Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Para Sensibilizar
09/03/2005 (Nº 12) Se os oceanos morrerem...
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Se os oceanos morrerem...

Jorge Alvarez Von Maack

O perigo que nos ameaça é de um novo tipo. É causado pelo homem e somente as medidas adotadas pelo homem poderão remediá-la. Por isso alertamos que o ciclo da vida e a água são inseparáveis. Vemos claramente que, se queremos salvar a humanidade, nosso dever é antes de tudo salvar os oceanos.

Por um irritante paradoxo, a humanidade coloca hoje esta questão precisamente quando está recém-começando a compreender o mar. Na atualidade, depois de milhares de anos de ignorância e superstição, os homens de nossa geração começam, enfim, a estudar a maneira de explorar e aproveitar racionalmente os imensos recursos que oferecem esses 70% de espaço aquático da superfície terrestre. Mas, ao mesmo tempo estão comprometidos em uma corrida contra o relógio para salvar os oceanos das depredações que eles mesmos levam a cabo.

Se os oceanos de nossa terra morressem - isto é, se de algum modo, a vida de repente desaparecesse, seria a mais formidável, mas também a mais definitiva das catástrofes na atormentada história do homem e dos animais que com ele compartem este planeta.

Assim, desprovido de vida, o oceano começaria a deteriorar-se. O cheiro procedente das matérias orgânicas em decomposição seria tão insuportável, que bastaria para alijar o homem de todas as regiões costeiras.

Mas não se fariam esperar outras conseqüências ainda mais graves. Recordemos que o oceano é o principal elemento estabilizador da terra: mantém o equilíbrio exato entre os diferentes sais minerais e os gases que constituem nosso corpo e do qual depende nossa existência. Sem vida nos mares, gases tóxicos contidos na atmosfera, começariam a aumentar inexoravelmente.

Superada uma certa proporção de CO², o efeito chamado "de estufa", entraria em jogo: o calor, irradiado pela terra para o espaço, sendo mantido sob a estratosfera originária, uma brusca elevação de temperatura do globo ao nível do mar. As calotas polares se fundiriam em ambos os pólos, enquanto o nível dos oceanos subiria cerca de 30 metros. Em poucos anos todas as cidades costeiras se inundariam. Para evitar afogar-se, 1/3 da humanidade se veria obrigada a refugiar-se em colinas e montanhas, incapazes de prover sua subsistência. Entre outros efeitos da morte dos oceanos, a superfície das águas se cobriria de uma espessa crosta de resíduos orgânicos, que influiria na evaporação, reduziria as precipitações e provocaria uma seca geral e, por fim, a fome.

Tudo isso não seria senão o princípio da fase última do desastre. Isolado nas montanhas e famintos, submetidos a violentas tempestades e estranhas epidemias, rotos todos os laços familiares, os sobreviventes começariam a sofrer a falta de oxigênio devido à separação das algas do plâncton e a redução da vegetação terrestre. Confinados na estreita franja da terra que separaria os mares mortos das regiões montanhosas estéreis, a espécie humana experimentaria uma intolerável agonia. Talvez, 30 ou 50 anos depois da morte dos oceanos, o último homem do planeta, quando a vida orgânica se limitaria só a bactérias e alguns insetos necrófagos, exalaria seu último suspiro...

Olhando a realidade, hoje estamos experimentando a fragilidade dos equilíbrios marinhos. À medida que se joga no mar quantidades sem cessar de crescentes tóxicos resíduos sólidos e líquidos, a situação piora.
Os oceanos podem absorver estas cargas contaminantes?

A resposta está sendo dada pelos mares Indico e Báltico, quase mortos; o Mar do Norte, cujos recursos pesqueiros declinam tragicamente; o Mediterrâneo, gravemente afetado, e os recifes agonizantes del mundo inteiro.

O mar está longe de ser a lixeira passiva que todos pensamos. Dadas suas propriedades dinâmicas, físicas e químicas a água do oceano é capaz de tratar só algumas das substâncias tóxicas ou contaminantes que recebe desde que seja "biodegradáveis".

Se o homem existe é unicamente porque o planeta que o abriga "A Terra" é o único corpo celeste, que se saiba, ainda tem vida. Ela é assim porque se trata de "um planeta de água", sendo a água mesma, talvez, tão escassa como a vida no universo; talvez seja sinônimo da vida mesma.

A água não só é escassa, não só infinitamente preciosa, mas um elemento sumamente original, cujas combinações físicas e químicas oferecem numerosas particularidades. Por esta natureza única do elemento liquido, assim como a termodinâmica do interconectado sistema aquático mundial, cujos motores são o sol e a água, é a causa do nascimento da vida. O oceano é água, é a vida.

É fundamental que mudemos nossa atitude a respeito ao mar. Deixemos de vê-lo como um mistério, uma ameaça, uma imensidade na qual qualquer interferência por nossa parte não teria importância; um lugar sombrio e sinistro, cheio de segredos e de maravilhas. Não nos limitemos a imitar os estudiosos de outros tempos que sulcavam e observavam os mares só para elaborar listas de mamíferos, de aves, de medusas, de temperaturas, de correntes e movimentos migratórios da biomassa.

Hoje preferimos passar revista aos grandes temas da vida do oceano, falar de suas pulsações, seus dramas e seus ciclos estacionais; mostrar como o mar "proativamente provê eficientemente, sem buscar a excelência e sem necessidade de reengenharia e qualidade total", o sustento de multidões de seres vivos; como harmoniza os ritmos físicos e biológicos da erra inteira, e conhece o que o prejudica como o que o beneficia.

Os oceanos possuem um ecossistema único e insubstituível razão pela qual continuaremos até as últimas conseqüências com nossa campanha ambientalista, para que o oceano do Peru - e dos demais países - deixe de ser impune cloaca e as praias não se tornem lixeiras das cidades.

Evitemos um irreversível atentado contra a vida e a saúde da população, como tem sucedido em cidades ribeirinhas do Japão, e que possamos já estar consumindo, peixes, mariscos e algas, com perigosas concentrações de cádmio, chumbo, mercúrio, zinco, cromo, entre alguns metais pesados, além de perigosos químicos e resíduos tóxicos, que por acumulação no organismo, provocam diversas doenças neurológicas, tumores cancerosos, malformações embrionárias, vírus e diversas afecções cutâneas.

Hoje nenhuma "tecnologia de ponta" e país civilizado desperdiça o recurso água, a recicla totalmente para consumo humano, animal, vegetal e outros, inclusive em "aqüicultura". Porque por sua futura escassez, a tornará "o ouro dos povos...".

Jorge Alvarez Von Maack é presidente do INA -Instituto Nacional de Arqueologia Marítima, Ecologia e Ambiente - Peru
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Fonte: Revista Água Online:
Ilustrações: Silvana Santos