Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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15/12/2015 (Nº 54) GESTÃO DE RESÍDUOS: A INFLUÊNCIA DO EMPREENDEDORISMO NA GERAÇÃO DA VANTAGEM COMPETITIVA
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GESTÃO DE RESÍDUOS: A INFLUÊNCIA DO EMPREENDEDORISMO NA GERAÇÃO DA VANTAGEM COMPETITIVA.

 

 

Anderson Aquiles Viana Leite. Mestrando. Mestrado Profissional em Administração - Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). Bolsista do Programa UNIEDU Pós-Graduação. E-mail: anderleite@ig.com.br – Chapecó/SC.

Rudinei Justi. Mestrando. Mestrado Profissional em Administração - Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). E-mail: justi5@ibest.com.br – Chapecó/SC.

Regiane Piroli. Mestranda. Mestrado Profissional em Administração – Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). E-mail: regipirolli@hotmail.com – Videira/SC.

José Elmar Feger. Professor Doutor de Empreendedorismo Sustentável. Mestrado Profissional em Administração – Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). E-mail: elmar.josefeger@gmail.com – Curitiba/PR.

 

 

RESUMO

 

Este artigo dispõe da análise da influência do empreendedorismo alinhado a gestão ambiental por meio do gerenciamento de seus resíduos, em prol de alcançar a vantagem competitiva com a criação de valor advinda da responsabilidade ambiental. Para muitas organizações, as ações sustentáveis significam aumento dos custos e cumprimento da legislação, mas as empresas empreendedoras citadas definem como oportunidade a implantação de práticas sustentáveis na gestão de resíduos, não como um dever de seguir normativas legais ou de responsabilidade social, mas por meio de estratégias inovadoras obterem uma vantagem competitiva real influenciada pelo aproveitamento das oportunidades que representam um diferencial no mercado e melhoria da competitividade. Os sistemas de gerenciamento de resíduos vêm se tornando um aliado das organizações que planejam suas atividades, diminuindo os impactos ao meio ambiente, com ações preventivas e pautadas pela inovação, transformando problema ambiental em ganhos de lucratividade, imagem positiva, novos negócios e redução dos custos.

 

Palavras-chave: Gestão Ambiental. Resíduos. Empreendedorismo. Competitividade.

 

 

 

 

1 INTRODUÇÃO

            Nas últimas décadas, várias descobertas científicas caracterizaram grandes problemas ambientais ao planeta – efeito estufa, derretimento de geleiras, aquecimento global, desertificações regionalizadas, situações todas que sensibilizaram os pesquisadores e os governos de diversos países sobre a problemática ambiental, temendo-se que o planeta futuramente tenha problemas para a perpetuação da espécie humana. A partir da Conferência de Estocolmo de 1972, que alertou da necessidade de uma harmonização das relações entre o homem e meio ambiente e do relatório de Brundtland, que oficializou a necessidade de um crescimento sustentável no planeta.

Neste contexto, os resíduos gerados pelas diversas atividades humanas é um problema que necessita de uma solução ambiental correta. Visto os danos que podem causar ao meio ambiente, por meio da poluição de mananciais, escassez dos recursos naturais e problemas de saúde pública. No âmbito empresarial, esses agravos verifica-se pelo aumento do custo de produção, desperdício de materiais, penalidades legais, perda de reputação no mercado, custos de tratamento, etc. No Brasil, o marco inicial do processo legal de redução do impacto ambiental foi instituído pela Lei 12.305 de 2010 que criou a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

            Caracterizada toda esta problemática relacionada à questão dos resíduos produzidos pela sociedade, o presente artigo busca pesquisar nas redes sociais, livros, revistas e artigos científicos, situações em que se verifiquem vantagens competitivas obtidas por empresas por meio de atitudes empreendedoras que repensaram a gestão de seus resíduos de forma inovadora a obter um ganho de valor para si e para a sociedade, podendo advir de novos conhecimentos sobre seu tratamento, uma nova utilidade, uma nova visão que o resíduo assume para a empresa. Para Souza e Fracasso (2006) o conceito de atitude empreendedora “é uma predisposição aprendida, ou não, para agir de forma inovadora, autônoma, planejada e criativa, estabelecendo redes sociais”. Este estudo exploratório divide-se nas seguintes etapas: (1) referências bibliográficas, com aspectos e exigências da atual legislação nacional que normatiza a geração de resíduos; (2) definição da vantagem competitiva e a influência do empreendedorismo; (3) a gestão de resíduos como vantagem competitiva e alcançada pelo empreendedorismo; e (4) casos de empresas que obtiveram vantagem competitiva por meio da influência do empreendedorismo utilizando-se da inovação na temática resíduos.

            Por meio deste estudo, busca-se demonstrar que os resíduos podem deixar de ser um “peso” para a organização e transformar-se em uma oportunidade de negócio por meio da inovação e do empreendedorismo empresarial transformando em uma nova possibilidade de aumento do faturamento ou de criação de valor. A inovação é a ferramenta que os empreendedores encontram na transformação de uma oportunidade em um negócio diferente, sendo que ela pode ser aprendida e praticada (DRUCKER, 1987).

 

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O controle e o gerenciamento dos resíduos nas organizações demonstram a utilidade da inovação do mercado, pois agregam valores e geram ganhos que fazem a diferença na competição. Para Barbieri (2007) a gestão ambiental é a administração do exercício de atividades econômicas e sociais de forma a utilizar de maneira racional os recursos naturais, renováveis ou não. Deve visar o uso de práticas que garantam a conservação e preservação da biodiversidade, a reciclagem das matérias-primas e a redução do impacto ambiental das atividades humanas sobre os recursos naturais.

Quando se fala em meio ambiente, no entanto, o empresário imediatamente pensa em custo adicional, dessa maneira passam despercebidas as oportunidades de uma redução de custos e elevação da competitividade, que são bem observadas pelas organizações empreendedoras nas questões do meio ambiente. Ressaltando o atual momento, a “a era do empreendedorismo”, aqueles que são os empreendedores estão aproveitando as oportunidades, abolindo impedimentos comerciais, restaurando os conceitos econômicos e criando novos processos, assim estão “quebrando paradigmas” para agregar riquezas (DORNELAS, 2001).

 

2.1 OS RESÍDUOS E A LEGISLAÇÃO NACIONAL

Os problemas ambientais têm gerado muitas discussões, principalmente em decorrência da inquietação quanto à escassez dos recursos naturais e com a degradação provocada pelo homem ao meio ambiente (DRUZIAN, SANTOS, 2006). Com o crescimento das cidades, o acúmulo de resíduos (lixo) e a degradação ambiental aumentaram vertiginosamente (ALENCAR, 2005). O consumismo adquiriu uma perigosa e equivocada condição de valor social, em uma sociedade que ainda não aprendeu a relacionar suas atitudes individuais ou coletivas de consumo à produção, à degradação ambiental e à consequente perda da qualidade de vida das pessoas (BRASIL, 2005).

Com o intuito de diminuir os impactos ambientais e exigir dos cidadãos brasileiros uma maior conscientização para esta problemática social, o governo federal institui em 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos, por meio da Lei 12.305/10. Por este mecanismo legal, todos os geradores de resíduos são responsáveis pelo que geram de poluentes e devem dar uma destinação adequada aos mesmos.

Acompanhada desta normativa se encontram outras específicas que regulamentam diferentes setores empresariais e que obrigam os gestores a adequarem a sua produção. Na área da saúde, por exemplo, os resíduos devem seguir as orientações da Resolução 306/04 da ANVISA e a Resolução 308/05 do CONAMA, devem gerenciar e tratar seus resíduos, classificando-os em grupos distintos: biológicos, químicos e perfuro cortantes. Na construção civil, as diretrizes, critérios e procedimentos dos seus resíduos são geridos pela Resolução 307/02 do CONAMA. Como se verifica, há várias normativas específicas que obrigam as empresas a observarem ações de proteção ambiental, para não serem envolvidas em crimes contra o meio ambiente. Infelizmente, a maioria das empresas simplesmente tomam posições de proteção ambiental quando sofrem a ação fiscalizatória do poder público (LAU E RAGOTHAMAN, 1997).

Apesar disto, outras empresas veem na obrigação legal, de adequação ao mercado, uma oportunidade empreendedora para fazer algo novo, por meio da gestão de seus resíduos, criando uma forma de obter vantagem competitiva. O empreendedor é um elemento do processo de destruição criativa, firmemente indicando novos métodos de produção ou novos produtos, que superam métodos antigos ineficientes e mais dispendiosos (SCHUMPETER, 1950).

 

2.2 A VANTAGEM COMPETITIVA E A INFLUÊNCIA DO EMPREENDEDORISMO

Entende-se como vantagem competitiva das empresas, a sua posição de liderança adquirida no mercado. Segundo Porter (1989), uma vantagem competitiva sustentável pode advir de estratégias baseadas na liderança em custo, diferenciação ou enfoque. Se uma empresa pode alcançar e sustentar a liderança em custo total ou em diferenciação, então ela será um competidor acima da média em sua indústria. A estratégia competitiva visa estabelecer uma posição lucrativa e sustentável contra as forças que determinam a concorrência no mercado.

Avaliando a possibilidade que a gestão ambiental direcionada para as questões abrangendo os resíduos pode se tornar uma forma de alcançar uma vantagem competitiva para a organização. Callenbach (1993) ressalta que a gestão ambiental está ligada à ideia de resolver os problemas sobre as questões ambientais visando o benefício da empresa, suas principais motivações são cumprir as leis e melhorar a imagem da organização.

A princípio, as empresas identificavam apenas a ampliação dos seus custos operacionais para atenderem as cobranças normativas impostas de âmbito ambiental. A partir dessa constatação, Porter e Van der Linde (1995) criticaram essa visão estática da economia que entende a regulamentação ambiental apenas como um fator para acréscimo dos custos, eles discorreram sobre a possibilidade de novas oportunidades que a ampliação da gestão ambiental se apresenta, indicando como uma área pouco explorada para inclusão de novas tecnologias em produtos e processos. Porter e Van der Linde (1995) afirma que as leis ambientais podem instigar um desenvolvimento de inovações que permitam às organizações atenderem às normas e também atingir tecnologias que podem reduzir os custos de tratamento da poluição que viabilizam a melhor reutilização dos resíduos, como reciclagem de sucata, a melhoria do tratamento e conversões de materiais de emissões tóxicas em recursos reutilizáveis.

Concluíram que as organizações que se enquadraram nas exigências ambientais, desenvolveram novas tecnologias e inovações, em uma atitude pautada no empreendedorismo, aproveitando as oportunidades e gerando ganhos de competitividade e lucratividade. Uma das qualidades comuns aos empreendedores de sucesso é a capacidade para identificar oportunidades (FERNALD, SOLOMON, 1987).

A compreensão que uma organização, por meio de uma melhor gestão ambiental, pode melhorar a sua competitividade e adquirir vantagens perante seus competidores, levaram a se estruturarem não apenas para cumprir as exigências legais, mas para se beneficiarem criando valor para seu negócio por meio de novas oportunidades. Hojda (1998) explicou que toda a estruturação de normas envolvidas com o Sistema de Gestão Ambiental tem aspectos importantes, além de cumprir às exigências da comunidade e do consumidor-cidadão e atender as demandas das normas específicas ao meio ambiente, pode oferecer às empresas vantagens competitivas mensuráveis quantitativamente: diminuição de custos, a cargo da economia de recursos naturais e redução da geração de resíduos; possibilidades de adentrar em mercados restritos; economia de valores oriundos de possíveis indenizações por responsabilidade civil e facilidade para obter financiamentos interligados ao crédito para utilização ambiental. Essa situação pode ser explicada por meio das oportunidades empreendedoras e a perspicácia empreendedora, onde Kirzner (1973, 1997, 2000) esclarece que os empreendedores têm distintas crenças sobre o valor atinente dos recursos a sua disposição, e assim, podem modificá-los de diversas formas em circunstâncias variadas e que possuíam a capacidade de compreender, mesmo sem necessariamente estar buscando, as oportunidades que estavam ocultas ou não foram observadas no contexto.

Assim, as empresas entenderam que uma gestão ambiental pode ser incluída na sua estratégia, buscando tornar-se uma real vantagem competitiva. Orsato (2002) explicou que a opção de adotar estratégias ambientais necessita ser originada pela potencialidade de geração de vantagem competitiva. Corroborando com essa linha de pensamento, Sachs (2002) afirmou que uma combinação de recursos naturais sustentáveis, adicionada a uma mão de obra qualificada e o uso de tecnologia, inovação e gestão resulta em uma vantagem comparativa inigualável. Burke e Logsdon (1996) explicam que essa responsabilidade socioambiental das empresas torna-se estratégica quando a organização produz melhoramentos essenciais em seus negócios.

Seguindo aos preceitos da vantagem competitiva de Porter (1989), uma organização que tem uma gestão ambiental estruturada pode alcançar uma vantagem competitiva, sendo por meio da mudança no processo de produção reduzindo resíduos (ligada a estratégia baseada em custos). Criando um produto novo gerando inovação com menos resíduos, utilização de resíduos como inovação em produtos (ligadas a estratégia baseada em diferenciação). Na entrada em novos mercados, obtendo competitividade no mercado internacional pelo gerenciamento dos resíduos e com reconhecimento no mercado pelos consumidores ou stakeholders (ligadas a estratégia baseada no enfoque). Donaire (1999) indicou que diversos estudos despontam que existe um número crescente de consumidores que estão dispostos a adquirir, por um valor superior, os produtos de empresas que cooperam para a preservação ambiental.

Entendendo a forma de consolidar a utilização estratégica da questão ambiental nos processos produtivos das organizações, Reydon et al. (2007) e Lustosa (2003) explanaram que a estratégia ambiental deve ser introduzida nas táticas de competitividade da organização pela via de inovações que reduzam os impactos ao meio ambiente, mas que gerem a possibilidade de domínio nos novos mercados e consumidores, especialmente pelas ações ecologicamente mais apropriadas como: implantação de tecnologias ambientais, adoção de um mecanismo de gestão ambiental, utilização racional de recursos naturais e o tratamento ou rejeite adequado dos resíduos durante o ciclo de vida do produto.

Essas principais características de implantação de novas tecnologias e investimentos em pesquisa e desenvolvimento na busca de ganhos de competitividade e predomínio sobre novos mercados consumidores por parte de algumas organizações, são influenciadas pelos alicerces do empreendedorismo nas organizações. As companhias almejando obter a força de mercado são direcionadas a promover inovações através de pesados investimentos em P&D, onde a maior característica é o processo de acumulação criativa (SCHUMPETER, 1950).

Esse investimento na gestão ambiental que antes representava unicamente um aumento de custos de produção com elevação dos preços dos produtos com objetivo de atender especificidades das leis passou a ser uma ferramenta estratégica que poderia garantir uma vantagem competitiva, assim os gastos para formar essa gestão passaram a serem compensadores. Lustosa (2003) interpretou tal fato, afirmando que as normas ambientais redefiniram novos métodos de atuação da organização, estimulando a implantação de inovações para reduzir os custos totais dos produtos e processos, assim, aumentando o seu valor de mercado e aperfeiçoando a sua competitividade.

Esta mudança para uma atitude empreendedora e inovadora por parte de algumas organizações denota que o empreendedor observa o problema e por meio de novos processos e ideias, busca entender a sua essência, visando encontrar saídas alternativas para aumentar sua competitividade e adquirir vantagens sobre outras empresas. O empreendedor é um elemento com a capacidade distinta de conquistar espaços e lacunas de mercado para desfrutar, em condições excepcionais, de vantagens daí ocorridas, ele possui uma competência única de integrar e de completar o melhor conjunto de insumos imprescindíveis a um determinado processo produtivo (LEIBENSTEIN, 1968).

Reydon et al. (2007) ressaltam que os investimentos na gestão ambiental, na implantação dos processos de produção e decisão nas organizações não provocam apenas o crescimento dos custos operacionais, mas incentivam uma série de benefícios que podem superar positivamente tais gastos, resgatando a visão de Porter e Van der Linde (1995), onde a competitividade entre as empresas inspira que uma gestão ambiental apropriada e bem estruturada passando a ser uma vantagem competitiva.

Assim, as organizações que adotam investimentos na condução da gestão ambiental almejam dentro dessa realidade e expectativas do mercado, extrair resultados econômicos e criar vantagens competitivas. Moreno, Lorente e Jiménez (2003) comprovaram tais efeitos conduzindo uma pesquisa junto a empresas espanholas, constatando por intermédio de indicadores estatísticos, que as organizações que possuem uma estratégia de gestão ambiental proativa conseguiram agregar novas competências que diferenciaram de seus competidores. Já as empresas que trataram a dimensão ambiental de forma passiva ou reativa alcançaram, no máximo, a diminuição de seus custos operacionais.

 

2.3 GESTÃO AMBIENTAL E GESTÃO DE RESÍDUOS COMO VANTAGEM COMPETITIVA.

O desenvolvimento na área ambiental, no mundo dos negócios, evoluiu significativamente a partir dos anos 90 deixando de ser uma simples possibilidade de cumprir com as exigências ambientais, para adotar uma posição de proteção ambiental associado à competitividade econômica. Segundo Hoffman (2000) muitas empresas, ao se dedicarem e investirem nas ações ambientais, também associados a uma boa gestão administrativa está verificando que práticas que levam em conta o meio ambiente, inseridas no pensar gerencial da firma, tem o potencial de trazer retorno para a empresa, não sendo unicamente um fardo, mas sim algo que pode prospectar novos objetivos para a organização.

 As empresas que cumprem as normas ambientais e tem responsabilidade social desenvolvem uma reputação positiva no mercado que está ligada, geralmente, a uma boa gestão administrativa e econômica, pois estas empresas teriam menores custos implícitos (riscos de multas, encargos, redução de resíduos, por exemplo) o que gera confiança em stakeholders (bancos sociedade, fornecedores, acionistas e clientes). Esta reputação é a origem das ações na área ambiental por parte das empresas que podem agregar valor a seus produtos e serviços e explorar novas fatias no mercado (SOUZA, 2002).

A organização repensa a sua produção no âmbito da gestão ambiental sob a influência do empreendedorismo, buscando em seu novo processo o intuito de aproveitar oportunidades e obter vantagem competitiva. A metodologia para identificar as oportunidades pode ser analisada como principal componente da estrutura de criação de novos processos e empreendimentos (GARTNER, 1985). Ao atuarem efetivamente na busca por inovações, nos processos, produtos e estratégias, as empresas acabam indiretamente se adequando às exigências externas dos governos, dos mercados ou da própria sociedade, o que pode diminuir tensões para a adoção de práticas ambientais mais sustentáveis (SANCHES, 2000). Neste contexto da vantagem competitiva utilizando-se de ações proativas empreendedoras, a gestão de resíduos é um dos focos mais importantes de um sistema de gestão ambiental.

            No setor empresarial há várias formas de se aplicar uma gestão direcionada para a temática dos resíduos e que conferem vantagem competitiva. Orsato (2002, p.5) ressalta esta situação:

 

“Nas últimas décadas do século XX, um grande número de empresas aumentou a competitividade graças às ações baseadas nos princípios da qualidade total. Ao identificar as fontes dos problemas de qualidade, empresas reduziram ou eliminaram os antagonismos entre qualidade e custos. Empresas que buscaram o defeito zero e melhorias contínuas dos processos organizacionais melhoraram a qualidade dos produtos e serviços ao mesmo tempo em que os custos foram reduzidos. Uma vez que produtos e serviços de melhor qualidade e custos reduzidos têm maiores e melhores chances de sucesso no mercado, tais práticas obviamente influenciaram positivamente a competitividade das empresas.”

 

            Segundo Silva Filho e Sicsú (2003) há a possibilidade de redução de custos, procedente da diminuição do consumo dos recursos naturais e dos resíduos gerados, e consequente diminuição de gastos com tratamento, armazenagem; possibilidade de conquista de mercados internacionais, por adequar-se a normas nacionais e internacionais do comércio; cumprimento às exigências ambientais e legislação; melhoria da reputação da empresa decorrente de uma administração responsável; facilidade de crédito no mercado financeiro; facilidade para processos de certificação ambiental.

            A busca do presente estudo é o encontro por empresas que ao adotar uma atitude empreendedora obtiveram vantagem competitiva investindo ou deslocando uma atenção especial para a gestão de resíduos, pela análise do processo produtivo, de um novo produto no mercado, por novos métodos de tratamento ou por novas formas de adequação às exigências ambientais. O tema sustentabilidade ambiental esta em evidência no conceito econômico e social, acredita-se que tratar a gestão de resíduos se torne uma via de sucesso para a obtenção de vantagem competitiva.

            Para se adquirir um posicionamento ambiental competitivo, trabalhando a questão dos resíduos nas empresas empreendedoras, é importante considerar o uso de tecnologias inovadoras para se avaliar o processo de produção. Como elemento fundamental para assegurar o desempenho sustentável nas empresas, as tecnologias ambientais, citadas no estudo de Sanches (2000) são importantes para corroborar esta rentabilidade e competitividade na maioria das organizações, e fornecer subsídios para identificar os pontos que devem ser pensados e atacados pela empresa.

Nesta abordagem da autora, a gestão direcionada aos resíduos pode se tornar uma forma de obtenção de vantagem competitiva. As tecnologias ambientais repensam a produção, os processos, a prevenção e controle da poluição são divididos em: (1) tecnologias de controle de poluição (end-of-pipe), para fins de evitar que resíduos poluam o meio ambiente, envolvendo controle de efluentes e emissões diversas, sem realizar intervenções no próprio processo; (2) tecnologias de prevenção da poluição, estão focadas no processo produtivo para torná-lo mais eficiente. Para reduzir a produção de resíduos e poluentes por meio de reavaliação dos processos de produção, reutilização e reciclagem; (3) tecnologias de produtos e processos, visam-se o desenvolvimento de tecnologias de conservação de matéria-prima, energia e a redução nos processos de substâncias tóxicas e resíduos. Para os produtos, objetiva-se a redução de impactos ambientais por meio do desenvolvimento de produtos menos degradantes ao meio ambiente (SANCHES, 2000).

            O uso de tecnologias na análise dos processos e produtos faz com que a administração analise o meio ambiente e seus poluentes de forma a evitar a degradação ambiental, mais importante que isto é um repensar direcionado para a identificação de oportunidades que possam advir de um novo produto menos poluente, de um novo processo com menor impacto ambiental e com menor custo de produção. Neste contexto, expõe a teoria da destruição criativa de Schumpeter (1950) que explica que os avanços que sustentam o funcionamento da estrutura capitalista e empresarial resultam dos novos produtos de consumo, das novas formas de produção ou transporte, abertura de novos mercados e dos novos métodos de organização da indústria empregada pelas empresas empreendedoras, é todo um método de transformação industrial que revoluciona invariavelmente a composição econômica destruindo o antigo e criando novos meios.

 

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este estudo foi concretizado por meio de uma pesquisa de caráter exploratória. Para Gil (1999) o estudo de natureza exploratória abrange uma prospecção bibliográfica com a análise de exemplos que instiguem o seu entendimento, tendo como escopo básico: desenvolver, elucidar e alterar conceitos e ideias para estruturar a formulação de novas abordagens, proporcionando um maior conhecimento para o pesquisador para que consiga estabelecer problemas mais precisos ou instituir hipóteses que podem ser pesquisadas posteriormente, proporcionando uma visão sistêmica de um fato, do tipo aproximativo. Uma vez que foi empregado um estudo de casos múltiplos, onde Yin (2005) aborda que o estudo de caso pode decorrer de casos únicos ou múltiplos. Para este estudo, a opção desta metodologia decorre da probabilidade de ser investigado um número maior de empresas e de variáveis relacionadas à gestão de resíduos transformados em vantagem competitiva pelas organizações.

O método utilizado distingue-se como uma pesquisa qualitativa, uma vez que o foco do estudo envolve aspectos de natureza subjetiva na relação entre o emprego de uma gestão de resíduos pela organização e a obtenção de uma vantagem competitiva influenciada pelas atitudes de empresas empreendedoras. Godoy (1995) explica que os aspectos principais de uma pesquisa qualitativa, que avalia o ambiente como fonte dos dados e o pesquisador como a ferramenta chave; uma vez que o processo é o enfoque principal de abordagem; o exame dos dados foi efetuado de maneira intuitiva e indutivamente pelo pesquisador; tem como foco maior a explicação de fenômenos e a imputação de resultados. Envolvendo a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, organizações, locais e processos que interagem pelo contato do pesquisador com a ocorrência estudada, buscando envolver os fenômenos conforme o ponto de vista dos participantes do estudo.

O objeto do estudo são organizações empresariais de micro, pequeno, médio e grande porte, de âmbito internacional ou nacional, em diversos segmentos, que se caracterizam por dois elementos principais: 1) Exercem uma gestão de seus resíduos; 2) Que transformaram os resultados advindos de sua gestão de resíduos em algum tipo de vantagem competitiva por meio da influência de atitudes empreendedoras e inovadoras. Também foi dado um enfoque nas exigências legais, desta forma, abrange a necessidade da organização adaptar-se a essas normas buscando extrair formas de ganhos deste processo. Para ratificar, o estudo tem por objetivo demonstrar que a gestão de resíduos pode deixar de ser um ônus de imposição de lei, para se posicionar como uma vantagem competitiva nos mercados que as empresas atuam, podendo se tornar uma estratégia ligada à competitividade.

A coleta de dados foi realizada nos meses de Dezembro de 2014 a Fevereiro de 2015. Este estudo foi realizado por meio da utilização de dados secundários extraídos de sites de busca na Internet, redes sociais das organizações, documentos com acesso público e investigação bibliográfica. Para a análise dos dados foram empregadas técnicas de interpretação e explicação, buscando extrair dos dados apurados para constituição de dados e informações, efetuando sua relação com a base teórica.

 

4 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES DA PESQUISA

 

Por meio do levantamento e pesquisa, identificaram-se as empresas que pela influência do empreendedorismo conseguiram obter vantagem competitiva utilizando-se de seus resíduos como foco principal. Pela identificação de um novo produto originado de resíduo gerado, ou redução na geração do resíduo resultando em ganho no custo ou de receita, por uma nova alternativa de tratamento ou reuso de seu resíduo gerando economias para a organização.

As ações em relação aos resíduos podem ser de diferentes circunstâncias ou retornos para a empresa. A capacitação, em termos de processos e produções, por meio da utilização do conhecimento e inovação, tem um papel central cada vez mais importante, na sua competitividade (CASSIOLATO & LASTRES, 2000). A pesquisa identificou os seguintes casos que evidenciaram que resíduos podem gerar vantagens competitivas:

Como primeiro caso identificado, a 3M, segundo Porter e Linde (1995) esta empresa obteve vantagem competitiva quando pressionada pela legislação americana sobre a constante emissão de solventes tóxicos de sua produção. A empresa efetuou pesquisas que resultaram no desenvolvimento de novos produtos, surgindo então substâncias à base de soluções aquosas que reduziram o impacto ambiental e os custos da produção, adequando-se às exigências legais de cunho ambiental. A forma adotada para tratar o seu resíduo resultou no surgimento de um novo produto inovador que não polui o meio ambiente. Abandonou-se um processo que gerava resíduos tóxicos, buscou em pesquisas, surgindo um produto não poluente que satisfez as necessidades do negócio.

A Xerox por meio de um programa de reciclagem e reutilização de componentes de seus produtos obteve uma redução significativa de seus custos de produção. A empresa desenvolveu copiadoras duráveis, inclusive com cartuchos reutilizáveis, somando-se a redução destes custos em todo o processo, a Xerox economizou em torno de US$ 200 milhões ao ano (MARTINS e NASCIMENTO, 1998). A Xerox reduziu suas despesas com montagem de seus produtos com os componentes recicláveis, a reutilização e reciclagem são estratégias que diminuem custos de extração e processamento de novos materiais.

A Du Pont & Co, para se adequar a legislação americana acabou descobrindo uma nova utilidade para seu resíduo – HMI.  Descobriu-se que este subproduto do Nylon pode ser empregado nas indústrias farmacêuticas e de tintas. Anteriormente este produto era descartado, poluindo o meio ambiente, porém com esta descoberta aos poucos se tornou um dos seus produtos mais rentáveis (Sanches, 2000). Ao pensar o seu resíduo, a Du Pont fez esta descoberta gerando retorno financeiro, por ser o próprio resíduo uma inovação.

A IBM cultiva a liderança em criação, desenvolvimento e manufatura com as mais avançadas tecnologias em sistemas de computadores, software, sistemas de rede, dispositivos de armazenamento e microeletrônica. A IBM está comprometida com a liderança ambiental em todos os seus negócios com políticas corporativas sobre instalações com trabalho seguro e saudável, proteção ao meio ambiente, conservação energética e recursos naturais. “Em vez de pagar US$ 1,5 milhão de dólares para despejar os materiais usados em um aterro sanitário, a IBM encontrou uma maneira de vender esses "resíduos" por US$ 1,5 milhão de dólares, resultando em melhorias líquidas de US$ 3 milhões” (RECYCLEMATCH, 2010).

 A Ambev incentiva novas atitudes em relação à preservação de seus recursos. Isto não é apenas um projeto, é um compromisso garantindo excelência, respeito e colaboração. Apresentando uma postura sustentável (AMBEV). A Ambev não comercializa somente as cervejas das marcas Brahma e Antártica. No ano passado, 98,2% de todos os subprodutos gerados no processo de fabricação de bebidas foram reaproveitados. Na ponta do lápis, a empresa gerou uma receita extra de R$ 80,3 milhões com sua política de redução de impactos ambientais, como a reciclagem de garrafas PET (ISTOÉ DINHERO, 2011).

A GE (General Eletric), gigante de tecnologia com 130 anos, a sustentabilidade faz parte da sua cultura e estratégia de negócios. Ela conta com um comitê de gestão de risco que regem as visões sustentáveis da organização (GE). As várias atividades de reciclagem da GE geraram receitas de mais de US$ 2,5 bilhões entre 2007 e 2010. Em 2010, a GE gerou US$ 1 bilhão com a venda de resíduos (RECYCLEMATCH, 2009).

A General Motors almeja reduzir à zero o volume de resíduos enviados para aterros nas 125 fábricas da companhia até 2020. Este é o objetivo do programa Landfill Free, que só em 2012 mandou para a reciclagem 90% de todo o lixo gerado no processo de fabricação de seus carros, o que gerou uma receita de R$ 2 bilhões, segundo o último relatório de sustentabilidade da organização (ECODESENVOLVIMENTO, 2013).

A atuação da ArcelorMittal Brasil trabalha na constante busca da rentabilidade ao mesmo tempo em que agrega valor para seus stakeholders. Para alcançar esses objetivos, a organização orienta-se pelos princípios da sustentabilidade mantendo as melhores práticas de gestão sobre pessoas e meio ambiente, especialmente em relação à saúde e segurança dos seus profissionais, na eco eficiência em seus processos e integração com a comunidade nos seus arredores (ARCELORMITTAL). A política de gestão de resíduos valeu uma economia de R$ 100 milhões à siderúrgica ArcelorMittal no ano passado. Considerado pouco, diante dos R$ 16,4 bilhões faturados pela empresa no Brasil, em 2009. Mas não é só no lucro que a ArcelorMittal está interessada, mas, por exemplo, ao vender 60% de sua escória siderúrgica aos produtores de cimento no mercado doméstico (ISTOÉ DINHERO, 2011).

Segundo Barbosa (2010), a empresa Unilever apresenta uma consciência verde, com baixos impactos ambientais e focados na sustentabilidade. Sua agenda ecológica tem mostrado lucratividade, não apenas para o meio ambiente e sim para o bolso do consumidor e para o caixa da empresa. Seu objetivo é até 2020 crescer 50% na mesma medida em que reduz seu impacto ambiental. A Unilever apresenta percentuais relevantes que demonstram o compromisso da organização com a sustentabilidade, no Brasil a empresa conseguiu reduzir as emissões de CO2 em 59% desde 2004, enquanto o consumo de água caiu 25%, 98% dos resíduos gerados na empresa são encaminhados para a reciclagem. Em 2009, a Unilever liderou pelo 11º ano consecutivo o Índice Dow Jones de Sustentabilidade no setor de Alimentos e Bebidas devido ao programa que mantém de estimulo à agricultura sustentável (BARBOSA, 2010).

As estratégias inovadoras na gestão ambiental não ficam restritas as grandes organizações internacionais ou as companhias brasileiras de grande porte. No âmbito das empresas de micro, pequeno e médio porte, existem exemplos de sucesso sob a influência do empreendedorismo na aplicação de ações para gestão de seus resíduos que resultaram em vantagem competitiva e criação de valor. Segundo Velani (2009), a Mutupiranga Industrial Ltda., sediada em Nilo Peçanha (BA) apresentou o projeto Programa de Gerenciamento de Resíduos e Subprodutos e ganhou o prêmio CNI de Ecologia – 2001, na modalidade Micro e Pequena Indústria. O projeto faz a reutilização da borra oleosa que sai da extração do azeite de dendê e destina para a produção de sabão pedra. Os resíduos das fibras se prestam como combustíveis para as caldeiras de produção de energia e vapor. Há, portanto um reaproveitamento significativo dos resíduos que geram retornos financeiros. Apenas o sabão pedra incrementa R$ 29 mil mensais, algo em torno de 20% das receitas da empresa. A economia com energia elétrica em torno de R$ 6,8 mil mensais.

A empresa Salve Terra, em 2010 decidiu investir em um empreendimento que tornasse mais visível as ideias relacionadas à consciência ambiental que desenvolve camisetas, bolsas, acessórias e até móveis para casa com produtos reciclados e sustentáveis. A empresa ainda desenvolve embalagens e acessórios de moda totalmente reciclados, além de produzir sabão em barra a partir de óleo de cozinha descartável. Com garrafas PET, a empresa fabrica ainda pulseiras, colares, brincos e outros acessórios. A loja Salve Terra abandonou o espaço físico para gerar ainda menos resíduos. Hoje, a empresa funciona unicamente na internet e conta com parcerias virtuais de outros sites e blogs. Querendo demonstrar como é importante a conscientização e as possibilidades de reaproveitamento de materiais que seriam jogados nos aterros sanitários, apresentado o seu diferencial competitivo em acessórios femininos que são peças únicas e exclusivas (SANTOS 2013). A empresa recebeu o 10º Prêmio FIEB Desempenho Ambiental na Categoria Micro e Pequena Empresa com o projeto Lixo ou Luxo - Modalidade Produção Mais Limpa (FIEB, 2012).

As mudanças nos processos pela inserção de novas tecnologias trazem vantagem competitiva ás empresas e reduzem a degradação ambiental. É o que se verifica na indústria de latas de alumínio, segundo Renault de Freitas Castro, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas), há dez anos, um quilo de alumínio fazia 49 latinhas de refrigerante, cerveja ou suco. Anos de pesquisas depois, espessuras mais finas da chapa de alumínio aplicadas à embalagem, fazem atualmente 74 unidades (ABRALATAS). Com certeza um exemplo de inovação que trouxe redução significativa para as empresas que desenvolveram este sistema de produção, associado a uma redução do custo.

Por meio dos cases apresentados foi possível constatar que os resíduos podem gerar vantagens competitivas para as empresas empreendedoras e inovadoras, independente, de sua origem ou do porte de empresa. Podendo ser pela criação de um novo produto diferenciado, como o caso da das empresas 3M, Du Pont e Salve Terra. Pode ser por meio da redução significativa dos custos de produção e da reutilização de resíduos para outros fins, como o caso das empresas Xerox, IBM, Ambev, GE, ArcelorMittal e Mutupiranga. Por meio de ganhos por novos processos de produção, como o caso das empresas Unilever e Abralatas. Este repensar, esta mudança de foco por meio do empreendedorismo deixa a velha questão em que o resíduo é um fardo para as organizações, para seguir uma nova atitude comprometida com as questões ambientais e de criação de valor.

 

5 CONCLUSÃO

           

O presente estudo evidenciou que é possível para as empresas reverterem uma situação tradicional de desvantagem competitiva e aumento de custos decorrentes de obrigações legais, no que tange aos resíduos, para uma vantagem competitiva para a organização, por meio da influência do empreendedorismo e as estratégias de inovação, na obtenção de um novo produto ou utilidade rentável para o seu resíduo. Pelas pesquisas efetuadas, constatou-se que as empresas empreendedoras que deram importância á problemática ambiental encontraram saídas interessantes e inovadoras que resultaram em ganhos significativos para a organização, principalmente quando o mercado e a própria sociedade exigem das empresas uma política ambiental ativa. Esta situação da empresa empreendedora em relação ao mercado torna-se, então, um ponto forte que pode resultar em maior ganho de participação de mercado e lucratividade para a organização.

 As empresas que desenvolvem estratégias de minimização da poluição ambiental ou que desenvolvem estudos que resultam em uma boa performance ambiental, possuem um melhor posicionamento financeiro perante seus stakeholders do que as empresas que desleixam dessas questões. Isso lhes dá uma reputação positiva que acaba melhorando a sua posição mercadológica. Uma empresa que tem interesse na minimização de resíduos ou na comercialização de seu resíduo para a reciclagem, por exemplo, acaba aumentando o seu faturamento e reduzindo os custos de suas matérias primas, construindo uma estratégia que pode lhe conferir uma vantagem competitiva baseada em custo.

Constatou-se que é importante as empresas mudarem a sua concepção em relação ao que fazer com seus resíduos. Repensar de forma empreendedora a possibilidade de reutilizá-los, repensar um tratamento diferenciado, tornando-se uma estratégia compensadora com ganhos significativos para a empresa e para a sociedade como um todo.

Verifica-se uma aplicação maior das conclusões deste estudo nas indústrias que geram resíduos em grande escala, muitas vezes perigosos, elas obrigatoriamente tem que repensar a sua atuação sobre o meio ambiente e, neste caso, a busca por uma inovação no seu processo ou produto, pode se tornar uma vantagem competitiva. Em contrapartida, as constatações observadas neste estudo, não teriam o mesmo retorno financeiro no segmento do comércio varejista, por exemplo, uma vez que a produção de resíduos se assemelha ao resíduo doméstico, e neste caso, a inovação ou busca de uma oportunidade de negócio seria mais difícil para resultar em êxito devido efeitos de menor escala.

 

 

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Ilustrações: Silvana Santos