soma cerca de 3 mil quilômetros, do Maranhão ao sul da
Bahia. São os únicos recifes do Atlântico Sul e têm importância
econômica como fonte de recursos pesqueiros, ou atrativo para o
ecoturismo. Recentemente, o Ministério do Meio Ambiente lançou uma
campanha para conscientizar a população sobre a importância dos
recifes, ameaçados por atividades como coleta de peixes para aquários,
ocupação ilegal do litoral e desmatamento costeiro. “As unidades de
conservação de áreas recifais estão recebendo material educativo,
como livretos e cartazes, para ser usado em escolas, prefeituras e
operadoras de turismo”, explica a engenheira de pesca Ana Paula Leite
Prates, coordenadora da campanha (Shirts, 2002)
Muito embora seja uma ação bastante superficial, ela atende às
postulações da Educação Ambiental, tendo em vista que, sensibilizar
é o primeiro passo para a mudança. Sua reprise e insistência na questão
do respeito ao diferente, na compreensão de que áreas naturais
intocadas estão, em sua maioria, ilhadas pelo ambiente urbano na medida
em que as cidades são mesmo os ambientes mais numerosos na atualidade e
que, a inexistência de parcerias entre promotores do turismo,
visitantes e órgãos gestores de tais unidades visando a amplificação
da vida recrudescem os impactos, então, se estará consolidando mesmo a
sensibilidade capitalista como foco ideológico para o Século XXI.
Considerações Finais
É preciso encontrar formas estratégicas para que as culturas locais
recebam mais acolhimento e respeito do Turismo, de outra forma, ou o
Turismo ou a Indústria Turística, banalizam as culturas locais
mediante o ciclo de atenção turística.
É preciso que se encontrem diretrizes internacionais na Agenda 21 do
Turismo, mesmo porque, as Certificações Ambientais utilizadas pelo
turismo atendem aos padrões necessários, não só ao ambiente sanitário,
como também à saúde humana. Todavia, parâmetros oriundos das próprias
matrizes do turismo para a ecologia e meio ambiente, não existem.
É preciso coerência nos processos de decisão, formulação madura e
atuante de Conselhos Municipais para que toda comunidade envolvida
participe do processo de decisão, e ainda, entenda melhor os papéis
sociais delimitáveis entre comércio, trabalho, turistas e comunidade
receptiva.
Por fim, a grande contribuição da Educação Ambiental ao Turismo é
caracterizar que são as formas de lazer que devem ser mudadas pelo
princípio da sustentabilidade, pois, é pelo lazer que se expressa a
busca do paraíso na Terra. Paraíso este que depende muito mais das
relações humanas, do que propriamente forças divinas, já que Deus, só
pode falar aos ouvidos e corações que sabem ouvir e sentir.
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Fonte:
http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-index_noticias.asp?id=6394
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