Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 55) POTENCIALIDADES DA MAMONEIRA SOB A ÓTICA DOS POPULARES DO MUNICÍPIO DE MATÃO SP
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POTENCIALIDADES DA MAMONEIRA SOB A ÓTICA DOS POPULARES DO MUNICÍPIO DE MATÃO SP

 

Rafael Júnior Fulco(1)

Rener Luciano de Souza Ferraz(2)

Jane Lima Batista(3)

Marcelo de Andrade Barbosa(4)

Durvalina Maria Mathias dos Santos(5)

 

([1]) Tecnolando em Meio Ambiente pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Senac São Paulo, Unidade de Jaboticabal. rafael_fulcotst@hotmail.com.

(2) Doutorando em Agronomia (Produção Vegetal) pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista. Docente do Senac São Paulo, Unidade de Jaboticabal. ferraz340@gmail.com.

(3) Graduanda em Biocombustíveis pela Faculdade de Tecnologia de Jaboticabal. Bolsista de Iniciação Científica da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista. bjanelima@gmail.com.

(4) Doutorando em Agronomia (Ciência do Solo) pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista. marceloandrade.uepb@hotmail.com.

(5) Prof. Dra. do Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista. dumaria@fcav.unesp.br.

Resumo

Atualmente o planeta tem passado por inúmeras mudanças, evidenciando o potencial de culturas oleaginosas como a mamoneira. No entanto informações a seu respeito são pouco acessíveis à população. Objetivou-se realizar um levantamento sobre o conhecimento popular a respeito dos potenciais da mamoneira. A pesquisa foi realizada em Matão, SP. Para tanto, foi aplicado um questionário, sendo os dados submetidos às análises exploratórias de componentes principais e agrupamento. Constatou-se que metade dos populares entrevistados possuem conhecimentos a respeito dos potenciais medicinais, tóxicos, industriais e agrícolas da mamoneira. Ações educativas são necessárias para esclarecer a população acerca dos potenciais desta cultura.

Palavras-chave: Ricinus communis L. Conhecimento popular, Estatística Multivariada.

 

1 Introdução

Na atual conjuntura mundial, nas esferas econômicas, sociais e ambientais, muitas mudanças têm ocorrido, elevando o patamar de visibilidade do agronegócio, sobretudo pela expressiva contribuição registrada pelo setor em relação a soluções ambientalmente corretas e economicamente viáveis, contribuindo para o desenvolvimento sustentável (ASHBY, 2016).

Salienta-se que a evolução dos aspectos citados pode ser subsidiada por incrementos qualitativos e quantitativos na oferta de biocombustíveis, notadamente pelo fato destes consistirem em fontes limpas e renováveis de energia (CHEN et al., 2016). Estes pesquisadores acrescentam que os biocombustíveis podem ser obtidos de diversas fontes, como, por exemplo, resíduos industriais, agrícolas, além de grãos de plantas oleaginosas.

De fato, as oleaginosas possuem importante papel neste cenário, dentre as quais pode-se destacar a mamona (Ricinus communis L.), que pelo fato de seu óleo não ser comestível não compete com outras matérias-primas (GUPTA & GUPTA, 2016). É importante destacar que, além da produção de óleo para utilização na obtenção de biodiesel, esta cultura possui potencial para múltiplos usos, como por exemplo, na remediação da contaminação de solos por metais pesados (ANNAPURNA et al., 2016). Entretanto, informações a respeito dos potenciais desta cultura são pouco difundidas para a população, evidenciando a necessidade da realização de pesquisas para identificar a percepção dos populares sobre o que pode ser feito com a planta e seus produtos e subprodutos.

A muito tempo a tomada de decisões na ciência tem sido estigmatizada pela obrigatoriedade de testes matemáticos complexos, o que tem minimizado a percepção e sensibilidade crítica até mesmo dos mais experientes pesquisadores (CORRAL-QUINTANA et al., 2016). Esta equipe de autores reporta que atualmente há expressiva evolução nos métodos de obtenção e análises de dados, sobretudo com a adoção de novas tecnologias e possibilidades de diálogos.

 Neste contexto, o emprego de análise de componentes principais (PCA - Principal Component Analysis) pode ser utilizado com eficiência para reduzir as dimensões do problema de pesquisa em um número menor de variáveis latentes (MUSINGARABWI et al., 2016) tornando a explicação do fenômeno estudado mais simples. Em sentido complementar, a análise de agrupamento (Cluster Analysis) auxilia na visualização e interpretação dos resultados a partir da estrutura de grupos (WANG et al., 2016).

Objetivou-se por meio desta pesquisa realizar um levantamento sobre o conhecimento popular a respeito do potencial medicinal, tóxico, industrial e agrícola da cultura da mamoneira junto à população do município de Matão, SP.

2 Material e Métodos

A pesquisa foi realizada entre os dias 06 e 10 de outubro de 2015 na cidade de Matão, SP. A pesquisa exploratória (GIL, 2010) consistiu na aplicação de um questionário com perguntas estruturadas para avaliar os conhecimentos da população de Matão, SP, a respeito dos potenciais da mamoneira. O questionário foi composto de 8 perguntas, sendo (P1: Possui conhecimento com relação ao potencial medicinal ou tóxico das plantas?; P2: Já presenciou tratamentos de pessoas ou outros animais com plantas medicinais?; P3: Conhece uma planta chamada de mamoneira ou carrapateira?; P4: Utilizaria plantas de mamoneira para fins medicinais?; P5: Teme utilizar mamoneiras para fins medicinais, pois acredita que podem ser prejudiciais à saúde?; P6: Concorda que a mamoneira produz óleo que pode ser utilizado para fabricação de biodiesel?; P7: Acredita que o cultivo da mamoneira pode gerar emprego e renda para produtores familiares?; e P8: Gostaria de receber treinamento para conhecer o potencial medicinal, tóxico e industrial da mamona?). As possibilidades de resposta foram baseadas em escala que variou de 1 a 10, onde 1 correspondeu a total discordância e 10 a total concordância.

Os dados foram padronizados, de modo a tornar a média nula e variância unitária. Visando reduzir as dimensões originais em menor número de construtos latentes, na tentativa de explicar a percepção dos respondentes com maior objetividade, empregou-se análise exploratória de componentes principais (PCA). Posteriormente, a estrutura de grupos foi analisada por meio de agrupamento hierárquico (análise de cluster) utilizando-se do método de Ward’s (HAIR et al., 2009).

3 Resultados e Discussão

            Os resultados da análise de componentes principais permitem explicar 80% da informação relevante no estudo em questão, sendo a variância decomposta em dois componentes principais (CP1 e CP2), onde o primeiro componente retém 58% da variância, enquanto que o segundo reúne 22% da variância remanescente. O CP1 foi formado a partir das perguntas P1, P2, P3, P4, P7 e P8, enquanto que o CP2 por P5 e P6 (Tabela 1).

 

Tabela 1 - Cargas fatoriais das perguntas, autovalores e porcentagem da variância acumulada, associados aos componentes principais. Matão, SP, 2015.

CPs

P1

P2

P3

P4

P5

P6

P7

P8

λ

σ2 %

CP1

-0,773

-0,693

-0,945

-0,891

0,521

-0,552

-0,747

-0,850

4,6270

57,837

CP2

0,263

0,537

0,091

0,055

-0,693

-0,722

-0,534

-0,324

1,7642

22,053

CP: componentes principais, P: perguntas, λ: autovalores, σ2: variância.

 

O primeiro componente principal (CP1) permite identificar os respondentes: R1, R2, R3, R7, R11, R14, R15, R17, R18 e R20, que informaram possuir conhecimento elevado sobre plantas medicinais, e  acreditam que o cultivo da planta pode gerar emprego e renda, além denotarem interesse em receber treinamento sobre os potenciais da mamoneira; divergindo dos respondentes: R4, R5, R6 e R2 que discordam quanto estes aspectos; além dos respondentes R8, R9, R12, R13, R16 e R19 que possuem percepção mediana em relação aos questionamentos. No CP2, é possível separar os respondentes: R4, R8, R9 e R10 que alegam temerem a utilização da mamona para fins medicinais e concordam que a mesma produz óleo para transformação em biodiesel, divergindo da opinião dos respondentes: R5, R6, R16 e R19 (Figura 1).

Figura 1. Projeção bidimensional (Biplot) mostrando a posição relativa dos respondentes e das perguntas realizadas. Matão, SP, 2015.

 

Cabe informar que, na microrregião de Araraquara, no interior do estado de São Paulo, a cultura da mamoneira pode ser vista como planta espontânea (daninha), principalmente pelos produtores de cana-de-açúcar, que relatam enfrentarem dificuldades no controle da espécie R. communis quanto a infestação no canavial. Este estigma de que a mamona é uma praga pode justificar o baixo nível de conhecimento sobre seus potenciais.

Observando-se o agrupamento, constata-se que os respondentes podem ser divididos em 3 grupos. O grupo um (G1) pode ser caracterizado por não possuir conhecimentos a respeito dos potenciais da mamoneira, enquanto o (G2) denota baixo, já o (G3) e formado por respondentes com elevado conhecimento quanto aos potenciais da cultura (Figura 2).

Figura 2. Dendrograma mostrando o agrupamento dos respondentes de acordo o nível de conhecimento a respeito dos potenciais da mamoneira. Matão, SP, 2015.

É importante ressaltar que a identificação destes grupos de respondentes em relação ao conhecimento dos potenciais da cultura pode subsidiar a tomada de decisões quanto ao alinhamento de cultivos de mamoneira com finalidades diversas. De fato, os cultivos de R. communis podem ser explorados em vários aspectos, principalmente sobre a ótica dos princípios agroecológicos, seja para fins medicinais ou tóxicos (extração de princípios ativos para fármacos ou para pulverização e controle de pragas), para fins industriais (produção de óleo para transformação em biodiesel e outras aplicações), ou até mesmo para agricultura e meio ambiente, podendo ser utilizada para recuperação de áreas degradadas, de modo a contribuir expressivamente para mitigação dos impactos ambientais.           

4 Conclusões

Metade dos populares entrevistados possuem conhecimento a respeito dos potenciais medicinais, tóxicos, industriais e agrícolas da mamoneira. Ações educativas são necessárias para esclarecer a população acerca dos potenciais desta cultura.

5 Agradecimentos

Os autores agradecem ao Serviço de Aprendizagem Comercial – Senac São Paulo, Unidade de Jaboticabal pelo apoio logístico à pesquisa e ao Grupo de Pesquisas Agroecoenergia pelo planejamento da pesquisa e análise dos dados.

Referências

ANNAPURNA, D.; RAJKUMAR, M.; PRASAD, M. N. V. Potential of Castor Bean (Ricinus Communis L.) for Phytoremediation of Metalliferous Waste Assisted by Plant Growth-Promoting Bacteria: Possible Cogeneration of Economic Products. In: PRASAD, M. N. V. Bioremediation and Bioeconomy. 1. ed. Holland: Elsevier Ltd. 2016, 149-175.

ASHBY, M. What is a “Sustainable Development”? In: ASHBY, M. Materials and Sustainable Development. 1. ed. Holland: Elsevier Ltd. 2016, 27-38.

CHEN, W.; WU, F.; ZHANG, J. Potential production of non-food biofuels in China. Renewable Energy. v. 85, n. 1, p. 939-944, 2016.

CORRAL-QUINTANA, S.; NUEZ, D. L. L.; VERNA, C. L.; HERNÁNDEZ, J. H.; LARA, D. R. M. How to improve strategic decision-making in complex systems when only qualitative information is available. Land Use Policy. v. 50, n. 1, p. 83-101, 2016.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

GUPTA, R. D.; GUPTA, S. K. Strategies for Increasing the Production of Oilseed on a Sustainable Basis. In: GUPTA, S. K. Breeding Oilseed Crops for Sustainable Production. 1. ed. Holland: Elsevier Ltd. 2016, 1-18.

HAIR, J. F.; BLACK, W. C.; BABIN, B. J.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L. Análise

Multivariada de Dados. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.

MUSINGARABWI, D. M.; NIEUWOUDT, H. H.; YOUNG, P. R.; EYÉGHÈ-BICKONG, H. A.; VIVIER, M. A. A rapid qualitative and quantitative evaluation of grape berries at various stages of development using Fourier-transform infrared spectroscopy and multivariate data analysis. Food Chemistry. v. 190, n. 1, p. 253-262, 2016.

WANG, R.; ZHOU, Y.; QIAO, S.; HUANG, K. Flower Pollination Algorithm with Bee Pollinator for cluster analysis. Information Processing Letters. v. 116, n. 1, p. 1-14, 2016.

Ilustrações: Silvana Santos