Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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07/12/2014 (Nº 50) ... AS LUZES DE NATAL DEPENDEM DE ÁGUA?
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FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL

VOCÊ SABIA QUE...

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo e Educador

leosinos@gmail.com

 

... AS LUZES DE NATAL DEPENDEM DE ÁGUA?

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo

 


Os reservatórios das hidrelétricas da região Sudeste iniciam novembro nos níveis mais baixos em 20 anos, segundo levantamento da consultoria Thymos, especializada em energia elétrica, mas apesar disso, poucos hábitos sustentáveis foram modificados na região mais populosa do Brasil. Desperdícios por gotejamentos, banhos longos, lavagem de louça com a torneira aberta, limpeza de calçadas com mangueiras e descargas com volume hídrico máximo ainda são situações comuns, que não entraram na rotina de muitas famílias que dependem desse bem tão precioso para sobreviver.

Muitas áreas de preservação permanente (APP’s) – como topos de morro, encostas e matas ciliares – ainda não receberam a proteção e atenção necessárias e, desse modo, percebe-se grandes rios secarem dia após dia devido ao grande consumo (pela agricultura, indústrias e domicílios), impermeabilização de áreas de recarga de aquíferos (pelo asfaltamento e urbanização) e perda hídrica por evaporação. As matas que outrora sombreavam os corpos d’água e reduziam sua exposição direta ao sol; além de manterem o solo úmido pelo acúmulo de suas folhas sobre o chão e evitarem a erosão, hoje já são aspectos relictuais da paisagem, descaracterizando a ameaçada Mata Atlântica característica e permitindo que vários rios sejam assoreados.

Além desses aspectos relacionados à quantidade, a depreciação de sua qualidade é outro fator que interfere negativamente nas águas de nosso país. Esgotos domésticos e industriais, agrotóxicos e a eutrofização decorrente dessa grande entrada de matéria orgânica nos arroios e rios provoca a morte de inúmeros animais aquáticos, o desequilíbrio de cadeias alimentares complexas, o aumento da proliferação de vetores de doenças, além do aumento nos custos do tratamento dessas águas para abastecimento humano.

Até mesmo outros usos realizados a partir desse recurso também são prejudicados em decorrência de sua gestão insustentável, como o combate a incêndios nos canaviais (ou em residências, geralmente em decorrência de sobrecarga em benjamins ou réguas de tomadas), a navegação, pesca e a produção de energia. Essa última, que no Brasil é fortemente representada por hidrelétricas e PCH’s (cerca de 85% da geração produzida), tem na dependência das chuvas sua principal ameaça.

Segundo pesquisadores se as chuvas do próximo verão forem parecidas com as deste ano, não só o risco de falta de abastecimento hídrico, mas também o de racionamento de energia pode subir na região Sudeste, dos atuais 25% para 40% no próximo ano. Talvez fosse a hora de refletir e incentivar o uso mais racional da água, mas também da energia...

Nas proximidades do fim de ano e das férias é que o consumo de energia é ainda mais acentuado. Luzes em pinheirinhos e fachadas, ventiladores, ares condicionados, geladeiras, congeladores e piscinas são vilões dos gastos energéticos. Um cordão de luzes tradicional, com 100 lâmpadas incandescentes de 0,5 watts, ligadas por 8 horas durante 30 dias, consome 15 kilowatt/hora, o que pode representar cerca de 6,5% do consumo mensal.  Aliam-se ainda aqueles casos em que nem mesmo os chuveiros são desligados ou passados para a posição verão, e o uso simultâneo de vários eletroeletrônicos dentro do mesmo domicílio – com famílias separadas em seus quartos jogando videogames, assistindo a filmes em aparelhos de DVDs, trabalhando em seus tablets ou notebooks, fazendo chapinha para as mais diversas festividades, ou mesmo carregando aparelhos celulares para não ficarem desconectados da atual vida moderna e tecnológica.

Precisamos compreender e ensinar para a sustentabilidade, mostrando que o mundo globalizado, virtual e energético depende de recursos naturais reais. Que as mudanças climáticas são uma realidade muito mais próxima de nossas vidas do que alguns acreditam, modificando o regime de chuvas, interferindo na produção de alimentos, na proliferação de doenças e na morte de muitas espécies por todo o planeta.

Aproveitemos a mensagem de esperança trazida pelo Natal para compreender que podemos viver bem na simplicidade e que quanto mais lâmpadas acendermos, menos estrelas brilhantes veremos nos céus de novos anos. Seja você a estrela-guia que orienta para a sustentabilidade!

 

 

Nível crítico das represas do Sistema Cantareira.

Foto: Reprodução/TV Globo

 

Ilustrações: Silvana Santos