Diagnóstico ambiental preliminar de duas escolas rurais no município de Ituiutaba, Minas Gerais

 

Bruna de Oliveira Araújo¹; Neusa Elisa Carignato Sposito², Carlos Roberto dos Anjos Candeiro³.

 

1. Graduanda do curso de Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia. Email:bruna_o.araujo@hotmail.com

2. Bióloga, Mestre e Doutora em Educação para a Ciência pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Docente do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Uberlândia.

Email:            neusa@pontal.ufu.br

3. Geógrafo e Biólogo, Mestre e Doutor em Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Docente do curso de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Email:candeiro@pontal.ufu.br

 

Resumo:

Este artigo apresenta um diagnóstico ambiental preliminar nas escolas Escola Municipal Francisco Antônio de Lorena e Escola Municipal Rural Quirino de Moraes da área rural do município de Ituiutaba. Os resultados apresentam o uso de espécimes geológicos (ex., granite, basalt) nas estruturas das escolas ou nas áreas externas ou internas demonstrando que cada instituição possui especificidade no uso e tratamento destas rochas ou seus produtos.

 

Abstract:

This paper presents a preliminary environmental diagnostic Escola Municipal Francisco Antônio de Lorena e Escola Municipal Rural Quirino de Moraes of the rural area of the Ituiutaba municipality. The results show the use of geological specimens (e.g., granite, basalt, shale) in the structures of schools or the external or internal areas demonstrating that each institution has specificity in the use and treatment of these rocks and their products.

 

 

Introdução

Os recursos naturais são esgotáveis e sempre foram e continuarão sendo um fator determinante para o desenvolvimento da humanidade. Torna-se necessário promover o equilíbrio entre o uso racional destes recursos e o desenvolvimento econômico para recuperar a harmonia do meio ambiente, ora em desequilíbrio.

Verifica-se que as diferentes formas de explorações dos recursos naturais alteraram o meio ambiente. O marco emblemático das alterações ambientais que acelerou de maneira nunca vista na história o possível esgotamento das reservas naturais foi a Revolução Industrial, ocorrida no século e, desde então, houve um crescente ritmo de uso dos recursos naturais. Um dos mais consideráveis efeitos foi à intensificação da urbanização e um consumo baseado em artefatos oriundos de matérias-primas não renováveis. Tais efeitos estão vinculados ao modelo vigente na economia dos países centrais que são seguidos pelos países periféricos.

            Assim, os processos de urbanização e industrialização têm sido um papel fundamental nos danos ambientais ocorridos nas cidades. O rápido crescimento causa pressão significativa sobre o meio físico urbano, tendo as consequências mais variadas, tais como: poluição atmosférica, do solo e das águas, deslizamentos, enchentes etc.(Guerra; Marçal, 2006 p.28). Com essa intensificação do uso da natureza, os recursos naturais  e o meio ambiente tem sofrido com um esgotamento sem precedentes, apesar de que inúmeras ações humanas para racionalizar o seu uso.

Elementos essências para a vida como macronutrientes (ex. Ca, Cl, O, P, S) e os micronutrientes (Fe, Mn, Zn) entre outros são importantes para o nossa saúde. Eles são obtidos, em geral, através dos ciclos biogeoquímicos, ou seja, entre a troca ou a circulação de matéria entre os componentes vivos e físico-químicos da biosfera.  Estes nutrientes em sua grande maioria estão presentes nas camadas dos solos. (Severino et al. 2008)

            Segundo Andrade e Romeiro (2009) os ecossistemas possuem funções de regulação de processos ecológicos essenciais de suporte à vida, através de ciclos biogeoquímicos e outros processos da biosfera. Todos esses processos são mediados pelos fatores abióticos de um ecossistema, juntamente com organismos vivos através de processos evolucionários e mecanismos de controle. Além de manterem a saúde dos ecossistemas, as funções de regulação têm impactos diretos e indiretos sobre as populações humanas.

            Os solos têm grande participação nesses ciclos e para a obtenção dos macro e micronutrientes, os solos constituem umas das esferas do planeta, a pedosfera, sendo formada de materiais resultantes das rochas pelo intemperismo, mesclados na superfície com matéria orgânica que interagem com os materiais sólidos da crosta superior, além dos componentes da biosfera, das águas e da atmosfera (Ferreira et al., 2006). No entanto, os solos podem se contaminar em decorrência da urbanização, atividades industriais e agrícolas, refletindo assim na nossa saúde. Hart (1986) destaca que o solo é o recurso natural de maior importância para o homem, devido ao seu papel crucial na agricultura e, consequentemente, na produção mundial de alimentos. Atualmente as elevadas taxas de crescimento provocadas pelas atividades agrícolas ou mesmo do mau uso do espaço urbano tem provocado o aumente da insegurança alimentar e da utilização dos espaços urbanos. No que se refere à degradação dos solos, estudos tem indicado que o uso de agrotóxicos e a escassez de água são importantes condicionantes que inviabilizam ate mesmo a produção agrícola no que se refere a sua produtividade (Christofidis, 1997). Ainda Segundo este autor, caso o desequilíbrio continuar crises relacionadas à agricultura devem impactar o abastecimento humano e então problemas sociais de difícil solução.

            Selinus (2006) destaca que a geologia pode alterar a saúde humana. Entretanto, as rochas são fontes naturais de todos os elementos químicos que são encontrados na Terra. Muitos elementos são essenciais para a saúde das plantas, dos animais e do homem e são adquiridos através da alimentação da água e pelo arque nós respiramos. Os solos, nos quais são cultivados produtos agrícolas e criação de animais constituem fonte de alimentação e assim, as águas potáveis permeiam rochas e solos fazendo parte do ciclo hidrológico (Dambrós, 2012). Portanto, existe um vínculo direto entre a geoquímica e a saúde devido à ingestão e inalação de elementos químicos pela alimentação e respiração.

As camadas dos solos e mesmo das rochas são importantes para análises ambientais e aplicações para os planejamentos ambientais e manejo de recursos naturais, já que estes são passíveis com grande facilidade e constância de serem contaminados por atividades antrópicas, além das atividades agropecuárias e atividades de caráter urbano que tem sofrido com essas contaminações (Ferreira et al. 2008). Um olhar para estas modificações em espaços urbanizados que existam escolas rurais, já perfazem por si um lócus de concentração de pessoas.

            Em todas as atividades humanas, o início do século XXI é marcado pela busca da sustentabilidade. Ou descobrimos e colocamos em prática procedimentos mais racionais de usar os recursos naturais, ou teremos cada vez mais desequilíbrios climáticos, poluição do ar, das águas e dos solos e uma consequente baixa da qualidade de vida de um número cada vez maior de pessoas. (Silva; Dantas -Serviço Geológico do Brasil).

            Fullen e Catt (2004) apontam que o crescimento urbano e rural, sem o devido planejamento, tenha afetado os solos, provocando uma série de impactos ambientais. De acordo com Goudie e Viles (1997), se quisermos aplicar os conhecimentos geomorfológicos para o manejo ambiental, bem como para solucionar danos causados ao meio ambiente pelo uso inadequado dos recursos naturais, temos que procurar entender como a sociedade atua no que diz respeito às questões ambientais.

Estudos de diagnósticos ambientais têm sido realizados em áreas degradadas urbanas e mesmo rurais, principalmente enfatizando a contaminação do solo e antropização do meio ambiente. No presente trabalho temos como objetivo realizar o diagnóstico ambiental preliminar das duas escolas mencionadas e levantamento das rochas e minerais na construção desses edifícios bem como a identificação das rochas e minerais que são bem utilizados no caráter de segurança física e biológica para os usuários das escolas citadas, além dos espécimes que denotam maus benefícios à saúde e segurança física da comunidade escolar.

            O município de Ituiutaba, na região denominada Pontal do Triângulo Mineiro, possui na rede municipal de ensino 11 escolas urbanas e cinco escolas rurais (IBGE). Dentre elas, foram escolhidas para a execução do diagnóstico desse projeto duas escolas rurais do município: (1) Escola Municipal Francisco Antônio de Lorena; (2) Escola Municipal Rural Quirino de Moraes.

 

 

Localização

O município de Ituiutaba está na região IV- Triângulo e Alto Paranaíba, especificamente no centro-norte do Triângulo Mineiro (Minas-Gerais/Brasil) suas coordenadas geográficas são 18º 58’08” latitude S e 49º 27’54” longitude W. Possui uma área de 2.694 km2. (Prefeitura Municipal de Ituiutaba).

Figura 1. Mapa de localização das duas escolas rurais no Município de Ituiutaba.

 

 

Metodologia Experimental

Neste trabalho, foi empregada uma adaptação do método proposto por Frederice et al. (2006). A coleta de dados baseou-se na observação direta do campo nas escolas e seus entorno. Foram levantados aspectos de ocupação e uso do solo. Utilizou-se um GPS Garmin modelo e-trex Camo para a obtenção da coordenadas dos pontos analisados, coleta de amostras de rochas e uma câmera fotográfica digital Sony cyber shot modelo DSC-W510 12 megapixels para registro visual da área. Os dados obtidos foram anotados em caderneta de campo.

Localização da área visitada: realizada a partir da descrição dos elementos existentes, como por exemplo, rodovias, estradas municipais, construções, indústrias, dentre outros.

            Caracterização geológica das áreas: baseada na classificação proposta por Fernandes & Coimbra (1996), englobando aspectos litológicos.

            Caracterização do terreno: realizada com base nos tipos litológicos presentes no local.

            Caracterização do uso e ocupação do entorno: verificada pela simples observação dos elementos do entorno.

            Caracterização dos materiais geológicos usados nas estruturas das escolas: os espécimes geológicos (minerais e rochas) foram observados considerando as orientações de Alencar (2013) “Manual de caracterização, aplicação, uso e manutenção das principais rochas comerciais no Espírito Santo: rochas ornamentais.

            Descrição histórica das escolas: foram levantados dados históricos e estruturais das instituições de ensino.

 

Resultados

Instituição: Escola Municipal Francisco Antônio de Lorena

Histórico: a escola Francisco Antônio de Lorena foi criada pelo Decreto Lei nº 119 de 24 de novembro de 1951, na administração do prefeito Davi Ribeiro de Gouveia.  Coordenada por Eliana Novaes, diretora no período de 1964 a 1995. A prefeitura de Ituiutaba, em parceria com o frigorifico, construiu o prédio da escola, situado ao norte da cidade, ás margens do rio Tijuco, em um local de declive da comunidade Vila Miisa, próximo á empresa citada, em área cedida por ela.

Ensino:a escola possui seis turmas da educação infantil sendo do 1º ao 5º ano, com a faixa de idade dos alunos entre 4 a 12 anos.

Estrutura do prédio e pedagógica: a escola possui seis salas de aula, uma biblioteca, um almoxarifado, dois banheiros, uma cantina, uma sala de informática, secretaria, refeitório e um pavilhão, o corpo docente é composto pela diretora Márcia Franco Góis, uma especialista em educação, uma secretária, uma merendeira, uma auxiliar de serviços gerais e quatro professoras.

Sistema viário de acesso: o acesso a escola se dá pela estrada BR-154 que vai para Capinópolis e por um acesso da estrada que se localiza a fazenda cachoeirinha- vila Miisa.

Levantamento geológico: a presença de rochas ígneas constituídas por basaltos no calçamento do sistema viário (Fig. 2A, B) e granito em uma pia da cozinha (Fig. 2D). As rochas metamórficas são representadas por gnaisses que revestem a pia do banheiro (Fig. 2E) da cozinha e ardósia na bancada de atendimento aos alunos (Fig. 2C).

 

Figura 2. Espécimes geológicos utilizados na Escola Municipal Francisco Antônio de Lorena; a, b, basaltos utilizados no calçamento; c) bancada de ardósia na área de atendimento da cantina; d) pia de granito na área da cozinha; e) pia de gnaisse no banheiro masculino (fotos de Araújo, B. O. setembro/2013)

 

Instituição: Escola Municipal Quirino de Moraes

Histórico: a Escola Municipal Quirino de Morais foi criada através do Decreto Lei Municipal 073/41 de 23/11/41 e seu funcionamento foi autorizado pela Portaria 013/80, de 25/10/80 – SEE – MG.A Autorização da Extensão de Série foi publicada no dia 24/02/95, pela Portaria n.º 177/95 da SEE – MG.  A escola Funciona em prédio próprio e tem como entidade mantenedora a Prefeitura Municipal de Ituiutaba.

Ensino: a escola possui o ensino fundamental de 1.ª a 9.ª anos

Estrutura do prédio e pedagógica:a escola possui dez salas de aula, uma biblioteca, um almoxarifado, quatro banheiros, uma cantina, uma sala de informática, secretaria, refeitório, uma sala para direção, uma sala para os professores, uma sala da supervisão, uma horta e um telefone público . Esta também é composta por 18 funcionários, a diretora Divanira Ferreira Batista Rezende, uma supervisora, dez professores, uma merendeira, uma secretária, um auxiliar de serviços gerais, um segurança.

Sistema viário de acesso: se encontra na região do Campo Alegre lugar denominado mateirinha na margem da estrada BR 365.

Levantamento geológico: nessa escola encontramos apenas a presença de gnaisse que estão presentes no revestimento de uma bancada da cozinha e pia. O tanque é confeccionado em granitina (revestimento argamassado cujo acabamento tem aparência de granito) altamente resistente.

Figura 3. a) entrada da escola; b) latosolo vermelho que também é utilizado na área de pavimento de acesso; c) balcão ganisse da cozinha; d) pia de gnaisse da cozinha; e) tanque de gratinina; f) horta (Fontes: Araújo, B. O; SETEMBRO/2013).

 

Considerações

As instituições analisadas no presente trabalho demonstram a utilização de alguns recursos naturais provenientes da região de Ituiutaba, isto pode ser comprovado, principalmente na presença de basaltos existentes em calçamentos e partes internas da Escola Municipal Francisco Antônio de Lorena (EMFAL). Adicionalmente, outros recursos de natureza geológica são utilizados, mas estes se constituem de rocha ígnea (granito) e metamórficas (ardósia, gnaisse, mármore) que não são de origem regional. A rocha encontrada no pavimento do sistema viário de acesso da EMFAL foi o basalto, uma rocha ígnea muito comum, sua textura é microcristalina, vítrea ou porfirítica a sua cor é geralmente preta, podendo, às vezes, ser de tonalidade cinza escura ou castanha. Essa rocha foi muito bem utilizada para o local, pois ela ajuda no escoamento da água da chuva e, também, consegue absorver o calor durante o dia, e liberá-lo durante a noite, evitando assim dias muito quentes e noites muito frias. Já na Escola Municipal Quirino de Moraes (EMQM) não existe pavimentação e sua frente está somente no solo que é um latosolo avermelhado. Nos banheiros da EMFAL foi utilizado rochas gnaisse, um grupo de rochas metamórficas que se assemelham com o granito, exceto pela sua textura e por ser uma rocha mais fraca e na EMQM não houve a utilização de rochas no banheiro, foram utilizadas cerâmicas que no caso de algum acidente podem causar graves lesões. Na cantina da EMFAL encontramos um balcão de ardósia, uma rocha de aspecto sedoso e consistência macia e na a pia uma rocha mais forte e resistente o granito, sendo adequada para o local com menor risco de contaminações por não haver porosidades. Já na cantina da EMQM foram utilizadas rochas gnaisse na pia e no balcão, sendo essa uma rocha parecida com o granito mais com uma resistência bem menor. Foi utilizada também na escola a granitina no tanque que é um material derivado da mistura de fragmentos duas rochas o mármore e o granito e adicionado cimento e água. Observamos também a presença de uma horta no fundo da escola a qual é bem cuidada e utilizada para o consumo da escola.

 

Agradecimentos

Agradecemos ao Programa educacional tutorial (PET) Conexões de saberes: saúde e populações do campo bolsa concedida a Bruna de Oliveira Araújo, as diretoras Márcia Franco Góis da escola Municipal Francisco Antônio de Lorena e a Divanira Ferreira Batista Rezende e aos servidores das instituições do referido estudo pelas informações e  companheirismo durante a realização desta pesquisa. R. Candeiro a bolsa de produtividade em pesquisa CNPq.

 

Referências

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