Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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07/12/2014 (Nº 50) UTILIZAÇÃO DE HORTA VERTICAL COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE PONTAL DO PARANÁ, PR
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Utilização de horta vertical como ferramenta pedagógica para a educação ambiental em uma escola pública de Pontal do Paraná,

Paraná

 

 

 

Juliane Clotilde Souza Cordeiro

Graduanda do curso de Agroecologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Setor Litoral. São Marcos, 337, Matinhos-PR CEP: 83.260000   julianeecordeiro@hotmail.com

 

Ana Clara Giraldi Costa

Agroecóloga pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Setor Litoral. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável pela Universidade Federal do Paraná. Jaguariaíva, 512, Matinhos-PR CEP: 83.260000  acgiraldicosta@gmail.com

 

Afonso Takao Murata

Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Docente da Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral. Jaguariaíva, 512, Matinhos-Pr. CEP: 83.260-000 afonsomurata@ufpr.br

 

RESUMO: A pesquisa teve como objetivo avaliar a utilização de horta vertical como ferramenta pedagógica para educação ambiental com alunos de escola pública de Pontal do Paraná, PR. As atividades foram desenvolvidas junto a 34 alunos do Jardim I e II. A horta foi montada utilizando material reciclado como: cabeceiras e estrados de cama, garrafas PET, caixas de frutas. Foram plantadas mudas de hortaliças e flores. Os dados foram coletados concomitantemente com a instalação da horta, onde a percepção do público atendido foi realizada a partir de pesquisa etnográfica e analisados pelo método de análise de conteúdo proposto por Bardin, 1977. Após a análise dos dados foi possível concluir que a implantação de horta vertical pode ser utilizada como ferramenta pedagógica para trabalhar a educação ambiental, a cidadania e trabalho em grupo, tanto alunos quanto professores se mostraram satisfeitos com a atividades, já que toda a comunidade escolar se uniu, inclusive alguns pais, participaram ativamente das ações propostas.

Palavras-chave: Horta vertical; Educação ambiental; Litoral do Paraná; Educação infantil.

 

 

Introdução

 

            As inovações capazes de proporcionar melhorias na qualidade de vida através da construção coletiva de valores socioambientais, conhecimentos, habilidades, e atitudes voltadas à valorização do individuo e dele com o meio ambiente, vêm sendo amplamente discutidas, ganhando cada vez mais espaço nos diferentes segmentos sociais e assumindo crescente importância na esfera educacional (GIRALDI-COSTA; MURATA, 2013).

Dentro deste contexto, a Educação Ambiental (EA) pode fazer parte de todo o currículo escolar, sendo estudada pelas diversas disciplinas inter-relacionando as mesmas. Conscientizar através da educação, uma vez que há a necessidade da preservação ambiental, o que torna a EA um desafio da contemporaneidade (COSTA et. al. 2012). A horta escolar é uma ótima ferramenta para o aprendizado sobre a EA. A horta permite uma reflexão tanto dos alunos como professores, segundo MUNIZ; CARVALHO, 2007 Através da horta se faz possível o questionamento sobre o meio ambiente e a escola envolvida ensina os alunos sobre a horta como um instrumento de aprendizagem, além de promover mudança alimentar da merenda escolar.

Cabe ressaltar que vários autores enfatizam que para que tenhamos uma melhor qualidade de vida, cuidado com o planeta e preocupação com as questões ambientais é necessário que os cidadãos tomem consciência de todas essas questões para que assim possam se posicionar frente a isso e tomar decisões e a horta é uma das alternativas para esse aprendizado. É no ambiente escolar que temos a possibilidade de promover essa consciência ambiental (FONTANELLA p.01, 2013).

A autora afirma ainda que a EA contribui para a formação das crianças, desenvolvendo nas mesmas uma consciência ambiental de preservação, respeito para com a natureza como um todo, além de capacita-los quanto a entendimento sobre questões ambientais. Já que a educação ambiental é ampla, pois engloba de maneira inovadora o método de ensino tradicional, incluindo a comunidade nas discussões ambientais (JARDIM, 2009). Segundo o autor:

 

“A EA é uma ação educativa que se desenvolve, através de uma prática, em que valores e atitudes promovem um comportamento rumo a mudanças perante a realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo habilidades e atitudes necessárias para dita transformação e emancipação"(JARDIM, 2009, p.123).

 

Sendo assim a EA é interdisciplinar e inova a forma de ensinar nas escolas, ensinando principalmente a conscientização ambiental através de implantação de hortas para o desenvolvimento de consciência dos alunos, pois é a partir desse aprendizado que alcançaremos o objetivo de um mundo melhor.

            Assim, a ênfase que é dada à educação ambiental nos espaços escolares deve ter como cerne a multidisciplinaridade. Conforme observado por Climene Maria Lopes Serrano, que dispôs que:

 

“Na educação ambiental está o aspecto multidisciplinar, pois qualquer ambiente é um sistema total e requer uma estratégia de ensino que seja capaz de fazer com que os educandos vejam, sintam e conheçam os processos naturais de forma integrada, como na realidade eles se manifestam” (SERRANO, 2003, p.80).

 

             Mais especificamente, a implantação de hortas como ferramenta didático-pedagógica, permite que pessoas do âmbito escolar pensem sobre as questões ambientais e a qualidade de vida. Assim, as hortas podem ser utilizadas como espaços de aprendizado e interação, tornando o ambiente escolar mais agradável e dinâmico, pois promove a integração dos alunos gerando momentos de socialização e interações entre os mesmos (FREITAS et. al., 2013). O mesmo autor afirmou que:

           

“No caso específico das hortas implantadas no contexto escolar, é possível destacar que essas podem contribuir sistematicamente com a segurança alimentar no contexto da educação alimentar e ambiental. Assim, as hortas constituem espaços de aprendizado dos alunos, tornando o ambiente escolar mais agradável com a transformação de áreas não ocupadas ou mal planejadas em espaços verdes” (FREITAS et al, 2013, p.156).

 

            Desta forma, a horta nos espaços escolares estimula, nas crianças, o senso de responsabilidade e de cooperação. Pois, o fato de cultivar o alimento as estimula a cuidar e a comê-los, fazendo com que elas se sintam incorporadas ao ambiente, a partir de experiências e práticas agroecológicas para a produção de alimentos. Fazendo com que a horta não seja apenas para uma atividade de produção de alimentos ou espaço lúdico, mas sim um espaço de ensino-aprendizagem.

            Neste sentido, a pesquisa teve como objetivo avaliar o processo de implantação de horta vertical, com base no reaproveitamento de materiais como ferramenta didático-pedagógica para trabalhar a Educação Ambiental com crianças do Jardim l e ll de uma escola municipal de Pontal do Paraná, PR.

 

Metodologia

 

            O trabalho foi realizado na escola de ensino básico e fundamental localizada no município de Pontal do Paraná/PR, no segundo semestre de 2013, a pesquisa foi desenvolvida concomitantemente com as atividades do projeto de extensão: Agroecologia e Inclusão, vinculado ao programa Acessibilidade e Inclusão – semeando arte, da Pró-reitora de extensão e cultura da UFPR. Participaram das atividades 38 alunos dos jardins I e II e 3 professoras responsáveis pelas turmas e uma coordenadora.

A horta foi montada utilizando material reciclado como: cabeceiras e estrados de cama, garrafas PET, caixas de frutas. Foram plantadas mudas de hortaliças e flores. As atividades foram conduzidas respeitando a indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão segundo as demandas do local de atuação. Nesta linha, foi realizado um diagnóstico inicial, com dados obtidos a partir de diálogos com os profissionais responsáveis pela gestão escolar e ensino dos alunos, acerca das demandas sobre atividades ligadas à educação ambiental e meio ambiente. Em um segundo momento foi realizado as ações de implantação da horta, com a participação inicial de alunos e professores, assessorados pelos pesquisadores. E por fim foi realizado o diagnóstico final onde foram coletadas as percepções do público atendido em relação ao processo de implantação da horta vertical.

 Os dados foram coletados concomitantemente com a instalação da horta, onde a percepção do público atendido foi realizada a partir de pesquisa etnográfica e analisados pelo método de análise de conteúdo proposto por Bardin, 1977.

             

Resultados e Discussões

 

            No diagnóstico inicial foi constatado que a maior demanda da escola era pela implantação de uma horta orgânica, com o objetivo de reaproveitar os resíduos orgânicos gerados pela cozinha e refeitório, além disso, implantar a horta para que possa servir de ferramenta didática para as atividades de educação ambiental. 

            Assim, após a delimitação do objeto de ação, bolsistas e voluntários do projeto, bem como a comunidade escolar reuniram-se para fomentar as etapas necessárias para a implantação da horta orgânica, bem como planejar o cronograma. Todos os membros da comunidade escolar (coordenadora, professores, alunos e alguns pais de alunos) concordaram em participar das atividades, conforme suas disponibilidades.

            A escola não possuía área para a implantação de uma horta tradicional, em forma de canteiros. Devido a isto foi realizado pesquisa bibliográfica, reunião com a comunidade escolar e foi proposto o trabalho com hortas verticais. Com a finalidade de aproveitar o pouco espaço da escola foi montado à horta vertical com garrafas PET’S reaproveitando o espaço e também materiais encontrados na rua. Como mostram as figuras 01 e 02.

 

 

FIGURA 01: Garrafas PET’s, decoradas pelos alunos e utilizadas na montagem da horta vertical.

 

 

Posteriormente, foi dado inicio à montagem das estruturas. Cada aluno ficou responsável por levar à escola materiais que pudessem ser utilizados para a confecção das hortas verticais, como garrafas pet e embalagens em geral, estrados de cama entre outros. Durante todo o processo dialogando sobre o plantio das mudas e o contato com a terra, as crianças relataram suas experiências de vida, como, por exemplo: “Não vou tocar na minhoca, porque tenho medo”, “Eu ajudo minha mãe a regar as plantas”, “Minha mãe tem plantinhas em casa”. Isso mostrou a interação das crianças para com a atividade.

            Como um dos objetivos era promover a horta como um instrumento para as atividades de educação ambiental, foi utilizado conceitos e técnicas da agroecologia, tais como: reaproveitamento de materiais para a estrutura da horta vertical, compostagem, vemicompostagem (minhocas), plantas companheiras e inimigas entre outras. A escolha dos cultivos foi através da preferencia alimentar dos alunos e também de acordo com o calendário agrícola da região. Assim, foram plantadas sementes e mudas agroecológicas de alface (Lactua sativa), cebolinha (Allium fistulosum), salsinha (Petroselinum sativum), coentro (Coriandrum sativum), girassol (Helianthus annuus), amor perfeito (Viola tricolor).

 

FIGURA 02: Muro com material reciclado, estrados de camas, que foram usados como suporte de vasos para montagem de horta vertical, em escola municipal localizada no município de Pontal do Paraná.

 

 

 

            Para que os alunos se interessassem pelas atividades foi preciso estimulá-los de maneira lúdica visando conscientizá-los sobre a questão do meio ambiente e dos resíduos sólidos. Assim, as atividades consistiram primeiramente em oficinas expositivas, com o uso de equipamentos de multimídia e com a sensibilização dos mesmos através de amostras de solo com minhocas e plantas. Paralelamente os professores trabalharam diariamente com o tema através de contos e de outras atividades cotidianas.

Depois de empregadas atividades lúdicas, através de amostras de solo, o contato das crianças com a terra explicações sobre como construir e cuidar de uma horta têm um belo resultado e satisfação tanto dos alunos como dos professores. Como mostra a figura 03 com alguns dos alunos envolvidos.

 

FIGURA 03: Muro com a horta vertical depois de finalizada.

 

 

           

            Os dados referentes ao diagnóstico final foram coletados junto aos professores da escola que aderiram à pesquisa, esta levantou se os alunos apresentaram melhoras no seu desempenho escolar, especialmente em relação as questões ambientais e éticas, além disso foi verificado o quanto este espaço facilitou as atividades pedagógicas desenvolvidas por estes docentes.

            A análise dos dados obtida no diagnóstico final aconteceu a partir da análise de conteúdo proposto por Bardin (1977).

 

Considerações finais         

 

            A horta escolar colaborou no processo de aprendizagem dos alunos, serviu como ferramenta didático-pedagógica para os docentes e se destacou por ser o primeiro contato das crianças com a horta da escola. Neste contexto, para que haja uma aprendizagem plena é de extrema importância atividades práticas e que estejam no cotidiano dos alunos para uma melhor fixação da necessidade de cuidar do meio ambiente. Dessa maneira, cabe aos educadores e aos pais, que não deixam de ser educadores, ensiná-los desde cedo a importância de um planeta saudável, em harmonia e equilíbrio.

Contudo, a análise dos dados foi possível concluir que a implantação de horta vertical pode ser utilizada como ferramenta pedagógica para trabalhar a educação ambiental, a cidadania e trabalho em grupo, tanto alunos quanto professores se mostraram satisfeitos com a atividade, já que toda a comunidade escolar se uniu, inclusive alguns pais, participaram ativamente das ações propostas.

 

 

Referencias bibliográficas

 

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977

 

COSTA, T. G.; OLIVEIRA, R. A.; PESSOA, B. E. A importância da horta escolar para aprendizagem dos alunos e o desenvolvimento da sustentabilidade. Fiped, Forum Internacional de Pedagogia. Campina Grande, 2012.

 

FONTANELLA, D.; RECH F. R. L.; PASTRE, E. Horta escolar saudável na educação ambiental e alimentar: uma prática possível de aplicar nas escolas e cmeis.  XIV EPEA – Cascavel-PR, p. 1-4, out. 2013.

 

FREITAS, H. R; GONÇALVES-GERVÁSIO, RODRIGUES, R. De C.; MARINHO, MORAES, C.; FONSECA, A. S. S.; QUIRINO, A. K. R.; XAVIER, K. M. M. dos S.; NASCIMENTO, P. V. P. do. Horta escolar agroecológica como instrumento de educação ambiental e alimentar na Creche Municipal Dr. Washington Barros – Petrolina/PE. Extramuros, Petrolina-PE, Revista de Extensão da Univasf. v. 1, n. 1, p. 155-169, jan./jul. 2013.

 

GIRALDI-COSTA, A.C.; MURATA, A. T. Horta Orgânica como Ferramenta Lúdica para a Educação Ambiental nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Revista Educação Ambiental em Ação. v.46 ano XII, 2013. 

 

JARDIM B. D. Educação ambiental: trajetórias, fundamentos e identidades. Revista eletrônica Mestrado Educação Ambiental. v. 22, p.120-130,  jan./ jul. 2009.

 

MUNIZ, V. M.; CARVALHO, A. T. de. O Programa Nacional de Alimentação Escolar em município do estado da Paraíba: um estudo sob o olhar dos beneficiários do Pro­grama Revista de Nutrição, Campinas-SP, v. 20, n. 3, p. 285-296, maio/jun. 2007.

 

SERRANO, C. M. L. Educação Ambiental e Consumerismo em Unidades de Ensino Fundamental de Viçosa-MG. Tese (Doutorado em Magister Scientiae) –Programa de Pós Graduação em Ciência Florestal, Universidade Federal  de Viçosa, Viçosa. 2003.

 

Ilustrações: Silvana Santos