Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
10/09/2018 (Nº 53) EDUCAÇÃO AMBIENTAL AO AR LIVRE: EXPERIÊNCIAS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL AO AR LIVRE: EXPERIÊNCIAS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

 

Rodrigo Cavasini¹

 Rafael Falcão Breyer²

 

 

 

¹Graduação em Educação Física, especialização em Metodologias do Ensino de Educação Ambiental e Educação Ambiental, mestrado em Ciências do Movimento Humano e aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor da Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. End.: Av. Ipiranga 6681, Prédio 81, Porto Alegre - RS. Email: rodrigo.cavasini@pucrs.br

²Graduação em Educação Física e aluno de pós-graduação em Educação Ambiental. Email: rfbreyer@gmail.com

 

Resumo

As intervenções de Educação Ambiental (EA) realizadas em conjunto com esportes na natureza ou simplesmente intervenções de Educação Ambiental ao Ar Livre (EAAL) despontam como uma estratégia interessante para o enfrentamento de problemas atuais, devido ao considerável interesse da população e ao potencial de tais propostas. Nesse sentido as Unidades de Conservação (UCs), em especial as que também objetivam promover a EA e atividades na natureza, são espaços diferenciados para a realização dessas intervenções educacionais. Este trabalho relata experiências de EAAL desenvolvidas em disciplinas da Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, as quais ocorreram em UCs localizadas no município de Porto Alegre. Essas disciplinas possuem caráter teórico-prático e objetivam desenvolver conhecimento relacionado às atividades esportivas na natureza, à EAAL, à gestão de riscos, além de atividades experienciais. As intervenções de EAAL, compostas por práticas de mínimo impacto ambiental em atividades na natureza e atividades de EA realizadas no contexto de esportes na natureza, ocorrem por meio da prática de esportes, realização de discussões, além da posterior elaboração de seminários e relatórios. Durante os oito semestres em que essas atividades educacionais foram promovidas, as avaliações têm indicado o desenvolvimento de competências relevantes para a melhoria e manutenção da qualidade do meio ambiente, bem como a ampliação da percepção da relevância dessas propostas educacionais e das áreas naturais empregadas, especialmente, das UCs. Enfim, intervenções que são constantemente aprimoradas e também têm servido de modelo para propostas de EAAL desenvolvidas por outras instituições.

 

Palavras-chave: Educação Ambiental ao Ar Livre; Esportes na Natureza; Atividades na Natureza.

 

Introdução

Durante as últimas décadas a Educação Ambiental (EA) têm recebido crescente atenção por parte de diversos setores da sociedade. Os resultados que podem ser alcançados por tais propostas educacionais, em especial as adequadamente estruturadas e promovidas, são de grande relevância para o enfrentamento de problemáticas que afetam o meio ambiente, onde estão inseridos os seres humanos e as sociedades formadas por esses.     

A EA é marcada por um número considerável de definições, as quais se aproximam no que se refere ao foco direcionado ao ser humano, sociedades e relações existentes com o meio ambiente (CAVASINI, 2012). Além disso, a EA caracteriza-se pela transversalidade, interdisciplinaridade e por ser desenvolvida em diversos ambientes educacionais e de inúmeras formas. Entre as formas de promoção dessas intervenções educacionais, as atividades de EA realizadas em conjunto com esportes na natureza[1], ou simplesmente intervenções de Educação Ambiental ao Ar Livre (EAAL), podem ser consideradas como características de iniciativas de EA de sucesso. Nesse sentido, corroboram Louv (2011), Sobel (2005) e Coob (2004) ao afirmarem que o tempo utilizado pelos indivíduos em atividades realizadas em contato direto com a natureza é um dos aspectos essenciais para o desenvolvimento de um relacionamento positivo entre esses.

As intervenções de EAAL são realizadas em diversos espaços, em que figuram: propriedades particulares, destinadas especificamente ou não para atividades esportivas e educacionais; praças e parques municipais que possuam áreas verdes; cursos e corpos de água, além de praias e outras áreas próximas; Unidades de Conservação (UCs) em que seja permitida a realização de tais atividades educacionais. Entre os locais comumente empregados para o desenvolvimento de intervenções EAAL, as UCs destacam-se das demais, uma vez que, esses espaços podem promover uma maior aproximação do ser humano a áreas naturais diferenciadas e, assim, tornar possível o consequente desenvolvimento de experiências e aprendizados duradouros, os quais são de grande relevância para indivíduos, sociedade e meio ambiente.

De fato, as UCs são áreas de inestimável valor, estão presentes nas diversas regiões brasileiras, englobam várias categorias e podem ser descritas como: “espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação [...]” (BRASIL, 2000). Sendo que, as categorias de UCs que possuem objetivos voltados para o estímulo à promoção da EA e de atividades recreativas na natureza[2], como parques nacionais, estaduais e naturais, além de refúgios da vida silvestre, são áreas diferenciadas para o desenvolvimento da EA e, em especial, de intervenções de EAAL.

Nacionalmente são recorrentes as iniciativas de EA sendo desenvolvidas em UCs, entretanto, são menos expressivos os quantitativos de relatos de intervenções estruturadas de EAAL realizadas nesses espaços, bem como de trabalhos científicos focados em tais atividades educacionais. Uma situação que enfatiza a relevância de uma maior aproximação do meio acadêmico, em especial das áreas vinculadas aos esportes e educação, as quais podem contribuir com o conhecimento já existente[3] e, consequentemente, aprimorar a qualidade do que já é realizado, além de estimular a ampliação da promoção de intervenções de EAAL.

Este trabalho relata a experiência de promoção de EAAL desenvolvida na Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto (FEFID) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Escola de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as quais ocorreram em UCs localizadas nos Morros Santana e do Osso, ambas no município de Porto Alegre. A seguir serão apresentados aspectos da EAAL, as experiências construídas e, por fim, algumas considerações e perspectivas.

 

Aspectos das Intervenções de EAAL

A EAAL compreende um considerável quantitativo de intervenções educacionais que podem ser estruturadas em torno de dois grupos: o primeiro foca em práticas de mínimo impacto ambiental em esportes na natureza, entre as quais se destacam no cenário internacional os Princípios para Não Deixar Rastro (Leave no Trace Principles); e o seguinte foca em intervenções de EA realizadas no contexto desses esportes, as quais integram um amplo leque de propostas focadas em atividades educacionais no, sobre e para o meio ambiente.

As atividades realizadas na natureza, inclusive as de caráter educacional ou esportivo, podem gerar impactos ambientais. Nesse sentido, pesquisas realizadas nas últimas quatro décadas pela área da Recreação Ecológica, têm contribuído para o desenvolvimento de iniciativas educacionais, como as desenvolvidas pelo The Leave no Trace - Center for Outdoor Ethics (Centro de Ética em Atividades ao Ar Livre - Não Deixe Rastro). Essa instituição que possui sede na cidade norte americana de Boulder, filiais e parceiros em dezenas de países, inclusive no Brasil, dedica-se para a promoção da utilização responsável dos variados ambientes empregados pelos praticantes de atividades na natureza, por meio de iniciativas educacionais centradas na ética ambiental (THE LEAVE NO TRACE CENTER FOR OUTDOOR ETHICS, 2015).

Em relação às propostas desenvolvidas pelo The Leave no Trace - Center for Outdoor Ethics, os Princípios para Não Deixar Rastros (Leave no Trace Principles) vêm sendo empregados de forma crescente por inúmeras instituições e indivíduos. Entre esses princípios, destacam-se os destinados a áreas de grande presença e circulação humana (Frountcountry Aproach), os quais são abordados por Cavasini et al. (2014), Cavasini, Petersen, Petkowicz (2013), Tilton (2003) e Harvey (1999) e podem ser descritos de maneira resumida da seguinte forma:

 

Conhecer antes de ir: valorização do planejamento de qualquer atividade na natureza, em que também figura o levantamento de informações sobre os espaços e características das atividades propostas e do grupo envolvido.

Permanecer nas trilhas e acampar em locais permitidos: utilização de locais adequados, previamente determinados ou estabelecidos para a realização de atividades na natureza.

Dar fim apropriado aos resíduos produzidos: organização das atividades na natureza de modo a empregar, sempre que possível, os sanitários existentes; trazer de volta e encaminhar adequadamente tudo que for levado para a natureza durante as práticas.

Deixar os locais como foram encontrados: não alterar os locais empregados para as atividades, prevenindo danos permanentes à vegetação, solo e objetos de valor histórico e/ou cultural.

Ser cuidadoso com as fogueiras: evitar a realização de fogueias e, caso essas sejam feitas, utilizar somente áreas permitidas, empregar técnicas de mínimo impacto, agir de acordo com as orientações de cada local, além de não descartar resíduos nas mesmas ou deixá-las acesas sem supervisão.

Permitir que os animais silvestres mantenham-se silvestres: evitar alimentar e manter-se distante de animais silvestres, dessa forma, também colaborando com a gestão de riscos das atividades realizadas.

Compartilhar as trilhas e cuidar dos animais de estimação: considerar e respeitar outros indivíduos; caso seja permitida a presença de animais de estimação, esses precisam ser mantidos sob controle e seus dejetos devem ser recolhidos.

 

            Por sua vez, as intervenções de EA contextualizadas nos esportes na natureza relacionam-se diretamente com abordagens educacionais organizadas em três grupos: educação sobre o meio ambiente que propicia informações sobre os fenômenos ambientais; educação no meio ambiente que emprega atividades e esportes na natureza para o desenvolvimento de habilidades e aprendizados; e a educação para o meio ambiente, em que as intervenções são direcionadas para o enfrentamento de problemáticas (MINISTRY FOR THE ENVIRONMENT OF NEW ZEALAND, 1998).

De acordo com Castro (1999), a educação sobre o meio ambiente centra-se em abordagens teóricas para o descobrimento da natureza, objetivando o desenvolvimento de conhecimento sobre interações do ser humano com o meio ambiente. Por sua vez, a educação no meio ambiente utiliza os espaços naturais como uma fonte de materiais para a realização de atividades educacionais experienciais. Esse enfoque, corriqueiro nas iniciativas não formais de educação ambiental, costuma empregar diferentes atividades físicas e recreativas realizadas na natureza.

Já a educação para o meio ambiente objetiva promover a participação ativa do indivíduo e de grupos sociais na busca por resoluções de problemáticas ambientais. Nesse sentido, Giordan e Souchon (1995 apud CASTRO, 1999) salientam que essa abordagem baseia-se na compreensão de que as problemáticas ambientais relacionam-se direta ou indiretamente com a utilização e gestão que a humanidade realiza de recursos naturais, enfatizando a importância da utilização adequada desses recursos e da busca pela manutenção da qualidade do meio ambiente.

Propostas de EA contextualizadas em esportes na natureza podem empregar os momentos iniciais de cada intervenção para abordar conteúdos relacionados a questões ambientalmente relevantes (educação sobre o meio ambiente), paralelamente à apresentação de objetivos planejados (ex.: conteúdos específicos de cada esporte). Durante o desenvolvimento das atividades esportivas, pode-se estimular que os participantes também percebam os espaços em que estão inseridos e os relacionem com as questões anteriormente tratadas (educação no meio ambiente). Já, no encerramento das atividades, pode-se focar nas experiências esportivas e educacionais, buscando estimular o desenvolvimento de novas percepções e soluções para as problemáticas focadas (educação para o meio ambiente).

O emprego de atividades educacionais no e para o meio ambiente, as quais propiciam um contato direto com a natureza, combinadas com atividades educacionais sobre o meio ambiente, que possibilitam um contato indireto com o meio natural, tem demonstrado ser uma abordagem de elevado potencial educacional (MAZZE, 2006).  Essa abordagem permite o desenvolvimento de um número expressivo de fatores relacionados ao desenvolvimento de comportamentos ambientalmente responsáveis (DUERDEN; WITT, 2010).

Independente da proposta de EAAL cabe salientar que tais intervenções educacionais despertam o interesse dos indivíduos, ao mesmo tempo em que possuem um conjunto de potencialidades que podem ser exploradas. O interesse da população por atividades na natureza se relaciona com um número amplo de motivações, como é discutido no trabalho de Manning (2011) e apresentado a seguir: possibilidade de aprendizagem de novos conteúdos em diversas áreas do conhecimento; presença de conquistas e estímulos, como a elevação da autoimagem, reconhecimento social e satisfação; possibilidade de desfrutar das belezas encontradas na natureza; possibilidade de convívio com outros indivíduos que partilham valores similares; oportunidade para ensinar e partilhar conhecimento e habilidades, além de liderar outros indivíduos; ambiente propício para introspecção, como ocorre com os praticantes de meditação em espaços na natureza; demandas e oportunidades para atuar de forma autônoma, ou seja, buscar soluções e manter o controle em situações inesperadas.

Paralelamente a essas motivações, as atividades esportivas e educacionais na natureza possuem diversas potencialidades que podem ser exploradas por professores eticamente comprometidos em atividades estruturadas. Essas potencialidades são organizadas em quatro grupos. O primeiro relaciona-se com competências ambientais, em que se destacam a melhoria das relações entre os seres humanos e desses com a natureza, a ampliação da compreensão da relevância do meio ambiente, da ética ambiental, da proteção ambiental, além do estímulo ao envolvimento público em questões ambientais. O segundo grupo relaciona-se com as potencialidades pessoais, em que podem ser destacados entre os aspectos fisiológicos os benefícios cardíacos, controle do diabetes, redução da obesidade e do risco de alguns tipos de câncer, além de aspectos psicológicos, como desenvolvimento de competências acadêmicas e eficiência cognitiva, ampliação da percepção da qualidade de vida, ganhos de autoimagem, autoestima e autoconfiança, prevenção e redução da ansiedade e depressão. O terceiro volta-se para os aspectos socioculturais, como a ampliação da identidade das comunidades, do orgulho nacional, do envolvimento da população na tomada de decisões, da cooperação, da coesão social e da democracia. O quarto e último grupo centra-se nas potencialidades econômicas, em que se destacam a redução de gastos com saúde, o desenvolvimento econômico, a ampliação das oportunidades de emprego e para a qualificação profissional (MANNING, 2011).

            A EA encontra condições favoráveis para ser desenvolvida em conjunto com esportes na natureza. De fato, propostas educacionais realizadas em diferentes momentos da prática de trekking, canoagem, ciclismo ou outro esporte na natureza podem contribuir para o desenvolvimento de competências valiosas para o enfrentamento de problemáticas ambientais, como está exposto nas experiências de EAAL promovidas em UCs apresentadas a seguir.

 

As Experiências Construídas

            As intervenções de EAAL que integram esse relato são desenvolvidas na FEFID da PUCRS desde 2011 e na ESEF da UFRGS desde 2013. Na primeira universidade as experiências podem ser organizadas em torno da disciplina intitulada Esportes na Natureza, a qual possui carga horária de 32 horas/aula, estruturadas em encontros de duas, quatro e seis horas/aula. Por sua vez, a disciplina Tópicos Especiais em Esporte 3 - Atividades Esportivas e Educacionais na Natureza desenvolvida na UFRGS possui carga horária de 64 horas/aula, organizadas em encontros de dois, quatro e oito horas/aula.

Essas disciplinas possuem caráter teórico-prático e objetivam desenvolver conhecimento relacionado às atividades esportivas na natureza, à EAAL, à gestão de riscos, à ética em atividades na natureza, aos locais empregados para a prática, bem como atividades experienciais. A figura a seguir apresenta objetivos, conteúdo programático, metodologia e bibliografia empregada.

 

Figura 1: Elaborada pelos autores.

 

De modo a atingir os objetivos propostos são desenvolvidos nos campus das duas universidades debates, aulas expositivas, relatórios e seminários, os quais se somam a saídas de campo que ocorrem em áreas de UCs e outros espaços naturais. Nas saídas de campo são realizadas atividades esportivas, em que se destacam o trekking, a canoagem e a escalada, em conjunto com intervenções de EAAL, como o Leave no Trace Awareness Workshop[4] que se volta para o desenvolvimento de competências para a minimização de impactos ambientais gerados pela prática de esportes na natureza.

Em relação as duas UCs empregadas para a realização de saídas de campo focadas na EAAL, o Parque Natural Morro do Osso, administrado pela prefeitura de Porto Alegre, situa-se na zona sul do município e possui uma área de 127 ha. Já a Reserva da Vida Silvestre Morro Santana, administrada pela UFRGS, possui uma área de 321 ha e localiza-se na zona leste do município. Ambas UCs, situadas na cadeia de morros graníticos da área de Porto Alegre, são de grande relevância ambiental e possuem locais de considerável beleza cênica e natural, ao mesmo tempo em que enfrentam problemáticas, como os impactos causados pelas ações inconsequentes de indivíduos, inclusive de alguns praticantes de esportes na natureza. De fato, situações que ressaltam a importância do desenvolvimento de iniciativas de EAAL, de modo a aproximar e envolver estudantes universitários no enfrentamento de problemáticas ambientais existentes nessas UCs e em outros espaços naturais. A figura que segue expressa aspectos de áreas das UCs visitadas e de atividades de EAAL desenvolvidas.

 

Figura 2: Elaborada pelos autores.

 

Quanto ao público participante, esse é formado por professores universitários, alunos e convidados. O docente que atua nas disciplinas da PUCRS e UFRGS é graduado em Educação Física, especialista em EA, mestre em Ciências do Movimento Humano, aluno de doutorado do Programa de Pós Graduação em Ciências do Movimento Humano da ESEF/UFRGS e possui expertise nas áreas de esportes na natureza, EA, projetos esportivos sociais, educação ao ar livre. Os alunos são oriundos de cursos de graduação e pós-graduação em Educação Física, Pedagogia, Nutrição, Geografia, Administração de Empresas, Engenharias, Biologia, Química, entre outros. Boa parte desses alunos costuma possuir nenhuma ou reduzidas experiências anteriores relacionadas aos temas propostos. Além desses, também colaboram professores convidados com expertise na área de EAAL nas saídas de campo e atividades experienciais.

As avaliações realizadas nas disciplinas, que se somam aos relatos dos participantes e percepções dos professores envolvidos, apontam para os seguintes aspectos: ampliação de conhecimento e da percepção da relevância de esportes na natureza, da EAAL e da gestão de riscos em atividades na natureza; ampliação do interesse para a realização de pesquisas e atuação profissional nas áreas de esportes na natureza e EAAL; ampliação do interesse pela prática de atividades esportivas e educacionais realizadas na natureza; desenvolvimento de aspectos relacionados à ética em atividades na natureza; ampliação de competências relevantes para a melhoria e manutenção da qualidade do meio ambiente; valorização dos espaços naturais empregados para o desenvolvimento das atividades experienciais, em especial, das UCs; despertar de interesse pelas UCs visitadas, principalmente por alunos que residem no município de Porto Alegre e as desconheciam ou nunca tiveram oportunidade anterior de realizar atividades esportivas e educacionais nesses espaços.

 

Outras Considerações e Perspectivas Futuras

            A EAAL agrega um conjunto expressivo de possibilidades de intervenções, as quais são organizadas em torno de práticas para a minimização de impactos que podem ser produzidos durante as atividades na natureza, bem como para o desenvolvimento de competências para o enfrentamento de problemáticas ambientais. Essas atividades educacionais possuem diversas potencialidades e despertam considerável interesse da população, também se diferenciando de outras intervenções tradicionais de EA, por permitir o envolvimento ativo dos participantes em proposições estimulantes e desafiadoras que ocorrem em contato direto com a natureza.

            Durante os oito semestres em que as propostas foram desenvolvidas, os instrumentos avaliativos e um número expressivo de relatos dos mais de 500 alunos participantes, professores convidados e de outros atores, têm indicado o desenvolvimento de conhecimento e atitudes relevantes para a melhoria e manutenção da qualidade do meio ambiente, bem como a ampliação da percepção da relevância dessas atividades educacionais e dos espaços naturais empregados nas saídas de campo, especialmente, das UCs visitadas.  

Cabe salientar que as atividades de EAAL desenvolvidas nas duas universidades são constantemente avaliadas e aprimoradas, frente ao desenvolvimento de novas tecnologias educacionais e às demandas que surgem nas diversas esferas da sociedade. Além disso, essas intervenções educacionais também têm servido de modelo para a elaboração de propostas de EAAL para outras instituições nacionais e internacionais.

           

Referências

BRASIL. lei nº 9.985, de 18 de Julho de 2000. Regulamenta o artigo 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Ministério do Meio Ambiente, Brasília: 2000.

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[1]Neste trabalho o termo esportes na natureza é empregado para designar diversas atividades físicas, esportivas e recreativas que são promovidas em ambientes naturais, como as seguintes: caminhada na natureza ou trekking; surfe; slackline; canoagem; stand up paddle; escalada; acampamento; observação da natureza.

[2] Atividade recreativa na natureza é um sinônimo de esporte na natureza.

[3] A EAAL é promovida de forma estrutura e acompanhada pelo meio acadêmico em países da América do Norte, Europa e Oceania, desde meados do século passado.

[4] A instituição The Leave no Trace - Center for Outdoor Ethics (Centro de Ética em Atividades ao Ar Livre - Não Deixe Rastro) possui uma estrutura de treinamento voltada para população adulta, em que figuram Awareness Workshop (Workshop de Conscientização),Trainer Course (Curso de Treinamento) e Master Educator Course (Curso de Educador Mestre), bem como para a população infantil, sendo o PEAK ou Promoting Environmental Awareness in Kids (Promovendo a Consciência Ambiental em Crianças) seu maior expoente.

Ilustrações: Silvana Santos