Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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20/12/2003 (Nº 7) Mudança Climática - Um alerta global
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*Afonso Lembi[i], Beatriz Carrozza[ii], Carlos Klink[iii], Hans Dorresteijn[iv], Hilza Arcos[v] e Luciana Sarno[vi].

O gradual reconhecimento da importância e alcance da questão climática, como fator que pode impactar severamente a vida de todos nós, tem movimentado fóruns, debates, reuniões por todo o mundo, e também no Brasil. Foi neste contexto que se deu, em Brasília, na última semana de novembro, o III Curso “A Ecologia e o Ciclo do Carbono”, o qual, contou com a participação de pessoas de variada formação e atuação profissional, ligadas ao trabalho da iniciativa privada, pública e do terceiro setor, e oriundas de várias regiões do Brasil, desde o Rio Grande do Sul ao Acre. O encontro promovido pelo IIEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, tratou de atualizar o conhecimento relacionado ao tema, elucidando quanto ao Ciclo do Carbono na natureza, ao andamento da Convenção do Clima - Protocolo de Quioto, e também do Mercado Internacional do Carbono. O grupo que ora assina este artigo, entende o quanto é importante difundir a informação, seja ampliando e democratizando o debate no presente, seja como ação preventiva, onde consciências futuras passam a incorporar desde já a questão climática, como conhecimento fundante para a sustentabilidade da vida do planeta. Uma vez que, a Questão Ambiental virou moda, programa de tv e bandeira política, espera-se que assuntos que permeiam negociações entre nações como, por exemplo, a responsabilidade com passivos ambientais não permaneçam sob uma esfera restrita ou tratada de forma superficial, porém observamos o contrário e, a Mudança Climática não foge a esta regra. Todos nós sabemos que as atividades humanas estão emitindo Gases de Efeito Estufa -GEE para a atmosfera e, que tais emissões aumentam a temperatura média do nosso planeta. Conclusões científicas demonstram de forma cada vez mais evidente que a maior parte do aquecimento observado nos últimos 50 anos é atribuído às atividades humanas. No intuito de reverter à situação atual de emissão de Gases Efeito Estufa foi adotado um Protocolo à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em 1997, em Quioto, Japão (comumente chamado de “Protocolo de Quioto”), que estabelece regras claras para que os países industrializados comecem a reduzir suas emissões de gases, que causam o efeito estufa na atmosfera, particularmente o dióxido de carbono. Este gás, o CO2 é o mais impactante do ponto de vista da contribuição antrópica para o aquecimento global. Cabe esclarecer que, entre outros gases de efeito estufa também estão o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), que têm larga produção em processos industriais e de disposição de resíduos, apresentando capacidade de reter calor na atmosfera. A Nona Conferência das Partes (COP 9) da Convenção do Clima foi realizada em Milão, Itália, entre os dias 1º a 12 de dezembro de 2003. Vários assuntos foram debatidos e negociados e os principais temas foram: A ratificação do Protocolo de Quioto, situações climáticas atuais, Mecanismos de Desenvolvimento Limpo - MDL. A incerteza que permeia as negociações sobre a ratificação do Protocolo traz preocupações, já que é necessária a assinatura de 55 países, que na sua soma representam pelo menos 55% das emissões dos gases do efeito estufa, sendo esta a condição estabelecida para que o Protocolo entre em vigor. Sem as adesões, as estratégias e mecanismos criados até agora perdem seu valor, e dez anos de trabalhos diplomáticos serão esquecidos. O que era mais esperado da COP 9 seria a adesão da Rússia, o que não veio acontecer. Ficou então, adiado para o próximo ano a possibilidade de avanços mais efetivos para a implementação Protocolo. A adesão da Rússia permitiria o alcance dos 55% do total das emissões geradas pelos Estados Partes da Convenção. Ficou evidente que a Rússia quer aproveitar a sua posição chave e ficar aguardando, no intuito de obter ganhos com a ratificação do Protocolo. Os interesses nacionais pesam mais que os eminentes perigos ao meio ambiente global. Sem a ratificação da Rússia, a humanidade perde a oportunidade de mitigar suas ações nos ciclos naturais da terra, já que os Estados Unidos decidiu por não ratificar o Protocolo. Teremos, assim, conseqüências climáticas cada vez mais graves. As dificuldades são muitas, pois existe uma gama de interesses em jogo. Os mais relevantes são os interesses da indústria de petróleo, onde países da OPEP passariam a ter uma grande responsabilidade na implementação do Protocolo, também os interesses dos países desenvolvidos, que deveriam reduzir suas emissões e tornar mais limpa sua base industrial e energética, e os interesses de países em desenvolvimento, que apresentam um crescimento baseado na emissão de Gases Efeito Estufa. Impera a necessidade de ampliar o debate sobre o tema da mudança climática e isto significa divulgar, discutir, ocupar um lugar nas mídias locais e nacionais, dar acesso a vários atores da sociedade a informações claras e reais da situação global e local, pois é sabido da nossa imensa vulnerabilidade aos efeitos da mudança na variabilidade do clima. O impacto das mudanças do clima sobre os recursos hídricos já é percebido em muitos locais, aonde a água vem se escasseando e apresentando processos irregulares de renovação, criando vulnerabilidade para populações de diversas partes do planeta. Citamos ainda, que foi publicado recentemente, e apresentado na Conferência das Nações Unidas Sobre o Clima, um estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde) segundo o qual, a mudança climática foi responsável por cerca de 150 mil mortes no ano 2000. Os países em desenvolvimento serão penalizados, por não possuírem recursos, mecanismos e estratégias rápidas que se adaptem às novas mudanças e os países desenvolvidos, apesar de maiores recursos econômicos e respostas rápidas a situações emergenciais, terão que lidar, não só, com temperaturas médias altas como também com outros efeitos igualmente importantes tais como: mudanças nos padrões dos ventos, fortes tempestades, secas, alterações no ciclo do El Niño e nas correntes oceânicas. Aliás, serão problemas que todos, sem distinção, virão enfrentar caso não aconteça um alinhamento mundial para enfrentar a questão do clima. A imprevisibilidade climática é um risco real e, atitudes para reverter este quadro devem ser tomadas agora. Sugerimos que cada indivíduo detentor de informação tenha a responsabilidade ou até mesmo, o dever de democratizá-la tornando-a acessível à sociedade como um todo. Que cada um possa saber e também escolher, e, com o saber em mãos, atuar em relação à questão eminente da Mudança Climática. * Integrantes do Grupo de Discussão MUDACLIMA, mudaclima@yahoogrupos.com.br ou mudaclima@yahoo.com.br Luciana Sarno Gestora Ambiental

Ilustrações: Silvana Santos