Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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15/12/2015 (Nº 54) AGROTÓXICOS NO CONTEXTO ESCOLAR DE ALUNOS DO SEMIÁRIDO
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AGROTÓXICOS NO CONTEXTO ESCOLAR DE ALUNOS DO SEMIÁRIDO

Antonia Thais Silva Mendes¹, Eva Pereira Sales², Irislane Gomes da Silva³, David Dias Machado(A), Marcelo Campêlo Dantas(B)

 

[1]Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas/ Faculdade de Educação de Crateús / Universidade Estadual do Ceará

²Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas/ Faculdade de Educação de Crateús / Universidade Estadual do Ceará

3Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas/ Faculdade de Educação de Crateús / Universidade Estadual do Ceará

A Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas / Faculdade de Educação de Crateús / Universidade Estadual do Ceará

B Professor Assistente do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas / Faculdade de Educação de Crateús / Universidade Estadual do Ceará

 

RESUMO

O uso excessivo de agrotóxicos e a falta de precaução quanto à manipulação dos mesmos, têm causado grandes preocupações aos ambientalistas, devido aos impactos a saúde dos agricultores e ao meio ambiente. A falta de conhecimentos por parte desses mediadores é o principal causador desses malefícios. A escola como principal meio de integração social e fonte de conhecimentos para a sociedade deve adotar em seu sistema de ensino questões voltadas à realidade dos estudantes de acordo com a sua problemática. O objetivo desse trabalho foi analisar o conhecimento dos alunos do ensino médio da Escola de Ensino Fundamental e Médio Lions Club, localizada na comunidade de Realejo, município de Crateús – CE, sobre os agrotóxicos. Foi aplicado um questionário semiestruturado a 128 alunos das séries de 1º, 2º e 3º ano do Ensino Médio. A maioria dos alunos 57,0% afirma que a escola não apresenta nenhum tipo de educação ambiental voltada para o uso de agrotóxicos. Outro fator de destaque na pesquisa foi que 59,0% dos entrevistados alegaram que seus familiares utilizavam algum tipo de agrotóxico na agricultura familiar, contudo não sabiam dos malefícios que estes causavam à saúde humana. Parcelas de 49,0%, 100,0%, 39,0% desconhecem os danos que os agrotóxicos causam ao meio ambiente, do descarte correto das embalagens e do uso apropriado dos equipamentos de proteção individual respectivamente. Foi observado que, mesmo morando na zona rural, centro agrícola da região, os jovens são pouco instruídos sobre o uso dos agrotóxicos, seus malefícios e principalmente no descarte correto de embalagens. Cabe à escola preencher essa lacuna deixada pelo ensino tradicional, com questões vivenciadas no cotidiano dos alunos, pois é dela que a comunidade anseia por informações.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental. Impactos Ambientais. Agricultura Familiar. Defensivos Agrícolas.

 

Introdução

Segundo Fundacentro (2002), agrotóxicos são substâncias utilizadas como desfolhantes, dessecantes, estimulantes e inibidoras do crescimento das plantas, cuja finalidade é combater as pragas, insetos e as doenças causadoras de danos à produção agrícola. Porém, muitas vezes este é usado de forma incorreta e causa sérios problemas ao meio ambiente e a saúde como um todo.

Para Domingues et al. (2004), desde que os agrotóxicos passaram a ser utilizados em quantidades consideráveis, foi possível constatar os efeitos tóxicos que os mesmos têm causado, para tanto não se limitava apenas aos seus verdadeiros alvos, mas apresentavam risco à saúde humana e animal, e ao meio ambiente.

A conscientização sobre as consequências da utilização desses defensivos agrícolas é importante, principalmente para estudantes de regiões essencialmente agrícolas, onde o consumo de agrotóxicos é bastante elevado, proporcionando proximidade a esse tipo de produto (BRAIBANTE; ZAPPE, 2012). Considerando que a maioria dos agricultores é constituída por pais de família, torna-se necessário um olhar diferenciado aos filhos dos mesmos. Os jovens iniciam o trabalho agrícola ainda em idade escolar, tornando-se vítimas de intoxicação por agrotóxicos, mesmo que de forma indireta (ARAÚJO et al., 2007; BRITO, 2009).

Uma maneira de reverter essa situação atual está no envolvimento da escola com essa problemática. Os professores podem discutir e refletir com seus alunos as consequências da utilização inadequada desses defensivos agrícolas (SANTOS et al., 2001). Desta forma, o trabalho analisou o conhecimento dos alunos da Escola de Ensino Fundamental e Médio do semiárido brasileiro sobre o uso de agrotóxicos.

Material e Métodos

1.    Caracterização da Escola de Ensino Fundamental e Médio

A Escola de Ensino Fundamental e Médio (E. E. F. M.) Lions Club foi fundada em 1967 no de Crateús-Ce. Em 2008 foram criados dois anexos em duas comunidades rurais do município, Realejo e Monte Nebo, respectivamente. A Escola de Ensino Fundamental e Médio (E. E. F. M.) Lions Club está localizada na comunidade rural de Realejo, a 21 Km da sede do município de Crateús-Ce, entre as coordenadas 5°15’-5° 18’ latitude Sul e 40°46’- 40° 50’ longitude Oeste. Tem como objetivo principal a preparação de jovens para a universidade, contribuindo para o desenvolvimento social.

No período a escola possuía um total de 128 alunos, distribuídos em três turmas de 1º, 2º e 3º anos do ensino médio. Desenvolve Projetos de Educação como o Primeiro Aprender, Mais Educação e Jovens de Futuro, que visam maior aperfeiçoamento do conhecimento e valoração dos alunos.

2.    Coleta de dados

A pesquisa consistiu em avaliar duas turmas de 1º ano, duas turmas de 2º ano e uma de 3º ano, turno noite. Para a obtenção dos dados aplicou-se um questionário estruturado contendo 10 questões. Solicitou-se que fizessem um breve registro do conhecimento sobre o tema abordado. O questionário foi aplicado a 104 alunos, que compunham o turno.

A entrevista foi realizada no mês de maio de 2013, distribuída da seguinte forma: 51 deles do 1º ano, 44 do 2º ano e 33 do 3º ano, sendo 66 do sexo feminino e 62 do sexo masculino.

3.    Caracterização da Cidade de Crateús – CE

 

A cidade de Crateús fica localizada entre as latitudes 5°10’42’’ S e longitude 40°40’39’’W. Possui área de 2.985, 143 km2, com altitude de 274,7 m. É considerado 4º maior município em área territorial do Estado. Apresenta clima Tropical quente semiárido, com chuvas de janeiro a abril e precipitação pluviométrica média de 731,2 mm. O relevo é formado por Depressões Sertanejas, Maciços Residuais e Planalto, com a predominância do Bioma Caatinga (IPECE, 2011).

Resultados e Discussão

Como analisado por Brasil (2013), o uso de agrotóxicos tem crescido drasticamente, por conta do aumento da produção agrícola e resistência às pragas, com incremento de impacto ambiental e mais problemas à saúde. Para Recena e Caldas (2008), embora seja um tema relevante na atualidade, percebe-se que algumas pessoas, mesmo com o uso do produto de forma inadequada, reconhecem os problemas que o mesmo pode causar. Contudo, não o aplicam de forma segura para evitar problemas posteriores, tanto à saúde quanto ao meio ambiente.

Como observado na figura 1, a maioria dos entrevistados, (74,0 %), reconhecem a função dos agrotóxicos, ou seja, possuem o conhecimento sobre o que é o agrotóxico, seus malefícios e utilidades. De fato, essas informações podem resultar em práticas adequadas no manejo desses defensivos, visto que para muitos agricultores o uso incorreto provém de falta de conhecimento (FUNDACENTRO, 2002).

Figura 1. Conhecimento empírico sobre o uso de agrotóxicos.

Para 17,0 % dos entrevistados o nível de conhecimento foi deficitário. É notório que essas informações não são fáceis de adquirir. Por exemplo, não há esclarecimento sobre o assunto nas escolas de ensino fundamental. Nível esse em que os agricultores, na sua maioria, terminam seu ciclo de estudos. Parcela de 9,0 % apresenta conhecimento diminuto sobre agrotóxicos, já que desconhecem a função dos mesmos.

Destaca-se a importância de se conhecer o assunto, porém é preciso atenção diferenciada pelos poderes públicos para reavaliar o uso de agrotóxicos. Agricultores relacionados a esses defensivos apresentam informações, mesmo que mínimas, sobre essa temática. No entanto, é necessária conscientização mais específica sobre os riscos dos mesmos quando manejados de forma incorreta (OLIVEIRA; LUCCHESE, 2013).

A avaliação revelou carência no ensino do tema na escola. A maioria dos alunos entrevistados (59,0 %), afirmou que essa não apresenta educação ambiental voltadaao uso de agrotóxicos, bastante utilizado por agricultores naquela região. Assim, por ser um assunto presente no cotidiano desses alunos, faz-se necessário uma abordagem mais específica sobre a temática. É importante alertar aos jovens sobre métodos eficientes para evitar problemas posteriores.

O tema é contextualizador, não se restringe apenas à educação ambiental, mas também a outras disciplinas. É uma temática que permite ampliar conceitos químicos, biológicos, ambientais e ainda conscientiza o manejo adequado (CAVALCANTI et al., 2010). A inserção da educação ambiental na carreira estudantil traz desafios frequentes, como quebra de paradigmas de mudanças de hábitos e atitudes, em relação ao meio ambiente. Com isso, eles poderão associar novos saberes quanto técnicas para melhorar sua interação com o meio. Para Franz e Link (2011); Bolzan e Gracioli (2012) muito pode ser discutido em sala de aula como tema desafiador, perpassando as divisas da escola à comunidade.

Por tratar-se de pequenas comunidades agrícolas, onde a agricultura é a principal fonte de renda, pode-se considerar comum a utilização desses defensivos, como demonstrado por uma parcela de 59,0% dos entrevistados que afirmou o uso pelos familiares de algum tipo de agrotóxico, não especificados pelos mesmos, na agricultura doméstica. A maioria dos agricultores brasileiros faz uso indiscriminado desse insumo, já que o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo (BRASIL, 2013). Por garantir menos prejuízo em seus cultivos e por se tratar de um produto acessível, torna-se uma alternativa de menor custo em relação àquelas disponíveis, como a mão de obra pra capinar ervas daninhas. De acordo com Araújo et al. (2007), a prática da agricultura faz parte de um ciclo familiar nessas comunidades, onde todos participam direta ou indiretamente em todo o processo.

 É notório que o uso abusivo ou inadequado de agrotóxicos pode causar sérios problemas, pois apresentam alto grau de toxicidade ao ser humano. Muitas vezes esses malefícios não surgem de imediato, e podem afetar a saúde a médio e longo prazo (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007).Com base nos resultados, observou-se que cerca de 59,0% dos alunos alegaram não saber sobre esses danos. Parcelas de 33,0 % afirmaram que o uso de agrotóxicos causa mal estar, infecções e pode levar a morte. Cerca de 2,0 % dos estudantes reconhece os prejuízos, porém não explicou de que forma o organismo é afetado. Uma minoria (1,0 %) não respondeu essa questão, enquanto outros, (5,0%), apresentaram respostas não relacionadas à pergunta.

Sintomas relacionados a esses defensivos já foram constatados em trabalhadores rurais, o que evidencia a toxicidade desses produtos.  Em estudo de caso com agricultores, Araújo et al. (2007), verificou alguns problemas de saúde como: cefaleia, visão turva, vertigem, fadiga, fraqueza, câimbras, parestesias e distúrbios cognitivos.

Visto o perigo ao qual essas pessoas estão expostas fazem-se necessárias ações preventivas que assegurem a saúde dos agricultores, ou minimizem o impacto causado pelos agrotóxicos. Uma alternativa para essa situação, seria a retirada ou restrição do uso dos mesmos no país (KÖRBES et al., 2010; RECENA; CALDAS, 2008).

A maioria dos entrevistados, (79,0%), afirmou não conhecer pessoas que foram prejudicadas pela utilização dos mesmos. Vale salientar que as pessoas podem ser prejudicadas mesmo que de forma indireta, independente de ter um contato físico ou não. Dessa forma, tanto os agricultores que realizam essa prática quanto os que participam da colheita e os consumidores estão propícios à contaminação. Em pesquisa, Palma et al. (2011), examinou 62 mulheres em fase de amamentação e mostrou a interferência desses no organismo humano. Todas apresentaram pelo menos um princípio ativo de defensivos no leite, porém apenas três residiam na zona rural.

No tocante ao conhecimento dos alunos sobre os danos que os agrotóxicos causam ao meio ambiente, uma parcela de 44,0 % mostrou possuir algum esclarecimento sobre o tema. Destes, 9,0 % não justificaram suas respostas e ainda 6,0 % apresentaram respostas que não condizem diretamente com a pergunta, tais como: “prejudica a respiração”, “faz mal aos pulmões”.

De fato, os agrotóxicos causam danos consideráveis ao ambiente, com contaminação a sistemas hídricos e o solo. Dessa forma, a disseminação desses produtos compromete a vida nos ecossistemas, e afeta desde microrganismos até o ser humano. Ações como o fornecimento de informações por meio de divulgação através de rádio comunitário e cartilhas didáticas, podem ser eficientes para amenizar essa situação (VEIGA et al., 2006; SOARES; PORTO, 2007; CASTRO; CONFALONIERI, 2005).

Sabe-se que a falta de conhecimento sobre a ação dos defensivos agrícolas no ambiente é um fator que influência significativamente nas atitudes de quem manuseia. Além de se conhecer sobre os riscos que provocam à saúde é necessário também saber os riscos que causam ao meio ambiente para que possam repensar a forma como manejam esses defensivos (SANTOS et al., 2001).

Para Peres e Moreira (2007), a solução está evidentemente na relação estabelecida entre governo e sociedade que deveria visar algo mais objetivo do que simplesmente o aumento da produtividade. É preciso dar ênfase tanto à saúde dos agricultores, da população consumidora, como a sustentabilidade ambiental.

Em relação à contaminação de alimentos por agrotóxicos a maioria, (70,0%), respondeu positivamente. Compreende-se que os alimentos tratados com esses defensivos agrícolas também são contaminados durante seu processo de desenvolvimento. Embora os agricultores sejam os mais prejudicados, a população consumidora torna-se vulnerável a sérias contaminações (ARAÚJO et al., 2007; MESQUITA FILHO; PEREIRA, 2011).

Esse problema deve-se à exposição de alimentos de diversas culturas a esses produtos químicos, tornando-os prejudiciais, por apresentarem quantidades expressivas de agrotóxicos em sua composição. Pesquisas têm mostrado quantidades relevantes de resíduos de agrotóxicos em vários tipos de culturas (DOMINGUES et al., 2004; JARDIM et al., 2009, SIQUEIRA et al., 2013).

Outro problema grave, da ampla utilização de agrotóxicos, é o acúmulo das embalagens vazias, que muitas vezes não tem destino adequado. Na zona rural, geralmente não se tem conhecimento a respeito do problema com descarte, tomando esses destinos impróprios. Pôde-se observar que todos os entrevistados desconhecem a forma correta de descarte desses recipientes. A maioria, (63,0 %), acredita que a queima das embalagens é a maneira mais adequada. Já para 32,0 % o lixo seria a solução e ainda para 5,0 % deveriam ser despejados em ambientes abertos.

Essas práticas demonstram que o descarte incorreto das embalagens causa poluição do meio ambiente e problemas à saúde. Atitudes semelhantes as que foram citadas pelos alunos podem ser observadas na literatura, como: “queimar as embalagens”, “enterrar”, “jogar no rio” e “guardar” (CASTRO; CONFALONIERI, 2005; JACOBSON et al., 2009; LACERDA, J.; LACERDA, M.; SOUZA, 2006). Outro fator relacionado a esse problema é a intoxicação por meio da reutilização desses recipientes. De acordo com Fundacentro (2002), os agrotóxicos sempre devem ser mantidos em suas embalagens originais, e mesmo depois de vazias jamais devem ser utilizadas para outros fins, pois sempre permanecem concentrações de alguns resíduos do produto.

Uma solução ao destino adequado das embalagens é dada por Sehnen, Simioni e Chiesa (2010). Aquelas que foram lavadas corretamente podem ser recicladas, e aquelas que não foram bem lavadas e não provém de materiais recicláveis, devem ser incineradas a ponto de excluí-las do meio ambiente. Para Oliveira (2012), o destino correto seria a devolução aos fornecedores. Dessa forma, nota-se carência no conhecimento dos alunos, visto que todos desconhecem essas alternativas.

Sobre a importância da utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para o manuseio dos agrotóxicos, constatou-se que 61,0 % dos entrevistados têm conhecimento sobre os devidos cuidados a serem tomados. Em contrapartida 27,0 % não soube responder e ainda 10,0 % destacaram outras respostas que não cabiam à questão apresentada, como: “beber bastante água”, “usar protetor solar”.

Vale ressaltar que é indispensável a utilização de EPI’s como botas, luvas, avental, capas, óculos de proteção, chapéu ou capuz e máscaras. Para tanto, é importante a ação dos órgãos públicos e privados no tocante à acessibilidade a produtos de qualidade que visem maior segurança aos trabalhadores (FUNDACENTRO, 2002; TRAPÉ, 2011).

É sabido que os alvos principais de intoxicação por meio dos agrotóxicos são os agricultores. Estes mantêm contato direto no processo de preparação e aplicação do produto nas lavouras tornando-se indispensável à utilização de EPIs (DOMINGUES et al., 2004).

Estudos constataram que pessoas diretamente relacionadas à utilização de agrotóxicos apresentam carência na compreensão da linguagem técnica descrita nas embalagens. Essas informações devem conferir não apenas uma parte da legislação, mas comprometer-se a orientar, por meio de uma linguagem menos técnica, o manejo adequado (RECENA; CALDAS, 2008; BELO; PERES, 2011; TOMAZIN; ZAMBRONI, 2008; DOMINGUES et al., 2004).

No tocante aos métodos alternativos para substituir os agrotóxicos, dos estudantes avaliados, 62,0% afirmaram que os defensivos agrícolas podem ser substituídos por materiais menos tóxicos (Figura 2). Porém, não especificaram quais seriam essas alternativas. Pode-se inferir que a falta de conhecimento de métodos eficazes que substituam esses defensivos seja um dos fatores que contribuam para o aumento do consumo desses produtos (BRASIL, 2013).

 

 

Figura 2. Conhecimento de métodos alternativos para substituir os agrotóxicos.

                        Os produtos transgênicos e a utilização de extratos vegetais associada a outras práticas, podem servir como métodos alternativos para o controle de pragas. Dessa forma, possibilita a redução de doses e aplicações de defensivos químicos e estabelece um controle sustentável (MACHADO; SILVA; OLIVEIRA, 2009; VALOIS, 2001).

Embora os agrotóxicos apresentem vários malefícios, Veiga (2007) e Tavella et al. (2011), asseguram que a retirada definitiva dos agrotóxicos no sistema produtivo rural resultaria em perdas econômicas significativas, pois a utilização dos mesmos é importante para garantir a alta produtividade.

Dessa forma, informar e desenvolver com os estudantes métodos para substituir os agrotóxicos pode ser uma alternativa positiva em relação ao controle da utilização desses. O uso de telas de proteção, armadilhas luminosas para afastar e matar os insetos, o uso de bagana de carnaúba no pé da cultura para evitar o desenvolvimento de ervas daninhas são alguns métodos (FERNANDES et al., 2011).

Conclusão

A maioria dos alunos avaliada apresenta carência no conhecimento sobre agrotóxicos, principalmente no tocante aos problemas causados por esses ao meio ambiente e à saúde humana. Vale ressaltar que a escola exerce um papel fundamental na vida desses estudantes e deve inserir em seu sistema de ensino questões vivenciadas no cotidiano dos alunos. Neste caso, embora os estudantes não trabalhem diretamente na agricultura, são filhos de agricultores e podem esclarecer e orientar sobre as práticas de uso desses produtos. Portanto, necessita-se de uma união entre escola e comunidade para a reeducação ambiental desses moradores, com palestras, projetos de conscientização a respeito do assunto abordado, para que possam agir de maneira sustentável e ecológica equilibrando a relação homem e ambiente.

 

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Ilustrações: Silvana Santos