Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
Entrevista
com Patrícia Mousinho (10a.
edição da revista eletrônica EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO)
Apresentação:
Patrícia Mousinho é mais uma entrevistada desta edição da revista
eletrônica Educação Ambiental em Ação. Ela é Bióloga (UFRJ), pós-graduada
em Planejamento e Gerenciamento Ambiental (UERJ), Mestre em Ciência da Informação
(UFRJ). Especialista em Informação, Comunicação e Educação Ambiental, com
experiência em empresas, academia e sociedade civil organizada. Atua há 9 anos
na ONG Ecomarapendi nas áreas de educação ambiental, conservação, resíduos
sólidos, comunicação de risco e indicadores de sustentabilidade. Fundadora e
facilitadora da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ) e
Facilitadora da Rede Brasileira de Educação Ambiental (Rebea), é umas das
responsáveis pela coordenação do V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental.
O V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, que acontecerá de 3 e 6 de
novembro deste ano (2004), na cidade de Goiânia (Goiás), é um importante
evento que se configura como o maior espaço presencial no Brasil para a
disseminação, discussão e troca de experiências sobre Educação Ambiental. - Patrícia, conte-nos um pouco do histórico do Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, como surgiu, quem foram os idealizadores e sua periodicidade: Os
Fóruns de Educação Ambiental nasceram em São Paulo nos anos 1990. Já em sua
terceira edição, realizada em 1994, percebia-se claramente sua vocação como
ponto de encontro dos educadores ambientais de todo o país. A mobilização
gerada pelos fóruns de EA havia alcançado abrangência nacional e, num
processo natural, eles deixaram sua característica regional para se transformarem
em fóruns Brasileiros de Educação Ambiental. Com
o objetivo de consolidar e ampliar os Fóruns, optou-se que passassem a ser
realizados fora do estado de São Paulo e sob a coordenação da Rede Brasileira
de Educação Ambiental (Rebea). Em 1997 aconteceram, então, na cidade de
Guarapari (Espírito Santo), o IV Fórum de Educação Ambiental e o I Encontro
da Rede Brasileira de Educação Ambiental, marcando um momento importante na
consolidação da Rebea. A
decisão de realizar o V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental
veio em 27 de outubro de 2003, numa reunião da Facilitação Nacional da Rebea,
com a definição do apoio do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação
Ambiental (Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente –
DEA/MMA – e Coordenação de Educação Ambiental do Ministério da Educação
– COEA/MEC) ao evento. Optamos por realizar o V Fórum numa cidade central no
país, de modo a facilitar o acesso de pessoas vindas de deferentes regiões, e
a cidade de Goiânia despontou como uma excelente alternativa. - Como você se sente coordenando um evento deste porte? Na verdade
eu não me sinto coordenando o V Fórum, sinto-me como mais um elo das redes,
mais uma pessoa envolvida na construção do V Fórum, ajudando a tecer estes
fios. É uma tarefa ao mesmo tempo encantadora e assustadora... as dimensões do
evento são gigantescas, a expectativa crescente... e a responsabilidade
igualmente grande! - Quantas pessoas estão envolvidas na organização e qual é a expectativa de público para este evento? O V Fórum
está sendo construído, desde o início, de forma coletiva. É um trabalho
muito bonito, feitos a tantas mentes e mãos... um processo complicado, sem dúvida,
com muitas idas-e-vindas, mas verdadeiramente de tod@s. A Rebea hoje é
uma rede de redes, a quantidade de pessoas e instituições de todo o Brasil
envolvidas é difícil de calcular. Esperamos
reunir de 4 a 5 mil pessoas no V Fórum. Já faz sete anos que aconteceu o IV Fórum,
onde estiveram presentes mais de 2 mil pessoas. A lacuna criada fez com que os
encontros regionais recebessem, nos últimos anos, um grande número de
educadores ambientais de todo o país, o que nos levou a esta projeção. E o V Fórum
foi construído numa visão de diversidade – diversidade de atividades, de públicos.
Nosso objetivo é proporcionar aos educadores ambientais do Brasil espaços de
convivência para diálogos e trocas e oferecer espaço para apresentação de
pesquisas, vivências e experiências em EA, além de convidar novos sujeitos
sociais à participação na EA. Estamos oferecendo aos participantes conferências,
mesas-redondas, minicursos e oficinas, Grupos de Trabalho, homenagens a nomes
que marcaram o ambientalismo brasileiro, testemunhos de riquíssimas trajetórias
na EA, encontros paralelos, Trilha da Vida, Feira de Trocas, exposições,
shows, etc. Teremos ainda quase mil painéis, expostos durante todo o evento, de
autores das mais variadas regiões do país. Para que se tenha uma dimensão das
proporções do V Fórum, vamos ocupar uma área de 2 mil metros quadrados. - Quais são os eixos temáticos e a principal abordagem do evento? O V Fórum
é norteado por três eixos temáticos: a Política Nacional de Educação
Ambiental, a Formação d@ Educador@ Ambiental e as Redes
Sociais de Educação Ambiental. Temos
há alguns anos uma Política Nacional de EA, e já é hora de ouvir a população
sobre o que isto tem representado na prática. Temos hoje, também, um Programa
Nacional de Educação Ambiental, aberto este ano à consulta pública pela
população. Entendemos que o V Fórum seria um bom espaço para discutir, contribuindo
para uma avaliação e fortalecimento da Política Nacional de Educação
Ambiental: Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), Sistema
Brasileiro de Informação em Educação Ambiental (Sibea), e outros. A
formação d@ educador@ ambiental, por sua vez, é uma questão que desponta
como uma das grandes prioridades para que a EA em si possa caminhar em direção
às suas metas. Reconhecemos o papel da EA na transformação da sociedade, e é
fundamental que estejamos atentos à formação dos atores que estarão
envolvidos nesta empreitada. O
terceiro eixo retrata diretamente o papel das redes na construção de
sociedades sustentáveis com responsabilidade da inclusão social e da
proteção ambiental. O V Fórum é um
evento da Rebea, e abriga em sua programação um Encontro da Rebea, durante o
qual será possível conhecer o resultado de projetos que revelaram o estado da
arte da EA em algumas regiões do Brasil. O V Fórum também oferece uma
preciosa oportunidade de estar em contato com as pessoas que hoje formam as
redes, numa atividade permanente à qual denominamos Conversando com as
Redes. - Como estão organizados os mini-cursos e oficinas? Muitas
pessoas vão aos eventos em busca de formação e informação. Querem se
capacitar em novos temas, e costumam encontrar nos congressos oportunidade para
tal. Por esta razão, decidimos oferecer um vasto repertório de minicursos e
oficinas aos participantes do V Fórum. Havíamos pensado, inicialmente, em
cerca de 50 atividades. A quantidade de propostas de minicursos e oficinas
encaminhadas à organização do V Fórum, porém, superou nossas expectativas:
totalizaram mais de 100 atividades. Num grande exercício de inclusão e
flexibilidade, conseguimos viabilizar a oferta de 50 minicursos e 27 oficinas,
com temas que incluem as mais variadas interfaces da Educação Ambiental. - A Educação Ambiental ainda é um tema que gera inúmeras dúvidas, principalmente em relação às práticas educativas escolares. Percebemos que muitos professores não estão "capacitados" ou preparados para trabalharem a Educação Ambiental nos espaços escolares. Neste sentido, qual é a contribuição deste Fórum em relação à inserção da Educação Ambiental na rotina escolar? A ênfase na
formação d@ educador@ ambiental, e sua eleição com um dos eixos temáticos
do V Fórum, deixam clara a importância que damos a este aspecto. Ao tema serão
dedicadas uma conferência e uma mesa-redonda, e o debate marcará presença
ainda em Grupos de Trabalho, minicursos e painéis. Não é fácil trabalhar a
EA nos espaços escolares, é muito comum cair em armadilhas. A EA em escolas
muitas vezes tende a seguir um mesmo padrão, a se enquadrar em modelos pré-estabelecidos.
Os próprios educador@s muitas vezes buscam fórmulas, receitas, roteiros para
trabalhar a EA nas escolas. Investir na sua formação é fundamental para que a
EA possa ser trabalhada nos espaços escolares em toda sua plenitude, numa visão
crítica e emancipatória. Reconhecendo as dificuldades de trabalhar um tema
transversal nas estruturas de ensino hoje existentes, mas cientes de que este é
o desafio que precisamos encarar para fazer nas escolas uma EA que de fato
trabalhe para uma transformação da sociedade. - Em relação à Internet, qual é a sua importância para o trabalho das Redes de Educação Ambiental? Nada
substitui os encontros chamados presenciais. Porém, a Internet é hoje,
inegavelmente, uma ferramenta fundamental para as redes de Educação Ambiental.
É através da Internet que os elos das Redes se mantêm em constante conexão.
A Internet oferece alternativas para que possamos trocar informações,
materiais, conversar, fazer reuniões, etc etc etc. Tem se mostrado
também um importante espaço de mobilização, para o que podemos chamar
de ciberativismo. As questões ganham publicidade rapidamente, são disseminadas
numa velocidade incrível, e é possível reagir, cobrar providências, de forma
ágil e articulada. A comunicação
via Internet tem problemas, é claro. As dificuldades de acesso a equipamentos e
provedores, assim como a má qualidade das conexões, são citados de forma
recorrente como criadores de uma nova classe de excluídos. A saída porém não
é negar a Internet, mas trabalhar a criação de uma cultura digital, buscar
caminhos para a inclusão digital, de modo a compartilhar os benefícios que ela
oferece. Outro
problema é que somos crianças aprendendo a dar os primeiros passos nessa forma
de comunicação, e volta e meia os diálogos são truncados.... os ruídos na
comunicação são muitos! Há quem diga o que quer, por se sentir totalmente
livre para tal, escondido atrás da telinha do computador, e acabe passando dos
limites da civilidade.... mas há, de modo geral, uma grande inexperiência
nossa, que leva a interpretações equivocadas e acaba gerando conflitos onde na
verdade havia consenso... Faltam os olhares, os gestos, a entonação. E eu
tenho encarado esta realidade como uma ótima oportunidade para aprender a
escolher as palavras, buscar sempre a máxima clareza, o tom mais adequado. É
um grande aprendizado para lidar com as diferenças, para respeitar o outr@ –
e saber lidar com as diferenças é essencial para a vida em Rede... - Onde as pessoas podem encontrar maiores informações sobre o V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental? Para obter
mais informações sobre o V Fórum, e também para fazer as inscrições, basta
visitar http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/vforum/index.cfm
. Ao preencher o formulário de inscrição é possível optar por minicursos e
oficinas, já incluídas no preço da inscrição, que é simbólico frente às
dimensões do evento. No site há também informações sobre opções de
hospedagem, sobre a cidade de Goiânia, até mesmo plantas do Centro de Convenções.
A programação está lá em detalhes, e o site é atualizado permanentemente. - Aproveite para deixar uma mensagem para os/as leitores/as da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação: Não é fácil
construir um evento como o V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, menos
ainda da forma como o estamos fazendo. Mas embora acidentado, é um percurso
seguramente verdadeiro, é legítimo. O V Fórum é uma concretização dos
nossos anseios, das nossas demandas. É um espaço de trocas, de convivência.
Oportunidade para pensarmos junt@s, crescermos junt@s. Falar é fácil,
criticar é fácil. Difícil é fazer, contribuir, ser propositiv@. A mensagem
que gostaria de deixar é esta: sejamos propositiv@s. Porque pouco avançamos se
ficarmos apenas no diagnóstico do problema, concentrados no que existe de
errado, afundando entre queixas e reclamações. Não se caminha, não se constrói
deste modo. É preciso levantar os olhos em busca de soluções. Porque elas
estarão lá, em algum lugar. E nós seguiremos adiante. Com leveza, com
alegria. É o que merecemos. |