Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Folclore
10/09/2018 (Nº 53) FOLCLORE TAMBÉM É MEIO AMBIENTE
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FOLCLORE TAMBÉM É MEIO AMBIENTE

 

Meio ambiente não se restringe a florestas, rios, espécies em extinção ou problemas das grandes cidades.

 

 “Meio ambiente” é uma expressão cara ao mundo contemporâneo. Seus elementos de composição, no entanto, vêm de tempos antigos. Ambient- é o tema do particípio presente do verbo latino ambire (amb- + ire), que significa, literalmente, ir em volta, isto é, andar ao redor. Medius é o termo que designa o que quer que esteja no meio, sendo, pois, central, intermediário, medianeiro. Por meio ambiente, entende-se, de imediato, o conjunto dos elementos físicos, biológicos e químicos que nos cercam, nos influenciam e são influenciados por nós. O que vale dizer, a terra, a água, o ar, as plantas e os animais – numa palavra, a natureza. 

Mas também o homem – “um bicho da terra tão pequeno”, como diz Camões nos Lusíadas –, não deixa de ser parte dessa mesma natureza. O que distingue o bicho humano dos restantes animais são suas variadas práticas sociais. É através delas que se expressa a cultura dos povos. E não existe cultura sem imaginação. Por isso, o homem pode ser definido como um animal simbólico.

Desse modo, o conceito de meio ambiente se alarga com facilidade para incorporar em sua definição aquilo que costumamos chamar o patrimônio cultural das nações, quer seja em seu aspecto material, como objetos ou conjuntos arquitetônicos, quer seja em seu aspecto imaterial, como manifestações artísticas ou criações científicas. Àquela acepção básica de natureza, reserva-se atualmente a designação de meio ambiente natural. Já o sentido ligado às práticas sociais organizadas pelas comunidades humanas vem cada vez mais sendo denominado meio ambiente cultural. É assim que, ao falar de meio ambiente, podemos nos lembrar não só das florestas e dos rios, das espécies em risco de extinção ou dos problemas das grandes cidades, mas também das tradições populares e, de um modo geral, de tudo o que confere valor à vida. 

Por isso, não estranhei quando me veio à mente a figura do curupira feito uma síntese do meio ambiente. Ora, trata-se de um protetor das matas e dos animais, conhecido e reconhecido de norte a sul do país. Na maioria das vezes, aparece como um indiozinho veloz, de cabelos vermelhos e dentes azuis, tendo sempre os pés voltados para trás. Costuma andar pelas florestas batendo o calcanhar no tronco das árvores para certificar-se de que estão firmes quando se aproxima um temporal. É generoso com os que se contentam em caçar para satisfazer as necessidades, mas torna-se o pavor dos que caçam desmedidamente ou perseguem as fêmeas prenhas e os filhotes. A estes, faz perder o rumo por muito tempo até poderem deixar a selva. O curupira é o nosso maior guardião do meio ambiente natural. E é, ao mesmo tempo, uma das grandes criações do imaginário popular brasileiro, sendo, portanto, um elemento integrador do nosso meio ambiente cultural.

Embora curiosa, não é de espantar a notícia que Plínio, o antigo, autor romano do séc. I d. C., registra em sua história natural sobre homens da floresta, muito ligeiros, com pés virados para trás, que viviam na companhia de animais selvagens, em certa região ao norte da Europa e da Ásia. Tradições como essa, muitas vezes, viajam pelo mundo entre nações e gerações e viram mitos, lendas e contos, enriquecendo a imaginação dos povos.

O meio ambiente natural e cultural, que recebemos como herança das gerações passadas, nos forma e nos encaminha em nossa jornada humana. Daí a importância de refletir – e de agir – sobre o mundo que vamos deixar para as próximas gerações.

* Doutor em Estudos Literários, Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Lingüística da FCL-UNESP/CAr e Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.

 

Fonte: http://www.neomondo.org.br/editoriais/educacao/folclore-tambem-e-meio-ambiente/

 

 

Ilustrações: Silvana Santos