Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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07/12/2014 (Nº 50) DIAGNÓSTICO SÓCIO-AMBIENTAL DA NASCENTE DA COMUNIDADE DO COCAL EM PALMEIRA DO PIAUÍ – PI
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DIAGNÓSTICO SÓCIO-AMBIENTAL DA NASCENTE DA COMUNIDADE DO COCAL EM PALMEIRA DO PIAUÍ – PI

 

Rafaela Pinheiro Rocha1; Eleide Leite Maia2; Sheylla de Sousa Vieira3;              Egeiza Moreira Leite4

 

1. Graduanda do Curso de Bacharelado em Engenharia Florestal; UFPI; Campus Universitário Profª Cinobelina Elvas/ CPCE, BR135, Km 3, Planalto Horizonte, Bom Jesus – PI; leydyrafa@hotmail.com                                                                                                 2. Professora Assistente; Engenheira Florestal; UFPI; Campus Universitário Profª Cinobelina Elvas/ CPCE, BR135, Km 3, Planalto Horizonte, Bom Jesus – PI; lieidemaia@yaho.com.br                                    3. Graduanda do Curso de Bacharelado em Engenharia Florestal; UFPI; Campus Universitário Profª Cinobelina Elvas/ CPCE, BR135, Km 3, Planalto Horizonte, Bom Jesus – PI; shelladesousa@hotmail.com                                                                                                                      4. Engenheira Florestal; Mestre em Manejo de Solo e Água; egeizamoreira@yahoo.com.br

 

Resumo: O uso desordenado dos recursos naturais devido a crescente demanda de produtos agrícolas e florestais, vem despertando a preocupação com a questão ambiental. O objetivo deste trabalho foi realizar um diagnostico socioambiental da nascente do Cocal localizada no município de Palmeira do Piauí – PI. Foi feito um diagnóstico socioambiental separado em duas etapas: a primeira chamada de sócio e a segunda de ambiental, por meio de entrevistas livres com moradores da comunidade, num total de 18 famílias, que tipificou o uso dos recursos naturais, solo e água, e os sistemas de produção atual da comunidade. Observou-se a presença de pequenas famílias, com baixo nível de escolaridade, cuja principal atividade é a agricultura de subsistência, em pequenas propriedades, com baixas produtividades, e carência de assistência técnica de manejo do solo e água. Há ausência de programas de educação ambiental na comunidade em relação à preservação da nascente.

Palavras-chave: solo, vegetação, educação ambiental

 

1. INTRODUÇÃO

 

No Brasil, a demanda por produtos agrícolas e pastoris tem aumentado o uso da terra por meio do desmatamento das florestas, intensificando a pressão sobre a exploração dos recursos naturais e causando a degradação ambiental. O impacto das práticas de manejo inadequado do solo, da água e da vegetação, tem despertado muita preocupação. O meio ambiente encontra-se excessivamente sobrecarregado pelas atividades antrópicas, sofrendo o risco de exaustão dos seus recursos naturais (MAIA, 2008).                                                          O processo de degradação das formações ciliares e das nascentes, além de desrespeitar a legislação florestal, que torna obrigatória a preservação das mesmas, resulta em vários problemas ambientais. As matas ciliares funcionam como filtros, retendo defensivos agrícolas, poluentes e sedimentos que seriam transportados para os cursos d'água, afetando diretamente a quantidade e a qualidade da água e consequentemente a fauna aquática e a população humana. As matas ciliares são importantes também como corredores ecológicos, ligando fragmentos florestais e, portanto, facilitando o deslocamento da fauna e o fluxo gênico entre as populações de espécies animais e vegetais. Em regiões com topografia acidentada, exercem a proteção do solo contra os processos erosivos (BOZZA, et al., 2010).

A educação ambiental surgiu na tentativa de minimizar e tentar reverter o quadro de degradação ambiental e social que se instalou no último século. Portanto, a referida ciência possui um enfoque transformador e emancipatório, já que prega a busca por outra forma de relação do ser humano com o meio em que está inserido (LUZZARDI, 2006). Desta forma, mostrando os impactos que acontecem com os recursos naturais, devido ao uso inadequado, podemos utilizar um diagnóstico para conscientizar a população em geral e os produtores de Palmeira do Piauí quanto à importância desses recursos para a qualidade de vida deles e das gerações futuras. O objetivo deste trabalho foi realizar um diagnostico sócio ambiental da nascente da comunidade do Cocal localizada no município de Palmeira do Piauí – PI.

 

 

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

 

2.1 Recursos Naturais

 

2.1.1 Água

 

A água ocupa um lugar específico entre os recursos naturais. É a substância mais abundante no planeta, embora disponível em diferentes quantidades, em diferentes lugares. Possui papel fundamental no ambiente e na vida humana, além de ser um insumo indispensável à produção e um recurso estratégico para o desenvolvimento econômico, e nada a substitui, pois sem ela a vida não pode existir (DONADIO et al., 2005; RIBEIRO, 2011).

Da quantidade de água doce disponível na Terra, somente 1,2% apresenta-se sob a forma de rios e lagos; os 98,8% restantes constituem águas subterrâneas. No Brasil, apesar de estarem concentrados 8% de toda a água doce do planeta, a distribuição dos recursos hídricos é muito irregular. A bacia amazônica concentra 72% do potencial hídrico, segundo o extinto Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) do Ministério da Minas e Energia, sendo que a distribuição regional dos recursos hídricos é de 70% para a região Norte, 15% para a região Centro-Oeste, 12% para as regiões Sul e Sudeste que apresentam o maior percentual de consumo de água e, 3% para a região Nordeste, que tem a sua situação agravada por um regime pluviométrico irregular e pela baixa permeabilidade do terreno cristalino (RIBEIRO, 2011).

No Semiárido, principalmente, a água é considerado um bem escasso, devido, à irregularidade das chuvas e, à estrutura geológica, na sua maior parte formada pelo cristalino, que não permite acumulações satisfatórias de água no subsolo (CAMPOS e RÊGO NETO, 2003).

Apesar de a água ser considerada um recurso abundante no Brasil existe áreas muito carentes a ponto de transformá-la em um bem limitado às necessidades do homem. Normalmente, a sua escassez é muito mais grave em regiões onde o desenvolvimento ocorreu de forma desordenada, provocando a deterioração das águas disponíveis, devido ao lançamento indiscriminado de esgotos domésticos, despejos industriais, agrotóxicos e outros poluentes (MOITA e CUDO, 1991).

A conservação e recuperação das matas ciliares e o manejo sustentável de bacias hidrográficas afetam diretamente a qualidade e a quantidade de água, a manutenção do microclima da região e a preservação da fauna silvestre e aquática, entre outros (FERREIRA e DIAS, 2004).

 

2.1.2 Solos

 

O solo pode ser considerado como um sistema complexo, composto de seres vivos, matéria orgânica e mineral cujas interações resultam em suas propriedades químicas, físicas e biológicas, fazendo com que os organismos do solo não sejam apenas seus habitantes, mas também seus componentes (VITTI et al., 2004).

Em geral, as pessoas não percebem que o meio ambiente é resultado do funcionamento integrado de seus vários componentes e, portanto, a intervenção sobre qualquer um deles estará afetando o todo. Um desses elementos é o solo, componente essencial do meio ambiente, cuja importância é normalmente desconsiderada e pouco valorizada (BRIDGES e VAN BAREN, 1997).                           O solo é um importante componente da biosfera, funcionando não só na produção de alimentos e fibras, mas também no funcionamento do ecossistema e na manutenção da qualidade ambiental (UZÊDA et al., 2004). De modo geral, as pessoas têm uma atitude de pouca consciência e sensibilidade em relação ao solo, o que contribui para a sua degradação, seja pelo seu mau uso, seja pela sua ocupação desordenada. A problemática em torno da conservação do solo tem sido na maioria dos casos, negligenciada pelas pessoas. A consequência dessa negligência é o crescimento contínuo dos problemas ambientais ligados à degradação do solo, tais como: erosão, poluição, deslizamentos, assoreamento de cursos de água, etc. (MUGGLER et al., 2006).                                                                O emprego indiscriminado da mecanização, a falta de conscientização quanto à necessidade de preservação da matéria orgânica e o uso desequilibrado e excessivo de agroquímicos colocam em risco até mesmo as áreas de solos mais produtivos e outrora de boa fertilidade (MUZZILI, 1998).                                                  A degradação dos solos constitui um prejuízo socioeconômico para as gerações atuais e representa um enorme risco para as gerações futuras (WADT, 2003). Em 1996, na França a "Campanha do Solo"; no âmbito da Aliança para um Mundo Plural, Responsável e Unificado, considera que o uso sustentável do solo e a sua conservação requerem uma profunda e consistente mudança na atitude das pessoas em relação a esse recurso. Para atingir tal mudança, há pelo menos três condições necessárias e inseparáveis: reabilitação do solo na cultura popular com base na educação convencional e popular; legislação a partir da consideração de que o solo é um recurso natural essencial para a vida, de renovação muito lenta, cuja necessidade de preservação é inquestionável; inclusão do solo ao patrimônio natural e cultural da humanidade, cuja preservação exige a solidariedade humana. Essa campanha identifica e articula iniciativas de educação e sensibilização em relação ao solo, em todo o mundo (MUGGLER et al., 2006).

 

2.1.3 Vegetação

 

A vegetação é uma expressão do clima, bem como de outros fatores geoambientais representados pelo relevo, material de origem e organismos, numa interação que ocorre ao longo do tempo e que resulta, também, na determinação de todo o quadro natural (ASA, 2004).

A vegetação do Piauí é caracterizada pela Caatinga e pelos Cerrados ou Agrestes, que ocupam quase toda a sua área. Existem ainda regiões de mata densa e de cocais, onde predominam as palmeiras babaçu e carnaúba (DELTA, 2011). A caatinga é composta de plantas xerófilas, próprias de clima seco, adaptadas à pouca quantidade de água. Os espinhos das cactáceas, por exemplo, têm a função de diminuir sua transpiração. Essas plantas podem produzir cera, fibra, óleo vegetal e, principalmente, frutas, e o solo é fértil quando irrigado. Por causa do baixo índice pluviométrico da região sertaneja, as plantas dependem de irrigação artificial, possibilitada pela construção de canais e açudes (BRITO, 2011).

A Caatinga possui uma diversidade de espécies nativas com potencial forrageiro, sendo boa parte caducifólia ou anual. Muitas espécies podem ser consumidas pelos animais, porém, vêm sendo utilizadas de forma empírica pelos criadores, sem o devido conhecimento do seu potencial produtivo, e com pouca ou nenhuma preocupação ambiental (SILVA et al., 2004).

 

2.2 Educação ambiental

 

A visão do ser humano, ao dominar a natureza para alcançar o crescimento econômico através do uso descontrolado dos recursos naturais, consolidou, segundo (GRÜM, 1994), a postura antropocêntrica, situando o homem no centro da natureza e da sociedade consumista de recursos naturais, capitais e bens. Na relação do ser humano com o meio ambiente, que atualmente parece se processar de forma bastante desequilibrada, dominadora, é que a educação ambiental tem um grande campo a desenvolver.

Praticando um trabalho de compreensão, sensibilização e ação sobre esta necessária relação integrada do ser humano com a natureza; adquirindo uma consciência da intervenção humana sobre o ambiente que seja ecologicamente equilibrado (GUIMARÃES, 1995).

Segundo Viezzer e Ovalles (1994), a gestão comunitária dos recursos naturais nos coloca diante da exigência de mudar tais sistemas educativos por outros que levem a desenvolver um pensamento responsável com relação aos recursos naturais sobre a base da execução de ações individuais e coletivas que busquem conhecer os problemas relacionados com os recursos naturais da comunidade.

As características de multidisciplinaridade, transversalidade e interdisciplinaridade da Educação Ambiental têm sido apregoadas aos quatro cantos, palavras complexas que tornam a Educação Ambiental um bicho de sete cabeças, mas não o é. Educação Ambiental é simples e não necessita de projetos mirabolantes, apenas de um pouco de criatividade para demonstrar, através de cada área do conhecimento, como o mundo realmente é, e que respostas dá às ações do homem. Isso deve ser realizado diariamente até que se torne um hábito como o de comer pão, ou mesmo involuntário como o de respirar (FLORIANO, 2002).

Ante o exposto, conclui-se que a Educação Ambiental é um processo educacional criado ao longo de muitos anos através de estudos de milhares de especialistas, que tem uma visão global das necessidades do homem e da natureza entrelaçadas em um objetivo comum que é a manutenção da qualidade de vida de todos os seres do planeta. Em vista da existência de problemas ambientais em quase todas as regiões do país, torna-se importantíssimo o desenvolvimento e implantação de programas de educação ambiental, os quais são de suma importância na tentativa de se reverter ou minimizar os danos ambientais (SANTOS, 2007).

 

 

3. MATERIAL E MÉTODOS

 

3.1. Caracterização da área de estudo

 

O trabalho foi desenvolvido na comunidade rural do Cocal localizada no município de Palmeira do Piauí- PI. Este município está localizado no centro-sul do Estado, na Mesorregião Sudoeste Piauiense e na Microrregião Geográfica do Alto Médio Gurguéia, a 44º14'09"de Longitude Oeste e 08º43'37" de Latitude Sul estando a uma altitude de 270 metros. Palmeira do Piauí dista da Capital, Teresina, 600 km por via rodoviária, tendo como limites os municípios de Uruçuí e Alvorada do Gurguéia ao norte, Santa Luz, Currais e Cristino Castro ao sul, Cristino Castro e Alvorada do Gurguéia a leste, e Baixa Grande do Ribeiro e Currais a oeste. Foi criado pela Lei nº 2.279, de 09/07/1962, como desmembramento dos municípios de Cristino Castro e Uruçuí.

 

3.2 Procedimentos Aplicados

 

O trabalho constou de um diagnóstico sócio-ambiental descrito por Figueiredo, 2006, separado em duas etapas, para facilitar o entendimento de descrição das técnicas de coleta e análises dos dados utilizados, a primeira chamada de sócio e a segunda de ambiental. Foi feito por meio de entrevistas livres com moradores da comunidade, num total de 18 famílias na comunidade do Cocal.

 

3.2.1 Diagnóstico Social

 

Inicialmente foram realizadas visitas a área a ser pesquisada e feito um levantamento a respeito das famílias residentes na comunidade e sua adesão na participação desse trabalho. Após esse primeiro contato com as famílias foi feito um levantamento de dados obtidos mediante conversas informais com moradores da comunidade rural, relativas a aspectos biofísicos, demográficos, econômicos e sociais os sistemas de produção atual da comunidade. Dando um enfoque em três questões:

Quem são os moradores das comunidades rurais?

Como vivem esses moradores?

Como se dá a produção de renda desses moradores?

 

3.2.2 Diagnóstico Ambiental

 

Foi feito um levantamento de dados obtidos mediante conversas informais com moradores da comunidade rural, de forma que tipifique o uso dos recursos naturais solo, água, e vegetação e os sistemas de produção atual da comunidade.

Dando uma ênfase ao diagnóstico sobre a questão da preservação da nascente que se encontra na comunidade. Questões a respeito da percepção ambiental dos moradores em relação a aspectos na mudança da paisagem, recursos hídricos e qualidade de vida local. Após a coleta dos dados os mesmos foram tabulados e discutidos.

 

 

 

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

 

4.1 Diagnóstico Social na comunidade do Cocal

Das 18 famílias entrevistadas na comunidade do Cocal, mediante aplicação de questionário, 66,66% são proprietários e 33,33% são moradores das terras que formam a área. O tempo que residem ou trabalham na propriedade varia de meses a 20 anos, que compreende 33% dos entrevistados. Observou-se que a maioria dos entrevistados sempre residiram na comunidade (desde que nasceram), encontrando-se moradores que residem no sítio há bastante tempo, de 41 a 60 anos e 61 a 80 anos, um percentual de 17% e 22%, respectivamente (Figura 1).

 

Figura 1. Tempo que os entrevistados residem ou trabalham na comunidade Cocal.

 

Os cônjuges, filhos e outros que residem em cada propriedade, apresentaram 56% de 0 a 3 pessoas e 44% de 4 a 7 pessoas (Figura 2). Essa maior porcentagem de 0 a 3 pessoas, em alguns casos é devido à migração para o centro oeste do país a procura de emprego, para melhorar a qualidade de vida. Segundo Figueiredo (2006), estudando a comunidade rural do Córrego do Palha, verificou que a grande maioria (95%) da comunidade da Palha é originaria de outros locais, especialmente da região nordeste do país (66%), em especial do Piauí.

Figura 2. Porcentagem de pessoas que residem na propriedade (cônjuge, filhos e outros).

 

Ainda em relação aos entrevistados quanto o nível de escolaridade, verificou-se que a maioria possui apenas de 1° a 5° ano (45%). Sendo que 33% dos entrevistados nunca estudaram, e apenas 22% corresponde de 6° a 9º ano, conforme a figura 3.

Figura 3. Escolaridade dos entrevistados

 

A principal fonte de renda e atividade da comunidade do Cocal é a prática da agricultura. Observou-se na Tabela 1, que 77,78% citaram agricultura, além de 50% de aposentadorias e 22,22% de outras fontes de renda, como emprego municipal ou público.

 

Tabela 1. Fonte de renda da comunidade Cocal.

Fonte de renda

Número de citações*

%

Agricultura

14

77,78

Aposentadoria

9

50

Outros

                          4                         

22,22

* os entrevistados poderiam escolher mais de uma opção na pergunta.

 

4.2 Diagnóstico Ambiental da comunidade do Cocal

Em relação às questões ambientais, é necessário entender como as pessoas da comunidade percebem seus problemas ambientais e o que desejam mudar ou não nessa realidade.                                                                                                                   A área de cada propriedade que compõem o Cocal, corresponde de 0 a 10 ha e 11 a 30 ha, 33% e 22%, respectivamente (Figura 4). Observou-se que as grandes propriedades são pouco representativas, havendo predominância de pequenas propriedades (<10 ha). Dessas áreas de cada propriedade são cultivadas de 0 a 5 ha de terras (72%) (Figura 5).

Figura 4. Distribuição percentual das áreas das propriedades

Figura 5. Área cultivada

 

  As técnicas agrícolas utilizadas no preparo do solo verificou-se que 94,44% utilizam apenas atividade braçal, 66,67% prática de queima, 16,67% tratores e prática da rotação de culturas (Tabela 2). A utilização do trator não é feita com frequência, apenas para arar a terra, por falta de condições financeiras.O desmatamento e a queima antes do plantio prejudicam a macrofauna do solo, diminuindo a fertilidade natural e empobrecendo-o devido à retirada do material orgânico natural (húmus) que é produto da decomposição parcial de restos vegetais que se acumulam no solo, aos quais se juntam aos restos de animais, formando uma camada de nutrientes do solo. Além disso, com a retirada da vegetação, o solo fica desprotegido, pois a cobertura vegetal impede que as águas das chuvas batam diretamente no solo, destruindo a camada superficial e carregando os nutrientes, causando erosão (MAIA, 2008).

 

 

 

Tabela 2. Técnicas agrícolas utilizadas no preparo do solo.

Técnicas agrícolas

Número de citações*

%

Apenas braçal

17

94,44

Auxílio de animais

1

5,56

Tratores

3

16,67

Prática de queima

12

66,67

Rotação de culturas

3

16,67

* os entrevistados poderiam escolher mais de uma opção na pergunta.

 

A criação de animais para consumo (como fonte de leite, carne ou ovos) foi detectada na maioria das propriedades, havendo um predomínio de criações de galinhas (77,78%), seguido da criação de gado (16,67%), e outras (5,66%) para o consumo próprio, mas em pequenas quantidades (Tabela 3). Sendo a maioria criada no sistema semi-intensivo, devido as propriedades serem pequenas. MAIA (2008) estudando a comunidade rural em Teixeira-PB, observou os tipos de criação animal, bovina (49%), caprina (3%), ovina (3%) e outras (40%), sendo a maioria criada no sistema intensivo e os demais semi-intensivo.                                                                               No semiárido nordestino, predomina o cultivo manual e a tração animal. Apesar disso, o desmatamento indiscriminado, associado às práticas inadequadas de manejo do solo, tais como: preparo morro abaixo, queimadas e utilização intensa da mecanização com implementos inadequados, poderão provocar um agravante processo de degradação do solo, nessa região, com risco potencial de expansão das áreas degradadas já existentes (Albuquerque et al., 2001).

 

 

Tabela 3. Tipos de criação animal.

Tipos de criação

Nº de citações*

%

Bovina

3

16,67

Galinha

14

77,78

Não cria

3

16,67

Outras

1

5,56

* os entrevistados poderiam escolher mais de uma opção na pergunta.

            A cultura explorada (Tabela 4) na maioria das propriedades é a cana de açúcar, cultivada por 88,89% dos entrevistados para a produção de cachaça, sendo ainda exploradas em menor quantidade o feijão, a mandioca, o milho e o buriti (50%, 27,78%, 22,22%, 11,11%, respectivamente). O destino da produção é para o consumo próprio, não havendo produção destinada especificamente à comercialização.

Tabela 4. Culturas exploradas

Culturas exploradas

Nº de citações*

%

Cana de açúcar

16

88,89

Feijão

9

50

Mandioca

5

27,78

Milho

4

22,22

Buriti

2

11,11

Outras

2

11,11

* os entrevistados poderiam escolher mais de uma opção na pergunta.

 

As demais informações obtidas nas entrevistas não foram apresentadas sob a forma de gráficos ou tabelas, sendo descritas a seguir. Em relação à cobertura arbórea na comunidade encontram-se algumas espécies como: Coco babaçu, buriti, cedro, jatobá, ipê, pau d´arco, pau d´óleo, mata cachorro, cipauba, conduru, loro do brejo, birro, candeia, faveiro, fava d´anta, pequi, canela de velho, jurema, andre miúdo, birro-cangaeiro, aritucum, birro branco, loro preto, angico, imburana, aroeira,  mandacaru, chapadão, entre outras. E algumas frutíferas, caju, manga, laranja, abacate, coco, tangerina, açaí, carambola, ananás, mamão, pitomba, limão e banana, para consumo próprio.   Em relação à fertilidade do solo é considerada “boa” para 77,78% dos entrevistados, e 22,22% consideram razoável. A topografia, uma parte plana com leve declividade, e outra parte cheia de morros e serras. A população não tem nenhum acompanhamento técnico, afirmam 100% dos entrevistados. Na utilização de adubação química, apenas 1 (um) morador utiliza na plantação. Não soube dizer qual fertilizante utilizava. O destino que dava as embalagens de agrotóxicos, respondeu que deixava largado no meio ambiente. Isso acontece devido a falta de assistência técnica. A grande utilização de produtos químicos, o desconhecimento dos riscos associados ao seu uso, o consequente desrespeito às normas básicas de segurança, a livre comercialização, a falta de informações e dados sobre intoxicações, a pressão comercial por parte das empresas distribuidoras e produtoras e os problemas sociais encontrados no meio rural constituem importantes causas do agravo dos quadros de contaminação humana e ambiental observado no Brasil (OLIVEIRA et al. 2000 apud CHAVES, 2007).                                                                                                                                             Observou-se que a maioria da população (94,44%) não utiliza o sistema de irrigação. E a água que eles utilizam para beber e no consumo de casa, vem de uma caixa d`água do município. A maioria dos entrevistados (72%) não possui fossa em casa, o esgoto é ao ar livre, e os que possuem fica localizada de 3 a 10m da residência.                                                                                                                               Quando foram questionados em relação ao que mudou na paisagem de antigamente até os dias de hoje, 33% dos entrevistados responderam que não notaram diferença, mas 67% comentaram que houve uma diminuição na vegetação e perceberam que algumas frutíferas no caso do abacate morreram e não tem mais na região e diminuiu a quantidade de água do riacho.                                                           Quando se perguntou se as nascentes e as matas são bem preservadas, responderam:

“Agora sim, mais teve uma época em que não preservavam”                                    “Já desmataram lá, mais hoje esta sendo preservada”                                                         “Já desmataram um pouco da área, com isso a água diminuiu”                     “Pararam de desmatar, está bem conservado”                        “Ninguém mexe”

Embora os entrevistados achem que a nascente esta bem preservada, devido à falta de informação, foi observado que só é preservado um lado da nascente e o outro é utilizado para plantar capim e cana, o que é errado, pois nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos d'água, qualquer que seja a sua situação topográfica, devem ser preservado um raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura.                                                                                                               Todos os entrevistados acham importante sim preservar as nascentes. Os depoimentos dos moradores abaixo exemplificam as suas opiniões:

“Se não preservar o brejo vai secar”                                                                         “Tem coisa melhor? Se não preservar pode acabar com a água”                                         “Tem que preservar pois é uma fonte de água muito importante, se desmatar pode acabar com a nascente”                                                                                                                            “Sim, desmatando acaba com as nascente, e temos que pensar para a vida futura”

Apesar dos os moradores falarem que contribuem de algum modo para a preservação da nascente e riacho que passam em sua propriedade, segundo eles evitando queimar, desmatar e plantar próximo da nascente ou riacho, ou plantando só de um lado da mesma, observamos como foi exposto acima que isso não acontece. Falta conhecimento técnico e educação ambiental para mudar a visão da comunidade em relação a termos como: preservação e conservação.

 

5. CONCLUSÕES

·         O diagnóstico social indica a predominância de pequenas famílias, com baixo nível de escolaridade, cuja principal atividade é a agricultura de subsistência;

·         Quanto ao diagnóstico ambiental apresenta pequenas propriedades, com baixas produtividades, e carência de técnicas de manejo do solo e água, devido ao baixo grau de qualificação dos entrevistados e falta de assistência técnica;

·         Há ausência de programas de educação ambiental na comunidade cocal em relação à preservação da nascente.

 

 

 

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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ASA. Articulação no semi-árido brasileiro. Caracterização do Semi-Árido Brasileiro. Disponível em: . Acessado em: 12 abr. 2004.

 

BRIDGES, E.M. e VAN BAREN, J.H.V. Soil: An overlooked undervalued and vital part of the human environment. Environ., 17:15-20, 1997. 

 

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CAMPOS, J. D. e RÊGO NETO, J. Captação de água de chuva em lajedo de pedra e armazenamento em cisterna de placa - uma alternativa para evitar a evaporação. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CAPTAÇÃO E MANEJO DE ÁGUA DE CHUVA, 4., 2003, Juazeiro. Anais em CD-ROM. Juazeiro: ABCMAC, 2003.

CHAVES, T. V. S.: Avaliação do impacto do uso de agrotóxicos nos trabalhadores rurais dos Municípios de Ribeiro Gonçalves, Baixa grande do Ribeiro e Uruçuí – PI (Dissertação de mestrado, Faculdade de Medicina) Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-Ceará, 2007.

 

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Ilustrações: Silvana Santos