Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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15/12/2015 (Nº 54) PERCEPÇÃO DOS FREQUENTADORES DA PRAÇA JOÃO PESSOA EM RIO TINTO, PB, QUANTO AOS IMPACTOS DO AMBIENTE URBANO NO BICHO PREGUIÇA (BRADYPUS VARIEGATUS) E AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL.
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PERCEPÇÃO DOS FREQUENTADORES DA PRAÇA JOÃO PESSOA EM RIO TINTO, PB, QUANTO AOS IMPACTOS DO AMBIENTE URBANO NO BICHO PREGUIÇA (Bradypus variegatus) E AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL.

 

 

 

Cássia Pereira da Silva¹

¹ Bacharel em Ecologia, Universidade Federal da Paraíba, Campus IV, Rio Tinto-Paraíba-Brasil. Rua Manoel Gonçalves S/N. Cep: 58297-000.

 (83) 3291-4507. cassiapereirads@gmail.com

 

Carla Soraia Soares de Castro²

² Doutora em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente no Departamento de Engenharia e Meio Ambiente. Universidade Federal da Paraíba, Campus IV, Rio Tinto-Paraíba-Brasil. csscastro9@gmail.com

 

RESUMO

A presença de animais silvestres em ambientes urbanos é uma realidade no Brasil. Na cidade de Rio Tinto-PB são encontrados indivíduos da espécie Bradypus variegatus (bicho preguiça), nas copas das figueiras, na Praça João Pessoa. Essa pesquisa teve os objetivos de identificar as situações e elementos do ambiente urbano que têm impacto sobre o comportamento do bicho preguiça, conhecer a percepção dos frequentadores da Praça e planejar ações de Educação Ambiental. As pessoas pegam no bicho preguiça quando este desce para urinar e para defecar; jogam baldes de água gelada ao encontrá-lo caído; indivíduos trazidos de outros locais são introduzidos nas figueiras; refletores de luz direcionados às copas das figueiras; lixo depositado nos troncos das figueiras; festas no local com fogos e fogueiras e proximidade da fiação elétrica com os galhos das figueiras são os impactos registrados. Em função disso, alguns indivíduos defecam e urinam dependurados, ficam desnorteados com os refletores e se aproximam da fiação elétrica. A percepção dos entrevistados caracteriza a visão antropocêntrica, pois a maioria reconhece o bicho preguiça como atração turística da cidade (88%), porém 65,7% percebem os impactos do ambiente urbano no comportamento do bicho preguiça. Todos os entrevistados consideram importante divulgar informações sobre a espécie e o seu habitat. Com base nisso, foram produzidos cartazes contendo informações da biologia e do comportamento do bicho preguiça, bem como dos impactos do ambiente urbano, sendo utilizados para fins de informação e de sensibilização nas ações de Educação Ambiental.

 

Palavras-Chave: Animais Silvestres, Percepção Ambiental, Educação Ambiental, Preservação de espécies.

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

As principais ameaças às espécies são a destruição dos hábitats naturais e sua substituição por áreas alteradas pela presença do homem, como áreas urbanas (PRIMACK; RODRIGUES, 2001; CASSANO, 2006). Esse fator de ameaça atinge magnitudes ainda maiores quando a velocidade de destruição do ambiente supera o avanço dos estudos sobre biologia e ecologia in situ ou sobre a reprodução em cativeiro das espécies. Segundo Boere et al., (2000) as atividades antrópicas podem alterar a ecologia de várias espécies.

Nesse sentido, a presença de animais silvestres em ambientes urbanos é uma realidade no Brasil. Segundo Pinheiro (2008) é comum encontrar o bicho preguiça (Bradypus variegatus), vivendo em praças e jardins. Na cidade de Rio Tinto-PB, são encontrados indivíduos da espécie Bradypus variegatus, nas copas das figueiras (Ficus microcarpa), na Praça João Pessoa.

Tal espécie apresenta ampla distribuição geográfica (MONTGOMERY & SUNQUIST, 1975), ocupando as Florestas Tropicais da América (CASSANO, 2006). No Brasil está presente no norte do Paraná, na Floresta Amazônia e nos remanescentes de Mata Atlântica (PINHEIRO, 2008). É um mamífero arborícola que apresenta hábito alimentar estritamente folívoro (CHIARELLO et al., 2004; CASSANO, 2006). Por possuir baixo metabolismo passa a maior parte do tempo em repouso na copa das árvores, deslocando-se com movimentos lentos utilizando as extremidades de galhos e lianas na travessia entre árvores (LINDSTEDT et al., 1986; QUEIROZ, 1995). Desce ao solo, em média, uma vez por semana para urinar e defecar (MONTGOMERY & SUNQUIST, 1975; CASSANO, 2006).

Sua principal ameaça advém de atividades antrópicas tais como caça, queimadas, extração de madeiras e expansão imobiliária (PINHEIRO, 2008). Em paisagens modificadas pelo homem, o isolamento de subpopulações em fragmentos florestais é elevado dada a sua pequena capacidade de locomover-se em áreas abertas (CHIARELLO et al., 2004). Ocorre a caça e a captura de indivíduos, principalmente quando encontrados no chão atravessando áreas abertas. Além do consumo de carne, alguns indivíduos são mantidos em ambiente domiciliar como animais de estimação, condições sob as quais muitos morrem por falta de alimentação adequada (CASSANO, 2006).

Para Paz et al,. (2012) uma das grandes dificuldades para a proteção do meio ambiente e das espécies é a existência de diferentes percepções de valores e da importância dos mesmos entre os indivíduos de cultura e de grupos socioeconômicos diferentes. A percepção ambiental se expressa pela maneira com a qual o indivíduo interage com o seu ambiente, por meio dos órgãos dos sentidos e da cognição (MACÊDO; SOUZA, 2014).

Dessa forma, conhecer o que a comunidade pensa sobre os ecossistemas é de fundamental importância para conservação e manejo da fauna, subsidiando o processo de Educação Ambiental que pode ocorrer a partir da sensibilização dos sujeitos. Para Fiori (2002) projetos de pesquisa que abordem as relações ser humano-ambiente devem necessariamente incluir estudos de percepção como parte integrante da abordagem, pois o processo de Educação deve atuar sobre o ambiente, no ambiente e para o ambiente de forma que abranja desde a informação e a vivência do problema, até a mudança de comportamento (REIGOTA, 2006).

Diante dos aspectos expostos, essa pesquisa teve os objetivos de identificar as situações e elementos do ambiente urbano que têm impacto sobre o comportamento do bicho preguiça, conhecer a percepção dos frequentadores da Praça e planejar ações de Educação Ambiental.

 

METODOLOGIA

 

O estudo foi realizado na Praça João Pessoa, na cidade de Rio Tinto, PB, localizada a 53 km da Capital João Pessoa. Tal Praça é um dos locais onde indivíduos da espécie Bradypus variegatus, conhecida como bicho preguiça, são encontrados. A Praça está cercada por casas, bares e restaurantes. Há 20 figueiras, 11 no lado direito e 9 no lado esquerdo da Praça. Os indivíduos utilizam apenas oito figueiras no lado esquerdo da Praça, estando todas conectadas através de suas copas, durante o período dessa pesquisa, possibilitando o deslocamento entre as figueiras (Figura 1).

 

Figura 1- Praça João Pessoa onde são encontrados indivíduos da espécie Bradypus variegatus.

 

Ao longo de 11 meses (de setembro de 2011 a agosto de 2012), foram realizadas observações uma vez por semana, intercalando os turnos da manhã e da tarde entre as semanas para identificar as situações e elementos que causam impactos sobre o bicho preguiça, foi utilizado o método de observação ad libitum (ALTMANN, 1974). Além disso, foram registrados o sexo, a presença de filhotes e as atividades que caracterizam os impactos do ambiente urbano.

Entrevistas semiestruturadas foram realizadas com os frequentadores da Praça (moradores que têm residências perto da Praça; transeuntes e comerciantes que têm estabelecimentos na Praça). As perguntas fechadas caracterizaram o perfil dos entrevistados e abordaram o conhecimento da espécie, sua alimentação e alguns hábitos. As perguntas abertas identificaram as concepções de preservação e os impactos do ambiente urbano.

 

ANÁLISE DOS DADOS

 

As respostas das questões fechadas foram quantificadas pelo cálculo de percentagem e as respostas das questões abertas pela Análise de Conteúdo Temático (BARDIN, 1977), técnica que consiste na busca do sentido contido nos conteúdos de várias formas de textos, de forma a propiciar a compreensão do acesso à informação de certos grupos e a maneira como esses grupos a elaboram e a transmitem.

                                                 

RESULTADOS

 

O número de indivíduos do bicho preguiça, na Praça João Pessoa, apresentou variações ao longo do ano de 2011 e 2012 devido aos nascimentos, óbitos e introduções de novos indivíduos trazidos de outros locais.

No início da pesquisa havia 9 machos adultos, 2 fêmeas adultas, 1 subadulto e 1 filhote, totalizando 13 indivíduos. Em 2011, duas fêmeas e 2 machos, trazidos de outros locais, foram introduzidos nas copas das figueiras e ocorreram 2 óbitos (1 macho e 1 fêmea adultos), 4 nascimentos e 5 quedas de filhotes, destes, 4 filhotes foram a óbitos e 1 filhote foi encaminhado, machucado, ao CETAS (Centro de Triagem e Recuperação de Animais Silvestres)/IBAMA, totalizando 14 indivíduos. Em 2012 ocorreram 5 introduções, sendo possível identificar, 1 fêmea e 2 machos adultos. Nesse período ocorreram também 3 nascimentos, 1 óbito e 2 encaminhamentos, de indivíduos machucadas por quedas, ao CETAS, alcançando um total de 19 indivíduos.

Durante o período da pesquisa foram observadas, na Praça João Pessoa, situações e elementos tais como: pessoas pegando no bicho preguiça quando este descia para urinar e para defecar; jogando baldes de água gelada  quando indivíduos caiam das figueiras; indivíduos trazidos de outros locais introduzidos nas figueiras; refletores de luz direcionados às copas das figueiras; lixo depositado nos troncos das figueiras; festas no local com fogos e fogueiras e proximidade da fiação elétrica com os galhos das figueiras. Em função disso, alguns indivíduos defecam e urinam dependurados (Figura 2), ficam desnorteados com os refletores de luz e se aproximam da fiação elétrica.

 

Figura 2- Bicho preguiça pendurado nos galhos das figueiras para defecar e/ou urinar.

O contato com os entrevistados se deu na Praça João Pessoa, onde lhes foram expostos os objetivos da pesquisa para que fosse dado o consentimento para realização das entrevistas. Foram realizadas 67 entrevistas nas quais 64,2% dos entrevistados estavam na faixa etária de 20 a 40 anos, sendo 59,7% do sexo feminino e 40,3% do sexo masculino, dos quais 71,1% são residentes em Rio Tinto desde que nasceram.

Em relação à presença do bicho preguiça em Rio Tinto, 100% dos entrevistados afirmaram já ter visto o bicho preguiça. Quando questionados sobre a sua alimentação, 64,2% responderam que o bicho preguiça se alimenta de folhas; seguido de frutos (23,9%); 7,5% não souberam responder e 4,5% responderam outros alimentos tais como sementes e restos de comida que ficam no lixo, na base das figueiras.

A maioria dos entrevistados (88%) já viu o bicho preguiça na Praça João Pessoa, mas afirmaram que nunca o pegou, porém 12% confirmaram que já viram e que pegaram no bicho preguiça. Apenas um entrevistado nunca viu o bicho preguiça (1,5%). Além da Praça João Pessoa, locais como a BR 101, Praça Castro Alves (também localizada na cidade de Rio Tinto) e a mata foram  os locais citados onde há bicho preguiça (4,5%). 79,1% já viram algum bicho preguiça caído no chão, enquanto 20,9% nunca viram. 52,2% ao encontrarem um bicho preguiça no chão apenas o observaram; 19,4% não fizeram nada; 14,9% o colocaram nas figueiras, 4,5% alisaram seu pelo, 3% jogaram baldes de água gelada, 3% viram outras pessoas fazendo isso e 2,3% aproveitaram o momento para tirar fotografias.

Quanto ao comportamento de urinar e defecar, 53,7% afirmaram ter visto  o bicho preguiça urinando e defecando na base das figueiras, já 23,9% afirmaram ter visto o bicho preguiça urinar e defecar pendurado nos galhos das figueiras. 70,1% já presenciaram queda ou viram algum bicho preguiça preso na fiação elétrica; 29,9% nunca souberam desses fatos e 47,8% apenas observam as pessoas que tentaram ajudar quando esses fatos ocorrem. 14,9% só ouviram comentários sobre esses fatos, enquanto que 4,5% afirmam ter jogado água gelada quando encontraram algum bicho preguiça caído, 1,5% ajudaram a pegar o bicho preguiça e 1,5% ligaram, para o Escritório da Área de Preservação Ambiental Barra do Rio Mamanguape, solicitando ajuda.

Todos os entrevistados (100%) afirmaram não haver venda e/ou compra de bicho preguiça em Rio Tinto; 91% dos entrevistados nunca viram ou ouviram falar sobre introduções, nas figueiras, de indivíduos vindos de outros locais. Apenas 9% afirmam que isso ocorre e que os indivíduos são trazidos das matas, de outros pontos da cidade ou da BR 101. 62,7% dos entrevistados já viram filhotes de bicho preguiça nas figueiras e 37,3% nunca viram.

Quando questionados se a Praça é um bom local para o bicho preguiça viver, 53,7% afirmaram que sim, pois o bicho preguiça está acostumado a viver no ambiente da Praça, 1,9% argumentaram que a Praça é um local tranquilo, tem muito alimento (folhas de Ficus), não tem predadores e 3% argumentaram ser um local turístico onde muitas pessoas podem ver o bicho preguiça. Por outro lado, 46,3% dos entrevistados disseram que a Praça não é um bom local, pois a iluminação, o contato com as pessoas, o barulho dos carros e as festas interferem na vida do bicho preguiça. Para 15% dos entrevistados as figueiras na Praça João Pessoa são poucas para o número de indivíduos e a alimentação é sempre a mesma (folhas de Ficus). 7,5% disseram que por falta de informação e por ser um animal silvestre as pessoas não sabem o que fazer com o bicho preguiça.

Dentre os fatores que interferem na vida do bicho preguiça 23,9% apontaram o contato das pessoas; o barulho dos carros e o lixo depositado nas figueiras; 20,9% indicaram os refletores de luz nas figueiras; 16,4% as festas que ocorrem no local com fogos e fogueiras e 4,5% as residências e a fiação elétrica próxima das figueiras.

Ao serem questionados sobre a translocação dos indivíduos que estão nas figueiras da Praça para as matas, 65,7% dos entrevistados afirmaram que não concordam com a translocação. Dentre eles 34,3% argumentaram que esse animal faz parte da história da cidade de Rio Tinto; 22,4% opinaram que esses indivíduos já estão acostumados a viver nas figueiras; 6% afirmaram que eles não se adaptariam em outro local e 3% que eles correm risco de morte dentro das matas. Já 34,3% defendem que deveriam ser retirados da Praça;   25,4% preferem ver o bicho preguiça em seu habitat natural; 4,5% afirmam que os indivíduos devem ser retirados, pois há muitos na Praça e o mesmo percentual (4,5%) sugere que uma vez translocados para o ambiente natural sejam monitorados pelos pesquisadores da UFPB que estudam o comportamento do bicho preguiça nas figueiras da Praça João Pessoa.

Todos os entrevistados (100%) consideram importante divulgar informações a respeito do bicho preguiça para população de Rio Tinto e 53,7% afirmaram que isso fará com que essa espécie seja preservada e que o conhecimento sobre a espécie ajudará nas mudanças no ambiente da Praça.

Para 88% dos entrevistados o bicho preguiça é uma atração turística, 42,8% defenderam que é tema de várias reportagens de televisão. Apenas 12% não o considera atração turística, afirmando ser uma espécie silvestre.

Apesar de haver indivíduos há anos na Praça João Pessoa, não há relato histórico que confirme como chegaram ao local. Quando questionados sobre isso, 94% dos entrevistados não sabiam responder e apenas 6% afirmaram que foram os fundadores da cidade que o trouxeram das matas. 52,2% não sabiam da existência de pesquisas sobre o comportamento do bicho preguiça na cidade de Rio Tinto e 47,8% afirmaram saber que há um projeto da UFPB, pois sempre que passam pela Praça encontram a equipe observando e registrando o comportamento dos indivíduos que estão na copa das figueiras.

Todos os entrevistados (1005%) reconheceram a importância de um projeto que monitore os indivíduos que vivem nas figueiras, sendo que 47,8% justificam tal importância para a preservação da espécie; 22,4% para levar informações à população de Rio tinto; 16,4%, cuidar para que o bicho preguiça não desapareça da cidade; 7,5% para translocar os indivíduos que habitam as figueiras para um lugar mais adequado e 3% para promover ações educativas.

A análise das respostas como um todo, que caracteriza a percepção dos entrevistados, se encaixa predominantemente na visão antropogênica. Com base nas repostas e opiniões emitidas pelos entrevistados e observando as informações mais importantes a serem transmitidas à população, foram elaborados cartazes contendo informações sobre o bicho preguiça (Figura 3). Esses cartazes foram entregues as pessoas que residem perto da Praça, aos transeuntes e aos comerciantes que têm estabelecimentos na Praça, ao mesmo tempo em que foram mantidos diálogos com tais grupos de pessoas para fins de informação e de sensibilização.

 

 

Figura 3- Cartaz com informações sobre o bicho preguiça

 

DISCUSSÃO

 

No Brasil fatores históricos, sociais e ambientais favorecem um contato mais ostensivo entre populações humanas e animais silvestres. O desconhecimento das necessidades biológicas contribui fortemente para criar uma realidade que hoje se manifesta nas cidades: a existência e manutenção de populações de mamíferos da fauna silvestre que vivem em praças, parques e jardins urbanos (PAZ et al, 2012).

Na natureza o bicho preguiça desce ao solo, em intervalos de aproximadamente 8 dias, para defecar e/ou urinar (MONTGOMERY & SUNQUIST,1975; CASSANO, 2006). O comportamento natural de descer até a base da árvore para urinar e defecar foi modificado pelo ambiente urbano da Praça João Pessoa, em Rio Tinto, de forma que alguns indivíduos urinam e defecam pendurados nos galhos das figueiras.

Nesse sentido, o conhecimento adquirido através da pesquisa de campo tem um papel primordial na preservação de espécies. É possível estabelecer-se aspectos importantes tais como a identificação do ambiente onde a espécie ocorre, sua distribuição no local, às interações com o meio e aspectos comportamentais (PRIMACK & RODRIGUES, 2001; VALLADARES-PÁDUA et al., 2003). Além disso, durante o trabalho de campo é possível identificar ameaças à espécie e aos ambientes onde ela ocorre (CASSANO, 2006), bem como produzir uma base de dados para o planejamento de ações de Educação Ambiental com a população local a fim de promover a preservação da espécie (BEZZERRA; MONTAÑO, 2012) e uma melhoria nas condições do ambiente urbano no qual está inserida. O presente estudo teve um papel importante ao identificar e caracterizar situações e elementos do ambiente urbano que interferem no comportamento do bicho preguiça, expondo assim a problemática e criando ambiente para o diálogo e para que os frequentadores da Praça João Pessoa pudessem expressar suas percepções e opiniões.

Reigota (2006) argumenta que para que possamos realizar ações de Educação Ambiental é necessário obter o conhecimento das visões do meio ambiente. Assim, o autor categoriza três visões distintas: naturalista, visão que evidencia somente os aspectos naturais; antropocêntrica, visão que evidencia a utilidade das espécies e dos recursos naturais e globalizante, visão que define as relações recíprocas entre natureza e sociedade. No que se refere à percepção dos entrevistados foi possível identificar duas visões: a naturalista, onde os entrevistados percebem e identificam as interferências causadas pelo ambiente urbano que afeta o bicho preguiça, mostrando sua preocupação e almejando benefícios que um ambiente natural pode trazer ou a melhoria do ambiente da Praça. Em contra partida, houve uma maior predominância da visão antropocêntrica, pela percepção de que o bicho preguiça é uma atração turística para cidade de Rio Tinto, atraindo equipes de televisão e gerando reportagens.

Dessa forma, a predominância da visão antropocêntrica, evidencia a necessidade de informações a respeito da vida do bicho preguiça e de como o ambiente urbano interfere no seu comportamento. Logo, a Educação Ambiental é uma ferramenta de fundamental importância, de forma que os dados dessa pesquisa se apresentam como o primeiro diagnóstico da problemática e uma das primeiras ações de Educação Ambiental em curto prazo com a finalidade de informação e de sensibilização, e a médio e longo prazo uma base importante para projetos de Educação Ambiental na cidade de Rio Tinto.

 

 

AGRADECIMENTOS

 

Ao SISBIO pela licença para realização da pesquisa; à equipe da APA Barra do Rio Mamanguape por transferir indivíduos machucados ao CETAS/IBAMA; e aos entrevistados pela boa vontade em contribuir com a pesquisa e em participar das ações de Educação Ambiental.

 

REFERÊNCIAS

 

ALTMANN, J. Observational study of bahaviour: sampling methods. Behaviour. 49:227-267,1974.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 229 p., 1977.

BEZERRA, L. L., MONTAÑO,R.M. Eu conheço esse bicho! Percepção de alguns mamíferos habitantes em fragmentos florestais da Região Sul da Bahia, com ênfase no sagui-de-wied, Callithrix kuhlii. Revista Eletrônica do Mestrado de Educação Ambiental, Rio Grande, v.28, 2012.

 

 

BOERE, V.; TILLMANN, L.; RESENDE, M.C.; TOMAZ, C. Uso do Espaço e Comportamento Social em Saguis do Cerrado (Callithrix penicillata) Selvagens no Centro de Primatologia da Universidade de Brasília. In: Alonso, C. e Lamgguth, A. A Primatologia no Brasil. Ed. Universitária /UFPB, 2000. p. 220.

CASSANO, R.C. Ecologia e conservação da preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus Illiger, 1811) no sul da Bahia – dissertação (mestrado) Universidade Estadual de Santa Cruz. Ilhéus Bahia.2006.

CHIARELLO,A.G.;CHIVERS,D.J.;BASSI,B.;MACIEL,M.A.F.;MOREIRA,L.S.;BAZZAL,M.A. Translocation experiment for the conservation of manned sloths,  Bradypus torquatus (Xenarthra, Bradypodidae). Biological Conservation, 118: 412-430p. 2004.

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Ilustrações: Silvana Santos