Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 53) CONHECIMENTO DOS POVOS INDÍGENAS SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA ESTADUAL ANTÔNIO DOMINGOS MALAQUIAS NO MUNICIPIO DE CANTÁ – RR
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INTRODUÇÃO

CONHECIMENTO DOS POVOS INDÍGENAS SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA ESTADUAL ANTÔNIO DOMINGOS MALAQUIAS NO MUNICIPIO DE CANTÁ – RR

 

Heline da Silva Santana, Universidade Federal de Roraima, helinesilva75@gmail.com

Izabel Cristina Maggi, Universidade Federal de Roraima,

 izabelmaggi@hotmail.com

Maria Dutra Cardoso, Universidade Federal de Roraima, biacardoso_07@hotmail.com

Tatiane Ferreira da Silva, Universidade Federal de Roraima,

tayla-tata@hotmail.com

 

RESUMO

 

O presente estudo tem por finalidade compreender quais os conhecimentos dos povos indígenas sobre educação ambiental na Escola Estadual Antônio Domingos Malaquias, situada no município de Cantá – RR. Os objetivos desse estudo consistem na identificação das práticas indígenas associada às práticas ambientais, assim como caracterizar a compreensão que essa comunidade tem sobre educação ambiental e analisar a relevância da EA (Educação Ambiental) como instrumento eficaz na mudança da qualidade de vida. A metodologia utilizada consistiu primeiramente num levantamento bibliográfico, seguindo posteriormente de uma visita in locus na área de estudo para verificação das práticas ambientais e para finalizar foi realizada uma oficina sobre a reciclagem do óleo de cozinha, como forma de inseri uma nova prática de educação ambiental na comunidade. A aplicação da oficina de reciclagem de óleo de cozinha usado foi de grande importância para a comunidade, pois, os mesmo adquiriram o conhecimento de reciclar, e assim não degradarem o meio que habitam, transformando um resíduo que causava grande impacto ao solo e aos corpos hídricos em algo que utilizarão no seu dia-a-dia, no caso o sabão em barra. Então o resultado do estudo e da oficina foi satisfatório e os objetivos foram atingidos com sucesso.

 

Palavras-chave: Indígenas, Educação Ambiental, Comunidade, Conhecimentos.

 

 

1.0 INTRODUÇÃO

 

A educação ambiental pode ter como finalidade proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar a qualidade ambiental, induzindo novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em conjunto, tornando-a apta a agir em busca de soluções para os seus problemas ambientais, como forma de elevação da sua qualidade de vida (Dias, 2004).

Desde séculos passados que se fala em educação ambiental, porem essa questão passou a ganhar destaque nas ultimas décadas, tornando-se um instrumento muito importante no qual a sociedade pode buscar as maneiras de minimizar os prejuízos causados ao meio ambiente e a conservação do mesmo, ou seja, é importante abordar essa temática em todos os segmentos da sociedade. Portanto o presente artigo tem como finalidade compreender de que forma baseia-se o conhecimento dos povos indígenas em relação à educação ambiental na Escola Estadual Indígena Antônio Domingos Malaquias, que estar situada no Município de Canta/RR, não deixando de levar em conta a interação e os conhecimentos tradicionais já existentes nas comunidades indígenas, identificando as práticas indígenas associadas às práticas ambientais.

Contudo a educação ambiental aplicada nas escolas indígenas merece uma boa reflexão e atenção por partes dos educadores, pois estes têm que estarem atentos à educação ambiental compartilhada pelos povos indígenas. Nesse sentido a Educação Ambiental Indígena possui o objetivo de propiciar interações didáticas diferenciadas, possibilitando a melhor formação e capacitação de professores e alunos, buscando o melhor contato e forma mais adequada de  integração da educação indígena com a educação ambiental, buscando incluir e integrar aspectos relativos à cultura e ao meio ambiente, superando paradigmas vigentes impostos pela visão mecanicista da pedagogia tradicional e oficialista, rompendo com os modelos que privilegiam a reprodução desinteressada e distante da realidade que permeia o espaço real e vivido como um todo. (SILVA; RABELO; RODRIGUEZ, 2011).

A escola proporciona mudanças significativas de atitudes de seus alunos com relação ao meio onde vivem, tem procurado através de diferentes disciplinas, proporcionar informações relativas ao meio ambiente, dentre elas a geografia, assim sendo, o estudo do meio ambiente é de fundamental importância para que possamos compreender melhor as relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas.

Para tanto é preciso conscientizar alunos e a comunidade sobre uma nova pratica de educação ambiental, no caso a reciclagem do óleo de cozinha, um resíduo que descartado de forma inadequada, acarreta grandes danos ambientais, para isso será aplicada uma oficina que irá transformar esse óleo em sabão, ou seja, conscientizar a reutilização dessa matéria que é descartado diretamente no solo e nos corpos hídricos. Uma aluna irá expor a técnica, e a comunidade irá acompanhar passo a passo a confecção do sabão.

 

 

2.0 METODOLOGIA

            No primeiro momento foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o que já foi escrito sobre a temática, posteriormente uma visita in lócus para verificação das práticas ambientais existentes dentro da área de estudo, observando as práticas utilizadas por eles como a horta de cultivo de verduras, a horta medicinal com as principais ervas de conhecimento deles e o pomar, além do reflorestamento de árvores nativas.

            Na questão dos resíduos e seu descarte feito pela comunidade, notamos que o sólido e descartado numa fossa (buraco), e foi observado que na questão do lixo orgânico eles utilizam como adubo para as hortas.

E assim, finalmente após a observação dessas etapas foi aplicado uma nova pratica ambiental, na qual venha a ser benéfica e sirva para ser utilizada por toda a comunidade, como forma de reciclar um resíduo que seria descartado de forma a trazer danos para o meio ambiente que os rodeia, no caso o óleo de cozinha. Para isso foi realizada uma oficina juntamente com a comunidade, onde todos aprenderam como reciclar o óleo de cozinha para confeccionar sabão em barra. Essa pratica tem como foco o intuito de minimizar os impactos ambientais causados pelo material descartado diretamente no solo e nos igarapés que ficam no entorno da comunidade.

 

 

3.0 RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

            No dia 27 de Maio de 2015, fizemos a primeira visita ao local de estudo para levantamento de dados e informações que serviram para fundamentar ainda mais nosso trabalho, na conversa que tivemos com o gestor da escola que tem uma ligação direta com a comunidade, o mesmo relatou sobre a existência de uma educação ambiental na escola que tem como objetivo incentivar os alunos a desenvolver um trabalho ligado diretamente com o meio ambiente, pois devido ao grande desmatamento na comunidade para construções de casas, surgiu à preocupação de ensinar a importância da preservação do meio em que se habitam, através de uma parceria entre a comunidade, os professores e o gestor, foi elaborado uma maneira de conscientização, e assim resolveram desenvolver um trabalho de reflorestamento com árvores nativas, além de inserir numa determinada área a agricultura familiar com plantações (figura A) das seguintes cultura:  mandioca, macaxeira, jerimum, milho, banana, acerola, verduras, dentre outros,  sendo que esses produtos contribuíram para a complementação da merenda escolar e para a comunidade em geral.

 

Figura A: Horta da escola e da comunidade

 

 

As práticas observadas como educação ambiental na comunidade se deu através dos projetos desenvolvidos, dentre eles a horta escolar, que consiste na plantação de cheiro verde, cebolinha, pimenta de cheiro dentro outros, sendo que a mesma se encontra no entorno da escola, os alunos e professores são responsáveis por manter a horta. Existe também a horta medicinal, que consiste na plantação de ervas medicinais, da qual faz parte do conhecimento dos mais velhos, que repassaram a importância para a preservação dessa cultura, as ervas medicinais são usadas pela comunidade na casos de doenças. Outro ponto observado foi o pomar que também estar nas proximidades da escola e nos locais que antigamente continham matas nativas. Os professores passaram aos alunos importância da educação ambiental, caracterizaram as práticas de se aplicar essa EA, e para tanto utilizaram aulas praticas na construção dos canteiros e nos procedimentos do plantio, todos em conjunto.

Durante a realização da pesquisa, notou-se que toda a escola estava envolvida na pratica ambiental, porém o que nos chamou a atenção foi quanto ao descarte dos resíduos da merenda escolar, como por exemplo, o óleo de cozinha usado, que ao ser descartado de forma incorreta pode trazer sérias consequências ao meio ambiente, devido a sua difícil degradabilidade e pela alta capacidade de contaminação.

Como forma de minimizar esses danos, tivemos a idéia de fazer uma oficina que irá transformar o óleo de cozinha usado em sabão, com isso em vez do descarte inadequado eles irão começar a armazenar esse óleo e quando atingir a quantidade suficiente irá colocar em prática o que aprenderam na oficina, fazendo assim a reciclagem do óleo. 

Na segunda visita a comunidade, fomos aplicar a oficina, sendo que o produto principal, ou seja, o óleo de cozinha usado foi guardado por eles e trazidos para a oficina, uma estudante foi realizando todo o procedimento para a confecção do sabão, sendo acompanhado de perto pela comunidade que estava presente. Ao longo ela ia fazendo e explicando cada etapa do modo de fazer, eles iam tirando dúvidas e interagindo. Ao final constatamos que a prática foi aceita e de fundamental importância para a comunidade.

 

 

4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao abordamos a temática desse trabalho procuramos compreender de que forma baseava-se o conhecimento dos povos indígenas em relação á educação ambiental, identificando quais eram as práticas indígenas e como essas práticas estavam ligadas a educação ambiental. Tais práticas foram visíveis na conversa com o gestor da escola da comunidade, onde destacou que após os alunos estudarem educação ambiental, surgiram os projetos horta escolar, o pomar e horta medicinal, que teve a participação direta da comunidade, sendo que os produtos das hortas e do pomar são tanto pra merenda da escola e para a comunidade em geral.

Ao constatarmos que a comunidade não fazia o descarte correto do óleo de cozinha usado, sentimos a necessidade de levar uma nova prática ambiental para a comunidade, surgindo assim a idéia de uma oficina que faria a reciclagem do óleo, transformando-o em sabão.

Podemos concluir que a aplicação da oficina como forma de inserção de uma nova prática ambiental foi de grande importância para a comunidade, pois, adquiriram o conhecimento de reciclar, e assim não poluírem o meio aonde vive, transformando um resíduo que causava grande degradação do solo e dos corpos hídricos em algo que utilizarão no seu dia-a-dia.

 

 

BIBLIOGRAFIA

SILVA, Edson Vicente da; RABELO, Francisco Braz; RODRIGUEZ, José M. Mateo (Org.). Educação Ambiental e Indígena: caminhos da extensão universitária na gestão de comunidades tradicionais. Fortaleza: Edições UFC, 2011. ISBN: 978-85-7282-430-9.

 

DIAS, Genebaldo Freire, 1949 – Educação ambiental: princípios e práticas – 9. Ed. – São Paulo: Gaia, 2004.

Ilustrações: Silvana Santos