Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
10/09/2018 (Nº 53) IMPORTÂNCIA DA TEMPERATURA E DO SUBSTRATO NA GERMINAÇÃO DE ESPÉCIES FLORESTAIS
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IMPORTÂNCIA DA TEMPERATURA E DO SUBSTRATO NA GERMINAÇÃO DE ESPÉCIES FLORESTAIS (RELATO DE EXPERIÊNCIA)

 

Luan Danilo Ferreira de Andrade Melo1

Eng. Agrônomo. Doutorando em Produção Vegetal, UFAL/CECA. E-mail: luan.danilo@yahoo.com.br

 

João Luciano de Andrade Melo Junior2

Eng. Agrônomo. Doutorando em Produção Vegetal, UFAL/CECA. Email: luciiano.andrade@yahoo.com.br

 

Raíssa Cardoso Tenório3

Graduanda em Medicina Veterinária.

UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: raissa_t91@hotmail.com

 

Larice Bruna Ferreira Soares4

Mestranda em Medicina Veterinária.

UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: brunaa_soares@hotmail.com

 

RESUMO: É comum que sementes de espécies florestais, embora permaneçam viáveis por longos períodos no banco de sementes do solo, apresentem germinação lenta e irregular, mesmo quando expostas a condições ambientais favoráveis. Dentre os fatores que afetam o processo germinativo, a temperatura e o substrato são considerados os mais significativos. As variações de temperatura influenciam a velocidade, a percentagem e a uniformidade de germinação. O conhecimento dos fatores que influenciam o processo de germinação de sementes é de extrema importância, principalmente para as espécies florestais, e apesar da grande diversidade de espécies nativas do Brasil, poucas estão incluídas nas Regras para Análises de Sementes.

Palavras-chave: desenvolvimento, potencial fisiológico, uniformidade, velocidade de germinação.

 

 

 

1. INTRODUÇÃO

            O processo de germinação envolve uma série de atividades metabólicas, onde ocorre uma seqüência de reações químicas que apresentam exigências próprias quanto à temperatura, pois dependem das atividades enzimáticas específicas (MARCOS FILHO, 2005). O processo de germinação pode ser afetado por uma série de condições intrínsecas e extrínsecas, dentre as quais umidade, temperatura, substrato, luz e oxigênio. Entretanto, o conjunto é essencial para que o processo se realize normalmente, e a ausência de uma delas impeça a germinação da semente (CARVALHO e NAKAGAWA, 2000).

            Dentre as condições que afetam o processo germinativo, a temperatura é considerada um dos fatores que tem uma interferência significativa. As variações de temperatura influenciam a velocidade, a percentagem e a uniformidade de germinação (MARCOS FILHO, 2005).

            A temperatura ótima para cada espécie é aquela onde ocorre maior porcentagem de germinação no menor espaço de tempo. Para maioria das espécies a temperatura ótima situa-se entre 20 e 30 ºC (MARCOS FILHO, 2005). Além de uma faixa de temperatura ótima para germinarem, algumas espécies ainda necessitam de alternância de temperatura para que o processo seja satisfatório (SANTOS e AGUIAR, 2000).

            O substrato é outro fator importante para o processo germinativo e tem como função a manutenção da umidade para as sementes, proporcionando a retomada do crescimento do embrião e condições adequadas à germinação e ao posterior fixação e desenvolvimento das plântulas (FIGLIOLIA et al., 1993). O substrato deve manter uma umidade equilibrada para que a quantidade de água não afete a aeração, impedindo a disponibilidade de oxigênio (POPIGINIS, 1985).

             

2. DESENVOLVIMENTO                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

2. 1.  Germinação de espécies florestais

A germinação da semente consiste na retomada do processo de desenvolvimento do embrião e consequente saída da plântula do interior da semente (CARVALHO e NAKAGAWA, 2000).

Do ponto de vista agronômico, a germinação é o processo que se inicia quando a semente seca é semeada em solo úmido e termina quando a plântula emerge do solo. Entretanto, do ponto de vista fisiológico, a germinação consiste no processo que se inicia com o suprimento de água à semente seca e termina quando o crescimento da plântula se inicia, sendo este o momento em que há a saída da radícula através do tegumento (WANDERER et al., 2007). As Regras de Análise de Sementes no Brasil, também, consideram germinadas, aquelas sementes cujas estruturas da plântula estejam visíveis (BRASIL, 2009).

É comum que sementes de espécies florestais, embora permaneçam viáveis por longos períodos no banco de sementes do solo, apresentem germinação lenta e irregular, mesmo quando expostas à condições ambientais favoráveis (MURDOCH e ELLIS, 2000). Esse fenômeno é denominado dormência e consiste em estratégia natural de sobrevivência da semente no solo, após maturação e dispersão, para garantir a perpetuação da espécie (PIÑA-RODRIGUES e AGUIAR, 1993).

 

2.2. Temperatura

            A temperatura em que ocorre a germinação é um fator que tem importante influência sobre esse processo, tanto no aspecto de germinação total como na velocidade de germinação, pois a temperatura tende a influenciar agindo sobre a velocidade de absorção de água e sobre as reações bioquímicas determinantes no processo (CARVALHO e NAKAGAWA, 2000). As variações da temperatura afetam a velocidade, a porcentagem e a uniformidade da germinação (MARCOS FILHO, 2005).

As sementes demonstram desempenho variável em função da temperatura, não havendo uma ótima para todas as espécies (BORGES e RENA, 1993), podendo estar associada às características ecológicas de cada espécie.

            A rapidez da germinação é determinada principalmente pela velocidade de embebição. Assim, é desejável a menor exposição possível das sementes a condições menos favoráveis do ambiente.

            Considera-se temperatura ótima aquela que possibilita a combinação mais eficiente entre a porcentagem e a velocidade de germinação (MARCOS FILHO, 2005). As temperaturas máximas situam-se entre 35 e 40 °C, e as mínimas geralmente são inferiores a 15 °C (MARCOS FILHO, 2005). Acima ou abaixo dos limites superior e inferior, a germinação não ocorrerá, podendo acontecer à morte das sementes (BORGES e RENA, 1993).

            Schmitdt (2000) relata que a faixa de 20 a 30 °C mostra-se adequada para a germinação de grande número de espécies subtropicais e tropicais. Algumas espécies apresentam limites mais amplos devido a exigências distintas, como a maioria das espécies pioneiras que têm um nível de tolerância maior à temperatura do que as clímax. Existem espécies que a germinação de suas sementes é favorecida quando submetidas à temperatura constante (LIMA et al. 1997); outras exigem alternância de temperatura (SALOMÃO et al., 1995) e existem ainda espécies que germinam indiferentemente em temperaturas constantes ou alternadas (ALBUQUERQUE et al., 1998).

Hoje em dia, é de suma importância que subsídios sobre as condições de temperatura adequadas para a condução de teste de germinação estejam também disponíveis para um maior número de espécies florestais, visto a ampliação da demanda de sua comercialização.

 

2.3. Substrato

            O substrato utilizado nos testes de germinação também apresenta grande influência na germinação, pois fatores como aeração, estrutura, capacidade de retenção de água, grau de infestação de patógenos, entre outros, podem variar de um substrato para outro, favorecendo ou prejudicando a germinação das sementes (POPIGINIS, 1985).

            Na escolha do material para substrato, deve ser levado em consideração o tamanho da semente, sua exigência com relação à umidade, sensibilidade de ou não à luz, a facilidade que este oferece para o desenvolvimento e a avaliação das plântulas (BRASIL, 2009).

            Medeiros e Zanon (1998) recomendaram a utilização do substrato papel de filtro e a temperatura de 30°C para a germinação de sementes de Sebastiana commersoniana (branquilho) e papel de filtro e areia, na temperatura de 25°C, para Podocarpus lambertii (pinheiro-bravo). As temperaturas de 20-30 e 20-35°C e os substratos areia e vermiculita são condições adequadas para condução de testes de germinação em sementes de Caesalpinia pyramidalis TUL (LIMA et al. 2011).

 

3. CONCLUSÃO

            O conhecimento dos fatores que influenciam o processo de germinação de sementes é de extrema importância, principalmente para as espécies florestais, e apesar da grande diversidade de espécies nativas do Brasil, poucas estão incluídas nas Regras para Análises de Sementes.

 

 

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, M.C.F.; RODRIGUES, T.J.D.; MINOHARA, L.; TEBALDI, N.D.; SILVA, L.M.M. Influência da temperatura e do substrato na germinação de sementes de saguaragi (Colubrina glandulosa Perk)-Rhamanaceae. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v. 20, n.2, 1998. p. 346-349.

 

BORGES, E. E. L.; RENA, A. B. Germinação de sementes. In: AGUIAR, I. B.; PIÑA-RODRIGUES, F. C. M.; FIGLIOLIA, M. B. (Coords.). Sementes florestais tropicais. Brasília: ABRATES, 1993. p.83-136.

 

BRASIL. Regras para Análise de Sementes. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. SNDA/DNPV/CLAV, 2009. Brasília. 365 p.

 

CARVALHO, N. M.; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 4.ed. Jaboticabal: FUNEP, 2000. 588p.

 

FIGLIOLIA, M. B.; OLIVEIRA, E. C.; PIÑA-RODRIGUES, F. C. M. Análises de sementes. In: Aguiar I B, Piña- Rodrigues FCM, Figliolia MB (Coord.) Sementes florestais tropicais. Brasília; ABRATES, 1993. p. 137 – 174.

 

LIMA, C.M.R., BORGHETTI, F.; SOUSA, M.V. Temperature and germination of the  Leguminosae Enterolobium contortisiliquum. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, Brasília, v.9, n.2, 1997. p.97-102.

 

LIMA, C. R.; PACHECO, M. V.; BRUNO, R. L. A. FERRARI, C. S. S.; BRAGA-JUNIOR, J. M.; BEZERRA, A. K. D. Temperaturas e Substratos na Germinação de Sementes de Caesalpinia pyramidalis TUL. Revista Brasileira de Sementes, v.33, n. 2 p. 216 - 222, 2011.

 

MARCOS FILHO, J. Fisiologia de sementes de plantas cultivadas. Piracicaba: FEALQ, 2005. 495p.

 

MURDOCH, A.J.; ELLIS, R.H. Dormancy, Viability And Longevity. In: FENNER, M. (Ed.) Seeds: the ecology of regeneration in plant communities. 2.ed. Wallingford: CABI Publishing, 2000. p.183-214.

 

PIÑA-RODRIGUES, F.C.M.; AGUIAR, I.B. Maturação e dispersão de sementes. In: Aguiar, I.B.; Piña-Rodrigues, F.C.M.; Figliolia, M.B. (org.). Sementes florestais tropicais. ABRATES, 1993. p.83-135.

 

POPINIGIS, F. Fisiologia da semente. Brasília: AGIPLAN, 1985. 285p.

 

SALOMÃO, A.N.; EIRA, M.T.S.; CUNHA, R. The effect of temperature on seed germination of four Dalbergia nigra Fr. Allem – Leguminosae.  Revista Árvore, Viçosa, v.9, n.4, 1995. p.588-594.

 

SANTOS, S. R.; AGUIAR, I. B. Germinação de sementes de branquilho (Sebastiania commersoniana (Baill) Smith & Downs) em função do substrato e do regime de temperatura. Revista Brasileira de Sementes, Pelotas, v.22, n.1, 2000. p.120-126.

 

WANDERER, M.; FRANKE, L.B.; BARROS, I.B.I. Germinação de sementes de melissa com diferentes origens. Revista Brasileira de Agroecologia, v.2, n.1, 2007.

Ilustrações: Silvana Santos