Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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09/03/2005 (Nº 12) Os Limites da Educação Ambiental
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Os Limites da Educação Ambiental
Data: 26/10/2004

Célia Regina Russo

SINOPSE: Em razão das expectativas depositadas na Educação Ambiental e suas práticas, este artigo procurou desenvolver um ensaio no qual se percorreu a evolução das idéias que construíram o conceito de sustentabilidade e suas interfaces com a cidadania nos momentos históricos mais significativos para o meio ambiente, ambientalismo e as possibilidades de encaminhamento de soluções para os problemas ambientais da atualidade. Discorrendo de modo breve acerca desses conteúdos, procurou-se balizar o debate partindo dos comentários depositados no link enquetes do Jornal do Meio Ambiente online. Acerca disso, apresentaram-se algumas conclusões sobre os limites e potencialidades da Educação Ambiental, não só como disciplina, como também, como prática efetiva das demandas sociais. palavras-chave: Problemas Ambientais, Ecologia, Educação Ambiental, Cidadania, Sociedade.

É inútil sonhar com uma rusticidade
Distante de nós. Isso não existe.
O que inspira tal sonho é o charco que há em nosso cérebro e em nossas entranhas, o vigor primitivo da Natureza existente em nós.
Nunca encontrarei nos ermos de
Labrador rusticidade maior que em qualquer lugar
de Concord, pois para cá a trago.

Henry David Thoureau
Diário, 30 de agosto de 1856.

1. Educação Ambiental – Origens

A trajetória da Educação Ambiental, remonta esforços que se desdobram desde a década de 1960. Naquela época, o mundo refletia sobre o futuro do planeta e da civilização, na medida em que, os prejuízos causados pela emissão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki (1945) durante a Segunda Guerra Mundial, acarretaram debates, reflexões e muita polêmica. Estaria o mundo fadado a conviver com as mazelas da ciência e da tecnologia a serviço do progresso e do poder ? Quais danos ambientais ainda seriam causados pela delimitação do espaço, uso de matérias-primas naturais, comércio e padrões de consumo da sociedade moderna ?

Iniciaram-se então debates abrangentes sobre o tema. A primeira medida em função desta ampla discussão, foi dada pela fundação da Organização das Nações Unidas (ONU); e obviamente, os primeiros debates se deram em função da paz no mundo.

No entanto, diversos fatos se sucederiam na história contemporânea que chamariam mais uma vez a atenção de todos, dirigentes políticos, pesquisadores, educadores e população em geral sobre a necessidade de se avaliar a construção de valores éticos sociais visando a sobrevivência da vida no planeta, e em especial, a vida humana.

Alguns deles puderam ser notados, ao vivo e a cores, pelas transmissões via satélite das TVs em todo mundo, quando jovens norte-americanos eram mortos diante das telas na Guerra do Vietnã. Nessa guerra, mais uma vez a ciência e a tecnologia mostraram seu potencial de uso bélico pelos efeitos da Bomba de Napalm e do Agente Laranja .

A Bomba de Napalm, o Agente Laranja e o DDT , foram produtos químicos descobertos e desenvolvidos durante a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, o uso do DDT se alastrou pelo mundo por sua eficácia no extermínio das populações de insetos.

Muitos outros danos ambientais ainda seriam sentidos tais como em Minamata e Bhopal, entre os históricos mais famosos. Conforme se deu o progresso em relação ao desenvolvimento tecnológico e industrial, a sociedade se afastou do convívio humano, construindo valores e padrões de consumo insustentáveis ao que é próprio do homem.

Tais preocupações levariam em 1968, à Reunião do Clube de Roma, agregando os sete países mais ricos do mundo para discutir o crescimento econômico e seus impactos sobre a natureza e sobre a sociedade. Dessa reunião, surgiu o documento The Limits of Growth (Os Limites do Crescimento), cujo conteúdo alertava a todos os países membros da ONU sobre a necessidade de se pensar o progresso de modo compatível às leis da ecologia, tendo então se originado o termo ecodesenvolvimento , e ainda, alertava sobre a urgência de uma educação multidisciplinar visando ao mesmo objetivo, em todos os níveis da educação formal.

A questão da Educação Multidisciplinar, foi objeto de discussão em todas as reuniões que se sucederam ao Clube de Roma . Assim, em Estocolmo (1972) , a educação visando o ecodesenvolvimento foi exaustivamente trabalhada, sem que no entanto, as conclusões esclarecessem o termo multidisciplinar. O que seria multidisciplinar ? Se caso todas as áreas do conhecimento contribuíssem para a visão de qualidade ambiental, isso traria transformações de comportamento para o cidadão e seus padrões de consumo ? Tais transformações valorizariam o ser cidadão ativo e não o ter status ? Que valores sociais teriam de ser acrescentados à educação formal ? Talvez só o ensino da Ecologia pudesse dar a solução pretendida !

2. Da Comissão Brundtland às Ações em Comum

No final da Conferência de Estocolmo, constituiu-se uma Comissão Mundial para o Meio Ambiente, que, consagrada pelo nome de “Comissão Brundtland”, produziu o mais denso relatório que propôs estratégias ambientais de longo prazo para obter um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000.

Após 15 anos de trabalho e pesquisas ao redor do planeta, a Comissão Brundtland se empenhou em conhecer os modelos pelos quais os mais diversos países degradavam o meio ambiente, ou até, esgotavam seus recursos naturais.

Entendendo as necessidades de democracia, as conclusões apontaram para alguns prismas importantes. Desse modo, constatou-se que os países mais industrializados promoviam impactos importantes pelo uso excessivo de máquinas e, por sua vez, os países menos industrializados, efetuavam maiores danos pelo descarte exagerado de resíduos sólidos, dentre os quais, uma enorme quantidade de alimentos.

Não por isso, a mesma equipe detectou dois impactos ambientais primários. Fossem eles efetuados em países ricos ou não, o desflorestamento e o acúmulo de lixo, especialmente o urbano, se revelaram como geradores dos mais diversos danos na natureza, hoje, genericamente conhecidos como problemas ambientais.

Conforme as afirmações de Gro Harlem Brundtland, Presidente da Comissão em 20 de março de 1987,

“...o desafio de reconstrução após a II Guerra Mundial, foi uma verdadeira motivação que levou ao estabelecimento do sistema econômico internacional. Assim, a década de 1960 foi um tempo de otimismo e progresso; havia a esperança de um mundo novo melhor e de idéias cada vez mais internacionais. Paradoxalmente, os anos 70 entraram pouco a pouco num clima de reação e isolamento, e , na década de 80, verificou-se um retrocesso quanto às preocupações sociais”.

Pelas diretrizes encontradas no trabalho da Comissão, o desenvolvimento pelo qual as nações se tornam mais ricas também promoveu a deterioração ambiental que colocou em questão a sobrevivência no planeta em escala crescente pois,

“....meio ambiente não existe como uma esfera desvinculada das ações, ambições e necessidades humanas, e tentar defendê-lo sem levar em conta os problemas humanos concedeu à própria expressão ”meio ambiente” uma conotação de ingenuidade em certos círculos políticos”.

Considerando meio ambiente e desenvolvimento como inseparáveis, o crescimento só poderia ser convincente, porque sua durabilidade decorreria do não desperdício de recursos humanos, e por isso, circunstanciado pelas dimensões social e ambiental.

Nesta linha, a Comissão redigiu o Relatório Nosso Futuro Comum ao longo de três anos, no qual estão postadas as convicções de que grandes mudanças seriam necessárias, tanto de atitude quanto na forma de organização das diversas sociedades mundiais. E para tanto, as diferenças de ordem cultural, religiosa e regionais só poderiam ser superadas pelo empenho da reflexão e da vontade política entre os pares.

E, antes de descrever as linhas de ação em comum, a Comissão Brundtland estabeleceu uma posição de vulto que, em destaque,

“....se dirigiu aos jovens e professores de todo mundo visto que, a estes últimos, caberia a tarefa crucial de levar a cabo o conteúdo do Relatório. Se não conseguissem transmitir sua mensagem de urgência aos pais e administradores da época, estariam se arriscando a comprometer o direito fundamental das crianças a um meio ambiente saudável, que promove a vida. Se não conseguissem traduzir as palavras em uma linguagem capaz de tocar os corações e as mentes de jovens e idosos, não seriam capazes de empreender as amplas mudanças sociais necessárias à correção do curso do desenvolvimento”.


3. Interdisciplinaridade e Sustentabilidade

Em linhas gerais, o material produzido pelo Relatório Nosso Futuro Comum, se encontra admitido nos quarenta capítulos da Agenda 21 – Global e Brasileira -, cujas diretrizes apontam diagnósticos, estratégias e busca de soluções para grandes áreas temáticas tais como, Cidades Sustentáveis, Agricultura Sustentável, Redução das Desigualdades Sociais, Gestão dos Recursos Naturais, Gestão dos Dejetos, Infra-Estrutura Regional, Gestão das Águas Doces, Proteção dos Oceanos e Mares, Gestão Racional dos Solos, Proteção e Promoção da Saúde Humana, Criação de Áreas Naturais Protegidas, Proteção e Manejo de Ecossistemas Frágeis, Desenvolvimento Urbano, Ciência e Tecnologia com vistas a uma ciência cidadã.

Ajustadas em cidades que valorizam seus munícipes, as Agendas 21 Locais se adequam às realidades circunstantes em cada localidade buscando, acima de tudo, a modernidade ética no uso dos recursos da natureza e uma reorientação dos padrões de consumo das comunidades.

Como produtos da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio 92 -, a Agenda 21 Global, em atenção ao exposto na Carta da Terra, destacou em seu Capítulo 36 que,

“...a promoção do ensino, da conscientização e do treinamento, para reorientar o ensino no sentido do desenvolvimento sustentável, aumentando a consciência pública”,

seriam responsabilidades atribuídas à Educação Ambiental, como alavanca para o desenvolvimento sustentável, através da qual os professores deveriam ter em vista, em sala de aula, o equilíbrio ambiental e a justiça entre as nações. Enfim, apenas colocar em prática os quarenta capítulos da Agenda 21!

Para uma tarefa heterogênea e complexa, os esforços não foram menores; tanto da parte técnica emanada dos trabalhos das Conferências de Belgrado e Tbilisi, quanto da parte dos pesquisadores muito conseqüentes a elas.

Com vistas ao entendimento do ensino da Ecologia e à modernidade ética, Belgrado – 1975 -, entendeu a urgência do estímulo e o exercício da cidadania como forma de reabilitar os laços de amizade entre o homem e a natureza a partir dos saberes populares e das raízes culturais. Já em Tbilisi – 1977 -, consolidou-se o método interdisciplinar como forma de promover a sustentabilidade ecológica e social pelo trabalho da disciplina, agora denominada, Educação Ambiental.

Todavia a interdisciplinaridade, como método de trabalho para o encontro de soluções de problemas ambientais, teve suas origens nos processos de licenciamento ambiental, no ano de 1969 nos Estados Unidos, a partir dos empreendimentos de impacto regional, que provocaram a necessidade do diálogo e o entendimento das diversas áreas do conhecimento mediante obras de engenharia. Adequadas as abordagens metodológicas através dos anos de estudo, a interdisciplinaridade é a base da Educação Ambiental, posto que, através dela, há resultados claros e evidentes a serem conquistados em cada projeto de trabalho.

O problema está no entendimento de sua prática, ou seja, o professor em sua rotina, deve ser conhecedor dos procedimentos previstos na transversalidade (Referenciais e Parâmetros Curriculares Nacionais), cuja finalidade é tão somente promover o diálogo em face de um tema proposto para estimular o aprendizado na participação política do cidadão.

Ademais, o professor de Educação Ambiental, também deve observar quando o problema de ordem ambiental se situa na abordagem interdisciplinar propriamente dita pois, na busca de soluções mesmo que provisórias para um problema claramente identificado, esta forma de abordagem temática deve analisar o problema por todos os ângulos e encontrar métodos congruentes nas disciplinas envolvidas na questão.

Destas, ainda há a abordagem multidisciplinar que, calcada nos princípios da cidadania e das audiências públicas dos licenciamentos ambientais, passou a circunscrever seu uso estrito nos Estudos de Impacto Ambiental e Relatórios de Impacto Ambiental (EIA/RIMA).

É fácil. Basta lembrar que, para haver sustentabilidade as crianças devem receber uma educação ecologicamente sensível, e que, os jovens em sua criatividade e ousadia, devem ser mobilizados para formar uma associação global em uma sociedade que, de modo algum, prestigia a cidadania ativa. Ademais, ainda há os idosos mencionados por Brundtland, cuja discussão é polêmica e necessária por seus desdobramentos.

4. As Expectativas da Sociedade

A despeito de qualquer ironia, o item anterior procurou chamar a atenção do leitor para as realidades sociais e as mudanças a serem efetuadas. Não são poucas! Entrementes, há um item a ser destacado que, reiteradas vezes sugere a responsabilidade social dos pares de uma comunidade. É o cidadão e sua consciência para com a coletividade.

Pedir para que a Educação Ambiental solucione questões de ordem judicial, de obras de engenharia ou de exploração do homem pelo homem, é uma tarefa que ela não tem !

Certamente o link enquetes do Jornal do Meio Ambiente online, sugere uma apreciação mais detalhada dos comentários que nele aparecem pois, sendo consultado por uma ampla variedade de pessoas interessadas em meio ambiente, seus problemas e suas soluções, as notas deixadas pelos leitores revelam a sinalização das visões de mundo que podem e devem ser divulgadas e destacadas como feito a seguir.

Deveria haver um investimento maciço em educação ambiental; aumentar a fiscalização e punir com rigor os agressores do meio ambiente.

A conscientização através da educação é o meio mais efetivo para tornar as questões ambientais uma parte da vida de cada um. Que cada pessoa tenha a plena consciência de sua responsabilidade de todos os atos praticados. Tudo tem causas e conseqüências.

Não adianta fiscalizar e multar, tem que haver a conscientização através da educação ambiental. As pessoas tem que conhecer para aprender a amar e respeitar, só assim haverá um cuidado com o planeta Terra.

Deve haver união e agir para obrigar municípios a exercerem suas competências ambientais locais.

Eu sou fiscal de meio ambiente e acho que temos que buscar mais fiscalização na área, se o povo denunciar vai estar ajudando a combater os crimes ambientais. As pessoas aqui na minha cidade já estão bem informadas, e estão denunciando, buscando colaborar!

É preciso criar nas pessoas uma consciência holística, onde todos se sintam responsáveis pelo planeta em que vivemos e que clama por cuidados. Um mundo sustentável é possível !

Educação Ambiental é a que maior resultado nos trará em termos do Futuro do Meio Ambiente.

A população brasileira não tem a consciência da importancia da preservação, além do mais a situação de pobreza faz com que muitos participem na destruição como forma de sobreviver, e a corrupção faz a fiscalização ineficaz. Conscientização é a melhor saída!

Penso que a consciência e o entendimento da realidade insustentável em que vivemos deve priorizar o ensino , um conjunto de matérias que promovam a interface entre as disciplinas clássicas que transmitam os novos paradigmas que estão se formando.

Estimular o consumo responsável e sustentável é totalmente aceitável, mas penalizar o desperdício é contraproducente, pois é necessário antes conscientizar e esclarecer a real necessidade de se tomar medidas ambientais saudáveis!


Educação Ambiental – Limites e Potencialidades

A Educação Ambiental passou a se inserir na sociedade brasileira desde a década de 1970, e, de modo oficioso, dialogava e propunha manifestações sociais que buscavam debater o caráter político do uso dos recursos naturais. Como instrumento de diálogo, tanto no Brasil quanto nos mais diversos países, suas práticas traziam o anseio da sociedade pela liberdade de expressão e qualidade de vida nas mais diversas camadas sociais, especialmente para as menos favorecidas.

Muito embora este clamor sempre tenha estado como tônica permanente de suas práticas, a Educação Ambiental passou por diversas fases, sendo a primeira a das denúncias sobre os abusos do poder econômico perante os menos favorecidos, especialmente quando a degradação ambiental era feita em nome do progresso. Já na década dos anos 80, a fase das denúncias deu lugar às conquistas dos direitos civis e da democracia, mesmo porque, a atuação do Partido Verde alemão na derrubada do muro de Berlim, e, em seguida, a chegada da Perestoyka fez sentir seus efeitos no fim da União Soviética, trazendo a Rússia para o capitalismo. Globalização, anos 1990.

Em se tratando de questões de fontes externas, a globalização se caracteriza pela não democratização do sistema financeiro internacional, cujos maiores obstáculos estão nas regras para as patentes e a propriedade intelectual. O protecionismo se apresenta contra o crescimento dos países menos desenvolvidos. Baseada nos acordos de livre mercado, a globalização atende aos mercados internacionais mais poderosos, nos quais os países ricos impõem as regras e os países pobres se inserem da maneira que podem.

Caracterizada por um capitalismo de alianças e de megacorporações, esse modelo é, antes de qualquer coisa, um sistema, em que os clientes não são os povos, e sim as nações e seus poderes. Desse modo, socializam-se as despesas e privatizam-se os lucros. Como solução para o desenvolvimento, Noam Chomsky aponta que o empenho nas pesquisas científicas em todas as áreas, tendo ênfase nas pesquisas biológicas e de índices de biodiversidade, são a única forma de emancipação e encontro de identidades. Ainda sugere que o fomento dessas pesquisas, em todo o mundo, deve vir de agências governamentais, para que haja uma distribuição mais democrática dos benefícios delas emanados.

Globalização e Educação Ambiental ? Sim, posto que, de modo oficial, ela se inseriu no cotidiano brasileiro com o conhecimento da consolidação da sociedade de consumo cujas perdas efetivas dos laços sociais, delineiam indivíduos em seus isolamentos. O “ecologicamente sensível”, perdeu um lugar até então mal conquistado na medida em que os clamores sociais absorveram todas as classes nas questões do emprego, salário, dignidade e moradia.

Pior para a Educação Ambiental, ou ainda, maior o desafio. Entretanto, não se pode atribuir a ela e suas práticas, a qualidade de “capturar” pessoas para a participação em sociedade. Ademais, o empobrecimento cultural demonstra que a sociedade contemporânea, carente do holismo, ainda privilegia e solicita o conhecimento compartimentado pautado pelo senso prático e não pelo senso analítico.

Nesta senda, a maior perda está na desqualificação do termo cidadania ativa que, entendido classicamente como “o teste do julgamento” para a construção ética do pensamento social, as exigências que a sociedade faz para a Educação Ambiental mostram um equívoco quanto ao senso do que é justo ou do que é direito. Atuando muito mais pelo senso da moralidade, a sociedade ao exigir tudo da Educação Ambiental, não nota que requer dela uma função de palmatória dos erros que a própria sociedade deveria coibir ou corrigir reorientando suas demandas não só materiais como também de consumo. Um professor, sozinho em sala de aula, não faz verão !

Além disso, há que se considerar que a ética, como compreensão do bem e teoria da condução da vida, só se configura quando as regras sociais naturais estão em vigor e, na ausência ou violação delas, as leis do direito encontram suas funções. Assim, a distância entre ética e direito se situa no limiar das ações do indivíduo, tendo como ponto de partida seu empenho em se aperfeiçoar e na análise de suas observações a respeito da vida, inclusive a humana, sobre a Terra. A finalidade da ética é a justiça pelas ações boas, e não pelas boas ações. Sua busca é a paz!

5. Considerações Finais

Em termos de evolução dos conceitos e da consolidação das políticas nacionais voltadas para o meio ambiente, as comissões que têm trabalhado pela regulamentação do Artigo 23 da Constituição Federal normatizando as competências e atribuições das esferas federais, estaduais e municipais, estarão auxiliando nos trabalhos da Educação Ambiental na medida em que, melhor esclarecidas as tarefas, estar-se-ão adequando as questões de governança na temática ambiental para a sociedade como um todo.

Além disso, as câmaras técnicas que têm deliberado sobre as atribuições e competências quando da regulamentação dos Professores e Educadores Ambientais da esfera federal, auxiliarão de modo efetivo os trabalhos e seus resultados. Isto feito, em breve serão notados os desdobramentos nos estados e municípios que também regulamentarão a atividade. Porém, tais disposições terão contado com os anseios populares e representações sociais ?

Concluindo, este artigo quer considerar que Educação Ambiental não foi pensada para quem se acostumou a lograr pelo poder do status, mas sim, para aqueles que querem o êxito através das concretizações de longo prazo.

6. Sugestões de Leitura

Agenda 21 de seu Município (vide em www.mma.gov.br)

Comissão Brundtland. Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991.

VIEIRA, Liszt; BREDARIOL, Celso. Cidadania e Política Ambiental. Rio de Janeiro: Record, 1998.

Célia Regina Russo, Bióloga, Ecologista, Mestre em Ciência Ambiental USP. Docente universitária, mantém projetos em parceria técnica com a Floresta Nacional de Ipanema – IBAMA, SP.
celiarusso@yahoo.com.br celiarusso@terra.com.br


Fonte:
http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-index_noticias.asp?id=5669

 

Ilustrações: Silvana Santos