Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
24/09/2004 (Nº 10) Entrevista com Patrícia Mousinho
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Entrevista com Patrícia Mousinho (10a. edição da revista eletrônica EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO)


Por Berenice Gehlen Adams

Apresentação: Patrícia Mousinho é mais uma entrevistada desta edição da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação. Ela é Bióloga (UFRJ), pós-graduada em Planejamento e Gerenciamento Ambiental (UERJ), Mestre em Ciência da Informação (UFRJ). Especialista em Informação, Comunicação e Educação Ambiental, com experiência em empresas, academia e sociedade civil organizada. Atua há 9 anos na ONG Ecomarapendi nas áreas de educação ambiental, conservação, resíduos sólidos, comunicação de risco e indicadores de sustentabilidade. Fundadora e facilitadora da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ) e Facilitadora da Rede Brasileira de Educação Ambiental (Rebea), é umas das responsáveis pela coordenação do V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental. O V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, que acontecerá de 3 e 6 de novembro deste ano (2004), na cidade de Goiânia (Goiás), é um importante evento que se configura como o maior espaço presencial no Brasil para a disseminação, discussão e troca de experiências sobre Educação Ambiental.

- Patrícia, conte-nos um pouco do histórico do Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, como surgiu, quem foram os idealizadores e sua periodicidade:

Os Fóruns de Educação Ambiental nasceram em São Paulo nos anos 1990. Já em sua terceira edição, realizada em 1994, percebia-se claramente sua vocação como ponto de encontro dos educadores ambientais de todo o país. A mobilização gerada pelos fóruns de EA havia alcançado abrangência nacional e, num processo natural, eles deixaram sua característica regional para se transformarem em fóruns Brasileiros de Educação Ambiental.

Com o objetivo de consolidar e ampliar os Fóruns, optou-se que passassem a ser realizados fora do estado de São Paulo e sob a coordenação da Rede Brasileira de Educação Ambiental (Rebea). Em 1997 aconteceram, então, na cidade de Guarapari (Espírito Santo), o IV Fórum de Educação Ambiental e o I Encontro da Rede Brasileira de Educação Ambiental, marcando um momento importante na consolidação da Rebea.

A decisão de realizar o V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental veio em 27 de outubro de 2003, numa reunião da Facilitação Nacional da Rebea, com a definição do apoio do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente – DEA/MMA – e Coordenação de Educação Ambiental do Ministério da Educação – COEA/MEC) ao evento. Optamos por realizar o V Fórum numa cidade central no país, de modo a facilitar o acesso de pessoas vindas de deferentes regiões, e a cidade de Goiânia despontou como uma excelente alternativa.

- Como você se sente coordenando um evento deste porte?

Na verdade eu não me sinto coordenando o V Fórum, sinto-me como mais um elo das redes, mais uma pessoa envolvida na construção do V Fórum, ajudando a tecer estes fios. É uma tarefa ao mesmo tempo encantadora e assustadora... as dimensões do evento são gigantescas, a expectativa crescente... e a responsabilidade igualmente grande!

- Quantas pessoas estão envolvidas na organização e qual é a expectativa de público para este evento?

O V Fórum está sendo construído, desde o início, de forma coletiva. É um trabalho muito bonito, feitos a tantas mentes e mãos... um processo complicado, sem dúvida, com muitas idas-e-vindas, mas verdadeiramente de tod@s. A Rebea hoje é uma rede de redes, a quantidade de pessoas e instituições de todo o Brasil envolvidas é difícil de calcular.

Esperamos reunir de 4 a 5 mil pessoas no V Fórum. Já faz sete anos que aconteceu o IV Fórum, onde estiveram presentes mais de 2 mil pessoas. A lacuna criada fez com que os encontros regionais recebessem, nos últimos anos, um grande número de educadores ambientais de todo o país, o que nos levou a esta projeção.

E o V Fórum foi construído numa visão de diversidade – diversidade de atividades, de públicos. Nosso objetivo é proporcionar aos educadores ambientais do Brasil espaços de convivência para diálogos e trocas e oferecer espaço para apresentação de pesquisas, vivências e experiências em EA, além de convidar novos sujeitos sociais à participação na EA. Estamos oferecendo aos participantes conferências, mesas-redondas, minicursos e oficinas, Grupos de Trabalho, homenagens a nomes que marcaram o ambientalismo brasileiro, testemunhos de riquíssimas trajetórias na EA, encontros paralelos, Trilha da Vida, Feira de Trocas, exposições, shows, etc. Teremos ainda quase mil painéis, expostos durante todo o evento, de autores das mais variadas regiões do país. Para que se tenha uma dimensão das proporções do V Fórum, vamos ocupar uma área de 2 mil metros quadrados.

- Quais são os eixos temáticos e a principal abordagem do evento?

O V Fórum é norteado por três eixos temáticos: a Política Nacional de Educação Ambiental, a Formação d@ Educador@ Ambiental e as Redes Sociais de Educação Ambiental.

Temos há alguns anos uma Política Nacional de EA, e já é hora de ouvir a população sobre o que isto tem representado na prática. Temos hoje, também, um Programa Nacional de Educação Ambiental, aberto este ano à consulta pública pela população. Entendemos que o V Fórum seria um bom espaço para discutir, contribuindo para uma avaliação e fortalecimento da Política Nacional de Educação Ambiental: Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), Sistema Brasileiro de Informação em Educação Ambiental (Sibea), e outros.

A formação d@ educador@ ambiental, por sua vez, é uma questão que desponta como uma das grandes prioridades para que a EA em si possa caminhar em direção às suas metas. Reconhecemos o papel da EA na transformação da sociedade, e é fundamental que estejamos atentos à formação dos atores que estarão envolvidos nesta empreitada.

O terceiro eixo retrata diretamente o papel das redes na construção de sociedades sustentáveis com responsabilidade da inclusão social e da proteção ambiental. O V Fórum é um evento da Rebea, e abriga em sua programação um Encontro da Rebea, durante o qual será possível conhecer o resultado de projetos que revelaram o estado da arte da EA em algumas regiões do Brasil. O V Fórum também oferece uma preciosa oportunidade de estar em contato com as pessoas que hoje formam as redes, numa atividade permanente à qual denominamos Conversando com as Redes.

- Como estão organizados os mini-cursos e oficinas?

Muitas pessoas vão aos eventos em busca de formação e informação. Querem se capacitar em novos temas, e costumam encontrar nos congressos oportunidade para tal. Por esta razão, decidimos oferecer um vasto repertório de minicursos e oficinas aos participantes do V Fórum. Havíamos pensado, inicialmente, em cerca de 50 atividades. A quantidade de propostas de minicursos e oficinas encaminhadas à organização do V Fórum, porém, superou nossas expectativas: totalizaram mais de 100 atividades. Num grande exercício de inclusão e flexibilidade, conseguimos viabilizar a oferta de 50 minicursos e 27 oficinas, com temas que incluem as mais variadas interfaces da Educação Ambiental.

- A Educação Ambiental ainda é um tema que gera inúmeras dúvidas, principalmente em relação às práticas educativas escolares. Percebemos que muitos professores não estão "capacitados" ou preparados para trabalharem a Educação Ambiental nos espaços escolares. Neste sentido, qual é a contribuição deste Fórum em relação à inserção da Educação Ambiental na rotina escolar?

A ênfase na formação d@ educador@ ambiental, e sua eleição com um dos eixos temáticos do V Fórum, deixam clara a importância que damos a este aspecto. Ao tema serão dedicadas uma conferência e uma mesa-redonda, e o debate marcará presença ainda em Grupos de Trabalho, minicursos e painéis. Não é fácil trabalhar a EA nos espaços escolares, é muito comum cair em armadilhas. A EA em escolas muitas vezes tende a seguir um mesmo padrão, a se enquadrar em modelos pré-estabelecidos. Os próprios educador@s muitas vezes buscam fórmulas, receitas, roteiros para trabalhar a EA nas escolas. Investir na sua formação é fundamental para que a EA possa ser trabalhada nos espaços escolares em toda sua plenitude, numa visão crítica e emancipatória. Reconhecendo as dificuldades de trabalhar um tema transversal nas estruturas de ensino hoje existentes, mas cientes de que este é o desafio que precisamos encarar para fazer nas escolas uma EA que de fato trabalhe para uma transformação da sociedade.

- Em relação à Internet, qual é a sua importância para o trabalho das Redes de Educação Ambiental?

Nada substitui os encontros chamados presenciais. Porém, a Internet é hoje, inegavelmente, uma ferramenta fundamental para as redes de Educação Ambiental. É através da Internet que os elos das Redes se mantêm em constante conexão. A Internet oferece alternativas para que possamos trocar informações, materiais, conversar, fazer reuniões, etc etc etc. Tem se mostrado  também um importante espaço de mobilização, para o que podemos chamar de ciberativismo. As questões ganham publicidade rapidamente, são disseminadas numa velocidade incrível, e é possível reagir, cobrar providências, de forma ágil e articulada.

A comunicação via Internet tem problemas, é claro. As dificuldades de acesso a equipamentos e provedores, assim como a má qualidade das conexões, são citados de forma recorrente como criadores de uma nova classe de excluídos. A saída porém não é negar a Internet, mas trabalhar a criação de uma cultura digital, buscar caminhos para a inclusão digital, de modo a compartilhar os benefícios que ela oferece.

Outro problema é que somos crianças aprendendo a dar os primeiros passos nessa forma de comunicação, e volta e meia os diálogos são truncados.... os ruídos na comunicação são muitos! Há quem diga o que quer, por se sentir totalmente livre para tal, escondido atrás da telinha do computador, e acabe passando dos limites da civilidade.... mas há, de modo geral, uma grande inexperiência nossa, que leva a interpretações equivocadas e acaba gerando conflitos onde na verdade havia consenso... Faltam os olhares, os gestos, a entonação. E eu tenho encarado esta realidade como uma ótima oportunidade para aprender a escolher as palavras, buscar sempre a máxima clareza, o tom mais adequado. É um grande aprendizado para lidar com as diferenças, para respeitar o outr@ – e saber lidar com as diferenças é essencial para a vida em Rede...

- Onde as pessoas podem encontrar maiores informações sobre o V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental?

Para obter mais informações sobre o V Fórum, e também para fazer as inscrições, basta visitar http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/vforum/index.cfm . Ao preencher o formulário de inscrição é possível optar por minicursos e oficinas, já incluídas no preço da inscrição, que é simbólico frente às dimensões do evento. No site há também informações sobre opções de hospedagem, sobre a cidade de Goiânia, até mesmo plantas do Centro de Convenções. A programação está lá em detalhes, e o site é atualizado permanentemente.

- Aproveite para deixar uma mensagem para os/as leitores/as da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação:

Não é fácil construir um evento como o V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, menos ainda da forma como o estamos fazendo. Mas embora acidentado, é um percurso seguramente verdadeiro, é legítimo. O V Fórum é uma concretização dos nossos anseios, das nossas demandas. É um espaço de trocas, de convivência. Oportunidade para pensarmos junt@s, crescermos junt@s.

Falar é fácil, criticar é fácil. Difícil é fazer, contribuir, ser propositiv@. A mensagem que gostaria de deixar é esta: sejamos propositiv@s. Porque pouco avançamos se ficarmos apenas no diagnóstico do problema, concentrados no que existe de errado, afundando entre queixas e reclamações. Não se caminha, não se constrói deste modo. É preciso levantar os olhos em busca de soluções. Porque elas estarão lá, em algum lugar. E nós seguiremos adiante. Com leveza, com alegria. É o que merecemos.

 
Patrícia, nós agradecemos pela sua valiosa participação nesta edição da Educação Ambiental em Ação. Muito obrigada!

Ilustrações: Silvana Santos