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Os Limites da Educação Ambiental
Data: 26/10/2004
Célia Regina Russo
SINOPSE: Em razão das expectativas depositadas na Educação Ambiental e suas
práticas, este artigo procurou desenvolver um ensaio no qual se percorreu a
evolução das idéias que construíram o conceito de sustentabilidade e suas
interfaces com a cidadania nos momentos históricos mais significativos para o
meio ambiente, ambientalismo e as possibilidades de encaminhamento de soluções
para os problemas ambientais da atualidade. Discorrendo de modo breve acerca
desses conteúdos, procurou-se balizar o debate partindo dos comentários
depositados no link enquetes do Jornal do Meio Ambiente online. Acerca disso,
apresentaram-se algumas conclusões sobre os limites e potencialidades da Educação
Ambiental, não só como disciplina, como também, como prática efetiva das
demandas sociais. palavras-chave: Problemas Ambientais, Ecologia, Educação
Ambiental, Cidadania, Sociedade.
É inútil sonhar com uma rusticidade
Distante de nós. Isso não existe.
O que inspira tal sonho é o charco que há em nosso cérebro e em nossas
entranhas, o vigor primitivo da Natureza existente em nós.
Nunca encontrarei nos ermos de
Labrador rusticidade maior que em qualquer lugar
de Concord, pois para cá a trago.
Henry David Thoureau
Diário, 30 de agosto de 1856.
1. Educação Ambiental – Origens
A trajetória da Educação Ambiental, remonta esforços que se desdobram desde
a década de 1960. Naquela época, o mundo refletia sobre o futuro do planeta e
da civilização, na medida em que, os prejuízos causados pela emissão das
bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki (1945) durante a Segunda Guerra
Mundial, acarretaram debates, reflexões e muita polêmica. Estaria o mundo
fadado a conviver com as mazelas da ciência e da tecnologia a serviço do
progresso e do poder ? Quais danos ambientais ainda seriam causados pela
delimitação do espaço, uso de matérias-primas naturais, comércio e padrões
de consumo da sociedade moderna ?
Iniciaram-se então debates abrangentes sobre o tema. A primeira medida em função
desta ampla discussão, foi dada pela fundação da Organização das Nações
Unidas (ONU); e obviamente, os primeiros debates se deram em função da paz no
mundo.
No entanto, diversos fatos se sucederiam na história contemporânea que
chamariam mais uma vez a atenção de todos, dirigentes políticos,
pesquisadores, educadores e população em geral sobre a necessidade de se
avaliar a construção de valores éticos sociais visando a sobrevivência da
vida no planeta, e em especial, a vida humana.
Alguns deles puderam ser notados, ao vivo e a cores, pelas transmissões via satélite
das TVs em todo mundo, quando jovens norte-americanos eram mortos diante das
telas na Guerra do Vietnã. Nessa guerra, mais uma vez a ciência e a tecnologia
mostraram seu potencial de uso bélico pelos efeitos da Bomba de Napalm e do
Agente Laranja .
A Bomba de Napalm, o Agente Laranja e o DDT , foram produtos químicos
descobertos e desenvolvidos durante a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, o
uso do DDT se alastrou pelo mundo por sua eficácia no extermínio das populações
de insetos.
Muitos outros danos ambientais ainda seriam sentidos tais como em Minamata e
Bhopal, entre os históricos mais famosos. Conforme se deu o progresso em relação
ao desenvolvimento tecnológico e industrial, a sociedade se afastou do convívio
humano, construindo valores e padrões de consumo insustentáveis ao que é próprio
do homem.
Tais preocupações levariam em 1968, à Reunião do Clube de Roma, agregando os
sete países mais ricos do mundo para discutir o crescimento econômico e seus
impactos sobre a natureza e sobre a sociedade. Dessa reunião, surgiu o
documento The Limits of Growth (Os Limites do Crescimento), cujo conteúdo
alertava a todos os países membros da ONU sobre a necessidade de se pensar o
progresso de modo compatível às leis da ecologia, tendo então se originado o
termo ecodesenvolvimento , e ainda, alertava sobre a urgência de uma educação
multidisciplinar visando ao mesmo objetivo, em todos os níveis da educação
formal.
A questão da Educação Multidisciplinar, foi objeto de discussão em todas as
reuniões que se sucederam ao Clube de Roma . Assim, em Estocolmo (1972) , a
educação visando o ecodesenvolvimento foi exaustivamente trabalhada, sem que
no entanto, as conclusões esclarecessem o termo multidisciplinar. O que seria
multidisciplinar ? Se caso todas as áreas do conhecimento contribuíssem para a
visão de qualidade ambiental, isso traria transformações de comportamento
para o cidadão e seus padrões de consumo ? Tais transformações valorizariam
o ser cidadão ativo e não o ter status ? Que valores sociais teriam de ser
acrescentados à educação formal ? Talvez só o ensino da Ecologia pudesse dar
a solução pretendida !
2. Da Comissão Brundtland às Ações em Comum
No final da Conferência de Estocolmo, constituiu-se uma Comissão Mundial para
o Meio Ambiente, que, consagrada pelo nome de “Comissão Brundtland”,
produziu o mais denso relatório que propôs estratégias ambientais de longo
prazo para obter um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000.
Após 15 anos de trabalho e pesquisas ao redor do planeta, a Comissão
Brundtland se empenhou em conhecer os modelos pelos quais os mais diversos países
degradavam o meio ambiente, ou até, esgotavam seus recursos naturais.
Entendendo as necessidades de democracia, as conclusões apontaram para alguns
prismas importantes. Desse modo, constatou-se que os países mais
industrializados promoviam impactos importantes pelo uso excessivo de máquinas
e, por sua vez, os países menos industrializados, efetuavam maiores danos pelo
descarte exagerado de resíduos sólidos, dentre os quais, uma enorme quantidade
de alimentos.
Não por isso, a mesma equipe detectou dois impactos ambientais primários.
Fossem eles efetuados em países ricos ou não, o desflorestamento e o acúmulo
de lixo, especialmente o urbano, se revelaram como geradores dos mais diversos
danos na natureza, hoje, genericamente conhecidos como problemas ambientais.
Conforme as afirmações de Gro Harlem Brundtland, Presidente da Comissão em 20
de março de 1987,
“...o desafio de reconstrução após a II Guerra Mundial, foi uma verdadeira
motivação que levou ao estabelecimento do sistema econômico internacional.
Assim, a década de 1960 foi um tempo de otimismo e progresso; havia a esperança
de um mundo novo melhor e de idéias cada vez mais internacionais.
Paradoxalmente, os anos 70 entraram pouco a pouco num clima de reação e
isolamento, e , na década de 80, verificou-se um retrocesso quanto às preocupações
sociais”.
Pelas diretrizes encontradas no trabalho da Comissão, o desenvolvimento pelo
qual as nações se tornam mais ricas também promoveu a deterioração
ambiental que colocou em questão a sobrevivência no planeta em escala
crescente pois,
“....meio ambiente não existe como uma esfera desvinculada das ações, ambições
e necessidades humanas, e tentar defendê-lo sem levar em conta os problemas
humanos concedeu à própria expressão ”meio ambiente” uma conotação de
ingenuidade em certos círculos políticos”.
Considerando meio ambiente e desenvolvimento como inseparáveis, o crescimento só
poderia ser convincente, porque sua durabilidade decorreria do não desperdício
de recursos humanos, e por isso, circunstanciado pelas dimensões social e
ambiental.
Nesta linha, a Comissão redigiu o Relatório Nosso Futuro Comum ao longo de três
anos, no qual estão postadas as convicções de que grandes mudanças seriam
necessárias, tanto de atitude quanto na forma de organização das diversas
sociedades mundiais. E para tanto, as diferenças de ordem cultural, religiosa e
regionais só poderiam ser superadas pelo empenho da reflexão e da vontade política
entre os pares.
E, antes de descrever as linhas de ação em comum, a Comissão Brundtland
estabeleceu uma posição de vulto que, em destaque,
“....se dirigiu aos jovens e professores de todo mundo visto que, a estes últimos,
caberia a tarefa crucial de levar a cabo o conteúdo do Relatório. Se não
conseguissem transmitir sua mensagem de urgência aos pais e administradores da
época, estariam se arriscando a comprometer o direito fundamental das crianças
a um meio ambiente saudável, que promove a vida. Se não conseguissem traduzir
as palavras em uma linguagem capaz de tocar os corações e as mentes de jovens
e idosos, não seriam capazes de empreender as amplas mudanças sociais necessárias
à correção do curso do desenvolvimento”.
3. Interdisciplinaridade e Sustentabilidade
Em linhas gerais, o material produzido pelo Relatório Nosso Futuro Comum, se
encontra admitido nos quarenta capítulos da Agenda 21 – Global e Brasileira
-, cujas diretrizes apontam diagnósticos, estratégias e busca de soluções
para grandes áreas temáticas tais como, Cidades Sustentáveis, Agricultura
Sustentável, Redução das Desigualdades Sociais, Gestão dos Recursos
Naturais, Gestão dos Dejetos, Infra-Estrutura Regional, Gestão das Águas
Doces, Proteção dos Oceanos e Mares, Gestão Racional dos Solos, Proteção e
Promoção da Saúde Humana, Criação de Áreas Naturais Protegidas, Proteção
e Manejo de Ecossistemas Frágeis, Desenvolvimento Urbano, Ciência e Tecnologia
com vistas a uma ciência cidadã.
Ajustadas em cidades que valorizam seus munícipes, as Agendas 21 Locais se
adequam às realidades circunstantes em cada localidade buscando, acima de tudo,
a modernidade ética no uso dos recursos da natureza e uma reorientação dos
padrões de consumo das comunidades.
Como produtos da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento – Rio 92 -, a Agenda 21 Global, em atenção ao exposto na
Carta da Terra, destacou em seu Capítulo 36 que,
“...a promoção do ensino, da conscientização e do treinamento, para
reorientar o ensino no sentido do desenvolvimento sustentável, aumentando a
consciência pública”,
seriam responsabilidades atribuídas à Educação Ambiental, como alavanca para
o desenvolvimento sustentável, através da qual os professores deveriam ter em
vista, em sala de aula, o equilíbrio ambiental e a justiça entre as nações.
Enfim, apenas colocar em prática os quarenta capítulos da Agenda 21!
Para uma tarefa heterogênea e complexa, os esforços não foram menores; tanto
da parte técnica emanada dos trabalhos das Conferências de Belgrado e Tbilisi,
quanto da parte dos pesquisadores muito conseqüentes a elas.
Com vistas ao entendimento do ensino da Ecologia e à modernidade ética,
Belgrado – 1975 -, entendeu a urgência do estímulo e o exercício da
cidadania como forma de reabilitar os laços de amizade entre o homem e a
natureza a partir dos saberes populares e das raízes culturais. Já em Tbilisi
– 1977 -, consolidou-se o método interdisciplinar como forma de promover a
sustentabilidade ecológica e social pelo trabalho da disciplina, agora
denominada, Educação Ambiental.
Todavia a interdisciplinaridade, como método de trabalho para o encontro de
soluções de problemas ambientais, teve suas origens nos processos de
licenciamento ambiental, no ano de 1969 nos Estados Unidos, a partir dos
empreendimentos de impacto regional, que provocaram a necessidade do diálogo e
o entendimento das diversas áreas do conhecimento mediante obras de engenharia.
Adequadas as abordagens metodológicas através dos anos de estudo, a
interdisciplinaridade é a base da Educação Ambiental, posto que, através
dela, há resultados claros e evidentes a serem conquistados em cada projeto de
trabalho.
O problema está no entendimento de sua prática, ou seja, o professor em sua
rotina, deve ser conhecedor dos procedimentos previstos na transversalidade
(Referenciais e Parâmetros Curriculares Nacionais), cuja finalidade é tão
somente promover o diálogo em face de um tema proposto para estimular o
aprendizado na participação política do cidadão.
Ademais, o professor de Educação Ambiental, também deve observar quando o
problema de ordem ambiental se situa na abordagem interdisciplinar propriamente
dita pois, na busca de soluções mesmo que provisórias para um problema
claramente identificado, esta forma de abordagem temática deve analisar o
problema por todos os ângulos e encontrar métodos congruentes nas disciplinas
envolvidas na questão.
Destas, ainda há a abordagem multidisciplinar que, calcada nos princípios da
cidadania e das audiências públicas dos licenciamentos ambientais, passou a
circunscrever seu uso estrito nos Estudos de Impacto Ambiental e Relatórios de
Impacto Ambiental (EIA/RIMA).
É fácil. Basta lembrar que, para haver sustentabilidade as crianças devem
receber uma educação ecologicamente sensível, e que, os jovens em sua
criatividade e ousadia, devem ser mobilizados para formar uma associação
global em uma sociedade que, de modo algum, prestigia a cidadania ativa.
Ademais, ainda há os idosos mencionados por Brundtland, cuja discussão é polêmica
e necessária por seus desdobramentos.
4. As Expectativas da Sociedade
A despeito de qualquer ironia, o item anterior procurou chamar a atenção do
leitor para as realidades sociais e as mudanças a serem efetuadas. Não são
poucas! Entrementes, há um item a ser destacado que, reiteradas vezes sugere a
responsabilidade social dos pares de uma comunidade. É o cidadão e sua consciência
para com a coletividade.
Pedir para que a Educação Ambiental solucione questões de ordem judicial, de
obras de engenharia ou de exploração do homem pelo homem, é uma tarefa que
ela não tem !
Certamente o link enquetes do Jornal do Meio Ambiente online, sugere uma apreciação
mais detalhada dos comentários que nele aparecem pois, sendo consultado por uma
ampla variedade de pessoas interessadas em meio ambiente, seus problemas e suas
soluções, as notas deixadas pelos leitores revelam a sinalização das visões
de mundo que podem e devem ser divulgadas e destacadas como feito a seguir.
Deveria haver um investimento maciço em educação ambiental; aumentar a
fiscalização e punir com rigor os agressores do meio ambiente.
A conscientização através da educação é o meio mais efetivo para tornar as
questões ambientais uma parte da vida de cada um. Que cada pessoa tenha a plena
consciência de sua responsabilidade de todos os atos praticados. Tudo tem
causas e conseqüências.
Não adianta fiscalizar e multar, tem que haver a conscientização através da
educação ambiental. As pessoas tem que conhecer para aprender a amar e
respeitar, só assim haverá um cuidado com o planeta Terra.
Deve haver união e agir para obrigar municípios a exercerem suas competências
ambientais locais.
Eu sou fiscal de meio ambiente e acho que temos que buscar mais fiscalização
na área, se o povo denunciar vai estar ajudando a combater os crimes
ambientais. As pessoas aqui na minha cidade já estão bem informadas, e estão
denunciando, buscando colaborar!
É preciso criar nas pessoas uma consciência holística, onde todos se sintam
responsáveis pelo planeta em que vivemos e que clama por cuidados. Um mundo
sustentável é possível !
Educação Ambiental é a que maior resultado nos trará em termos do Futuro do
Meio Ambiente.
A população brasileira não tem a consciência da importancia da preservação,
além do mais a situação de pobreza faz com que muitos participem na destruição
como forma de sobreviver, e a corrupção faz a fiscalização ineficaz.
Conscientização é a melhor saída!
Penso que a consciência e o entendimento da realidade insustentável em que
vivemos deve priorizar o ensino , um conjunto de matérias que promovam a
interface entre as disciplinas clássicas que transmitam os novos paradigmas que
estão se formando.
Estimular o consumo responsável e sustentável é totalmente aceitável, mas
penalizar o desperdício é contraproducente, pois é necessário antes
conscientizar e esclarecer a real necessidade de se tomar medidas ambientais
saudáveis!
Educação Ambiental – Limites e Potencialidades
A Educação Ambiental passou a se inserir na sociedade brasileira desde a década
de 1970, e, de modo oficioso, dialogava e propunha manifestações sociais que
buscavam debater o caráter político do uso dos recursos naturais. Como
instrumento de diálogo, tanto no Brasil quanto nos mais diversos países, suas
práticas traziam o anseio da sociedade pela liberdade de expressão e qualidade
de vida nas mais diversas camadas sociais, especialmente para as menos
favorecidas.
Muito embora este clamor sempre tenha estado como tônica permanente de suas práticas,
a Educação Ambiental passou por diversas fases, sendo a primeira a das denúncias
sobre os abusos do poder econômico perante os menos favorecidos, especialmente
quando a degradação ambiental era feita em nome do progresso. Já na década
dos anos 80, a fase das denúncias deu lugar às conquistas dos direitos civis e
da democracia, mesmo porque, a atuação do Partido Verde alemão na derrubada
do muro de Berlim, e, em seguida, a chegada da Perestoyka fez sentir seus
efeitos no fim da União Soviética, trazendo a Rússia para o capitalismo.
Globalização, anos 1990.
Em se tratando de questões de fontes externas, a globalização se caracteriza
pela não democratização do sistema financeiro internacional, cujos maiores
obstáculos estão nas regras para as patentes e a propriedade intelectual. O
protecionismo se apresenta contra o crescimento dos países menos desenvolvidos.
Baseada nos acordos de livre mercado, a globalização atende aos mercados
internacionais mais poderosos, nos quais os países ricos impõem as regras e os
países pobres se inserem da maneira que podem.
Caracterizada por um capitalismo de alianças e de megacorporações, esse
modelo é, antes de qualquer coisa, um sistema, em que os clientes não são os
povos, e sim as nações e seus poderes. Desse modo, socializam-se as despesas e
privatizam-se os lucros. Como solução para o desenvolvimento, Noam Chomsky
aponta que o empenho nas pesquisas científicas em todas as áreas, tendo ênfase
nas pesquisas biológicas e de índices de biodiversidade, são a única forma
de emancipação e encontro de identidades. Ainda sugere que o fomento dessas
pesquisas, em todo o mundo, deve vir de agências governamentais, para que haja
uma distribuição mais democrática dos benefícios delas emanados.
Globalização e Educação Ambiental ? Sim, posto que, de modo oficial, ela se
inseriu no cotidiano brasileiro com o conhecimento da consolidação da
sociedade de consumo cujas perdas efetivas dos laços sociais, delineiam indivíduos
em seus isolamentos. O “ecologicamente sensível”, perdeu um lugar até então
mal conquistado na medida em que os clamores sociais absorveram todas as classes
nas questões do emprego, salário, dignidade e moradia.
Pior para a Educação Ambiental, ou ainda, maior o desafio. Entretanto, não se
pode atribuir a ela e suas práticas, a qualidade de “capturar” pessoas para
a participação em sociedade. Ademais, o empobrecimento cultural demonstra que
a sociedade contemporânea, carente do holismo, ainda privilegia e solicita o
conhecimento compartimentado pautado pelo senso prático e não pelo senso analítico.
Nesta senda, a maior perda está na desqualificação do termo cidadania ativa
que, entendido classicamente como “o teste do julgamento” para a construção
ética do pensamento social, as exigências que a sociedade faz para a Educação
Ambiental mostram um equívoco quanto ao senso do que é justo ou do que é
direito. Atuando muito mais pelo senso da moralidade, a sociedade ao exigir tudo
da Educação Ambiental, não nota que requer dela uma função de palmatória
dos erros que a própria sociedade deveria coibir ou corrigir reorientando suas
demandas não só materiais como também de consumo. Um professor, sozinho em
sala de aula, não faz verão !
Além disso, há que se considerar que a ética, como compreensão do bem e
teoria da condução da vida, só se configura quando as regras sociais naturais
estão em vigor e, na ausência ou violação delas, as leis do direito
encontram suas funções. Assim, a distância entre ética e direito se situa no
limiar das ações do indivíduo, tendo como ponto de partida seu empenho em se
aperfeiçoar e na análise de suas observações a respeito da vida, inclusive a
humana, sobre a Terra. A finalidade da ética é a justiça pelas ações boas,
e não pelas boas ações. Sua busca é a paz!
5. Considerações Finais
Em termos de evolução dos conceitos e da consolidação das políticas
nacionais voltadas para o meio ambiente, as comissões que têm trabalhado pela
regulamentação do Artigo 23 da Constituição Federal normatizando as competências
e atribuições das esferas federais, estaduais e municipais, estarão
auxiliando nos trabalhos da Educação Ambiental na medida em que, melhor
esclarecidas as tarefas, estar-se-ão adequando as questões de governança na
temática ambiental para a sociedade como um todo.
Além disso, as câmaras técnicas que têm deliberado sobre as atribuições e
competências quando da regulamentação dos Professores e Educadores Ambientais
da esfera federal, auxiliarão de modo efetivo os trabalhos e seus resultados.
Isto feito, em breve serão notados os desdobramentos nos estados e municípios
que também regulamentarão a atividade. Porém, tais disposições terão
contado com os anseios populares e representações sociais ?
Concluindo, este artigo quer considerar que Educação Ambiental não foi
pensada para quem se acostumou a lograr pelo poder do status, mas sim, para
aqueles que querem o êxito através das concretizações de longo prazo.
6. Sugestões de Leitura
Agenda 21 de seu Município (vide em www.mma.gov.br)
Comissão Brundtland. Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1991.
VIEIRA, Liszt; BREDARIOL, Celso. Cidadania e Política Ambiental. Rio de
Janeiro: Record, 1998.
Célia Regina Russo, Bióloga, Ecologista, Mestre em Ciência Ambiental USP.
Docente universitária, mantém projetos em parceria técnica com a Floresta
Nacional de Ipanema – IBAMA, SP.
celiarusso@yahoo.com.br celiarusso@terra.com.br
Fonte: http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-index_noticias.asp?id=5669