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Armadilhas na cobertura do
Protocolo de Kioto
Data: 16/2/2005
Por André Trigueiro
Para evitar algumas confusões bastante comuns que costumamos cometer na
cobertura dos assuntos ligados ao Protocolo de Kioto e ao aquecimento global,
relacionei abaixo alguns tópicos que poderão evitar problemas futuros. As
informações foram apuradas com a ajuda de alguns especialistas. Se quiserem,
repassem aos coleguinhas de redação. Fiz isso na Globo News e na CBN. Ainda
que para muitos sejam questões conhecidas, com certeza para outros não são.
Basta ver o que, vez por outra, sai publicado por aí...
1) Aquecimento Global não é Efeito Estufa :
Efeito estufa é um fenômeno natural que assegura a manutenção da vida na
Terra. Graças ao Efeito Estufa, ou seja, aos gases que compõem a atmosfera há
milhares de anos, a temperatura média do planeta é de aproximadamente 15 graus
centígrados, favorecendo a manutenção da vida tal como a conhecemos.
Aquecimento Global é o nome que se dá ao fenômeno causado, entre outros
fatores, pela queima progressiva de petróleo, carvão e gás, e que agrava o
chamado Efeito Estufa. Segundo os cientistas da ONU, não há dúvidas de que a
humanidade contribui para o aquecimento global. O que não se sabe exatamente é
em que proporção isso acontece.
2) Aquecimento Global não tem nada a ver com Camada de Ozônio : A camada de ozônio
tem a função de proteger o planeta da radiação ultravioleta do sol. A exposição
excessiva à essa radiação provoca queimaduras e pode causar câncer de pele.
A camada de ozônio é destruída pela ação de alguns gases industriais como o
CFC (Clorofluorcarbono). Tratados internacionais estabeleceram a substituição
desses gases por outros que não destruam a camada de ozônio. O aquecimento
global não tem portanto qualquer relação com a camada de ozônio.
3) Os Estados Unidos assinaram o Protocolo de Kioto: Ao contrário do que se
pensa, os Estados Unidos assinaram o Protocolo de Kioto no segundo governo
Clinton, em 1997. Mas nem Clinton, e muito menos George W. Bush, ratificaram o
protocolo. A ratificação significa o endosso do Parlamento de cada país ao
documento. Os Estados Unidos sozinhos emitem 25% de todos os gases estufa do
planeta. Transformam em fumaça 20 milhões de barris de petróleo por dia. O
governo americano alega que a implementação do Protocolo implicaria em custos
danosos à economia daquele país. E consideram injusto que países como China,
Índia e Brasil não tenham compromissos formais de redução
3) As regras básicas do Protocolo: O Protocolo de Kioto prevê que os países
ricos ou industrializados (do chamado Anexo 1) reduzam suas emissões de gases
estufa ( dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e outros) em pelo menos 5%
( cada país tem sua meta diferenciada) tendo como base o ano de 1990. O
primeiro período de compromisso do Protocolo é entre 2008 e 2012. Outros períodos
de compromisso serão necessários para que se resolva o problema do aquecimento
global. Estima-se que seria necessário reduzir em 60% as emissões atuais de
gases estufa na atmosfera para conter o aquecimento global.
4) Por que só os países industrializados tem que reduzir emissões? :
Ratificado por 136 países ( esse era o número no início de fevereiro) o
Protocolo de Kioto definiu que apenas os países industrializados tem o
compromisso formal de reduzir suas emissões. A lógica é a seguinte: esses países
(36) são os principais responsáveis pelo aquecimento global, pois são os que
historicamente mais lançaram gases estufa na atmosfera. De acordo com o governo
brasileiro, esses países contribuíram com 90% dos gases acumulados na
atmosfera. Como o CO2 ( dióxido de carbono) leva séculos para se decompor, a
queima de petróleo, gás e carvão que vem acontecendo desde a Revolução
Industrial vai se acumulando lenta e perigosamente.
5) O Protocolo de Kioto não é um tratado para reduzir os gases poluentes: A
função do protocolo é reduzir o aquecimento global. Inúmeros gases poluentes
ficaram de fora do protocolo.
6) Guerra diplomática : Como a industrialização de países em desenvolvimento
como China, Índia, Brasil e Indonésia aconteceu mais tarde, eles não tem a
obrigação de reduzir suas emissões no primeiro período de compromisso do
Protocolo de Kioto, entre 2008 e 2012. Entretanto, já há um forte lobby para
que os países em desenvolvimento assumam a partir de 2012 compromissos formais
de redução. A China já é o segundo maior emissor de gás carbônico do
mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Brasil e Índia estão entre os 6
maiores emissores. Um estudo das Nações Unidas, revela que as emissões de
gases estufa dos países em desenvolvimento superarão as dos países
desenvolvidos entre 2015 e 2020. Ainda assim, o bloco dos "emergentes"
não aceita compromissos formais de redução.
Um grande abraço,
André Trigueiro
Fonte: http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-index_noticias.asp?id=6418