Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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07/12/2014 (Nº 50) IMPORTÂNCIA ECOSSISTÊMICA DOS MORCEGOS AOS ALUNOS DA ESCOLA TÉCNICA BENEDITO STORANI, MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ-SP
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Importância ecossistêmica dos morcegos aos alunos da Escola Técnica Benedito Storani, município de Jundiaí-SP

 

Lidiani Cristina da Silva 1 e Patrícia Tavoloni Gentili 2

1 Graduada em Ciências Biológicas

Universidade Anhembi Morumbi (UAM) – Escola de Ciências da Saúde

Av. Dr. Almeida Lima, 1134 – Mooca – 03164-000 – São Paulo, SP

lidiani_c@yahoo.com.br

 

Patrícia Tavoloni Gentili

2 Bióloga, Mestre em Recursos Florestais (ESALQ/USP)

Docente da Universidade Anhembi Morumbi (UAM)

UAM – Escola de Ciências da Saúde

Av. Dr. Almeida Lima, 1134 – Mooca – 03164-000 – São Paulo, SP

ptavoloni@anhembimorumbi.edu.br

ptav@bol.com.br

 

 

Resumo

Os quirópteros possuem uma importância fundamental na preservação e manutenção da Floresta e são diretamente afetados pelos desmatamentos e fragmentação de habitats, principais causas da perda de espécies e ainda responsáveis pelo aumento da probabilidade de encontros de morcegos com a população humana, aumentando os riscos da transmissão de doenças como a raiva e histoplasmose, causando prejuízos à saúde pública. O estudo teve como objetivo avaliar os conhecimentos das pessoas sobre os morcegos, através de entrevistas, por fim ministrar palestras visando à educação ambiental sobre os morcegos, no Colégio Benedito Storani, no município de Jundiaí – SP

 

Introdução

Em várias regiões tropicais, o processo da fragmentação de florestas é uma realidade atual que vem aumentando nas décadas recentes em função das altas taxas de desmatamento (WHITMORE, 1997).

Os morcegos são reconhecidamente importantes na regulação dos ecossistemas tropicais e em muitas áreas representam 40 a 50% das espécies de mamíferos (PATTERSON & PASCUAL 1972, TIMM 1994).

Muitas espécies de morcegos são dispersoras de sementes, outras são nectarívoras/polinívoras e ao se alimentarem promovem a polinização, ajudando na manutenção da floresta. Alguns botânicos afirmam que os quirópteros são os dispersores mais importantes entre todos os mamíferos (HUBER, 1910; PIJL, 1957).

A pesquisa teve como objetivos gerais propiciar subsídios para tomadas de decisões e planos de manejo que visem à conservação das espécies presentes e a educação ambiental da comunidade.

Materiais e Métodos:

 

O estudo foi realizado entre janeiro e dezembro de 2010, numa Área de Preservação Ambiental limítrofe a Reserva Biológica Serra do Japi onde está inserido o Colégio Técnico Benedito Storani, com área aproximada de 300 hectares, localizado no município de Jundiaí, SP.

 

Educação Ambiental

Palestras de educação ambiental foram elaboradas e ministradas no colégio Benedito Storani sobre os seguintes temas: o Conscientização da importância ecossistêmica destes animais, principalmente como dispersores de sementes e polinizadores; o Como evitar que estes animais se alojem nos forros das casas, evitando assim acidentes e transmissão de doenças; o Como agir, quando encontrar um morcego.

Para saber o nível de conhecimento dos alunos da Etec. Benedito Storani sobre morcegos foi proposto um questionário com perguntas referentes à classificação, alimentação e abrigo dos morcegos, além de perguntas sobre as doenças transmitidas por estes animais e como agir em caso de encontro e mordedura destes animais.

 

Resultados

Um total de 85 voluntários participaram da pesquisa respondendo estas questões. O número de voluntários ficou abaixo do esperado, visto que foram convidados cerca de 300 alunos para participar do projeto de educação ambiental no colégio.

Para 70 dos 85 entrevistados à alimentação dos morcegos varia de acordo com as espécies. Esse fato também foi observado para os abrigos que podem ser utilizados pelos morcegos, 74 entrevistados afirmam que o local de abrigo dos morcegos varia de acordo com a espécie. Apenas 1, pessoa relata forros de casa como possíveis abrigos e 6 pessoas dizem ser cavernas o habitat desses animais

Na questão sobre as doenças que os quirópteros podem transmitir, 61 dos 85 voluntários conhecem a transmissão da raiva por morcegos, apenas 2 voluntários relatam a transmissão de raiva e histoplasmose e 22 pessoas desconhecem a transmissão de doenças por morcegos, sendo esse um número preocupante, visto que estes alunos estudam em um colégio agrícola situado em uma fazenda e a raiva é uma enfermidade que segundo o Ministério da Agricultura causa um prejuízo de centenas de milhões de dólares, provocados pela morte de milhares de cabeças de gado, além dos gastos indiretos que podem ocorrer com a vacinação de milhões de bovinos e inúmeros tratamentos pós-exposição (sorovacinação) de pessoas que mantiveram contato com animais suspeitos.

Entretanto os quirópteros possuem uma grande importância ecológica como polinização das flores, dispersão de sementes, apontadas na literatura como sendo cruciais na manutenção de áreas naturais e na recuperação de áreas degradadas (BREDT et al., 2002; NOWAK, 1994); e no controle de insetos, promovendo inúmeros benefícios ambientais e à saúde pública. Para 33 entrevistados, os morcegos possuem importância apenas na cadeia alimentar, enquanto para 15 pessoas os morcegos são importantes dispersores de sementes. Pode ser notado que as opiniões sobre a importância ecológica são distintas, mostrando assim a grande importância de um programa de educação ambiental à população.

Apenas para 51 pessoas entrevistadas a atitude a ser tomada ao encontrar um morcego seria chamar um órgão competente responsável pelo controle de zoonoses do município. Para 16 dos 85 entrevistados a atitude a ser tomada seria a captura do animal para posterior soltura e 5 pessoas relataram que matariam o animal

Para a maioria dos entrevistados (62) se houvesse um acidente com morcego, a atitude correta seria chamar um órgão competente para capturar o animal e posteriormente ir para o pronto socorro. Para 3 pessoas entrevistadas, a medida a ser tomada seria apenas a lavagem do local de contato, comprovando assim o desconhecimento sobre os meios de transmissão da raiva, sendo esta transmitida pela saliva do morcego.

Em relação a mordidas de morcegos em animais domésticos a grande maioria (64) chamaria um órgão competente para capturar o morcego e posteriormente levariam o seu animal ao veterinário.

Observando os resultados da pesquisa, pode-se constatar que a grande maioria tem bons conhecimentos sobre a biologia dos morcegos, seus hábitos de alimentação e abrigo. Observou-se também que a maioria dos entrevistados sabe o que deve ser feito ao se deparar com um morcego ou ao sofrer um acidente com esse animal. Entretanto há relatos de pessoas que apenas lavariam o local de contato se houvesse um acidente com quiróptero fica evidente que um número preocupante de pessoas não sabem as doenças que estes animais transmitem, evidenciando a necessidade de um projeto de educação ambiental para promover conscientização e a orientação da população sobre a importância ecológica dos quirópteros e sobre as atitudes a serem tomadas ao se ter contato com esses animais, garantindo assim, a preservação das espécies, a manutenção da flora, o equilíbrio ecológico e a saúde pública, proporcionando uma melhor convivência da sociedade para com esses animais, promovendo um programa de conservação da fauna sem preconceitos.

Para isso foram ministradas palestras para os alunos das três classes do primeiro ano do ensino médio e para as três classes do segundo ano do ensino médio da Etec. Benedito Storani, totalizando 200 pessoas participantes.

As palestras tiveram como intuito conscientizar a população sobre a importância ecossistêmica destes animais, principalmente como dispersores de sementes e polinizadores; orientar como evitar que estes animais se alojem nos forros das casas, evitando assim acidentes e transmissão de doenças, e orientar como agir, quando encontrar um morcego.

A educação ambiental deve ser ato presente na formação pessoal do cidadão, pois só assim é possível garantir uma convivência harmoniosa e saudável com a natureza, seus recursos, sua fauna e flora.

 

Referências Bibliográficas

BREDT, A.; CAETANO JÚNIOR, J.; MAGALHÃES, E. D. Chave Visual para a Identificação de morcegos do Brasil. Brasília: SES, 2002. Versão 3.0. 1 CD Rom.

 

DALQUEST, W. W. Nature history of the vampire bats of eastern Mexico. Amer. Midl. Nat. 53(1): 79-87, 1955. In: TURNER, D. C. The Vampire Bat - A Field Study en Behavior and Ecology. The John Hopkins University Press, 1975.

 

HUBER, J. Matas e madeiras amazônicas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. .V.6. n.91. Belém: 1910, p.91-225.

 

NOWAC, R. M. (Ed.). Walker´s Bats of the World. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1994. 287p.

 

PATERSON, B. & PASCUAL, R. The fossil mammal fauna of South America. p. 247-309. In: KEAST, A., ERK, F.C. & GLASS, B. (eds). Evolution, mammals and southern continents. State University New York Press, Albany. p.543,1972

 

TIMM, R.M. 1994. The mammal fauna, p. 229-237. In: L.A. McDADE; K.S. BAWA; H.A. HESPENHEIDE & G.S. HARTSHORN (Eds). La Selva: Ecology and natural history of a neotropical rain forest. Chicago, University of Chicago Press, 486p

 

WHITMORE, T. C. Tropical forest disturbance, disappearance, and species loss. In: LAWRANCE W. F.; BIERREGAARD JR, R. O. (Ed.). Tropical forest remnants: ecology, management and conservation of fragmented communities. Chicago: The University of Chicago Press, 1997. p. 3-12

 

Ilustrações: Silvana Santos