Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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15/12/2015 (Nº 54) MAPEAMENTO DAS PRINCIPAIS PARASITOSES DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA NO ESTADO DE MINAS GERAIS
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MAPEAMENTO DAS PRINCIPAIS PARASITOSES DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA ESTADO DE MINAS GERAIS

 

José de Paula Silva 1

Doutorando em Promoção de Saúde

Programa de Pós-graduação em Promoção de Saúde

Universidade de Franca

Avenida Doutor Armando de Sales Oliveira, 201 - Parque Universitário, Franca – SP

Docente da Universidade do Estado de Minas Gerais – Unidade de Passos

Av. juca Stockler 1130 – Passos Mg – Tel 035 35296055

Email . Jose.paula@fespmg.edu.br

 

Natália Paschoini Pádua 2

Bióloga

Universidade do Estado de Minas Gerais – Unidade de Passos

Av. juca Stockler 1130 – Passos Mg

 

José Eduardo Zaia 3

Universidade de Franca

Avenida Doutor Armando de Sales Oliveira, 201 - Parque Universitário, Franca – SP

Jose.zaia@unifran.edu.br

 

 

 

Resumo

 

O crescimento acelerado das populações urbanas, condições precárias, com acesso limitado a infraestruturas básicas, suas relações com o meio ambiente são alguns dos fatores determinantes para a ocorrência de parasitoses. O parasitismo é uma relação direta e estreita entre dois organismos geralmente bem determinados: o hospedeiro e o parasita, que levam a produção de doenças. Devido a essa pobreza, as doenças infecciosas e parasitárias continuam representando um papel importante na morbidade e mortalidade em todo mundo, e estão presentes como sinais e sintomas não específicos, tendo que haver uma investigação laboratorial dessas. As doenças parasitárias afetam várias regiões brasileiras, mesmo nas áreas consideradas mais desenvolvidas como e o caso das regiões sudeste e sul do país.

Visando determinar a distribuição epidemiológica das principais parasitoses de notificação compulsória que fazem parte do sistema nacional de agravos foi realizado o mapeamento geográfico destas parasitoses no estado de Minas Gerais.  Os dados foram obtidos através do site do SVS, Secretaria de Vigilância em Saúde, referente ao período de 2010 a 2013, através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan. Os mapas refletem as médias de incidência (novas notificações) das parasitoses no período. O fato das parasitoses poderem ser mapeadas indica que existem fatores ambientais determinantes para a sua prevalência nos últimos anos. Assim parasitoses como a leishmaniose, esquistossomose e malária podem ser prevenidas e monitoradas a partir de mapeamentos das áreas mais afetadas para melhor direcionamento das medidas preventivas.

 

 

Palavras-chave: Doenças Parasitárias; mapeamento, estudos ecológicos.

 

1 INTRODUÇÃO

            Decorrente a precariedade, o Brasil é um dos campeões das doenças decorrentes da falta de saneamento básico, apresentando números alarmantes de doenças parasitárias. O quadro de parasitismo é um dos mais graves problemas de saúde no mundo. Este problema afeta, principalmente as populações de baixa renda, que vivem em condições contingentes de saneamento básico e higiene.

Na segunda metade deste século ocorreu um grande crescimento da população urbana no mundo. Esse fato, para os países ricos, esteve associado a maiores avanços científico, tecnológico e, especialmente na organização socioeconômica. Nos países de baixa renda, ao contrário, o processo de urbanização não foi acompanhado pelo mesmo nível de progresso econômico daqueles países. O crescimento acelerado das populações urbanas aumentou a pobreza, trazendo enormes conseqüências sociais, nutricionais, ambientais e de saúde, uma vez que um número cada vez maior de pessoas passa a viver em favelas e cortiços superlotados, com acesso limitado a infraestruturas básicas que lhes permitam uma existência produtiva e saudável. (GRILLO, et al, 2000).

            Segundo Grillo, et al (2000), o crescimento acelerado das populações urbanas aumentou a pobreza, trazendo enormes conseqüências sociais, nutricionais, ambientais e de saúde, uma vez que um número cada vez maior de pessoas passa a viver em favelas e cortiços superlotados, com acesso limitado a infraestruturas básicas que lhes permitam uma existência produtiva e saudável.

          Segundo Aquino & Seide (2000), o parasitismo é uma relação direta estreita entre dois organismos geralmente bem determinados: o hospedeiro e o parasita, que levam a produção de doenças parasitárias. As doenças parasitárias são responsáveis por considerável morbidade e mortalidade em todo o mundo, e freqüentemente estão presentes com sinais e sintomas não específicos. A maioria das doenças parasitárias não pode ser diagnosticada apenas pelo exame médico, a investigação laboratorial torna-se necessária para definir se o paciente está ou não infectado com parasita e, se estiver, qual é a espécie do mesmo.

          Uma das características mais marcantes da modificação do padrão brasileiro de mortalidade nos últimos 20 anos é o decréscimo das doenças infecciosas e parasitárias (DIP) como causa de morte (BARRETO & CARMO, 1995).

O parasitismo é uma entre diversas associações entre dois organismos, e não há nenhuma característica para rotular um animal como parasita. O parasita obtém alimento a expensas de seu hospedeiro, consumindo-lhes ou os tecidos e humores ou o conteúdo intestinal. (WILSON, 1980)

O parasitismo ocorreu quando na evolução de uma das associações como simbiose, predatismo ou canibalismo, um organismo menor se sentiu beneficiado, quer pela proteção, quer pela obtenção de alimento. Esta associação deve ter sido seguramente ao acaso, mas com o decorrer de milhares de anos houve uma evolução para o melhor relacionamento com o hospedeiro. Esta evolução feita à custa de adaptações, tornou o invasor (parasito) mais e mais dependente do outro ser vivo.

A importância da notificação de doenças parasitárias é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes. Deve-se notificar a simples suspeita da doença, sem aguardar a confirmação do caso, que pode significar perda da oportunidade de adoção das medidas de prevenção e controle indicadas.

Atualmente os sistemas de informação geográfica e a evolução dos processos geográficos e cartográficos facilitaram o uso destas ferramentas nos processos de mapeamento, permitindo que a informação possa ser utilizada em esquemas estratégicos de prevenção da parasitose bem como a criação de ambientes saudáveis a partir da modificação e transformação o que permite a promoção da saúde.

Associando o uso de sistemas de informação geográfica, estudos ecológicos são utilizados em áreas como a epidemiologia e possuem como particularidade, caracterizar e estudar grupos. Para Almeida (2009) neste tipo de estudo, a observação realizada frente a um grupo pode ser realizada em uma área geográfica, avaliando o contexto ambiental e social tendo um retrato do coletivo onde este individuo se insere. 

          Portanto, este artigo realiza o mapeamento, como um estudo ecológico, das principais parasitoses de notificação compulsória que fazem parte do sistema nacional de agravos, de ocorrência no estado de Minas Gerais, entre os anos de 2010 a 2013, sendo os parasitas: Schistosoma mansoni. Leishmania tegumentar e visceral, e Plasmodium sp. Outro parasita de notificação é o Trypanosoma cruzi, porém o mesmo não foi mapeado devido a sua ocorrência restrita.  

 

 

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Os dados de referencia foram determinados a partir do modulo e informações do SINAN, disponibilizados pelo ministério da saúde, O Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan é alimentado, principalmente, pela notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam da lista nacional de doenças de notificação compulsória (Portaria GM/MS Nº 5 de 21 de fevereiro de 2006).

Os dados foram obtidos através do site do SVS, Secretaria de Vigilância em Saúde que é alimentado pelo programa de notificação compulsória.  As informações obtidas foram referentes ao período de 2010 a 2013.

     Foram determinadas as frequências das parasitoses de forma global e local, e a partir do software TABWin, foram produzidos os mapas de localização de cada parasitose de acordo com as médias de incidência.

 

 

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os episódios de Leishmaniose tegumentar ocorreram de forma dissipada no estado de Minas Gerais, como pode ser observado na figura 1. Forma determinadas as médias de notificações por municípios. O mapa apresentado demonstra que as notificações ocorreram em praticamente todo o estado. Utilizando o mapeamento com bolhas proporcionais as notificações, pode-se observar uma concentração de notificações em algumas regiões como as regiões centro, norte e leste do estado. A média de notificações foi de 1478/ano, sendo que, os cinco municípios com maiores médias foram Januária (70 notificações/ano), Montes Claros (64 notificações/ano), São João das Missões (42 notificações/ano), Belo Horizonte (40 notificações/ano) e Varzelândia (33 notificações/ano).

 

 

Figura 1 Mapeamento de notificações de Leishmaniose tegumentar em Minas Gerais (media de notificações entre os anos de 2010 e 2013).

 

 

As notificações Leishmaniose visceral ocorreram também de forma dissipada no estado de Minas Gerais (figura 2), utilizando a mesma metodologia. Porém as notificações foram mais centrais, ou seja na região de Belo Horizonte. De uma forma geral os números absolutos foram baixos, A média de notificações foi de 449/ano, sendo que, os cinco municípios com maiores médias foram Belo Horizonte (183 notificações/ano), Montes Claros (39 notificações/ano), Governador Valadares (28 notificações/ano), Paracatu (18 notificações/ano) e Betim (9 notificações/ano).

Para Passos (1993) a distribuição dos flebotomíneos é determinante para a ocorrência da Leishmania sp. Estes aspectos são determinantes para a ocorrência da Leishmania tegumentar na região de Belo Horizonte. Outro fator que pode auxiliar a compreensão da ocorrência como no caso da Leishmania visceral baseia-se na presença de reservatórios que podem contribuir para a parasitose (BARATA,2005).

 

 

 

Figura 2 Mapeamento de notificações de Leishmaniose visceral em Minas Gerais (media de notificações entre os anos de 2010 e 2013).

 

As notificações de Schistosoma mansoni ocorreram também de forma dissipada no estado de Minas Gerais (figura 3). O grande destaque é a média estadual de 5284 notificações/ano. Entre todas as parasitoses de notificação compulsória é a de maior incidência. Os cinco municípios com maiores médias foram Belo Horizonte (304 notificações/ano), Ouro Verde de Minas (216 notificações/ano), Ponto dos Volantes (167 notificações/ano), São João do Oriente (167 notificações/ano) e Itambacuri (162 notificações/ano). A figura 3 ainda nos permite observar que existe uma concentração de notificações na região leste do estado de MG. Na figura ainda é possível observar que a região sul do estado concentra os municípios que não tiveram notificações.

Estes dados são condizentes com os encontrados por Rocha et al (2000) ao afirmar que a região leste do estado de Minas Gerais historicamente é a de maior incidência, bem como os casos na região de Belo Horizonte, cujos primeiros casos notificados foram relatados em 1919.

Figura 3 Mapeamento de notificações de Esquistossomose em Minas Gerais (media de notificações entre os anos de 2010 e 2013).

 

As notificações de Malaria sp foram bem restritas no estado de Minas Gerais (figura 4). A média foi de 98 notificações/ano. Os cinco municípios com maiores médias foram Belo Horizonte (22 notificações/ano), Uberlândia (6 notificações/ano), Contagem (4 notificações/ano), Betim (4 notificações/ano) e Araquari (3 notificações/ano).

Chaves (1995) em um levantamento de Malária em Minas Gerais na década de 80, destaca que esta parasitose possui como grande sitio de transmissão à região amazônica e na verdade o fluxo migratório é um fator determinante para a ocorrência. Assim indivíduos parasitados em trânsito, em visitas a parentes, ou em mudanças de domicilio exercem forte influência nas ocorrências. Por esta razão as áreas de maior ocorrência acabam sendo as de maior adensamento populacional. Neste caso parece que o mapeamento corrobora com esta observação pois as cidades de maior população no estado foram as mapeadas com maior incidência, em especial nas regiões central e triângulo.

Figura 4 Mapeamento de notificações de Malaria em Minas Gerais (media de notificações entre os anos de 2010 e 2013).

 

 

 

4   CONCLUSÃO

O uso de mapeamento como instrumento de estudo ecológico é uma importante ferramenta de análise do comportamento de parasitoses. A proposta destes mapeamentos é fornecer subsídios para a proposta de criação de ambientes saudáveis.

Obviamente que, com o mapeamento é possível propor a proteção ao meio ambiente como estratégia de promoção da saúde. As ligações da população e seu meio devem ser considerados na abordagem social e ecológica da saúde.

O fato das parasitoses poderem ser mapeadas indica que existem fatores ambientais determinantes para a sua prevalência nos últimos anos.

Assim doenças como a leishmaniose, esquistossomose e malária podem ser prevenidas, e monitoradas a partir de mapeamentos das áreas mais afetadas para melhor direcionamento das medidas preventivas.

 

 

 

 

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO, A. R. C.E SEIDE, R. F. Métodos em rotina em Parasitologia. XXVI CONGRESSO BRASILEIRO DE ANÁLISES CLÍNICAS, 2000.

 

Almeida A Sd, Medronho Rd A, Valencia LIO. Análise espacial da dengue e o contexto socioeconômico no município do Rio de Janeiro, RJ. Revista de Saúde Pública. 2009;43:666-73.

 

BARATA, Ricardo Andrade et al. Aspectos da ecologia e do comportamento de flebotomíneos em área endêmica de leishmaniose visceral, Minas Gerais. Rev Soc Bras Med Trop, v. 38, n. 5, p. 421-425, 2005.

 

BARRETO, M. L., CARMO, E. A. Mudanças nos padrões de morbimortalidade. Em: Monteiro CA. Velhos e novos males da saúde no Brasil: a evolução do país e de suas doenças. São Paulo: Editora Hucitec NUPENS/Universidade de São Paulo; 1995. p. 17–30.

 

 

CHAVES, Kátia Maria et al. Malária em Minas Gerais, Brasil, no período 1980-1992. Cadernos de Saúde Pública, v. 11, n. 4, p. 621-623, 1995.

 

 

GRILLO, L.P. et al; Influência das condições socioeconômicas nas alterações nutricionais e na taxa de metabolismo de repouso em crianças escolares moradoras em favelas no município de São Paulo; Revista da  Associação Medica  Brasileira v.46 n.1  São Paulo jan./mar. 2000.

 

 

PASSOS, V. M. A. et al. Epidemiological aspects of American cutaneous leishmaniasis in a periurban area of the metropolitan region of Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 88, n. 1, p. 103-110, 1993.

 

ROCHA, Roberto Sena et al. Avaliação da esquistossomose e de outras parasitoses intestinais, em escolares do município de Bambuí, Minas Gerais, Brasil. Rev Soc Bras Med Trop, v. 33, n. 5, p. 431-6, 2000.

 

WILSON, R. A.; Introdução à Parasitologia; V. 4 editora pedagógica universitária LTDA São Paulo-SP 1980.

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos