Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
10/09/2018 (Nº 53) AULAS DE ECOLOGIA (POLUIÇÃO DE ÁGUAS SUPERFICIAIS) EM AMBIENTE NATURAIS – ESTUDO DE CASO NA REPRESA DO SALTO GRANDE
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AULAS DE ECOLOGIA (POLUIÇÃO DE ÁGUAS SUPERFICIAIS) EM AMBIENTE NATURAIS – ESTUDO DE CASO NA REPRESA DO SALTO GRANDE

 

Nilton Cesar Pasquini, Mestre em Química, nc.pasquini@ig.com.br

Nara Luci Pasquini Siqueira, Ambientalista

Nerice Pasquini Siqueira, Ambientalista

 

Resumo

A pesquisa foi realizada com 33 alunos, com idade de 18 a 31 anos, matriculada no curso universitário de engenharia (quinto semestre), sendo 20 do sexo masculino e 13 do sexo feminino. Os alunos foram a Represa do Salto Grande (Americana, SP) 2 vezes; antes de ir a campo foram desenvolvidas aulas teóricas na escola, após a teoria os alunos foram embarcados no Barco Escola, onde foram desenvolvidas as seguintes áreas de conhecimento: poluição industrial e doméstica por metal pesado e fármacos, sistema bióticos e abióticos e interação entre os seres vivos com o ambiente alterado. Nunca os alunos tiveram aulas de campo e todas apoiaram a novidade.

Palavras-chave: educação ambiental, sustentabilidade, poluição

 

 

Introdução

No ambiente educacional é fundamental que haja uma reflexão a respeito do desenvolvimento de iniciativas direcionadas para a educação ambiental, as quais explorem outros diferentes espaços para divulgação do ensino de ciências, torando as ações educativas extraescolares, incluindo as atividades em campo como valiosas formas de ampliar o acesso dos alunos à cultura científica (MARANDINO et al., 2009).

Existe cada vez mais a necessidade de se buscar novos caminhos e metodologias inovadoras para a educação ambiental. É uma jornada em busca de novas maneiras de interagir com o meio natural e o social, com ênfase nas práticas de educação ambiental para mudar as formas de pensar e agir em torno da questão ambiental, que promovam o conhecimento a conservação e a recuperação do meio ambiente, desenvolvendo novas condutas através das vivências com realidades ambientais (MACHRY, FERREIRA, 2014).

 

Educação Ambiental

A educação ambiental tornou-se lei em 27 de abril de 1999. A Lei Nº 9.795 – Lei da Educação Ambiental e em seu Art, 2º afirma: A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal (Lei Nº 9795, 1999).

Segundo Cintra (2007) a educação ambiental  nasce da necessidade vital de conservação da natureza, que pretende compreender o mundo de forma integrada, que visa qualidade de vida para todos os seres, propõe um processo de transformação social, que só pode ser viabilizado com muita participação, diálogo e construção coletiva, de forma continuada, monitorada e avaliada constantemente. Todos e todas nós somos protagonistas desse processo.

É importante desconstruir a ideia que existe sobre Homem-Natureza, de que o homem está destruindo o meio ambiente e ao mesmo tempo “outros tipos de homens” estão se relacionando harmonicamente com ele. Ensinar que as relações são dadas de acordo com o meio civilizatório, contando com as questões sociais, culturais, econômicas, pois todas essas podem se tornar intervenções para a relação existente entre sociedade e natureza (GOMES et al., 2015).

 

Aula no campo

Considera-se importante, inserir o ensino nas práticas rotineiras dos estudantes e para isto deve-se contextualizar o ensino por meio de saídas da escola para observação da natureza e do cotidiano da sociedade (VIEIRA, 2005).

As aulas de campo são oportunidades em que os alunos poderão descobrir novos ambientes fora da sala de aula, incluindo a observação e o registro de imagens e/ou de entrevistas as quais poderão ser de grande valia. Estas aulas também oferecem a possibilidade de trabalhar de forma interdisciplinar, pois dependendo do conteúdo, podem-se abordar vários temas (MORAIS, PAIVA, 2009).  

 

Metodologia

A pesquisa foi realizada com 33 alunos, com idade de 18 a 31 anos, matriculada no curso universitário de engenharia em 2015 (quinto semestre), sendo 20 do sexo masculino e 13 do sexo feminino.

Os alunos foram a Represa do Salto Grande (Americana) 2 vezes; antes de ir a campo foram desenvolvidas aulas teóricas na escola, após a teoria os alunos foram embarcados no Barco Escola, onde foram desenvolvidas as seguintes áreas de conhecimento: poluição industrial e doméstica por metal pesado e fármacos, sistema bióticos e abióticos e interação entre os seres vivos com o ambiente alterado.

Antes de se verificarem as contribuições de uma aula de campo em um ecossistema natural para a aprendizagem dos conteúdos científicos, julgou-se importante – e foi objetivo deste trabalho – também investigar como os alunos sentem-se durante as aulas de campo, partindo do pressuposto de que as emoções e sensações presentes nas situações de ensino podem influenciar de forma decisiva a aprendizagem dos alunos. Assim, levaram em consideração alguns aspectos que podem ser importantes em uma aula de campo, tais como o conforto e a sensação de medo (SENICIATO, CAVASSAN; 2004).

 

Resultados

Um total de 30 alunos (91%) sentiu-se confortáveis durante o aprendizado de campo, alegando poder vivenciar os quatros sentidos, audição, olfato, tato e visão.   Três alunos (9%) sendo todos do sexo feminino não sentiram confortáveis, justificando a presença de mosquitos e odor, mas todos manifestaram o desejo de repetir a experiência, seja neste tema ou outros. Os 3 alunos que informaram o desconforto afirmaram que este tipo de aula é necessário para o melhor desenvolvimento do aluno e professor.

Todos sabiam que a represa é poluída e imprópria para banho, mas apenas 12 (36%) conheciam o local, 10 homens e 2 mulheres. Antes da experiência em campo, 9 alunos (27%), 7 mulheres e 2 homens interessavam pelo assunto, após as atividades 24 (72%) passaram a ter interesse, 14 homens e 13 mulheres.  Sobre o fato de conhecer o tema, 6 (18%), 2 homem e 4 mulheres,  responderam que sim, após as atividades o número subiu para 27 (81%), 17 homem e 10 mulheres. Quando questionados se são multiplicadores da sustentabilidade, 2 (6%) , 2 mulheres, responderam que sim, após experimentação os 33 (100%) alunos afirmaram que iram exteriorizar a sustentabilidade.

Os alunos nunca tiveram contato com rios e lagos poluídos, o mais próximos que chegaram foi ao se locomoverem via veículo na pista as margens do Rio Tiete e Pinheiros em São Paulo.

O Barco Escola (2015) possui como objetivo sensibilizar crianças, jovens e adultos em relação a atual situação de degradação ambiental encontrada no Reservatório de Salto Grande, relacionando-a com a problemática ambiental nacional e planetária; viabilizar projetos que promovam a educação ambiental em todas as faixas etárias da sociedade; elaborar e desenvolver material didático-pedagógico e informativo dentro de cada projeto da Associação Barco Escola da Natureza; introduzir e discutir conceitos de: bacias hidrográficas, reservatórios, usos múltiplos da água, mata ciliar, consumo consciente e responsabilidade social; discutir o processo de perda da qualidade e quantidade das águas do reservatório e as consequências para a população local e regional; oferecer subsídios para o desenvolvimento de um cidadão consciente do ambiente total, preocupado com os problemas associados a este; apoiar na produção de trabalhos científicos realizados na região do reservatório, visando o manejo sustentável dos recursos naturais para as futuras gerações e promover a integração do ser humano com a natureza (Figura 1).

Ao navegarem no Barco Escola os alunos notaram a imensidão de aguapé, de margens assoreadas, patos com a plumagem esverdeada causada pela grande quantidade de cianobactérias presente na água, coletaram água para análise bacteriológica e determinação de metal.

Conheceram a história da represa, que nos anos 80 era própria para banho e atraia muitos turistas para locais denominados Praia Azul e Praia dos Namorados, localizado ambos na cidade de Americana.

 

Figura 1. Barco Escola navegando na Represa do Salto Grande em Americana. Fonte: Barco Escola.

 

Moreira (2006) menciona que na teoria da aprendizagem significativa, para que esta aconteça é preciso que ocorram alguns fatores como disposição do aluno para aprender e subsunções relevantes. Evidencia-se no presente trabalho que os alunos apresentaram grande interesse em aprender novos conteúdos com base nas aulas de campo e o fato de terem assistido aulas teóricas anteriormente, apresentando conhecimentos acerca do tema, também auxiliou na assimilação dos novos conhecimentos.

Alguns autores como Martins e Halasz (2011) apontaram que aulas práticas em ambientes naturais são propostas que despertam interesse dos alunos, aumentando a vontade de aprender e conhecer tais ambientes, podendo desenvolver no educando uma formação crítica, levando a compreensão da relação dele com o ambiente no qual está inserido.

O trabalho realizado promoveu atividades direcionadas para a Educação Ambiental, pois levou os alunos a um conhecimento mais amplo dos locais visitados, sendo de grande valia para estimular neles a preocupação com o meio ambiente, como o descarte correto do lixo e a preservação da natureza (OLIVEIRA, CORREIA; 2013). Viveiro e Diniz (2009) destacaram em seus estudos que as atividades de campo podem ser utilizadas como estratégia em programas de educação ambiental, pois auxilia na sensibilização dos alunos frente às questões ambientais. Para Damásio (2001) mais que compreender a realidade, trata-se também de considerar as emoções como fundamentais nos processos de tomada de decisão e de julgamento moral dos seres humanos.

 

Conclusão

Foi uma experiência nova para todos os alunos, onde agregou mais conhecimento com mais facilidade, pois estavam in loco.

É importante ressaltar que o processo de educação ambiental é um trabalho contínuo, ou seja, constantemente deve ser abordado para que ocorram mudanças culturais profundas na formação de um novo estilo de vida, resgatando os valores do “ser” e abandonando o “ter” (CINQUETTI, LOGAREZZI ;2006).

 

Referencias

BARCO ESCOLA. Disponível em: http://www.barcoescola.org.br/. Acessado em: 02/06/2015.

CINQUETTI, H. C. S.; LOGAREZZI, A. Consumo e resíduos: fundamentos para o trabalho educativo. São Carlos: Ed. UFSCar, 2006.

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GOMES, D. A.; SILVA, L. P.; VIEIRA, N. S.; ROSA, I. G. G. F.; SILVA, R. S. A. Ensino escolar: educação ambiental e jovens, o audiovisual como ferramenta pedagógica. Khóra, v. 2, n. 2, 2015. Disponível em: http://site.web1009.kinghost.net/khora/index.php/vol/article/view/46/46 .Acessado em: -2/06/2015.

MARANDINO, M.; SELLES,S. E.; FERREIRA, M. S. Ensino de Biologia: histórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009.

MACHRY, A. T.; FERREIRA, R. L. Práticas de educação ambiental nas cidades de São Leopoldo e Porto Alegre. Caderno Meio Ambiente e Sustentabilidade, v. 4, n. 3, 156-170, 2014.

MARTINS, C. T.; HALASZ, M. R. T. Educação Ambiental nos Manguezais dos Rios Piraquêaçu e Piraquê-mirim. Boletim do Observatório Ambiental Alberto Ribeiro Lamego, Campos dos Goytacazes/RJ, v. 5 n. 1, p. 177-187, jan./jun. 2011.

MORAIS,M. B.; PAIVA, M. H. Ciências – ensinar e aprender. Belo Horizonte: Dimensão, 2009.

MOREIRA, M. A. A teoria da aprendizagem significativa e sua implementação em sala de aula. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2006.

OLIVEIRA, A, P. L.; CORREIA, M. D. Aula de campo como mecanismo facilitador do ensino-aprendizagem sobre os ecossistemas recifais em Alagoas. ALEXANDRIA Revista de Educação em Ciências e Tecnologia, v. 6, n. 2, p. 163-190,2013.

PASQUINI,N.C. Análise da concentração de metais no reservatório da Lagoa do Piva, Revista Educação Ambiental em ação, n. 46, 2013. Disponível em: http://www.revistaea.org/search.php. Acessado em: 10/05/2015.

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VIEIRA, V. S. Análise de espaços não formais e sua contribuição para o ensino de ciências. Tese, Universidade Federal do Rio de Janeiro,2005. Disponível em http://www.museudavida.fiocruz.br/brasiliana/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=204&sid=27. Acessado em: 01/06/2015.

VIVEIRO, A. A. V.; DINIZ, R. E. S. Atividades de campo no ensino das ciências e na educação ambiental: refletindo sobre as potencialidades desta estratégia na prática escolar. Ciência em Tela, v. 2, n. 1, p.1-12. Jul. 2009.

Ilustrações: Silvana Santos