Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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07/12/2014 (Nº 50) CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE ANIMAIS PEÇONHENTOS EM ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL, EM DIVINÓPOLIS MINAS GERAIS, BRASIL
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CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE ANIMAIS PEÇONHENTOS EM ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL, EM DIVINÓPOLIS MINAS GERAIS, BRASIL

 

Kátia Bento Moreira1, Diogo Tavares e Cardoso2, Robson Washington Rodrigues Otoni3, e Heslley Machado Silva4

1.    Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade de Itaúna

Endereço pra correspondência. Rua Tuiti, 196 – Divinópolis-MG – CEP 35501215

e-mail: ktiabm@hotmail.com

2.     Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de Itaúna

e-mail: diogo_dtc2@yahoo.com.br

3.    Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de Itaúna

e-mail: robsonbio@outlook.com

4.    Professor da universidade de Itaúna M.e em Educação

 e-mail heslley@uniformg.edu.br

 

Resumo

 

A educação ambiental constitui um importante instrumento que possibilita a sociedade uma reflexão sobre a valorização da natureza e da biodiversidade. Sendo utilizada de forma eficaz pelos profissionais envolvidos, esta é capaz de mobilizar uma comunidade á qual foi aplicada, conscientizando os cidadãos sobre as consequências de seus atos em relação ao ambiente.

Este trabalho pretende demostrar como a educação ambiental pode desenvolver uma maior conscientização nos alunos acerca dos animais peçonhentos.  O assunto será abordado através de palestras para demostrar a importância de tais animais para o ecossistema, nichos ecológicos, prevenção de acidentes e modo de agir no caso da ocorrência dos mesmos.

Dispondo de métodos alternativos, como a apresentação dos animais fixados em formol, procurou-se despertar a curiosidade dos estudantes para este tema muitas vezes estereotipado negativamente, contribuindo dessa forma para a preservação de serpentes, aranhas e escorpiões.

 

Palavras chaves: ecologia, educação ambiental, animais peçonhentos.

 

Introdução

A educação ambiental (EA) surgiu como resposta á preocupação da sociedade com o meio ambiente e o futuro da vida, sendo utilizada a partir de meados do século XX como ferramenta de mudança nas relações do homem com o ambiente sendo que a primeira vez que se usou o termo Educação Ambiental foi após a Conferência de Educação da Universidade de Keele, na Inglaterra (EFFTING, 2007).

Neste contexto, através da construção do conhecimento, sobretudo da eliminação de mitos e da compreensão de aspectos ecológicos, a EA pode auxiliar na formação de novos valores e numa cultura de conservação dos animais peçonhentos pelos alunos e seus familiares.

Por definição temos que um animal é peçonhento se possuir sistema especializado para inocular o veneno, como o caso das aranhas, escorpiões e serpentes. Incluídos na diversificada fauna brasileira, estes animais ganham destaque por seu importante papel ecológico e pelos casos de acidentes envolvidos (FUNED, 2009).

As aranhas pertencem ao filo Arthropoda e constituem a classe mais numerosa dos Arachnida. Por serem predadoras de insetos, auxiliam no controle biológico, eliminando de forma natural diversas pragas, minimizando o uso de agrotóxicos e repelentes (RUPPERT, 2005).

Também pertencentes a classe Arachnida, mas inseridos na ordem Scorpione,  temos os escorpiões. Tais animais são discretos e possuem hábitos noturnos, escondendo-se durante o dia sob cascas de árvores, pedras, em fendas de rochas ou buracos no solo. Assim como as aranhas, esses animais auxiliam no controle populacional de diversos invertebrados e pequenos vertebrados, contribuindo para a diminuição de medidas de prevenção artificiais de pragas, sem causar desequilíbrio ecológico (RUPPERT, 2005).

Já as serpentes representam um dos grupos mais diversos de répteis existentes atualmente, com aproximadamente 3.100 espécies conhecidas viventes (MOURA et al 2010).

Por serem animais exclusivamente carnívoros, se alimentam de uma ampla variedade de presas, como moluscos, minhocas, onicóforos, quilópodos, aranhas, crustáceos, insetos, anuros, gimnofionos, peixes, lagartos, tartarugas, crocodilianos, pássaros, roedores, marsupiais, morcegos, ovos e até mesmo outras serpentes.  Cumprindo também papel importante no controle de animais que podem oferecer riscos sanitários e econômicos. Além disso, o veneno produzido por esses animais serve de matéria-prima para muitos tratamentos de saúde, incluindo medicamentos farmacêuticos (BERNARDES, 2004).

Em relação aos acidentes envolvendo animais peçonhentos, a maioria das ocorrências com serpentes estão relacionadas ao gênero Bothrops (jararaca, jararacuçu, urutu), Crotalus (cascavel), Lachesis (surucucu, surucutinga) e Micrucus (coral) (PINHO e PEREIRA, 2001). As aranhas com maior índice de acidentes no Brasil pertencem ao gênero Loxosceles, Phoneutria, Latrodectus, já os escorpiões com maiores índice de acidentes são representados pelas espécies Tityus serrulatus, T. bahiensis T. stigmurus, T. paraensis e T. metuendus (BRASIL, 2012; FREITAS, et al., 2006; TORRES, et al., 2009).

Por causa do número elevado de acidentes e por elementos enraizados na própria cultura que influencia o modo como interagimos com esses animais (MOURA, et al., 2010), verifica-se um conceito negativo e grandes equívocos em relação a estes animais em diversas regiões do Brasil.

Principalmente as serpentes são alvos de matanças indiscriminadas motivadas pelo temor e pela crença de que a maioria seja peçonhenta. No país existe cerca de 370 espécies de serpentes, mas apenas 15% são peçonhentas (MOURA, et al., 2010; QUIRINO, 2009). 

É essencial a revisão de programas de educação ambiental e de saúde já existentes com o objetivo de reduzir o número de casos de acidentes (SANDRIN, et al., 2005). Mas é necessária também a elaboração de programas que esclareçam a importância dos animais peçonhentos e que contribuam para a diminuição da matança indiscriminada.

Neste sentido, o presente trabalho busca colaborar para a diminuição dessas lacunas, contribuindo para a preservação e conservação dos animais peçonhentos.

 

Material e Métodos

 

A palestra foi realizada na Escola Estadual “Antônio Gonçalves de Matos” no município de Divinópolis, Minas Gerais. A metodologia foi adaptada de Quirino (2009) sendo aplicada em três turmas do 6º ano do ensino fundamental. Foram feitas palestras com duração de 50 minutos, onde foram abordados temas como: importância da preservação dos animais peçonhentos, cadeia alimentar, nicho ecológico, procedência no caso de acidentes.  Foram utilizados animais fixados em formol, sendo duas serpentes da espécie Crotalus durisus (cascavel), uma aranha caranguejeira Lasiodora e um escorpião Tityus serrulatus. Foram utilizados também dois banners para ajudar na apresentação.

Para que as informações atingissem também as famílias dos estudantes, foi elaborado e distribuído no final da palestra um panfleto educativo para cada aluno contendo as informações em resumo.

Todo o trabalho de educação ambiental objetivando a maior conscientização dos alunos a respeito dos animais peçonhentos foi elaborado com base no CBC (Conteúdo Básico Comum).

                 O CBC é uma proposta para o currículo escolar, de uso obrigatório em todas as escolas da rede pública no estado de Minas Gerais.  Este busca nortear o ensino, através de tópicos considerados essenciais, mas mantendo o currículo escolar flexível de acordo com a realidade de cada escola ou região.

O conteúdo do CBC é baseado na relevância educacional, tecnológica, social e científica, abordando os temas adequados para cada nível escolar. Por isso, ao se embasar nesse material, o presente trabalho está de acordo com a proposta pedagógica da série de ensino escolhida.  (CBC, 2012).

Resultados e Discussão

As palestras conseguiram despertar o interesse da maioria dos 94 alunos, sendo a serpente o animal que mais instigou a curiosidade dos estudantes.

Alguns alunos comentaram casos em que se depararam com os animais peçonhentos, dando um enfoque nas sensações que tiveram nesse contato. Verificou-se nestes relatos que a maioria dos alunos tiveram uma conduta inapropriada para lidar com esses animais, se expondo a perigos ou então matando-os indiscriminadamente.

Perguntas sobre a sua alimentação e quais métodos e elementos poderiam ser utilizados para afastá-los, também foram observados. Além do questionamento sobre a importância desses animais no meio ecológico.

 Na parte prática do projeto, onde foram expostos os materiais fixados, a maioria dos alunos quiseram se aproximar para ver de perto o material, demonstrando curiosidade, surpresa e até mesmo receio em relação as estruturas do corpo dos animais.

Outra questão observada em nosso trabalho e verificada também por Moura (2010) é que os conceitos das serpentes serem peçonhentas ou não, estavam maus definidos ou confusos para os alunos. Tais situações podem ser explicadas de acordo com Sandrin (2005) em que livros de didáticos nem sempre explicam de forma correta a identificação de serpentes peçonhentas, não desmistificando conceitos errôneos.

Além disso, os alunos também compartilharam a ideia de alguns mitos populares, como por exemplo: a utilização de bebidas alcoólicas como tratamento e a realização de torniquetes no caso de acidentes, fatos que acabam agravando ainda mais o quadro clínico.

 

Conclusões

 

 

Observamos nas salas de aulas vários alunos com afinidade sobre o tema, mas com pouca informação sobre os animais peçonhentos, acreditando em várias lendas e curandeirismo. As expressões de medo e nojo diante de tais animais também foram constantes.

 Desta forma constamos que se mais escolas e professores se engajassem na busca de quebrar os estereótipos negativos a cerca destes animais, seja por meio de palestras como as realizadas ou com a utilização de cartilhas ou novos métodos para inserir o tema nas aulas, poderíamos alcançar resultados satisfatórios, o que ajudaria na preservação e conservação, contribuindo para um meio ambiente preservado e equilibrado.

 

 

Agradecimentos

Ao Professor M.e Heslley Machado Silva pela importante orientação no decorrer desse Projeto.

A Professora M.e e Coordenadora do Curso de Ciências Biológicas da Universidade de Itaúna Andrea Dornas por ter nos cedidos os animais fixados no formol.

A direção e aos funcionários da Escola Estadual “Antônio Gonçalves de Matos” por deixarmos realizar o trabalho na escola.

A Motoparts e a MGR cursos pelo contribuição financeiro para confeccionar as cartilhas.

 

Bibliografia

 

BERNARDES, P. S. Composição faunística, ecologia e história natural de serpentes em uma região no sudoeste da Amazônia, Rondônia, Brasil. 2004 134 f. – Tese (Doutorado em Ciencias Biologicas) - Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”. 2004.

BOCHNER, R. & STRUCHINER, C. J. Acidentes por animais peçonhentos: aspectos históricos, epidemiológicos, ambientais e sócioeconômicos. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19 n.1:7-16, jan-fev, 2003

BRASIL. Ministério da Saúde. Portal da Saúde (Org.). Acidentes por animais peçonhentos. Disponível em: . Acesso em: 14 set. 2012

EFFTING, T. R. Educação ambiental nas escolas públicas: realidade e desafios. 2007. 78 f. Monografia (Especialização) - Curso de “planejamento Para O Desenvolvimento Sustentável, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, Marechal Cândido Rondon, 2007.

FREITAS, G. C. C. et al. Acidentes por aranhas, insetos e centopéias registrados no centro de assitência toxicológica de pernanbuco (1993 A 2003). Revista de patologia tropical, v.35 n.2: p. 148-156, maio-ago 2006.

FUNED - Fundação Ezequiel Dias. Animais peçonhentos. Belo Horizonte. 3ª edição. Outubro de 2009

MOURA, M. R.; COSTA, H. C.; SÃO-PEDRO, V. A.; Fernandes, V. D. e Feio, R. N. O relacionamento entre pessoas e serpentes no leste de Minas Gerais, sudeste do Brasil. Biota Neotropica. Out-Dez 2010 v.10 n.4 Disponível em Acessado dia 24 de Nov. de 2012

QUIRINO, A. M. S. ; SILVA,G.L. ; SANTOS,E.M. . Educação Ambiental como Medida Preventiva e cuidados com Acidentes Ofídicos na Unidade Acadêmica de Serra Talhada/UFRPE. Giovanni Seabra. (Org.). Educação Ambiental para a sociedade sustentável e saúde global. 2ed.João Pessoa: Universitária, 2009, v. 1, p. 101-105. Disponível em: <http://www.eventosufrpe.com.br/jepex2009/cd/resumos/R0710-1.pdf> acessado dia 13 de Nov. de 2012

SANDRIN, M. D. F. N.; PUORTO, G.; NARDI, R. Serpentes e acidentes ofídicos: um estudo sobre erros conceituais em livros didáticos. Investigações em Ensino de Ciências, v. 10 n. 3, p. 281-298, 2005

CBC. Conteúdo Básico Comum - Secretaria de estado de educação de minas gerais. – Ciências (2005). Educação Básica - Ensino Fundamental (5a a 8a séries). Disponível em: Acessado dia 13 de Novembro de 2012.

TORRES, D. F. et al. Etnobotânica e Etnozoologia em unidades de conservação: uso da biodiversidade na APA de Genipabu, Rio Grande do Norte, Brasil. interciência, v. 34 n. 9 p. 623-629, 2009

Ilustrações: Silvana Santos