Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Divulgação de Eventos
01/06/2015 (Nº 1) Evento internacional muda a visão empresarial sobre preservação do meio
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Paulínia, 24 (Agência Brasil - ABr) - Dez anos depois do maior encontro de
líderes do mundo, onde 114 Chefes de Estado estiveram reunidos por doze
dias, no Rio de Janeiro, para discutir os problemas globais do meio
ambiente, uma pequena cidade no interior paulista, foi palco de outra
importante reunião ambiental. Paulínia, distante cerca de 35 quilômetros de
Campinas, sediou de 2ª feira até ontem, o 1º Simpósio e Exposição
Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em
Municípios Industriais, que colocou na mesma mesa de debates 90
conferencistas entre cientistas, empresários, governantes e ambientalistas.
Ao contrário da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (Rio-92), que se realizou em uma capital e teve
a participação quase que exclusiva de governantes estrangeiros, o evento de
Paulínia foi o primeiro de grande porte realizado no Brasil depois da
Rio-92, onde a participação da indústria saiu da berlinda para a linha de
frente nas discussões sobre questões ambientais.
"Trata-se de um momento histórico para a questão ambiental brasileira, pois
o que aconteceu aqui, foi a demonstração de que dez anos após a Rio-92, o
setor industrial instalado no país investiu cerca de US$ 10 bilhões em
tecnologias para melhoria ambiental", diz o professor e geólogo Dorival
Correia Bruni, presidente da Ong Instituto Ambiental Biosfera, responsável
pela coordenação do evento. Para ele é pouco, diante do passivo ambiental
legado por anos de poluição e exploração irracional dos recursos ambientais
no país, mas é um indicativo de alguns avanços no cumprimento da Agenda 21,
documento final da Rio-92 que estabeleceu critérios para o desenvolvimento
sustentável no mundo. Do ponto de vista da indústria nacional, houve um
avanço significativo com relação às políticas ambientais locais, empregadas
na linha de produção.
Mesmo instalado fora do eixo Rio-São Paulo, o Simpósio recebeu cerca de
cinco mil pessoas, que participaram dos trabalhos e visitaram exposição
paralela ao simpósio. Mais de 300 prefeitos e 200 representantes de
indústrias estiveram presentes no evento que custou mais de R$ 1,5 milhão. A
prefeitura de Paulínia, diretamente interessada na realização do evento em
função da sua característica de município essencialmente industrial,
garantiu 2/3 deste total. "O restante foi obtido junto a empresas da região
que montaram estandes no Pavilhão de Exposição", informou o professor
Dorival.
O passivo no meio ambiente decorrente da atividade industrial sem
planejamento e responsabilidade, no entanto, foi ressaltado como um
obstáculo a ser vencido. "As polarizações sobre as questões ambientais
continuam e não terminarão tão cedo", ressaltou Alejandro Rebolledo,
pesquisador do México que participou da conferência sobre tratamento de
resíduos sólidos nos municípios e desenvolvimento sustentável em indústrias.
"As nações desenvolvidas ainda lutam em repensar seus modelos econômicos e
continuam a exportar indústrias poluidoras para os países pobres", comenta.
Os resíduos sólidos e industriais estão entre os principais problemas da
maioria dos municípios brasileiros, onde menos de 10% deles possuem aterros
sanitários. O modelo ideal para o Brasil, segundo o especialista Renato
Vasconcelos, é a usina de reciclagem e compostagem que oferece um alto
benefício social. "Ela desmancha o lixo em material reaproveitável, gera
adubo orgânico para agricultura, evita o passivo ambiental gerado por
aterros e cria milhares de empregos de baixa qualificação", explica o
engenheiro. Vasconcelos acrescenta que "falta conscientização dos prefeitos,
pois o problema é mais grave do que se imagina".
De acordo com especialistas, várias cidades das regiões Norte e Nordeste
estão mais atrasadas do que municípios africanos de países como Zaire e
Marrocos. Um estudo apresentado no evento demostra que seriam necessários
cerca de US$ 3,5 bilhões para a criação de uma estrutura mínima de
tratamento de resíduos sólidos para municípios brasileiros com mais de 100
mil habitantes. June Lombard, da África do Sul, presidente de uma
organização internacional de gerenciamento de resíduos sólidos, admirou-se
com modelos de tratamento de resíduos industriais que visitou, na região de
Campinas. Ela esteve na Refinaria da Petrobrás em Paulínia -a maior do país
- e comentou que não conhece nada semelhante na África do Sul. "Vi que
muitas empresas da região tratam dos principais poluentes das águas que são
resíduos químicos, metais pesados, detergentes e petróleo, mas muito pouco é
feito pelos municípios com relação aos esgotos", lamenta.
Enquanto há dez anos, na Rio-92, muitos governantes dos países mais pobres
diziam "no money, no deal", ou seja, sem dinheiro não há acordo, hoje é
possível enxergar mudanças significativas no cenário ambiental mundial que
exigiu ajustes políticos, econômicos, tecnológicos e culturais. O Brasil,
mesmo sendo um dos quatro países do mundo a dispor de uma moderna legislação
ambiental, está 20 anos atrás da recente modernização implementada no parque
industrial de Portugal, uma exigência pós-Rio-92 da Comunidade Européia.
"Nossa legislação é boa, mas oferece muitas brechas, por isso é mais fácil
uma indústria recorrer de um autuação ambiental do que investir em
tecnologias produtivas limpas", destaca o professor Bruni. A situação se
torna mais grave devido à deficiência do monitoramento ambiental em todo o
país.
Durante o simpósio, foi apresentado um modelo adotado pela Espanha, há
poucos anos, e que vem surtindo grandes resultados no monitoramento
ambiental. Uma rede de satélites ambientais ligada a 500 estações terrestres
monitora em tempo real 50 parâmetros químicos e dez físicos. "Se é feita uma
descarga química em algum rio é perfeitamente possível identificar o
responsável", conta June Lombard. O Brasil foi citado, em uma das
conferências sobre monitoramento ambiental, como um dos países detentores
desta tecnologia e que poderia monitorar as regiões metropolitanas com um
custo/benefício extremamente alto.
Entre as decisões finais do evento, ficou definido a criação de um Centro
Nacional de Prevenção e Remediação de Acidentes Ambientais, que terá como
objetivo principal o treinamento e capacitação de pessoal de órgãos
ambientais e industriais. A intenção é que o centro fique localizado no
estado de São Paulo e seja mantido por empresas por meio de cotas
condominiais, além de agências ambientais. O centro deve estar funcionando
no primeiro semestre de 2003 e custará cerca de R$ 60 milhões para
instalação da área física. O prefeito de Paulínia, Edson Moura, ofereceu a
área para sediar o centro, já que a cidade é um dos maiores
pólos-petroquímicos do país e constantemente registra episódios de danos ao
meio ambiente, sejam eles de indústrias ainda em atividade ou de outras que
já desativaram suas linhas de produção, como foi o caso da fábrica de
pesticidas da Shell, que leva os rejeitos dos produtos químicos para
depósito da empresa na Vila Carioca, zona sul de São Paulo.
O depósito havia sido interditado pela prefeitura, no último dia 20, porque
o alvará de funcionamento estava vencido desde 1985. A Shell conseguiu, oito
horas depois, liminar na Justiça suspendendo a interdição. O depósito
apresenta problemas de contaminação e os moradores vizinhos receiam que sua
saúde possar estar em risco. (Caius Lucilius)
Evento internacional muda a visão empresarial sobre preservação do meio
ambiente
Paulínia, 24 (Agência Brasil - ABr) - Dez anos depois do maior encontro de
líderes do mundo, onde 114 Chefes de Estado estiveram reunidos por doze
dias, no Rio de Janeiro, para discutir os problemas globais do meio
ambiente, uma pequena cidade no interior paulista, foi palco de outra
importante reunião ambiental. Paulínia, distante cerca de 35 quilômetros de
Campinas, sediou de 2ª feira até ontem, o 1º Simpósio e Exposição
Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em
Municípios Industriais, que colocou na mesma mesa de debates 90
conferencistas entre cientistas, empresários, governantes e ambientalistas.
Ao contrário da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (Rio-92), que se realizou em uma capital e teve
a participação quase que exclusiva de governantes estrangeiros, o evento de
Paulínia foi o primeiro de grande porte realizado no Brasil depois da
Rio-92, onde a participação da indústria saiu da berlinda para a linha de
frente nas discussões sobre questões ambientais.
"Trata-se de um momento histórico para a questão ambiental brasileira, pois
o que aconteceu aqui, foi a demonstração de que dez anos após a Rio-92, o
setor industrial instalado no país investiu cerca de US$ 10 bilhões em
tecnologias para melhoria ambiental", diz o professor e geólogo Dorival
Correia Bruni, presidente da Ong Instituto Ambiental Biosfera, responsável
pela coordenação do evento. Para ele é pouco, diante do passivo ambiental
legado por anos de poluição e exploração irracional dos recursos ambientais
no país, mas é um indicativo de alguns avanços no cumprimento da Agenda 21,
documento final da Rio-92 que estabeleceu critérios para o desenvolvimento
sustentável no mundo. Do ponto de vista da indústria nacional, houve um
avanço significativo com relação às políticas ambientais locais, empregadas
na linha de produção.
Mesmo instalado fora do eixo Rio-São Paulo, o Simpósio recebeu cerca de
cinco mil pessoas, que participaram dos trabalhos e visitaram exposição
paralela ao simpósio. Mais de 300 prefeitos e 200 representantes de
indústrias estiveram presentes no evento que custou mais de R$ 1,5 milhão. A
prefeitura de Paulínia, diretamente interessada na realização do evento em
função da sua característica de município essencialmente industrial,
garantiu 2/3 deste total. "O restante foi obtido junto a empresas da região
que montaram estandes no Pavilhão de Exposição", informou o professor
Dorival.
O passivo no meio ambiente decorrente da atividade industrial sem
planejamento e responsabilidade, no entanto, foi ressaltado como um
obstáculo a ser vencido. "As polarizações sobre as questões ambientais
continuam e não terminarão tão cedo", ressaltou Alejandro Rebolledo,
pesquisador do México que participou da conferência sobre tratamento de
resíduos sólidos nos municípios e desenvolvimento sustentável em indústrias.
"As nações desenvolvidas ainda lutam em repensar seus modelos econômicos e
continuam a exportar indústrias poluidoras para os países pobres", comenta.
Os resíduos sólidos e industriais estão entre os principais problemas da
maioria dos municípios brasileiros, onde menos de 10% deles possuem aterros
sanitários. O modelo ideal para o Brasil, segundo o especialista Renato
Vasconcelos, é a usina de reciclagem e compostagem que oferece um alto
benefício social. "Ela desmancha o lixo em material reaproveitável, gera
adubo orgânico para agricultura, evita o passivo ambiental gerado por
aterros e cria milhares de empregos de baixa qualificação", explica o
engenheiro. Vasconcelos acrescenta que "falta conscientização dos prefeitos,
pois o problema é mais grave do que se imagina".
De acordo com especialistas, várias cidades das regiões Norte e Nordeste
estão mais atrasadas do que municípios africanos de países como Zaire e
Marrocos. Um estudo apresentado no evento demostra que seriam necessários
cerca de US$ 3,5 bilhões para a criação de uma estrutura mínima de
tratamento de resíduos sólidos para municípios brasileiros com mais de 100
mil habitantes. June Lombard, da África do Sul, presidente de uma
organização internacional de gerenciamento de resíduos sólidos, admirou-se
com modelos de tratamento de resíduos industriais que visitou, na região de
Campinas. Ela esteve na Refinaria da Petrobrás em Paulínia -a maior do país
- e comentou que não conhece nada semelhante na África do Sul. "Vi que
muitas empresas da região tratam dos principais poluentes das águas que são
resíduos químicos, metais pesados, detergentes e petróleo, mas muito pouco é
feito pelos municípios com relação aos esgotos", lamenta.
Enquanto há dez anos, na Rio-92, muitos governantes dos países mais pobres
diziam "no money, no deal", ou seja, sem dinheiro não há acordo, hoje é
possível enxergar mudanças significativas no cenário ambiental mundial que
exigiu ajustes políticos, econômicos, tecnológicos e culturais. O Brasil,
mesmo sendo um dos quatro países do mundo a dispor de uma moderna legislação
ambiental, está 20 anos atrás da recente modernização implementada no parque
industrial de Portugal, uma exigência pós-Rio-92 da Comunidade Européia.
"Nossa legislação é boa, mas oferece muitas brechas, por isso é mais fácil
uma indústria recorrer de um autuação ambiental do que investir em
tecnologias produtivas limpas", destaca o professor Bruni. A situação se
torna mais grave devido à deficiência do monitoramento ambiental em todo o
país.
Durante o simpósio, foi apresentado um modelo adotado pela Espanha, há
poucos anos, e que vem surtindo grandes resultados no monitoramento
ambiental. Uma rede de satélites ambientais ligada a 500 estações terrestres
monitora em tempo real 50 parâmetros químicos e dez físicos. "Se é feita uma
descarga química em algum rio é perfeitamente possível identificar o
responsável", conta June Lombard. O Brasil foi citado, em uma das
conferências sobre monitoramento ambiental, como um dos países detentores
desta tecnologia e que poderia monitorar as regiões metropolitanas com um
custo/benefício extremamente alto.
Entre as decisões finais do evento, ficou definido a criação de um Centro
Nacional de Prevenção e Remediação de Acidentes Ambientais, que terá como
objetivo principal o treinamento e capacitação de pessoal de órgãos
ambientais e industriais. A intenção é que o centro fique localizado no
estado de São Paulo e seja mantido por empresas por meio de cotas
condominiais, além de agências ambientais. O centro deve estar funcionando
no primeiro semestre de 2003 e custará cerca de R$ 60 milhões para
instalação da área física. O prefeito de Paulínia, Edson Moura, ofereceu a
área para sediar o centro, já que a cidade é um dos maiores
pólos-petroquímicos do país e constantemente registra episódios de danos ao
meio ambiente, sejam eles de indústrias ainda em atividade ou de outras que
já desativaram suas linhas de produção, como foi o caso da fábrica de
pesticidas da Shell, que leva os rejeitos dos produtos químicos para
depósito da empresa na Vila Carioca, zona sul de São Paulo.
O depósito havia sido interditado pela prefeitura, no último dia 20, porque
o alvará de funcionamento estava vencido desde 1985. A Shell conseguiu, oito
horas depois, liminar na Justiça suspendendo a interdição. O depósito
apresenta problemas de contaminação e os moradores vizinhos receiam que sua
saúde possar estar em risco. (Caius Lucilius)
Ilustrações: Silvana Santos