Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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07/12/2014 (Nº 50) EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA NOVA PERSPECTIVA VOLTADA PARA A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA NOVA PERSPECTIVA VOLTADA PARA A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

 

Alcindo Neckel

Geógrafo e Doutor em Geografia. Professor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Meridional – IMED. Passo Fundo/RS. E-mail: alcindoneckel@yahoo.com.br

 

Elisson Stephânio Savi Pauletti

Bacharel em Desenvolvimento Rural Sustentável e Agroecologia e Acadêmico do Curso de Formação Pedagógica do IFRS Campus Sertão/RS. Mestrando em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS/Campus Erechim/RS.

E-mail: elissonsavipauletti@yahoo.com.br

 

Mágat Nágelo Junges

 Graduado em Letras-Alemão. Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGL/UFSC). E-mail: magat.nj@hotmail.com

 

Sonia Maria Tonial

Tecnóloga Ambiental. Acadêmica do Curso de Formação Pedagógica do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS – Campus Sertão/RS.

E-mail: sonia.tonial@erechim.ifrs.edu.br

 
Leonardo DE Marchi

Acadêmico do Curso de Formação Pedagógica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS – Campus Sertão/RS. E-mail: leonardo.demarchi.79@facebook.com

 

Leila de Almeida Castillo Iabel

Mestrado em Educação. Professora do Curso de Formação Pedagógica do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS – Campus Sertão/RS.

E-mail: leila.iabel@sertao.ifrs.edu.br

 

RESUMO

Quando se visualizam deficientes visuais, geralmente não se entende suas dificuldades na realização de tarefas básicas, as quais se tornam necessárias para a inclusão social. Nesta linha de pensamento, esta pesquisa buscou trabalhar com voluntários, a questão da falta do acesso visual investigado pela Educação Ambiental através de trilha perceptiva (caminho não conhecido pelos voluntários). Objetivando-se despertar nos discentes (voluntários) o desenvolvimento de uma nova consciência humanista, através de práticas que insiram os acadêmicos a se colocarem no lugar de uma pessoa com deficiência visual. Metodologicamente, a aplicação dos instrumentos foi adaptado de Nascimento (et al., 2013), buscando-se avaliar o momento anterior e posterior à trilha. Considerando a análise da percepção discutida, segundo Silva e Figueiredo (2011, p. 51) foi constatado que os voluntários, através de vivências na Educação Ambiental, mudaram a sua percepção quando começaram a entender as dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiências visuais.

 

Palavras-chave: Educação Ambiental. Percepção. Conscientização. Inclusão

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

O Mundo encontra-se repleto de diferentes abordagens acerca da Educação Ambiental, sendo ela de maneira técnica ou teórica. Primeiramente, este artigo aborda de maneira técnica as práticas de campo, no estudo da Educação Ambiental, que se encontram voltadas para o desenvolvimento de consciências, através das emoções/sensações de cada discente de maneira interdisciplinar, sobre questões, como: acessibilidade, inclusão e problemas enfrentados pelos deficientes visuais.

Conforme Hakobyan (et al., 2013), o deficiente visual costuma buscar a sua independência, ou seja, busca realizar tarefas sem a necessidade da ajuda de outras pessoas. O que se deve fazer é proporcionar a abertura de espaços para que o deficiente visual possa se movimentar livremente. Para isso as pessoas precisam entender as dificuldades encontradas por pessoas com necessidades especiais, no sentido de acessibilidade e autonomia.

O Brasil começou a trabalhar de forma mais efetiva a educação de pessoas com necessidades especiais, segundo Regiani e Mol (2013, p. 124), a partir da década de 1990, quando da promulgação da Lei 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Nesse contexto, “no seu artigo número 58, apresenta a Educação Especial como modalidade de educação escolar oferecida a educandos com necessidades especiais, e preconiza o seu oferecimento, em preferência, na rede regular de ensino” (REGIANI; MOL, 2013, p. 124). Isso causou, segundo os autores, já citados acima, várias discussões sobre diferentes maneiras e formas corretas de se trabalhar as políticas educacionais, o que vem provocando adaptações no sistema educacional brasileiro.

Na sequência, surge a disciplina de Educação Ambiental, prevista na Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Em seu artigo 1°, cujo conceito compreende-se como os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Já, o artigo 2° da mesma Lei atesta que a Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.  Por sua vez, o artigo 3° preconiza que, como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo ao Poder Público, nos termos dos artigos 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do ambiente.

A Educação Ambiental comprova sua importância e relevância, quando voltada para a relação do homem e do ambiente, além disto, interdisciplinarmente com outras áreas do conhecimento. Neste caso, apresenta-se como uma excelente possibilidade para docentes trabalharem com pessoas com necessidades especiais, pois valoriza o indivíduo dentro do contexto atual da sociedade contemporânea.

Entretanto, geralmente os problemas enfrentados pelas pessoas com deficiências visuais passam longe da realidade cotidiana de alguns indivíduos. Assim, a pesquisa problematiza se os voluntários entrevistados mudariam de opinião depois do trabalho de campo, em que se colocariam em situação com os olhos vendados, passando, assim, de forma semelhante, pelas mesmas dificuldades dos indivíduos que apresentam deficiência visual.

O estudo objetiva despertar nos discentes ações de Educação Ambiental, que possibilitem o desenvolvimento de uma nova consciência humanista, através da experiência da alteridade, no exercício que os coloquem no lugar de uma pessoa com deficiência visual. Foi possível verificar que os resultados desta pesquisa podem formar futuros docentes, que venham a desenvolver um senso de conscientização social crítica, pois se colocaram no lugar de uma pessoa com necessidades especiais e assim, puderam construir a sua própria percepção sobre o objeto da pesquisa.  

 

1.2 A relação da educação ambiental e as pessoas com deficiência visual

 

As ações do “homem com o meio ambiente e os recursos naturais vêm passando por grandes transformações ao longo dos últimos anos, principalmente pela influência de alguns fatores”, como possíveis mudanças de paradigmas e de conceitos, onde legislações são criadas buscando atender as necessidades populacionais (ORTOLAN; NECKEL, 2013, p. 1). Nessa relação, quando se volta para as questões ambientais, segundo Ortolan e Neckel (2013, p. 2), a ideia de “rompimento da relação de equilíbrio do homem para com a natureza”, acabou gerando, “grandes impactos ambientais, trazendo a preocupação com esse rompimento por parte de algumas pessoas, empresas e governos”. Que passaram a refletir, então, sobre a realização de grandes reuniões, conhecidas como conferências. Visando, assim, discutir problemas de ordem ambiental e alcançar possíveis soluções para ajudar a reestabelecer o equilíbrio ambiental.

Entretanto, preocupa-se muito com preservações ambientais. Mas será que no meio ambiente também não está a humanidade? Como uma pessoa com deficiência visual perceberia a questão ambiental? Ela iria perceber que uma árvore, ou outros elementos físicos existiriam pelo tato, audição e olfato. Então, por que não nos preocupamos de igual modo com as pessoas com necessidades especiais? “Em outras palavras, praticamente um quarto da população brasileira encontra-se amparada por vários dispositivos legais que buscam proteger e melhorar as condições sociais de pessoas com necessidades especiais” (RODRIGUES; FERREIRA, 2013, p. 92). Mas, será que a população age com respeito, ou aceita uma pessoa com deficiência, para além do que diz aparato legal?

Embora a Lei nº 7.853/89, inciso III, defina o que é deficiência visual, uma grande parte da sociedade não tem consciência das dificuldades diárias enfrentadas por pessoas cegas. Assim, a Educação Ambiental, segundo os estudos desenvolvidos por Moriwaki e Neiman (2011, p. 523), deve-se trabalhar, ocupando “espaços adaptados para receber pessoas com deficiência visual”.

Segundo Moriwaki e Neiman (2011, p. 523): “A necessidade de adaptação de lugares públicos ainda é pouco reconhecida, fato que pôde ser comprovado após contato com Unidades de Conservação que se dizem preparadas para receber pessoas com deficiência”. Assim, as áreas verdes e os parques precisam receber infraestrutura buscando não dificultar o deslocamento de pessoas com deficiência que queiram usufruir dos recursos da paisagem ou participar de atividades como trilhas de sensibilidade. Segundo os estudos de Neckel (et al., 2013, p. 21): “A educação ambiental envolve o ser social e o prepara para o conhecimento ambiental quebrando paradigmas”. Para romper com um destes paradigmas pode-se sugerir, que os professores trabalhem nas disciplinas de educação ambiental, de maneira mais prática e técnica, em sala de aula, voltada para a conscientização acadêmica, às necessidades enfrentadas pelos deficientes visuais. Estabelecendo relações de cuidado afetuoso (Iabel, 2014), proporcionando um aprendizado de ordem recíproca.  Assim, a educação ambiental terá um propósito, uma finalidade, e se fará plenamente amparada em valores sociais, ambientais, pedagógico e culturais podendo aproveitar a sensibilidade das pessoas com necessidades especiais com o meio físico, sistematizando o ambiente.

 

Para poder ensinar, é preciso saber, para saber é preciso construir o conhecimento, para construir o conhecimento é preciso fazer relações com o concreto, num processo pedagógico simples, mas eficaz. Portanto, é mister que as formações docentes se ocupem com temas como afetividade, relações humanas, bem-estar. Isso tudo pode ser traduzido por cuidado afetuoso (IABEL, 2014, p. 36).

 

2. METODOLOGIA

 

A pesquisa buscou refletir a formação de professores do ensino médio, técnico, tecnológico e superior, em relação às dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência visual. Para atender esta demanda foram selecionados, de maneira aleatória, onze discentes do curso de graduação em “Formação Pedagógica para Docentes” do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS, Câmpus Sertão).  Dinamicamente, o estudo se dividiu em quatro etapas:

Etapa 1 - O questionário (instrumento de pesquisa): Adaptado da realização da pesquisa de Nascimento (et al., 2013), foram aplicadas aos informantes algumas perguntas com vistas a obter os seguinte dados: sexo dos entrevistados; já percorreu trilhas perspectivas de olhos vendados; as ações de educação ambiental poderiam ser trabalhadas com docentes, como forma de conscientização, usando a percepção.

A aplicação desse questionário foi realizada no dia anterior à trilha perceptiva, buscando-se captar as informações apenas daquele momento, para que o questionário não influenciasse na atividade de campo.

Etapa 2 - Trilha Perceptiva (“caminho rudimentar, geralmente estreito e tortuoso, entre vegetação” (HOUAISS, 2001, p. 102)): A relação dos professores com a Educação Ambiental ao trabalharem trilhas perceptivas para conscientizar acadêmicos do curso mencionado sobre pessoas com deficiência visual, para que os mesmos entendam as dificuldades enfrentadas por essas pessoas, e consigam interagir com diversas situações. Conforme Menghini (2005, p. 26): “Para interagir com o sistema, o aluno precisa perder a percepção do mundo real”. Por isso, todos os alunos foram vendados durante a dinâmica, para que pudessem escutar diferentes tipos de sons, pois o silêncio do ambiente foi mantido por todos os acadêmicos.

Os voluntários foram vendados e colocados com os pés descalços, mas protegidos e acompanhados por monitores (autores do artigo) para evitar acidentes. Buscou-se despertar sentimentos, através do método de pesquisa de Silva e Figueiredo (2011, p. 52), que pode ser visualizado pela Figura 1, que busca, através de uma trilha perceptiva, o respeito, que “é o sentimento mais esperado quando se trata de Educação Ambiental, pois é dele que parte a necessidade de preservação. Respeito por aquilo que é um bem de todos”, “a sensibilização necessária para despertar esse sentimento é um processo individual, mas também coletivo, onde mantém a estabilidade e harmonia social e ambiental”.

 

Figura 1: Representação esquemática dos sentimentos e sensações dos entrevistados.

Fonte: Adaptado de Silva e Figueiredo (2011, p. 51).

 

Etapa 3 - Instrumento de Pesquisa 2: a aplicabilidade do instrumento para esses onze voluntários, usando perguntas parecidas com o primeiro instrumento, como: na sua percepção, as ações de educação ambiental podem ser trabalhadas com docentes, como forma de conscientização, no sentido da percepção, com o objetivo de fazer este docente se colocar no lugar de uma pessoa com deficiência visual; aponte um grau de importância que você sentiu ao percorrer a trilha das sensações (com os olhos vendados).

Etapa 4 - Trabalho de Gabinete: realizou-se a análise e a discussão dos resultados gerados durante a pesquisa. Assim, para análise das respostas atribuídas pelos voluntários foi utilizado o Método de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2000).

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

Quanto à percepção dos entrevistados (Voluntários: V), nos momentos anteriores e posteriores à trilha, percebeu-se que não havia ninguém que já fizera trilhas perceptivas, e que ainda não haviam se colocado no lugar de pessoas com deficiência visual.

Conforme o Quadro 1 apresenta, visualiza-se as perguntas que foram feitas aos Voluntários que se disponibilizaram a participar da dinâmica.

 

Quadro 1: Perguntas feitas aos Voluntários que participaram da dinâmica.

Aplicação do Instrumento antes da Trilha

Aplicação do Instrumento depois da Trilha

1.  Você já percorreu trilhas perspectivas de olhos vendados.

(   ) sim (   ) não

 

2. Em sua percepção, será que as ações de educação ambiental poderiam ser trabalhadas com docentes, como forma de conscientização, no sentido da percepção, com o objetivo de fazer este docente se colocar no lugar de uma pessoa com deficiência visual. Explique:

 

3.  Circule na linha abaixo o grau de importância que você sentiria ao percorrer a trilha das sensações (com o olho ventado). Mas, porque seria importante, em sua opinião, uma trilha de percepção:

 

4.  Você acharia difícil identificar e se locomover na trilha de olhos vendados?  Qual seria esta dificuldade? Explique.

 

5.  Uma trilha perspectiva poderia mudar a sua concepção de vida, ou seja, o tratamento que daria para pessoas com necessidades visuais. Mas de que forma isso poderia contribuir?

1.  Você já percorreu trilhas perspectivas de olhos vendados.

(   ) sim (   ) não

 

2. Em sua percepção, as ações de educação ambiental podem ser trabalhadas com docentes, como forma de conscientização, no sentido da percepção, com o objetivo de fazer este docente se colocar no lugar de uma pessoa com deficiência visual. Explique:

 

3.  Circule na linha abaixo o grau de importância que você sentiu ao percorrer a trilha das sensações (com o olho ventado). Mas, porque é importante, em sua opinião, uma trilha de percepção:

 

4.  Você achou difícil identificar e se locomover na trilha de olhos vendados?  Quais foram as dificuldade? Explique.

 

5.  Uma trilha perspectiva poderá mudar a sua concepção de vida, ou seja, o tratamento que daria para pessoas com necessidades visuais. Mas de que forma isso ajudou a contribuir?

 

 Para a realização da atividade de trilha, os voluntários tiveram seus olhos vendados (Figura 2). Esta atividade de Educação Ambiental foi seguida conforme o método adotado por Silva e Figueiredo (2011, p. 52), admiração, tranquilidade, respeito e conhecimento através da sensibilização, onde cada indivíduo, de forma silenciosa, constrói de maneira individual a harmonia social e ambiental, colocando-se, assim, no lugar de uma pessoa com deficiência visual.

 

Figura 2: Voluntários vendados fazendo a trilha.

 

Enquanto os voluntários realizavam a trilha, percebeu-se neles a sua insegurança, sendo que alguns ficaram emotivos com a própria situação referente a dificuldade de se deslocarem na mata de olhos vendados. Segundo Moriwaki e Neiman (2011): “A Educação Ambiental deve fazer uso de espaços adaptados para receber pessoas com deficiência visual.”

O Quadro 2 mostra a mudança da concepção dos entrevistados, referente aos momentos anterior e posterior à realização da trilha de percepção, no que diz respeito às formas de entender as dificuldades apresentadas por pessoas que apresentam deficiência visual. Pois, conforme “V8”, a realização da trilha possibilitou o seu despertar para a “valorização do deficiente e da importância dos outros sentidos além da visão”.

 

Quadro 2: Percepções dos Voluntários nos momentos anterior e posterior à trilha.

Voluntários

Antes da Trilha (conteúdos associados e identificados, conforme o número da pergunta)

Depois da Trilha (conteúdos associados e identificados, conforme o número da pergunta)

 

V1

1)Não

2) Aproximação c/ deficiente

3) Aproximação c/ deficiente

4) Insegurança

5) Aumentar a sensibilidade, a compreensão e melhorar a convivência.

1) Sim

2) Vivência para entender a dificuldade do deficiente = ALTERIDADE.

3) Vivência para entender a dificuldade do deficiente

4) Incerteza e dependência

5) Compreensão e sensibilização para apoiar os deficientes

V2

1) Não

2) Alteridade

3) Alteridade

4) Sensibilidade / tato

5) Contribui para a inclusão dos deficientes.

1) Sim

2) Ferramenta de apoio

3) Alteridade

4) Medo e insegurança e ampliação dos outros sentidos

5) Vivência prática e alteridade

V3

1) Não

2) Experiência sensorial.

3) Aguçar outros sentidos.

4) Dificuldade de localização

5) Aumentar a alteridade

1) Sim

2) Sentir na pele (alteridade), cooperação c/ deficientes

3) Aguçar outros sentidos.

4)Sensação de pavor com a perda da visão

5) Desenvolver a fraternidade e aumentar a percepção.

V4

1) Não

2) Ajuda a compreender o deficiente = ALTERIDADE

3) Ter a experiência, sentir.

4) Sentiria insegurança

5) Desenvolver alteridade

1) Sim

2) Experiência incrível

3) Desenvolver empatia

4) Insegurança e apoio nos outros sentidos

5) Ampliou respeito, atenção e necessidade de apoiar a inclusão.

V5

1) Não

2) Conhecer a realidade = APROXIMAÇÃO

3) Conhecer e valorizar

4) Realidade diferente da minha

5) Aprender a entender e agir frente a essas pessoas

1) Sim

2) Entender as dificuldades

3) Valorização

4) Perder a localização e depender de outros meios e pessoas para se locomover

5) Dar mais valor para as condições de vida que tenho e saber como ajudar essas pessoas

V6

1) Não

2) Ajudaria desenvolver a alteridade.

3) Novo olhar para o mundo.

4) Pouca dificuldade, pois seria por pouco tempo.

5) Ver o mundo com outros olhos.

1) Sim

2) Desenvolvi alteridade

3) Compreensão e desenvolver outras habilidades.

4) Pouca dificuldade, pois fui guiado.

5) Desenvolvi alteridade.

V7

1) Não

2) Poderiam.

3) Ensinar com base na realidade.

4) Dificuldades de locomoção.

5) Mudaria minha concepção.

1) Sim

2) Deve ser trabalhado com todos os docentes e discentes.

3) Para entender suas dificuldades.

4) Medo por não saber onde estava indo.

5) Desenvolveu empatia e sensibilidade para ajudar.

V8

1) Não

2) Novo aprendizado ao docente.

3) Perceber melhor os outros sentidos.

4) Medo e insegurança.

5) Valorização do ser humano.

1) Sim

2) Novas sensações a partir dos obstáculos - aguçar sentidos.

3) Desenvolver compreensão e empatia.

4) Medo e insegurança.

5) Valorização do deficiente e da importância dos outros sentidos além da visão.

V9

1) Não

2) Importante para a conscientização do docente.

3) Para desenvolver a alteridade.

4) Sensações de medo e incapacidade.

5) Para desenvolver a alteridade.

1) Sim

2) Percepção das dificuldades.

3) Percepção das dificuldades.

4) Sensações de medo e de estar perdido.

5) Desenvolveu a percepção das dificuldades de locomoção que o nosso meio oferece aos deficientes.

V10

1) Não

2) Importante para a conscientização do docente.

3) Ajuda a entender o deficiente.

4) Insegurança.

5) Sensibilizando para ajudar essas pessoas.

1) Sim

2) Alteridade para saber como ajudar.

3) Alteridade para saber como ajudar.

4) Medo e adaptação.

5) Desenvolve a alteridade para ser mais prestativo com essas pessoas.

V11

1) Não

2) Ampliar outros sentidos.

3) Ampliar outros sentidos.

4) Não sabe.

5) Compreensão.

1) Sim

2) Desenvolvimento da consciência.

3) Superação de obstáculos.

4) Me senti tranquilo porque sempre tinha a mão de alguém.

5) Serviu para desenvolver o sentido de direção e de localização a partir dos outros sentidos.

 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A Educação Ambiental se apresenta como mais uma proposta para trabalhar e auxiliar pessoas com deficiência visual. Assim, percebeu-se que a trilha perceptiva causou mudanças de pensamento por parte dos voluntários, principalmente no que se refere ao entendimento de como uma pessoa cega tem seus demais sentidos mais aguçados, e também, no quanto se tem de autonomia, quando lhes é proporcionado segurança para a execução das atividades.

O artigo sugere aos profissionais que trabalham com disciplinas de Educação Ambiental que adotem esta forma de metodologia de trabalho, a fim de promover às pessoas com deficiência visual que tenham acessibilidade universal.

 

Dessa forma, o homem só se dá no e pelo cuidado. Concebendo aqui o cuidado como ação política, espaço de construção humana no encontro com o outro, uma ética do cuidado implicaria necessariamente a construção de espaços onde seja possível a convivência de relações de respeito e consideração ao outro. Temos, então, o cuidado como a própria condição da existência humana, em que o mundo e o homem já não se opõem como dualidade. O mundo podendo se realizar no homem na forma do cuidado, capaz de dar forma à existência e sentido ao próprio mundo (IABEL, 2014, p. 33).

 

 

Aos demais favorece o entendimento do que seja inclusão, a experiência da alteridade, ao se colocar no lugar do outro e a vivência da percepção de um universo pouco explorado pelos sentidos que se têm.

 

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de Conteúdo.  3. ed. Lisboa: Edições 70, 2000.

BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 10 maio 2013.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Diário Oficial (da) República Federativa do Brasil. Poder Executivo. Brasília, DF, 25 de outubro de 1989. Seção 1.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Diário Oficial (da) República Federativa do Brasil, Poder Executivo. Brasília, DF, 21 de dezembro de 1999. Seção 1.

HAKOBYAN, L.; et al. Mobile assistive technologies for the visually impaired. Survey Of Ophthalmology, Plymouth, v. 58, n. 58, p.513-528, out. 2013.

HOUAISS, Antônio. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Editora Objetiva, 2001.

IABEL, Leila de Almeida Castillo.  Ensino médio técnico integrado no IFRS – Câmpus Sertão: o cuidado afetuoso nas relações do ensinar / Leila de Almeida Castillo Iabel. Porto Alegre, 2014. 102 f. Diss. (Mestrado) – Faculdade de Educação, Pós-Graduação em Educação, PUCRS, 2014. Disponível em: < http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/5670/1/000454719-Texto%2bCompleto-0.pdf>. Acesso em: 21 de julho de 2014.

 

MENGHINI, F.B. As trilhas interpretativas como recurso pedagógico: caminhos traçados para a Educação Ambiental. Dissertação. Mestrado Acadêmico em Educação. Universidade do Vali do Itajaí – UNIVALI, Itajaí, 2005. 103 pp.

MORIWAKI, E.M.; NEIMAN, Z. Acessibilidade para pessoas com deficiência visual em Unidades de Conservação: estudo de caso do Parque Estadual do Jaraguá (SP). Anais do VIII Congresso Nacional de Ecoturismo e do IV Encontro Interdisciplinar de Ecoturismo em Unidades de Conservação. Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.4, n.4, 2011, p. 523.

NASCIMENTO, A.M.S.; et al. Os cincos sentidos como alternativas metodológicas  no ensino da botânica. Revista Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. REDI. Porto Velho (RO). Ano 1, N. 1 . p.43-53, 2013.

NECKEL, A. et al. Nascidos após 1972: Uma geração com consciência de educação ambiental. In: NECKEL, A.; GOELLNER, E.; SOSSMEIER, S.G. Os recursos hídricos e a educação ambiental. Passo Fundo: Editora Goellner, 2013. Cap. 1. p. 14-21.

ORTOLAN, R.A.; NECKEL, A. Comparação do diagnóstico da percepção ambiental do corpo discente de uma escola pública do município de sertão/RS e de seus progenitores após a implementação da Agenda 21 Escolar. Educação Ambiental em Ação, Novo Hamburgo, v. 46, n. 46, p.1-19, 1013. Trimestral.

REGIANI, Anelise Maria; MÓL, Gerson de Souza. INCLUSÃO DE UMA ALUNA CEGA EM UM CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA. Ciência & Educação, Bauru, v. 1, n. 19, p.123-134, 2013.

RODRIGUES, Paulo Henrique Carvalho; FERREIRA, Rildo Mourão. Educação ambiental inclusiva: trilha interpretativa. Revista Jurídica, Anápolis/GO, v. 2, n. 21, p.88-102, 2013. Jul. – Dez.

SILVA, L.O.; FIGUEIREDO, L.A.V. Racionalidades e sensibilidades em trilhas interpretativo-perceptivas: promovendo ações formativas de Educação Ambiental na Vila de Paranapiacaba-Santo André (SP). Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.4, n.1, 2011, pp.25-58.

Ilustrações: Silvana Santos