Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 53) SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS E AS ORGANIZAÇÕES
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SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS E AS ORGANIZAÇÕES

ADRIANO BERWANGER

Acadêmico do curso de Administração – Universidade Norte do Paraná (UNOPAR)

E-mail: adrianoberwanger@yahoo.com.br

Resumo: Estudos sobre desenvolvimento sustentável mostram que os conceitos sobre este tema variam muito, no entanto, tem-se uma igualdade de pensamentos quando se define que o desenvolvimento sustentável é marcado pelo não comprometimento dos recursos naturais para as gerações futuras. Este tema ganhou força a partir de 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92). Ao pensar sobre isso englobando as organizações, tem-se como objetivo deste artigo avaliar, conceituar e debater o tema sociedades sustentáveis e as organizações, enfatizando principalmente o desenvolvimento da sociedade de forma sustentável. Devido ao modelo de desenvolvimento tecnológico e econômico existente no mundo atualmente, diretamente relacionada aos costumes da sociedade global, observa-se que o conceito de sociedades sustentáveis pode ser mais adequado que desenvolvimento sustentável, uma vez que possibilita a cada sociedade definir seus padrões de produção e consumo, de bem-estar a partir de sua cultura, de seu desenvolvimento histórico e de seu ambiente natural. Atualmente as organizações preocupam-se em implementar mudanças nos seus paradigmas e modelos gerenciais, com a finalidade de atender e satisfazer as exigências referentes a um modelo adequado de desenvolvimento sustentável. Dessa forma, o modelo de organização sustentável é uma resposta inovadora às pressões por organizações capazes de inovar com eficiência em termos econômicos, mas com responsabilidade social e ambiental, buscando vantagens competitivas e desenvolvendo produtos e serviços com base nas dimensões social, ambiental e econômica. Nesse sentido, as organizações sustentáveis reúnem duas características que são essenciais para sua sobrevivência nos mercados competitivos, dentre as quais se destaca a inovação e a orientação para a sustentabilidade. Em resumo, o aprimoramento dos modelos de organização sustentáveis, a institucionalização em âmbito global, o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e a gestão de inovações para o desenvolvimento sustentável, são temas cada vez mais importantes para estudos e projetos futuros.

Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável, sociedades sustentáveis, organizações.

1. Introdução

O conceito de desenvolvimento econômico pós revolução industrial consiste na introdução de novas combinações de fatores de produção que tendem a aumentar a produtividade do trabalho e suas repercussões na distribuição e utilização do produto social. O desenvolvimento é considerado o aumento da renda real, ou a quantidade de bens e serviços, além do excedente de produção (FURTADO, 1961). No entanto, este modelo de desenvolvimento econômico voltado apenas para a produção visando exclusivamente o lucro, impulsionou a exploração irresponsável dos recursos naturais.

A industrialização se caracterizava como motor do desenvolvimento para se atingir os níveis de bem-estar pelos países ricos. Até meados da década de 60 os custos ambientais em termos de uso intensivo de recursos naturais, da degradação da natureza, eram considerados normais e necessários no processo de "desenvolvimento". A natureza, em todos esses modelos, era considerada como um elemento imutável, uma fonte inesgotável de matéria-prima, e não como um sistema vivo com processos e funções próprias (DIEGUES, 1992).

A partir da já consolidada constatação de que o planeta é um só e finito, existiriam preocupações e desafios comuns à humanidade, que demandariam esforços também comuns a todos. Esta é a premissa básica defendida pela Comissão Brundtland: independente da existência de atores sociais implicados na responsabilidade da degradação ambiental, a busca de soluções seria uma tarefa comum à toda humanidade. Na tentativa de generalizar os fatos, omite um contexto histórico, e cria o “homem abstrato”, cuja consequência significa a retirada do componente ideológico da questão ambiental, que passa a ser considerada com um certa dose de ingenuidade e descompromisso, frente à falta de visibilidade do procedimento histórico que gerou a crise ambiental (LAYRARGUES, 1997).

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, iniciou os debates sobre temas centrais relativos ao crescimento econômico, desenvolvimento e proteção ambiental. A partir de então, o conceito de desenvolvimento visando a proteção ambiental, passou a ter alguns adjetivos: ecodesenvolvimento, desenvolvimento alternativo ou desenvolvimento sustentável.

O desenvolvimento sustentável tem como condição básica a conservação dos ecossistemas e dos recursos naturais. Da mesma forma, o desenvolvimento sustentável tenta resolver as contradições entre o crescimento econômico, a distribuição de renda e a necessidade de conservar os recursos ambientais, em benefício da atual e futura geração (DIEGUES, 1992).

Nesse sentido, é preciso que se discuta e entenda sobre os dois principais fatores que interferem na conservação ambiental, o desenvolvimento e o crescimento econômico. No crescimento a mudança é quantitativa, enquanto no desenvolvimento, é qualitativa. O conceito de desenvolvimento não é simplesmente o crescimento econômico, medido apenas em termos de renda per capita ou produto interno bruto (PIB) e que não considera as variáveis sociais, como o acesso da população à educação e à promoção da saúde, nem as relacionadas à proteção ambiental. Esse sistema já se mostrou insuficiente e insustentável, em desequilíbrio por lhe faltar seus dois outros pilares (BENNATI, 2011). Assim, é importante que de debata sobre o tema desenvolvimento sustentável, buscando assim facilitar o desenvolvimento econômico em conjunto com os fatores sociais e ambientais.

Neste contexto, o objetivo deste artigo concentrou-se em avaliar, conceituar e debater sobre o tema das sociedades sustentáveis e as organizações, enfatizando principalmente o desenvolvimento da sociedade de forma sustentável.

2. Desenvolvimento Sustentável - abordagem inicial

O desenvolvimento sustentável está baseado na busca pelo planeta harmônico e ideal, com o uso sustentável dos recursos naturais, com reparos e a reposição dos mesmos, além da busca pela cidadania plena, destacando-se a paz e a ausência de marginalidade psicológica, socioeconômica e cultural, tanto para as presentes como para as futuras gerações, e sempre que possível, reparando os danos de toda ordem causados no passado. Em resumo, o desenvolvimento sustentável almeja a promoção humana integral, a equidade social, a paz e o ambiente saudável e ecologicamente equilibrado – bases da sociedade sustentável (ALMEIDA JR, 2000).

Entre as variadas formas de tratar este assunto, destaca-se que o conceito mais recorrente de desenvolvimento sustentável é o do "desenvolvimento que não compromete os recursos que serão necessários às gerações futuras". Por considerar a importância do meio ambiente, necessita-se de planejamento dos recursos naturais que serão utilizados, sendo, portanto, um desenvolvimento com base na sustentabilidade que requer uma diminuição no uso de matérias-primas e aumento nos processos de reutilização e reciclagem dos produtos (MATTOS, 2008).

Para a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, entre os objetivos que derivam do conceito de desenvolvimento sustentável estão: crescimento renovável, mudança de qualidade do crescimento, satisfação das necessidades essenciais por emprego, comida, energia, água e saneamento básico, garantia de um nível sustentável de população, conservação e proteção da base de recursos, reorientação da tecnologia e gerenciamento do risco, reorientação das relações econômicas internacionais (BARONI, 1992).

A expressão “desenvolvimento sustentável”, que começou a se tornar popular a partir da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro em 1992, tem uma longa trajetória (BARBIERI et al., 2010).

Inicialmente, o cenário desenvolvimentista após a segunda guerra mundial trouxe consequências para o setor ambiental. Com a população humana crescendo a taxas exponenciais e com a percepção de finitude dos recursos naturais, a reunião do Clube de Roma em 1971 produziu um importante documento sobre as condições ambientais naturais e humanas da Terra, o qual embasou a realização da Conferência de Estocolmo, em 1972 (ALMEIDA JR, 2000).

A partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, introduziram-se no discurso desenvolvimentista temas como pobreza humana e degradação ambiental. As questões humanas e ambientais demandavam uma transformação da sociedade a ser realizada com justiça social e proteção ambiental, ou seja, o crescimento econômico deveria estar equacionado com o desenvolvimento psicossocial, cultural e ambiental. Neste momento surge a ideia de sustentabilidade, tomando forma a expressão “desenvolvimento sustentável” (ALMEIDA JR, 2000).

Na década de 80 ainda buscava-se uma forma de sustentabilidade socioeconômica e ambiental, em meio à miséria e ao comprometimento ecológico crescente. Em 1983, surge a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU, a fim de atender a uma agenda global para mudança, materializada no relatório "Nosso Futuro Comum", o qual foi responsável pelas primeiras conceituações oficiais e sistematizadas sobre desenvolvimento sustentável (ALMEIDA JR, 2000).

No entanto, o auge desse conceito ocorreu em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro (Rio-92), que consistiu em “promover um modelo de desenvolvimento que garanta o uso sustentável dos recursos naturais, preservando a biodiversidade”, freando a degradação do meio (BOLDRIN et al., 2004). Entre os tratados internacionais aprovados destacam-se a Convenção sobre Alteração Climática e a Convenção sobre Diversidade Biológica. Somam-se a estes, três documentos (a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Declaração de Princípios sobre o Manejo das Florestas e a Agenda 21) (ALMEIDA JR, 2000).

Entre estes documentos, a Agenda 21 destaca-se por se referir a um plano abrangente de ação com vistas ao desenvolvimento sustentável no mundo todo até o século XXI. Nesse contexto, a Rio-92 simbolizou o alcance de um consenso mundial em torno do conceito básico de desenvolvimento sustentável e simbolizou que a comunidade de nações aceita o desafio de reunir esforços no sentido de realizar, na prática, o desenvolvimento sustentável (ALMEIDA JR, 2000).

Após duas grandes conferências (Estocolmo - 1972 e Rio - 92) sobre meio ambiente que trouxeram as preocupações iniciais sobre o desenvolvimento sustentável, ocorreu na África do Sul em 2002, a Rio+10 (Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável). A importância desses eventos está na necessidade de a humanidade chegar a um acordo sobre o grau de interferência antrópica sobre o meio ambiente, a fim de evitar catástrofes que poderiam ocasionar casos extremos à impossibilidade da vida humana em determinados lugares do mundo (DINIZ, 2002).

Entre os assuntos discutidos na Rio+10, menciona-se os diversos problemas ambientais de caráter global, destacando os problemas associados à globalização. Aponta-se o risco de a pobreza gerar a desconfiança nos sistemas democráticos. Como medidas sugeridas, estavam o aumento a proteção da biodiversidade e o acesso à água potável, ao saneamento, ao abrigo, à energia, à saúde e à segurança alimentar. Também se destacou o combate a diversas situações adversas (fome, desnutrição, ocupação estrangeira, conflitos armados, narcotráfico, crime organizado, corrupção, desastres naturais, tráfico ilícito de armas, tráfico de pessoas, terrorismo, xenofobia, doenças crônicas transmissíveis, intolerância a ódios raciais, étnicos e religiosos) (DINIZ, 2002).

Para comemorar 20 anos da conferência ocorrida no Rio de Janeiro em 1992, aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, na cidade do Rio de Janeiro em junho de 2012. Esta conferência tinha como objetivo garantir o compromisso político internacional para o desenvolvimento sustentável e baseou-se em três pilares: econômico, social e ambiental. Entre os temas discutidos estavam a "economia verde" no contexto da erradicação da pobreza e a estrutura de governança para o desenvolvimento sustentável no âmbito das Nações Unidas (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, s/d).

No relatório final da Rio+20, os conferencistas afirmaram que para alcançar um desenvolvimento sustentável existem diferentes abordagens, modelos e ferramentas disponíveis para cada país, de acordo com suas prioridades. Destacam a economia verde e a erradicação da pobreza como as das importantes ferramentas para alcançar o desenvolvimento sustentável e que podem fornecer opções para formulação de políticas de crescimento econômico sustentável, reforçar a inclusão social, melhorando o bem-estar humano e mantendo o funcionamento saudável dos ecossistemas da terra (UNITED NATIONS, 2012).

No relatório final de consulta pública para a Rio+20, o setor empresarial preconiza que a práticas compatíveis com a economia verde já estão sendo implantadas no Brasil. "A Eletrobrás e a Natura defenderam o argumento de que o Brasil possui condições de implementar um novo modelo socioeconômico e ambiental". As empresas participantes requerem mais discussão sobre mecanismos públicos e privados e sobre marcos regulatórios que propiciem a implementação de mudanças estruturais no modelo vigente. O setor concorda que o Brasil deve fornecer sua visão para o futuro, construída de maneira compartilhada, com objetivos concretos de longo prazo, colocados de forma voluntária para a comunidade internacional (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2011).

Em síntese, atualmente os valores ligados ao desenvolvimento sustentável e ao respeito às políticas ambientais têm sido institucionalizados em maior ou menor grau nos diversos países pela mídia, pelos movimentos sociais e ambientalistas, e pelos governos. Como resposta a essas pressões institucionais, surgem novos modelos organizacionais, como é o caso das organizações inovadoras sustentáveis (BARBIERI et al., 2010).

3. Sociedades Sustentáveis

O atual contexto mundial é reflexo do processo de globalização iniciado na década de 50 e no qual se desenvolveram as grandes multinacionais. Tendo em vista a importância do desenvolvimento sustentável, a conscientização das organizações no que tange à responsabilidade em suas dimensões social, ambiental, econômica (Figura 1) e corporativa, revela-se um requisito para o alcance da sustentabilidade (GONÇALVES et al., 2007).

Figura 1: A interação entre os desenvolvimentos econômico, social e ambiental.

Fonte: Adaptado de Beel e Morse (2003) apud Mota (s/d).

O modelo de desenvolvimento tecnológico e econômico existente no mundo, pós-revolução industrial, tem estado diretamente relacionada aos costumes da sociedade global. As principais características deste modelo estão relacionadas ao consumo exagerado de bens e serviços ligados ao conceito de qualidade de vida, a exploração irresponsável dos recursos naturais e o descaso com as desigualdades sociais (LEAL, 2009).

O debate em torno dos conceitos de desenvolvimento sustentável traz um conjunto de preocupações principalmente sobre as relações homem x natureza (DIEGUES, 1992). Dessa forma, este conceito torna-se um instrumento essencial para um posicionamento estratégico das organizações, com atenção em relação às tendências sociais e ambientais que estão remodelando os mercados de forma contínua (MOTA, s/d).

Nesse sentido, observa-se o conceito de sociedades sustentáveis, o qual pode ser mais adequado que desenvolvimento sustentável na medida em que possibilita a cada sociedade definir seus padrões de produção e consumo, de bem-estar a partir de sua cultura, de seu desenvolvimento histórico e de seu ambiente natural. Além disso, deixa-se de lado o padrão das sociedades industrializadas, buscando a possibilidade de uma diversidade de sociedades sustentáveis, pautadas pelos princípios básicos da sustentabilidade ecológica, econômica, social e política (DIEGUES, 2003).

Para Oliveira Filho (2004) essa nova concepção traz a preocupação com a "utilização de tecnologias limpas, a minimização do desperdício e gestão sustentável dos recursos naturais, o entendimento e adequação às leis ambientais vigentes", buscando superá-las por meio de ações inovadoras, com o intuito de estabelecer uma prática de aperfeiçoamento contínuo e preservação do meio ambiente.

Nesse contexto, as organizações sustentáveis são definidas como aquelas que, em suas práticas e premissas gerenciais, estão de acordo com os critérios de serem economicamente viáveis, se mantendo competitivas no mercado, atendendo os conceitos de ética, responsabilidade social, transparência e de governança corporativa (LEAL, 2009). Um dos conceitos de sociedades sustentáveis mais utilizados está no livro "Plano B 4.0: Mobilização para Salvar a Civilização", do autor Lester Brown (2009), onde comenta que “uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz as suas necessidades sem diminuir as possibilidades das gerações futuras de satisfazer as delas”.

No entanto, Almeida Jr. (2000) destaca que a sociedade sustentável pode ser uma utopia do ponto de vista político-econômico convencional. Porém, considerando o estado crítico do planeta em relação aos aspectos ambientais e socioeconômicos, observa-se na sociedade sustentável uma utopia desejável e necessária, enquanto espera-se que a Terra sobreviva à crise atual.

Capra e Callenbach (2005) listam algumas idéias de como seria uma sociedade sustentável ideal:

- As populações devem ser estáveis - como as que têm hoje em dia 13 países europeus e o Japão.

- As economias sustentáveis não seriam potencializadas por combustíveis fósseis mas sim por energia solar e suas muitas formas diretas e indiretas. A energia nuclear deixaria de ser utilizada devido as suas desvantagens e riscos econômicos, sociais e ambientais.

- O transporte numa sociedade sustentável deve ser muito menos poluente. As bicicletas são veículos importantes no sistema de transporte sustentável.

- Nas indústrias sustentáveis a reciclagem é a principal fonte de matéria prima. O desenho industrial se concentrará na durabilidade e no uso reiterado. As empresas de reciclagem ocupariam o lugar das atuais companhias de limpeza urbana e disposição final do lixo (CAPRA; CALLENBACH, 2005).

Para que uma sociedade sustentável seja criada e mantida é necessário que as ações de sustentabilidade ambiental, social e política, sejam encaradas como um processo e não como um estágio final. Ainda assim, não se deve propor um determinado sistema sociopolítico fechado, mas sim um sistema que possa ter capacidade própria para se transformar. Nesse sentido, a conservação dos processos vitais dos ecossistemas, a diversidade biológica e o manejo dos recursos naturais, continuam sendo princípios ecológicos básicos para a reprodução das sociedades sustentáveis (ROBINSON et al. apud DIEGUES, 1992).

4. Sustentabilidade e as organizações

O debate sobre sustentabilidade, que se iniciou nas ciências biológicas (ecologia) e vem extravasando para a economia, é considerado importante uma vez que se coloca sobre a necessidade de um novo paradigma social econômico ou novo estilo de desenvolvimento, considerando que o atual mostrou-se insustentável, de diversas perspectivas, sendo uma delas a da conscientização da finitude dos recursos (BARONI, 1992).

Quando se trata dos recursos naturais, com a manutenção da produtividade desses recursos, pressupõe-se um conhecimento científico para dar conta de informar exatamente todas as decisões que envolvem o ambiente e a qualidade de vida do homem. A capacidade e a velocidade da sociedade industrial contemporânea na criação de novos produtos e situações de risco é maior do que a capacidade da ciência de verificação de suas consequências. Dessa forma, almejar que a ciência dê os limites para entender a capacidade de suporte dos recursos pode significar apenas a busca por soluções técnicas para os problemas ambientais (BARONI, 1992).

A sustentabilidade é considerada como um princípio ético, normativo, e por isso não existe uma única definição de sistema sustentável (ROBINSON et al. apud DIEGUES, 1992). Para Almeida (2002) a sustentabilidade está relacionada com a gestão do desenvolvimento nos governos ou nas empresas, considerando as dimensões ambiental, econômica e social. Tem como objetivo assegurar a perenidade da base natural, da infraestrutura econômica e da sociedade.

Ainda para Almeida (2002), a sustentabilidade exige uma postura preventiva, que identifique o que um empreendimento pode causar de positivo (para ser maximizado) e de negativo (para ser minimizado). A busca pela sustentabilidade pressupõe uma noção da complexidade e das sutilezas do fator tempo, exigindo uma postura não imediatista, mas uma visão de planejamento e de operação capaz de contemplar o curto, o médio e o longo prazo. Além disso, a gestão da sustentabilidade exige a consciência da importância do fator espaço, tendo em vista que ações locais ou restritas podem ter um efeito global se são replicadas.

As noções de sustentabilidade e das organizações sustentáveis são caracterizadas por variáveis bastante distintas em relação ao atual modelo de desenvolvimento. O modelo atual é fundamentado de acordo com uma visão reducionista, cartesiana e mecanicista, guardando uma relação linear de causa e efeito com suas soluções. Por outro lado, o modelo sustentável é orgânico, holístico e sistêmico, onde o meio ambiente é um conjunto de sistemas inter-relacionados, onde o todo seja formado pela soma das partes e de suas interações, e os seres humanos vistos como inseparáveis dos ecossistemas, em uma relação de troca (CAPRA apud LEAL, 2009).

Nos últimos anos, tem aumentado a percepção de que a solução dos problemas ambientais e a gestão ambiental, os processos de licenciamentos ambientais para atividades poluidoras e a definição dos limites e modelo de crescimento locais dependem da capacidade de governos, empresas e universidades estabelecerem parcerias e diálogo entre si e com as instâncias organizadas da sociedade civil, tanto ambientalistas quanto comunitárias. É consenso que só há diálogo e parcerias se houver também informação de qualidade, transparente e com fluxo permanente (SEBRAE, s/d).

No início da década de 1970, o termo responsabilidade social tornou-se amplamente utilizado, embora vários aspectos da responsabilidade social já constituíssem objeto da ação de organizações e governos desde o final do século XIX (ABNT, 2010). No Brasil, a valorização da responsabilidade social empresarial ganhou forte impulso por meio da ação de entidades não governamentais, institutos de pesquisa e empresas sensibilizadas pela questão, sendo que no final da década de 90 apresentava-se a discussão sobre as questões éticas e morais nas empresas, contribuindo de modo significativo para a definição do papel das organizações (GONÇALVES et al., 2007).

Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (SEBRAE, s/d).

A conscientização sobre a responsabilidade social das organizações tem aumentado em função do processo de globalização, de maior mobilidade e acessibilidade, bem como a crescente disponibilidade de comunicação instantânea. Estas condições demonstram que indivíduos e organizações em todo o mundo estão tendo maior facilidade de saber sobre as decisões e atividades das organizações. "Esses fatores dão às organizações a oportunidade de se beneficiar com a aprendizagem sobre novas formas de fazer as coisas e solucionar problemas" (ABNT, 2010).

O desempenho de uma organização em relação à sociedade e ao seu impacto no meio ambiente se tornou uma parte crucial na avaliação de seu desempenho geral e de sua capacidade de operação de forma eficaz. Em parte, reflete o reconhecimento cada vez maior da necessidade de assegurar ecossistemas saudáveis, igualdade social e boa governança organizacional. Todas as atividades das organizações dependem da saúde dos ecossistemas do mundo e por isso, as organizações estão sujeitas a uma investigação mais criteriosa por parte de seus interessados (ABNT, 2010).

Atualmente as organizações apontam para uma preocupação no sentido de implementar mudanças em seus paradigmas e modelos gerenciais, a fim de atender e satisfazer as exigências para a construção de um desenvolvimento sustentável. Essa tendência crescente no ambiente corporativo, quanto ao valor da sustentabilidade na gestão das organizações, assinala para a necessidade de se acelerar a adoção dos princípios de sustentabilidade e de estabelecer suas práticas em conformidade com o perfil de atuação da empresa e as demandas dos diversos tipos de público que com ela interage (LEAL, 2009).

No entanto, os princípios de sustentabilidade agregam valor para as empresas somente se forem aplicados de maneira integrada a um conjunto de estratégias que envolvam suas questões internas e que englobem as diversas dimensões da sustentabilidade. Entre estas dimensões destaca a sustentabilidade social, com a promoção da equidade na distribuição de renda para os habitantes do planeta; a sustentabilidade ambiental, na qual se utilizam os recursos naturais que são renováveis e limita-se o uso dos recursos não renováveis; a sustentabilidade econômica, vinculada ao crescimento econômico; a sustentabilidade espacial, atingindo uma condição de equilíbrio entre a população rural e urbana e a sustentabilidade cultural, a partir da qual se pretende garantir a continuidade das tradições e pluralidade dos povos (LEAL, 2009).

De uma forma mais simplificada, Barbieri et al. (2010) considera que a inovação nas empresas não é suficiente se não for considerada três dimensões em relação as ações de sustentabilidade:

- dimensão social – preocupação com os impactos sociais das inovações nas comunidades humanas dentro e fora da organização (desemprego; exclusão social; pobreza);

- dimensão ambiental – preocupação com os impactos ambientais pelo uso de recursos naturais e pelas emissões de poluentes;

- dimensão econômica – preocupação com a eficiência econômica, a qual refere-se a obtenção de lucro e geração de vantagens competitivas nos mercados onde atuam.

A sustentabilidade de uma empresa depende da busca pela ecoeficiência em suas ações e decisões, processos e produtos, permanentemente. Deve produzir mais e melhor com menos - mais produtos de melhor qualidade, com menos poluição e menos uso dos recursos naturais. Além disso, tem que ser socialmente responsável, pois toda empresa está inserida num ambiente social, no qual influi e do qual recebe influência (ALMEIDA, 2002). Em relação a sua responsabilidade social, a organização deve observar três relações (Figura 2): entre a organização e a sociedade, entre a organização e suas partes interessadas e entre as partes interessadas e a sociedade (ABNT, 2010).

Figura 2: Relação entre a organização, suas partes interessadas e a sociedade.

Fonte: ABNT, 2010.

Sendo a base do desenvolvimento sustentável um sistema de mercado aberto e competitivo, os preços refletem os custos (incluindo os custos ambientais). Nesse sentido, quando os preços são fixados adequadamente, a competição estimula os produtores a usar o mínimo de recursos, reduzindo o avanço sobre os ecossistemas naturais. Além disso, estimula a minimizar a poluição, quando há uma legislação ou norma que determina que as empresas sejam obrigadas a pagar pelo seu controle e pelos danos que causa ao meio ambiente. Diante de todas essas características e com a modernização crescente da tecnologia, as empresas são capazes de promover a criação de novas tecnologias para tornar a produção mais eficiente do ponto de vista econômico e ambiental (ALMEIDA, 2002).

Todos os produtos ou serviços oferecidos por determinada empresa ou organização têm uma história. O Ciclo de Vida (Figura 3) desses produtos é um método técnico para avaliação dos aspectos ambientais e dos impactos potenciais associados a um determinado produto, compreendendo etapas que vão desde a retirada dos recursos da natureza até a disposição final. Esta técnica auxilia na identificação de prioridades e afasta-se do enfoque tradicional de tratamento no final do processo para a proteção ambiental.

O modelo de organização sustentável é uma resposta inovadora às pressões por organizações capazes de inovar com eficiência em termos econômicos, mas com responsabilidade social e ambiental, ou seja, buscar vantagens competitivas desenvolvendo produtos e serviços com base nas dimensões social, ambiental e econômica. As organizações sustentáveis reúnem duas características essenciais: inovação e sua orientação para a sustentabilidade. Este caminho institucionaliza uma nova lógica de produção, na qual a sustentabilidade e a inovação caminham juntas (BARBIERI et al., 2010).

Figura 3: Análise do ciclo de vida de um produto.

Fonte: SEBRAE.

5. Considerações Finais

Ao longo do tempo, as organizações têm mantido uma dimensão social muito importante, uma vez que utilizam recursos pertencentes à própria sociedade. Sob este ponto de vista, tem sido cada vez mais imprescindível para as organizações adotar práticas gerenciais que privilegiem não apenas o êxito dos negócios, mas também os aspectos sociais e ambientais.

Dessa forma, o aprimoramento dos modelos de organização sustentáveis, as diversas formas da sua institucionalização em âmbito global, o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, a gestão de inovações para o desenvolvimento sustentável, serão temas cada vez mais importantes nos estudos futuros.

Como abordado neste trabalho, muitos autores defendem que o controle ambiental é estratégico e deve ser visto como uma vantagem competitiva. À medida que as novas idéias em relação ao desenvolvimento sustentável se ampliam, os empresários passam de reativos a pró-ativos. Assim, tornam-se cada vez mais aptos a compreender e participar das mudanças estruturais em relação a área ambiental, econômica e social. Nesse sentido, destaca-se o papel fundamental em relação as empresas e seus investimentos.

Este trabalho, portanto, nos leva a entender um mundo tripolar: governo, sociedade, empresas. Por isso, a gestão ambiental evolui para algo mais profundo e mais amplo, que é a gestão da sustentabilidade e por consequencia tarefa de todos (ALMEIDA, 2002). Assim, considera-se que o objetivo proposto para o desenvolvimento deste artigo foi cumprido, onde foi possível avaliar, conceituar e debater sobre o tema das sociedades sustentáveis e as organizações, enfatizando principalmente o desenvolvimento da sociedade de forma sustentável.

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Ilustrações: Silvana Santos