Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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O que fazer para melhorar o meio ambiente
07/12/2014 (Nº 50) VISÃO HOLÍSTICA DA EDUCAÇÃO
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FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL

O QUE FAZER PARA MELHORAR O MEIO AMBIENTE

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo e Educador

leosinos@gmail.com

 

VISÃO HOLÍSTICA DA EDUCAÇÃO

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo


É verdade que o processo de ensino-aprendizagem é amplo e complexo, entretanto por anos viu-se a fragmentação e especialização das ciências em distintas disciplinas como forma de melhor compreendê-las. Muitos de nós crescemos nesse processo, questionando as situações onde cada um daqueles variados conhecimentos seria utilizado na prática. Do mesmo modo, éramos avaliados por notas obtidas em provas que se propunham a medir nosso conhecimento, e não testá-lo.

Esse processo todo cunhou a situação planetária atual, caracterizada por um consumismo exacerbado acompanhado da depreciação das características ambientais e sociais. Criamos pais permissivos e famílias que não se empenham mais em manter-se unidas. Sentimentos efêmeros, realidades virtuais, casas maiores com seus integrantes individualizados em seus próprios pensamentos. Desaprendemos a compartilhar e discutir sem brigar. Criamos uma geração que não argumenta e tampouco se empenha em fazer o melhor, em manter-se no emprego, em um relacionamento, etc. Cidadãos votantes, mas acríticos. Dependentes de bolsas e benefícios financiados pela corrupção e pela insegurança.

Mas generalizações à parte, ainda cabe à educação o processo de transformação de pessoas melhores para esse mundo. A orientação dos professores e da família de forma uníssona, apontando ambos na direção certa e formando pessoas de caráter e empenhados em ser mais (ao invés de ter mais). Acontece que a cada dia nos deparamos mais e mais com situações conflituosas onde professores são cobrados pelos próprios pais por exigir que um mínimo de critérios seja atendido em suas aulas ou trabalhos. O comprometimento com a qualidade já não é mais importante e frequentemente são entregues trabalhos simplistas, cuja ortografia assume moldes de salas de bate-papo, e um mínimo de capricho e pontualidade não são atendidos.

Até mesmo a caligrafia, exercitada antigamente por cadernos específicos, já não é mais praticada, fazendo com que a dependência do computador para a comunicação seja a cada dia mais acentuada. Já é rara também a proposição de cartazes à mão, onde a noção de espaço, tamanho e orientação de texto, margem e a própria identificação dos alunos não são apresentadas.

Notamos polegares ágeis para os games e postagens, mas frágeis para segurar uma caneta. Textos rasurados pela falta de prática ao usar a borracha, e respostas erradas (ou em branco) pela incapacidade de interpretar sozinhos o enunciado de alguma questão.

Não podemos, entretanto, permitir que a educação se banalize. Precisamos desenvolver habilidades, atitudes e competências para uma geração futura consciente. Quero fazer aulas práticas com meus alunos, sem as críticas que recebo por não usar o livro didático naquele dia. Quero fazer trilhas, visitar aterros sanitários ou um parque natural sem o medo de que não vão se portar bem ou que submeti esses pequenos jovens ao cheiro nauseante dos resíduos em decomposição (que já não são mais sequer sentidos por aqueles dependem da coleta seletiva para sobreviver). Ensinar não só o nome e localização dos órgãos de nosso corpo ou a classificação dos grupos vegetais e animais, mas como adquirir hábitos que lhe garantirão uma vida saudável e uma relação harmoniosa com todas as espécies que conosco também querem conviver. Postura se ensina e aprende, daquelas que devemos ter em um velório ou reunião de trabalho, aquelas de atenção ao ouvir e pisar, usadas em uma trilha na mata.

Devemos aportar nessa transformação os quatro pilares fundamentais à educação: Saber Conhecer, Saber Ser, Saber Fazer e Saber Viver. Motivar para curiosidade e para descoberta, desenvolver competências para o trabalho em um mundo cada vez mais populoso (o que não precisa significar, mais competitivo ou desigual). Desenvolver habilidades interdisciplinares (do esporte à educação tecnológica, da música à matemática, da história às ciências naturais, do inglês ao português), pois não são em apenas alguns períodos de aula na escola que se forma um cidadão de visão holística e sustentável, mas em todos os momentos do dia (da reflexão que se faz ao escolher seu alimento em um buffet, ao refletir sobre como responder ao tema proposto pelo professor, do banho curto para a economia de água e energia ao uso do cinto de segurança).

Para que essa espécie compreenda a responsabilidade que tem sobre toda a Terra, precisa aprender a ser responsável. Precisa conseguir tecer a colcha de retalhos na qual as disciplinas se fragmentaram e associá-las de modo a ponderar os aspectos econômicos, sociais e ambientais de forma justa, compreendendo o espaço geográfico com o qual se relaciona e é dependente, e as relações políticas que devem ser construídas para que essa garantia seja cumprida.

Acredito na Educação Ambiental para a formação desse homem vitruviano integral, considerando-a (na perspectiva de Genebaldo Freire Dias) como um processo por meio do qual as pessoas aprendam como funciona o ambiente, como dependemos dele, como o afetamos e como promovemos a sua sustentabilidade.

 

 

Homem vitruviano pela Educação.

Ilustrações: Silvana Santos