Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
29/05/2004 (Nº 9) Entrevista com Solange T. de Lima Guimarães
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Entrevista com Profa. Dra. Solange T. de Lima Guimarães

(Docente do Depto.de Geografia e do curso de Pós-graduação em Geografia, IGCE/UNESP, Rio Claro; coordenadora do Projeto Voluntário "OLAM - Educação Ambiental para a Paz")

Entrevista realizada na cobertura do evento I Encontro sobre "Percepção e Conservação Ambiental:a Interdisciplinaridade no Estudo da Paisagem", ocorrido nos dias 28, 29 e 30 de abril de 2004 na cidade de Rio Claro/SP.

Por Alice Gehlen Adams

 

A - Solange, como foi que surgiu a idéia de organizar um evento com este enfoque da percepção ambiental?

S - Bom dia Alice, eu gostaria de agradecer sua presença e queria agradecer também a cobertura do evento, porque eu tenho certeza que está sendo uma coisa especial, tanto para mim quanto para você.

A - Com certeza.

S - A idéia de fazer acontecer um evento na área de percepção ambiental vem sendo trabalhada desde há quatro anos atrás, porque havia uma demanda, vamos dizer assim, reprimida, para que houvesse um evento desse. Por exemplo, na área acadêmica, os eventos são especializados. Nós não temos ainda uma abertura para um evento na área ambiental que trabalhe a concepção do meio ambiente, do ponto de vista sócio-ambiental e que congregasse vários profissionais. Então, nós tínhamos assim: pessoas da área de psicologia, da área da medicina, geografia, pedagogia, biologia, arquitetura, fora os outros que eu estou esquecendo, e que sempre estavam  trabalhando em grupos, às vezes mais ou menos isolados, e que muitas vezes não sabiam que o vizinho estava trabalhando com aquilo; então a nossa proposta não era fazer um evento para que as pessoas estivessem vindo em número, volume, um mega-evento. A nossa proposta era colocar as pessoas que realmente estavam trabalhando com esta temática já há algum tempo, e que muitos se conheciam presencialmente, mas naquela situação de “de vez em quando”. Outros se conheciam por telefone, outros ainda, como nós próprias, se conheciam através do mundo virtual.

A - Quantas pessoas foram inscritas para o evento?

S - Nós tivemos 168 inscrições, fora os palestrantes.

A - E qual tu achas que foi a importância da internet como ferramenta para a organização e concretização do evento?

S - Bom, para nós ela foi fundamental, primeiro: porque dada a limitação de recursos do evento, o modo de divulgar era restrito. Contamos muito com a  internet, e aí Alice, com as redes de apoio. Então nós tivemos como rede de apoio o próprio GEAI/Grupo de Educação Ambiental da Internet, que a coordenadora é a Bere, e a Confraria da Coruja da Figueira em Curitiba, com o Élio Muller. Foram os dois pontos de apoio, vamos dizer, virtuais oficiais do evento.

As outras redes, todas divulgaram, então nós tivemos a divulgação na rede de ecoturismo, que o moderador é o Sergio Salvati da WWF, tivemos através do David, que é do Portal Árvore, site que hospeda a revista eletrônica Educação Ambiental em Ação. Basicamente, a divulgação do evento foi feita pela internet. Eu não diria única e exclusivamente, porque aqui no estado de São Paulo nós divulgamos através de folders, mas a ferramenta fundamental foi a internet.

Então como eu avaliaria isso? Nós estamos hoje no terceiro dia, que é o último dia do evento. Parece que a internet funcionou, não só do ponto de vista da divulgação formal do evento, mas parece que ela conseguiu, eu diria, passar um espírito de afinidade, porque você viu e presenciou que todas as pessoas inscritas parecem estar na mesma ressonância.

A - De certa forma já se conhecem, ou já tinham ouvido falar umas das outras.

S - Justo, e quando elas não se conheciam,  elas tinham identidade e afinidades muito semelhantes, então isso foi assim, eu acho que era como se nós tivéssemos uma marca registrada, foi como eu disse: no primeiro dia era o desejo de criar pontes, no último dia a certeza.

A - É verdade, e tem também pessoas do Brasil inteiro não é? A gente vê pessoas da Bahia, Amazonas, então, vários Estados do Brasil presentes e isso confirma a força da internet também, não é?  

S - Nós tivemos pessoas do Norte, vamos dizer, o mais longe do Norte: Manaus. Tivemos do Sul... o Sul principalmente, através de dois estados: Paraná  e Rio Grande do Sul. Aliás, as duas regiões que tiveram maiores inscritos, em primeiro lugar foi o Sul, e depois o Sudeste  -   Minas Gerais e São Paulo. São Paulo era de se esperar, mas o número de inscritos da região Sul foi maior que do Sudeste.

A - Que interessante! E como tu te sentes conhecendo pessoalmente pessoas que tu conhecias somente pela rede, ou telefone? É uma gratificação também, não é?

S - Não é só um gratificação, eu definiria como um encantamento, uma envolvência. Porque ontem nós estávamos conversando, e o Marcelo que é do Rio de Janeiro, da FIOCRUZ falou assim pra mim: “Sabe Sol, eu já era fã da rede, de você, da Berenice, de várias pessoas que estão aí no evento, mas às vezes eu ficava imaginando como vocês seriam ao vivo e a cores”. Ele brincou, e a expectativa foi muito boa, pois ele falou: “Foi melhor do que eu poderia ter imaginado”.

Então eu poderia usar a mesma alegria do Marcelo e dizer: conhecer pessoas que eu conhecia pela internet, e que já havia, graças a relação pessoal, a relação profissional, criado um vínculo, que até era forte porque já havia troca de trabalhos, publicação de artigos em conjunto, capítulos, enfim, já havia trabalho produtivo, embora a gente não se conhecesse olho no olho.

Agora, por exemplo, aumentou o que eu senti, com esse contato pessoal.  Houve um caminho, então, por exemplo: o grupo de São Carlos, que é coordenado pelo professor Matheus (nosso Matheusinho, né?) ele acabou ficando muito próximo agora da rede. O Matheus tinha uma rede, a Berenice tem outra rede, o Marcelo no Rio outra, o Matarezzi outra, e a Esmeralda e o Euler têm outra.

O que eu vi: a necessidade de juntar, e a junção de fato. Por exemplo, ontem foi muito gostoso que nesses encontros virtuais, agora presenciais, saiu uma proposta de trabalho em rede, então a professora Esmeralda já conversou com o Euler, com o Matarezzi, com a Berenice e com os outros que aí estiveram circulando, e já se criou uma proposta de formar realmente um grupo, congregado por gente de perto e gente de longe, que graças a internet fica todo mundo produzindo. Nesse evento, o que foi ruim no início acabou se tornando bom no final. Ele foi feito sem o apoio institucional, conseqüentemente, ele não possuia aquelas obrigatroriedades formais; se  ele estivesse vinculado a uma instituição teria que ter, não teve.

Isto que representou, restrições muito sérias para a gente no início, parece que abriu outras portas, porque eu pude sentir, pude ouvir, e pude contatar pessoas que estão procurando outros caminhos para fazer a coisa acontecer, dar certo, que não sejam os caminhos tradicionais da academia.

Então eu acho que isso, Alice, foi um ganho muito grande, e o fato de que, olha eu sou professora de universidade, mas fazia muito tempo que não via essa ponte tão tranqüila sem necessidade de mostrar olha, "- eu sou a professora doutora tal...",  para conversar com outro que está começando agora...

Então nós tivemos um diálogo muito fluente, sem contradições, mas apresentando sim os contratempos, mas com fluência e uma acessibilidade muito boa.

Professores titulares dialogando com alunos da graduação, com pesquisadores de instituições públicas, privadas, de pesquisa, sem uma necessidade de superioridades acadêmicas, mas criando profundas redes de trabalho efetivo. Então isso para mim foi efetivo: foi o nosso ganho maior. Foi realmente uma abertura de portais, que eu vou ser franca pra você, eu sonhei, mas não acreditava que tivesse a possibilidade de acontecer nesse momento. E fico feliz que tenha acontecido.

A - Que bom então, tudo foi concretizado, tudo deu certo, te desejo muito sucesso, muito obrigada pela colaboração. Foi muito importante a minha vinda e poder cobrir este evento, obrigada.

S - Eu é que queria agradecer o carinho, a cobertura do evento e mais, te dizer que acredite sempre no teu sonho. Você é bem mais novinha que eu, tem idade para ser minha filha, mas eu vou te dizer, acredita no teu sonho. Eu levei um pouco de tempo para acreditar que ele poderia se realizar, mas hoje está se realizando.

 

www.olam.com.br

Ilustrações: Silvana Santos