Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 53) A QUESTÃO DA COLETA SELETIVA NO CENTRO DE CONVIVÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
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A QUESTÃO DA COLETA SELETIVA NO CENTRO DE CONVIVÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ.

 

 

Estudante, Stephannie Palma Oliveira Schumann Minami, discente do curso de Administração, voluntária do Núcleo de Educação Ambiental – NEA, e-mail: minami.stephannie@gmail.com, Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI, Avenida BPS, n. 1303, Bairro Pinheirinho, CEP: 37500-903, Itajubá, Minas Gerais, Brasil.

 

Doutora, Daniela Rocha Teixeira Riondet Costa, Professora Adjunto 1, membro do Núcleo de Educação Ambiental – NEA, e-mail: danielart@unifei.edu.br, Instituto de Recursos Naturais – IRN, Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI, Avenida BPS, n. 1303, Bairro Pinheirinho, CEP: 37500-903, Itajubá, Minas Gerais, Brasil, fone: (35) 9199-0993 e 3629-1547.

 

Mestranda, Elaine Dias de Faria, Bióloga, coordenadora do Núcleo de Educação Ambiental – NEA, e-mail: elainedfaria@gmail.com, Instituto de Recursos Naturais – IRN, Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI, Avenida BPS, n. 1303, Bairro Pinheirinho, CEP: 37500-903, Itajubá, Minas Gerais, Brasil, fone: (35) 9199-0993 e 3629-1382.

 

 

Resumo

 

Educação Ambiental pode ser vista como uma possibilidade de transformação ativa da realidade e das condições da qualidade de vida, por meio da conscientização advinda da prática social reflexiva embasada pela teoria. Tendo esta premissa por base o presente trabalho abordou a coleta seletiva no Centro de Convivência da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) – Campus Itajubá devido à elevada produção de resíduos ocasionada pelo fluxo diário estimado de 1500 pessoas que lá se alimentam. O material reciclável na UNIFEI é coletado pela Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Itajubá – ACIMAR. O objetivo foi analisar e desenvolver ações para aperfeiçoar a coleta seletiva no local, através da sensibilização dos frequentadores, realocação e adaptação dos coletores seguindo os resíduos coletados pela ACIMAR. Foram aplicados questionários, efetuada uma observação sistemática semanal, bem como reuniões com o público alvo. Também houve a elaboração de um plano de ação que determinou a confecção de adesivos específicos para cada coletor de acordo com os materiais que a ACIMAR recolhe; utilização de canos de PVC para alocação de copos plásticos, cartilha e vídeo. O objetivo foi atingido parcialmente. As ações desenvolvidas para aperfeiçoar o processo apresentaram-se ineficientes, para maioria do público-alvo. Para que o programa de coleta seletiva funcione é necessário que ocorra uma sensibilização contínua, bem como sejam aplicadas outras estratégias de educação ambiental que possam proporcionar um melhor resultado e mais duradouro.

 

Palavras chaves: Educação Ambiental; Resíduos Sólidos; Coleta Seletiva.

 

 

Introdução

 

Segundo Loureiro (2006), a Educação Ambiental é vista como uma possibilidade de transformação ativa da realidade e das condições da qualidade de vida, por meio da conscientização advinda da prática social reflexiva embasada pela teoria. Há ainda a Política Nacional de Resíduos Sólidos que visa, segundo o Ministério do Meio Ambiente (2010), incentivar o desenvolvimento de tecnologias e práticas de consumo sustentáveis e consiste em um conjunto de instrumentos para toda a cadeia, desde a reciclagem até a reutilização dos resíduos. Esta política busca harmonizar a produção de resíduos, o desenvolvimento e o meio ambiente e estabelece a meta que 20% dos resíduos gerados sejam reciclados até 2015.

O presente trabalho aborda a coleta seletiva no Centro de Convivência da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) – Campus Itajubá, devido à elevada produção de resíduos ocasionada pelo fluxo diário estimado de 1500 pessoas. Este espaço é composto por escritórios ligados à universidade, agência bancária e o Restaurante Acadêmico (RA), que oferece os serviços de lanchonete e restaurante no qual alunos, professores, funcionários e visitantes almoçam ou lancham ao longo do dia e da noite.

O material reciclável na UNIFEI é coletado pela Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Itajubá – ACIMAR. Segundo o Boletim Informativo da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (INTECOOP/UNIFEI), a ACIMAR foi criada em 2007, resultando da união de catadores de materiais recicláveis do antigo lixão da cidade. A associação tem o apoio da INTECOOP/UNIFEI e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Itajubá. Possui como objetivos garantir aos catadores renda equivalente a, no mínimo, um salário mínimo, através de parcerias com empresas, condomínios, associações de bairros e instituições educacionais.

O objetivo deste trabalho foi diagnosticar, analisar e desenvolver ações para aperfeiçoar a coleta seletiva no Centro de Convivência da UNIFEI, através da sensibilização dos frequentadores e realocação e adaptação dos coletores de acordo com os tipos de resíduos coletados pela ACIMAR.

 

 

Materiais e Métodos

 

No que se refere à classificação das pesquisas, o presente trabalho possui natureza de pesquisa aplicada na qual, segundo Rodrigues (2007) e Silva e Menezes (2005), os conhecimentos adquiridos são utilizados para aplicação prática voltada para a solução de problemas concretos, envolvendo verdades e interesses locais.

As formas de abordagem escolhidas foram a pesquisa quantitativa a qual, segundo Rodrigues (2007), traduz em números as opiniões e informações para serem classificadas e analisadas e a pesquisa qualitativa na qual, segundo Minayo (2007) e Silva e Menezes (2005), verifica-se uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, o qual não pode ser traduzido em números e por explorar, de acordo com Anjos (2007), o comportamento, as perspectivas e as experiências das pessoas envolvidas.

Do ponto de vista de seus objetivos, conforme Gil (2010) optou-se pela pesquisa exploratória que, segundo o autor

visa proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que esta pesquisa tem como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições (p.45).

 

Com relação às técnicas para coleta de dados, utilizou-se da aplicação de questionários e da observação sistemática (semanal), a fim de registrar o comportamento do público alvo (frequentadores) e, posteriormente, analisá-lo.

Inicialmente, realizaram-se reuniões, cujo público alvo foi funcionários do RA e da empresa terceirizada responsável pela limpeza do local, para conhecer problemas e sugestões relativos à coleta seletiva. Feito isso, formulou-se um plano de ação.

Neste plano, optou-se por confeccionar adesivos específicos para cada coletor seguindo as especificações dos resíduos reciclados pela ACIMAR, para que através de imagens chamativas e textos, os frequentadores fossem incentivados a realizar a correta separação. Os adesivos foram confeccionados no programa CorelDraw, impressos em folhas sulfite tamanho A4, encapados com papel contact e colados com fita adesiva transparente na tampa das lixeiras. Além disso, os coletores de vidro foram transformados em coletores de rejeitos, visto que há pouco descarte de vidro no local e pouca disponibilidade de lixeiras de rejeito.

Uma vez customizadas, as lixeiras foram agrupadas com quatro tipos de resíduos: Rejeitos, Papel, Plástico e Metal e dispostas em lugares estratégicos no Centro de Convivência e dentro do RA. Além dos coletores, canos de PVC foram cortados e pintados de vermelho (Figura 01) para serem disponibilizados nos grupos de lixeiras com a finalidade de agrupar os copos descartáveis.

 

 

Figura 1: Fotografia do conjunto de coletores disponibilizados no Centro de Convivência.

 

Legenda: lixeiras agrupadas com quatro tipos de resíduos: Rejeitos, Papel, Plástico e Metal coletores de copos feitos de canos de PVC com a finalidade de agrupar os copos descartáveis.

Os coletores de copos foram criados devido a uma frequente queixa da ACIMAR com relação aos copos plásticos que por estarem sujos e espalhados nos sacos, perdiam seu valor comercial. Desta forma, os canos foram implantados para separar, empilhar e agrupar melhor os copos, facilitando o serviço da associação e agregando valor no material a ser reciclado.

Paralelamente aos demais trabalhos elaborou-se, por meio do programa computacional Windows Microsoft Publisher, uma cartilha informativa cujo conteúdo versou sobre a coleta seletiva, os resíduos a serem descartados em cada coletor e a ACIMAR. Este material foi distribuído nos principais pontos do Centro de Convivência.

Com auxilio do programa computacional Windows Live Movie Maker, elaborou-se um vídeo, o qual foi exposto no Centro de Convivência, durante os intervalos das aulas e almoço para sensibilização, levando ao público alvo a importância da contribuição dos frequentadores na melhoria da coleta seletiva.

Observações sobre o comportamento dos frequentadores foram realizadas semanalmente. Além disso, conversas com alunos, funcionários da Unifei, cidadãos Itajubenses que frequentavam o local e funcionários do RA foram feitas sempre que os mesmos autorizaram.

Uma importante ação foi a aplicação do questionário contendo 12 perguntas, dentre elas duas abertas e dez fechadas sobre: a) resíduos e sua destinação; b) o programa de coleta seletiva na UNIFEI e c) a instituição atingida pela coleta seletiva. O questionário teve como objetivo diagnosticar o posicionamento dos frequentadores em relação à coleta seletiva e às mudanças efetuadas. O questionário foi confeccionado e disponibilizado no Google Drive Spreadsheets e enviado aos Centros Acadêmicos (CAs) dos cursos, através de emails e publicações no grupo da rede social virtual Facebook. Este questionário também foi impresso e aplicado a alguns frequentadores do Centro de Convivência pessoalmente. 

 

 

Resultados e Discussões

 

No que se refere às cartilhas elaboradas, percebeu-se falta de interesse por parte dos alunos e dos funcionários. Algumas pessoas se interessaram e até solicitaram outra cartilha, no entanto a grande maioria se mostrou atenta ao que estava sendo dito somente durante a entrega do material e logo em seguida deixaram a cartilha de lado. Essa estratégia não foi tão eficaz quanto se esperava.

            Quanto ao questionário, este ficou disponível durante onze dias e foi respondido por 148 alunos. Esta pesquisa mostrou que 72% dos alunos não notou mudanças nas lixeiras do Centro de Convivência. Além disso, existiam perguntas para testar a eficiência dos adesivos colados nas lixeiras, bem como “Em qual lixeira você jogaria a embalagem de salgadinho?” a qual resultou em 70% das respostas preenchidas de forma incorretas.

Em relação à realocação das lixeiras em pontos estratégicos, próximos aos locais de maior fluxo de pessoas, verificou-se que não foi eficiente, pois os maus hábitos permaneceram: alguns frequentadores continuam deixando resíduos sobre as mesas e, dos que descartam nas lixeiras, alguns não se sensibilizam para procurar a lixeira adequada, descartando o resíduo sempre na lixeira mais próxima, apesar de haver sempre um conjunto completo.

            As respostas elucidadas no Gráfico 01 demonstram que, mesmo com os adesivos a maioria dos frequentadores ainda não se preocupa em descartar os resíduos adequadamente, não busca se informar sobre a coleta seletiva e desconhece a ACIMAR. Esta situação era perceptível ao se abrir as lixeiras. Tal comportamento vem de encontro com o que foi relatado por um dos questionados: “sou Itajubense e até hoje não vi mudanças significativas, para falar verdade não vi mudança alguma, até hoje tem gente que não sabe ler as lixeiras para colocar no lugar correto”.

 

Gráfico 1: Respostas relativas a uma pergunta do questionário.

Legenda: respostas a uma das questões aplicadas a qual demonstra que, mesmo com os adesivos a maioria dos frequentadores ainda não se preocupa em descartar os resíduos adequadamente, não busca se informar sobre a coleta seletiva e desconhece a ACIMAR.

 

Por fim, percebeu-se que este trabalho está intimamente ligado ao comportamento dos freqüentadores do local estudado. A consciência da importância da coleta seletiva existe em alguns, mas obstáculos como falta de lixeiras os faz acomodar e, por vezes, até desacreditar nas melhorias que podem surgir neste processo. Portanto para que o programa de coleta seletiva da UNIFEI funcione em sua totalidade ainda é preciso disseminar o assunto e sensibilizar mais pessoas, de forma contínua, para que os investimentos realizados hoje envolvam não somente os alunos, mas também a sociedade em contato com a universidade, a médio e longo prazo.

 

 

Conclusões

 

O objetivo deste trabalho foi atingido parcialmente. As ações desenvolvidas para aperfeiçoar este processo apresentaram-se ineficientes, para maioria do público-alvo. Os frequentadores não se mostraram dispostos a colaborar, repetindo hábitos em desacordo com o solicitado, ignorando os adesivos nas lixeiras e não se dispondo a responder um simples e rápido questionário disponível em uma rede social acessada por todos. Outro ponto verificado foi a falta de interesse pela cartilha e pelo vídeo.

No entanto, houve a contribuição de alguns funcionários e frequentadores sob forma de sugestões e comentários, estimulando a continuidade dos trabalhos e apontando que, para que a coleta seletiva realmente funcione, será necessária muita persistência e perseverança.

Acredita-se que com o apoio dos que foram sensibilizados, será possível disseminar no próximo ano a importância da coleta seletiva para a sociedade em geral e envolver cada vez mais alunos, funcionários, visitantes e empresas a fazerem a sua parte.

 

Agradecimentos

            O presente trabalho contou com a parceria dos funcionários do RA, bem como dos discentes da disciplina EAM 007 – Educação Ambiental da UNIFEI, dos membros do NEA, da Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão de Itajubá (FAPEPE) que custeou a impressão e a colagem dos adesivos nos coletores.

 

 

Referências Bibliográficas

 

ANJOS, G.C.B. Pesquisa qualitativa em estudos sobre Terceiro Setor: uma análise nos artigos apresentados no Semead. In: SEGET – SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO E TECNOLOGIA, 4, 2007, Resende. 14p. Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/artigos07/1288_1288_Pesquisa%20qualitativa_final.pdf>. Acesso em: 02 mar. 2013.

 

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2010.

 

Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - INTECOOP/UNIFEI. (Brasil) Boletim Informativo nº 100.  Itajubá, 2012. 8p. Disponível em: . Acesso em: 01 mar. 2013.

 

LOUREIRO, C.F.B. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006. Citado por: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: <http://www.semad.mg.gov.br/educacao-ambiental>. Acesso em: 02 jun. 2013.

 

MINAYO, M. C. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro: Abrasco; 2007.

 

Ministério do Meio Ambiente (Brasil). Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: . Acesso em: 02 ago. 2013.

 

RODRIGUES, W.C. Metodologia Científica. Disponível em: . Acesso em: 01 mar. 2013.

 

SILVA, E. L. da; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de disser-tação. 4. ed. Florianópolis: UFSC, 2005. 138 p. Disponível em: . Acesso em: 04 set. 2013.

 

Ilustrações: Silvana Santos