Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
07/12/2014 (Nº 50) ENTREVISTA COM CARLOS HENRIQUE DA COSTA SANTOS CRIADOR DO ESPAÇO REFLORESTAMENTO SANTA RITA
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ENTREVISTA COM CARLOS HENRIQUE DA COSTA SANTOS CRIADOR DO ESPAÇO REFLORESTAMENTO SANTA RITA

 

Por Bere Adams

 

O entrevistado desta edição é Carlos Henrique da Costa Santos, que é empresário e ecologista, nascido em Teresópolis/RJ. Tive a felicidade de conhecê-lo através de uma rede social e passei a admirar cada vez mais o seu trabalho, porque chamou-me a atenção o seu entusiasmo e a vontade de contagiar as pessoas a fazerem o que ele faz, e muito bem: plantar árvores. Ele é o criador do espaço Reflorestamento Santa Rita, uma empresa que existe há 19 anos, situada no segundo distrito de Teresópolis- Santa Rita/RJ. Portanto, Carlos  tem dedicado os últimos 20 anos de sua vida à natureza, especialmente na produção e comercialização de mudas nativas da Mata Atlântica, além das ornamentais, exóticas e de reflorestamento. Tudo de forma sustentável, agregando responsabilidade social, sustentabilidade e benefícios ao meio ambiente.Todos os projetos executados estão de acordo com todas as normas ambientais vigentes e o principal objetivo é a proteção da flora e fauna. Por isto, resolvi convidá-lo para que todas as pessoas que acompanham a revista EA em Ação podessem ter o privilégio de conhecer esta experiencia inspiradora, principalmente neste momento em que o nosso planeta clama por mais árvores. Vamos à entrevista...

 

Bere - Carlos, é um imenso prazer tê-lo como nosso entrevistado desta edição. Conta-nos como começou esta paixão pelas árvores?

 

Carlos - Bere, inicialmente, agradeço o convite para participar desta entrevista. Minha paixão começou de forma despretensiosa. Adquiri um sítio, além de adorar o campo, a natureza e seria um local de refúgio.  Levei um amigo que é engenheiro agrônomo para visitar,  e, na volta, em sua casa, tinha algumas mudas e sementes.  E, foi assim que iniciou minha história. 

 

Bere – Fale-nos um pouco sobre a história do projeto Reflorestamento Santa Rita...

 

Carlos –  O Reflorestamento Santa Rita nasceu sem projeto, sem planejamento e sem objetivos.  Após ter levado o Victor Azevedo de Abreu, meu amigo de infância e engenheiro agrônomo, como já dito anteriormente, começamos já na semana seguinte, fazendo alguns canteiros, como experiência.  A partir deste momento, gostei e dei sequência com vários canteiros e sementes e não mais parei, enfim, já são dezoito anos.

Fotos de Carlos Henrique da Costa Santos

No início do  Reflorestamento Santa Rita

 

Bere – Muito lindo este começo, Carlos, foi “paixão à primeira vista”! E quais foram as suas primeiras dificuldades e como reagiu frente a elas?

 

Carlos - As dificuldades sempre foram enfrentadas como aprendizado, já que era uma diversão e não uma obrigação. Como por exemplo: coloquei adubo em vários canteiros de mudas e pensei: “agora vão crescer rápido”.  Surpresa! Super dosagem! No dia seguinte, todas as mudas mortas. Encarei como aprendizado e não fiquei chateado. 

 

Bere – O que é preciso saber para trabalhar com mudas e viveiros?

 

Carlos - É tudo muito fácil.  Coleta-se a semente, canteiros sombreados, água, após a germinação passa-se para a embalagem.  Livros: recomendo Árvores Brasileiras – Harri Lorenzi , tudo o que precisa saber para o inicio da produção tem neste livro, no qual comecei a aprender e o utilizo até hoje.

 

Bere -  Quantas mudas, aproximadamente, você já plantou desde que começou com o viveiro?

 

Carlos - Pergunta difícil, já que nunca fiz inventário ou as contabilizei.  Cheguei a ter 100.000 (cem mil) mudas nos viveiros, em uma época.  Fora as que já haviam sido plantadas e após continuei a plantar. Acredito que já ultrapassei a faixa de 250.000  e continuo plantando. O projeto, agora, é de 1. 000.000 (um milhão) de mudas, já que passei a ter um amigo que me ajuda.  Essa é a minha equipe: eu e meu amigo.

 

Bere -  Quais as árvores que precisam de maior atenção e por que? Têm algumas árvores mais importantes que outras?

 

Carlos - Todas as árvores precisam de atenção, tem que conhecer as necessidades de cada espécie,  entretanto, algumas são mais resistentes e, outras, mais sensíveis. Existem nativas primitivas de cada região. Espécies exóticas.  Não se pode introduzir uma espécie exótica exemplo no reflorestamento que pode até vir a causar um desequilíbrio ambiental. É necessário um estudo para saber as necessidades de cada espécie e a sua utilização. Além do desmatamento,  os incêndios preocupam.  As árvores são finitas, portanto, todo o conjunto é importante. Todas as arvores são igualmente importantes. Pessoalmente, gosto de algumas, mas a importância do conjunto é fundamental.  Talvez, o que seja mais importante é priorizar as espécies em extinção. É plantar muito mais de todas as espécies.  Na floresta todas tem suas funções, no reflorestamento, a sucessão é interessante com as espécies pioneiras que fazem sombra para as espécies secundárias e climax. Não se pode na sucessão da Floresta ir plantando as espécies sem o projeto considerando as espécies primitivas da região e a distribuição entre pioneiras e secundárias.

Bere -  Como você percebe a arborização dos espaços urbanos?

 

Carlos -  Gosto do conceito de Floresta Vertical em todos os locais possíveis dentro da cidade. Os benefícios advindos da arborização urbana promovem a melhoria da qualidade de vida e o embelezamento da cidade. Essa arborização depende do clima, tipo de solo, do espaço livre e do porte da arvore para obter o sucesso nas cidades. Além da função paisagística, a arborização proporciona a população proteção contra ventos, diminuição sonora, absorção de parte dos raios solares, sombreamento, atração e ambientação de pássaros, absorção da poluição atmosférica, neutralizando, os seus efeitos na população.  Além de valorizar a beleza na cidade.

Bere -  Com esta seca que está se alastrando em nosso país, poderia se fazer um amplo mutirão para o plantio urgente de árvores, já que comprovadamente elas fazem falta para os sistemas hídricos?

 

Carlos – Deveria haver um mutirão nacional e, também, mundial, já que o desmatamento está presente em todo o planeta.  Poderia colocar o exército para fazer o replantio da Amazônia, já que é uma área tão importante e critica quanto à segurança e fiscalização. Recompor o que já foi desmatado imediatamente.  Infelizmente, os resultados não são imediatos. São visíveis as mudanças climáticas, os desastres ambientais estão presentes.  É necessário que todos tomem consciência da importância da recomposição das matas ciliares e nascentes e a recuperação de áreas desmatadas.  Sem as árvores não há alimentação do lençol freático. Elas contribuem na regulação do clima e do regime de chuvas, entre muitos outros efeitos benéficos para a manutenção do equilíbrio ecológico da Terra, do qual o bem-estar e mesmo a sobrevivência do ser humano dependem diretamente das florestas.

 

Bere – Para cada espaço há tipos específicos de árvores. Qual é, para você, a importância de se conhecer as árvores, seus nomes, suas características...? E retomando o assunto da arborização dos espaços urbanos, é muito comum vermos frondosas árvores sendo plantadas de maneira inadequada, como abaixo de fiação ou muito perto de contruções, o que futuramente, cria sérios problemas. Para você, o que poderia ser feito para evitar este plantio errado, nas cidades?

 

Carlos - É importante conhecer as características das espécies, tanto na arborização urbana como na recomposição de florestas. Existem as espécies nativas e exóticas.  Essa última pode até causar o desequilíbrio ambiental se introduzida na floresta de forma irresponsável.  É necessário um profissional ligado a área para identificar a melhor espécie e o seu local de plantio. Não se pode plantar uma árvore de 15 metros debaixo de uma rede elétrica ou uma espatódea , espécie exótica, perto de construção ou calçadas. Sua raiz é superficial e acaba com toda a construção. É melhor ter orientação.

 

Bere – Conte-nos algo inusitado, engraçado ou que tenha te surpreendido com este trabalho...

 

Carlos - Todos os dias são legais, já que considero este trabalho uma diversão e não uma obrigação, embora tenha um compromisso muito grande no que faço. Assim, coisas engraçadas acontecem.  É sempre um prazer estar no reflorestamento.  Mas, gostaria de citar dois fatos que não foram nada engraçados.  Parei no hospital.  Picada de aranha e um escorpião. A outra, no universo de 5.000 mudas de Palmito Juçara, peguei um grupo. Ao colocar no chão, vi uma cobra jararaca, cuja picada pode ser fatal.  Então, é necessário muita atenção e os EPIs – Equipamento de Proteção Individual que são luvas, botas, e vários outros acessórios. Ligado a este trabalho deve se considerar a existência  de vários animais peçonhentos.

 

Bere -  Como a Educação Ambiental pode contribuir para frear o desmatamento e incentivar o plantio das árvores

Carlos - A Educação Ambiental deve ter por objetivo a sensibilização do público infanto-juvenil e sua participação, integração e assimilação das informações do reflorestamento, meio-ambiente e todas as vertentes ligadas ao tema, através da linguagem adequada e do desenvolvimento cognitivo das crianças.  Através da construção do conhecimento das crianças, elas passam a ser disseminadoras e defensoras do meio-ambiente inclusive cobrando atitudes melhores dos adultos.

Bere – Carlos, nós da equipe da revista, agradecemos pela oportunidade de conhecer melhor o seu trabalho, as peculiaridades que envolvem o plantio de árvores e por poder compartilhar esta experiência tão necessária para o equilíbrio do nosso querido Planeta Terra, muito obrigada!

 

Endereços para saber mais: http://www.reflorestamentosantarita.com.br/

No Face Book: Reflorestamento Santa Rita

 

 

Ilustrações: Silvana Santos