Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Contribuições de Convidados/as
10/09/2018 (Nº 61) ENTRE OS EXTREMOS
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2817 
  

ENTRE OS EXTREMOS

 

Os últimos dias foram agitados, e neste turbilhão, as provocações foram muitas. O artigo inicial perdeu-se, e a memória não ajuda. O resultado é partir para um novo. Entre lembrar e não, existe uma gama enorme de opções. Entre o homem e a natureza, também existem várias possibilidades. O que fazer com elas?

 

Sendo nós os que falamos, pensamos e escrevemos, somos nós, pelos estudos e pesquisas, que levantamos os problemas com os quais estamos envolvidos. A melhor solução só é possível de ser encontrada a partir de uma ótima pergunta, um questionamento preciso. São as questões que movem a nossa vida e dizem muito do que somos. Isto é, se quisermos nos enganar e não fazer perguntas, poderemos estar fadados a sermos somente algum vestígio a ser encontrado no futuro. Existem extremos?

 

Muitos não percebem os extremos, justamente por estarem em algum deles. Para um capitalista genuíno, nada mais interessa a não ser os ganhos, a lucratividade. Quando o negócio, por alguma catástrofe, desaparece, a justificativa é de que os ciclos dos negócios são assim mesmo e que fazem parte do risco assumido. E ainda, quem assume riscos, tem chances de ganhos maiores.

 

Para um ambientalista extremado, a posição é de que somos nós os grandes causadores de todos os problemas. Inclusive muitos defendem que a natureza sem nós seguiria muito melhor. Enquanto assim pensam, ninguém quer deixar de existir, o que revela ser somente um discurso. Mas, com um pouco menos de exagero, estar somente ligado com a natureza já é um extremo. Hoje, a maioria de nós vive nas cidades. Penso, até, que se fossemos fazer um experimento para voltar ao tempo do caçador-coletor, mesmo com condições melhores, não sobreviveríamos.

 

Os governos em todo o mundo também estão nos extremos, entre as ditaduras que provam a não evolução, como já aconteceu no passado, e governos extremamente contrários a uma existência sustentável e possível para todos. Alguns governos estão fazendo mudanças nas políticas ambientais em sentido contrário, por pressão das indústrias existentes. Aquelas mesmas dos capitalistas extremos.

 

Na educação vemos o mesmo problema dos extremos, quando os adultos não sabem mais que educar é saber lidar com limites sem o cerceamento da liberdade. Quem deveria ser educado para um futuro melhor, os mais jovens, passam a dominar a situação e a cada dia temos um aumento do número de alfabetizados infantilizados, que chegam até os níveis de graduação universitária.

 

Poderíamos estar listando um grande número de exemplos de extremos que também poderiam não ajudar em nada. Porque seria um extremo de situações diversas. E não é isto que se busca. Entre os extremos, temos as várias possibilidades de evolução e as melhores, ao longo do tempo, vão nos tornando mais aptos para seguir em frente, viver, perpetuar a espécie humana.

 

É urgente encontrar uma sensatez maior para não ficarmos prisioneiros ou carcereiros do nosso próprio fim. Existem possibilidades mais sustentáveis que podem começar a ser postas em prática hoje, com mudanças de atitude, por menores que venham a ser. Pode-se dizer que existe para cada pessoa uma questão que pode ser melhorada, sem ser ditador ou súdito da mesma.

 

Um único e pequeno exemplo: sabemos da crise hídrica e que ela irá, cada vez mais, nos afetar. Se eu resido na cidade, numa casa, posso muito bem fazer um reservatório de água da chuva para regar os jardins, limpar calçada, ou utilizá-la no esgotamento sanitário. Se eu resido num apartamento, posso aproveitar a água do enxague da máquina para usar na limpeza, ou mesmo, na próxima lavagem. Se eu resido no interior, posso fazer o mesmo que alguém faz em uma casa na cidade, e ainda, criar obstáculos para que a água da chuva escorra com menos força na lavoura.

 

São pequenas ações com grandes vantagens de se incorporar algo novo na rotina do dia a dia, provocando mudanças, também, no pensar. As opções para começar são muitas e o importante é dar a largada, colocando uma destas ações em prática.

 

Existe uma diversidade entre os extremos para serem descobertas, avaliadas e passarem a fazer parte da nossa vida. Como são diferenças pequenas, elas não causarão grande estranheza e assim poderemos, aos poucos, sair dos extremos e encontrar uma vida mais sustentável, boa para cada um, porque também será boa para tudo e para todos.

 

Cláudio Loes

Especialista em Educação Ambiental

www.ecophjysis.com.br

 

 

Ilustrações: Silvana Santos