Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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07/12/2014 (Nº 50) BIVALVES ORIUNDOS DE ECOSSISTEMAS LOCAIS COMERCIALIZADOS NO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO, BRASIL
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Nova Ocorrência de Nematanthus fissus (Vell

 

BIVALVES ORIUNDOS DE ECOSSISTEMAS LOCAIS COMERCIALIZADOS NO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO, BRASIL

 

 

Andreza Ximenes de Araújo, José Antônio Bezerra de Oliveira

 

RESUMO: Na região costeira de Pernambuco, muitas famílias vivem da coleta de mariscos, tanto para consumo próprio como para venda. Além disto, uma quantidade significativa de artesanato é produzida a partir da concha dos bivalves. O presente trabalho objetivou um levantamento das espécies bivalves oriundas da Praia do Ramalho e do manguezal localizados em Igarassu, Litoral Norte de Pernambuco, que são comercializados na mesma cidade. Foi realizada entrevista de duas questões aos comerciantes  para levantamento prévio das espécies e a área de ocorrência dos mesmos. Para identificação taxonômica, utilizou-se como referência Rios (1994) e Tenório et al. (2001), além da realização de testes comparativos com bivalves já identificados do Laboratório de Zoologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco.  Ao todo foram encontradas doze espécies. Os bivalves oriundos dos ecossistemas relacionados ao Litoral de Igarassu, PE têm um importante papel na vida dos marisqueiros e feirantes. O conhecimento da Biologia das espécies identificadas será importante para a conservação e manejo desses moluscos.

 

Palavras-chave: Bivalvia, Comercialização, Mariscos, Zooartesanato

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

A classe Bivalvia compreende moluscos de corpo achatado lateralmente que possuem concha calcária formada por duas valvas que protegem a massa visceral. São essas valvas as principais estruturas observadas para identificação dos bivalves1.

 Dentre os ecossistemas, o manguezal tem grande importância na economia de subsistência de várias comunidades litorâneas. Desde tempos remotos, a abundância de alimentos existente nas florestas de mangue já atraía grupamentos humanos que viviam próximos ao litoral2. Na região costeira de Pernambuco, muitas famílias vivem da coleta de mariscos, tanto para consumo próprio como para venda a restaurantes, feiras livres e praias3.

Para muitas comunidades ribeirinhas que vivem próximas aos manguezais, os moluscos representam um dos grupos de maior importância econômica. A coleta desses animais pode constituir-se na principal fonte de renda das famílias envolvidas, ou complementar a renda oriunda de atividades assalariadas. A catação desses moluscos é bastante rudimentar, sendo efetuada com as mãos nuas ou com a utilização de ferramentas adaptadas e geralmente estende-se pelo ano todo4,5.

Em toda região costeira de Pernambuco, uma quantidade significativa de artesanato é produzida a partir da macrofauna marinha3. Além de serem utilizados na alimentação e para o artesanato, os moluscos, em especial os bivalves, representam bons indicadores ambientais. Eles são amplamente utilizados como animais testes para estudos toxicológicos, pois são animais filtradores. Ao realizarem a filtração da água, entram em contato também com substâncias que estão presentes no meio, sendo algumas destas substâncias prejudiciais aos indivíduos e, consequentemente, à cadeia trófica6.

Muitas famílias estão sendo cada vez mais afetadas com as problemáticas ambientais que ameaçam e degradam o recurso/marisco, por uma gestão deficiente, por tecnologias inapropriadas, pela aquicultura intensiva, e por políticas de pesca que não respeitam a equidade de gênero7.

Os bivalves da Praia do ramalho têm grande importância na economia local, sendo assim necessária a sua conservação para o uso sustentável deste recurso. Para isto, é de suma importância conhecê-los sua riqueza, podendo-se assim monitorar sua exploração de maneira sustentável2.

Sendo assim, o presente trabalho objetivou um levantamento das espécies bivalves oriundas da Praia do Ramalho e do manguezal localizados em Igarassu, Litoral Norte de Pernambuco, que são comercializados na mesma cidade, desde a massa visceral para alimentação até conchas utilizadas no zooartesanato local.

 

2. MATERIAL E MÉTODOS

 

2.1.       Área de Estudo

A Cidade de Igarassu (Latitude: -7.83437, Longitude: -34.9064. 7° 50′ 4″ Sul, 34° 54′ 23″ Oeste)  faz parte da Região Metropolitana do Recife (RMR), tem uma área de 306 km² e conta com uma população estimada de 102.021 habitantes8. A Praia de Mangue Seco, litoral da cidade, possui uma extensão de aproximadamente mil metros e morfologia plana a suavemente ondulada. Suas águas são pouco profundas com pequenas ondas e grande intensidade de maré, com recuo superior aos mil metros na baixa-mar. As areias são claras com granulometria média, sendo a vegetação dominada por coqueiros e espécies rasteiras9.

 

2.2.       Entrevista e coleta de conchas com comerciantes de bivalves

Foi realizada uma entrevista de duas questões aos comerciantes tanto de zooartesanato como de massa visceral para alimentação da feira livre de Igarassu-PE. Foi questionado o nome popular dos bivalves comercializados e a área de ocorrência dos mesmos. Também foram coletadas conchas em questão in locus, de maneira aleatória, para identificação.

 

2.3.       Classificação dos bivalves

Para identificação taxonômica, utilizou-se como referência Rios (1994)10 e Tenório et al. (2001)11, além da realização de testes comparativos com bivalves já identificados do Laboratório de Zoologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

 

3.    RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Ao todo foram encontradas doze espécies de bivalves (Quadro 1). Os integrantes da classe Bivalvia encontrados na feira livre de Igarassu sendo comercializados para alimentação foram Iphigenia brasiliensis (Lamarck, 1818); Tivela mactroides (Born, 1778); Americardia media (Linnaeus, 1758); Trachycardium muricatum (Linnaeus, 1758); Lucina pectinata Gmelin, 1791; Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791); Mytella guyanensis (Lamarck, 1819); Crassostrea rhizophorae (Guilding, 1828) e Tagelus plebeius (Lightfoot, 1786). As quatro últimas espécies tiveram maior ocorrência que as demais, corroborando com Nishida e colaboradores12, que descreveram moluscos comercializados provenientes da costa litorânea da Paraíba, estado que limita-se ao Norte de Pernambuco, e observaram igual ocorrência.

O “marisco pedra” – A. brasiliana – foi o bivalve mais encontrado e preferido entre os comerciantes para venda como alimento, ao contrário de Souza e colaboradores14 que identificaram a espécie M. guyanensis – “sururu” – como preferência unânime entre os catadores da bacia do Pina, Recife-PE. Tal diferença deve-se, provavelmente, às características do ecossistema Praia do Ramalho, que oferece ótimas condições para o desenvolvimento da A. brasiliana, contribuindo assim para maior ocorrência e, consequentemente, preferência desta no comércio, apesar do preço ser mais baixo que o do “sururu”.

A ostra – Crassostrea rhizophorae – é comercializada crua com condimentos e a “unha de velho” – Tagelus plebeius – apresenta o maior preço de comercialização entre os bivalves pré-cozidos.

Sobre as conchas utilizadas em zooartesanato vendido no comércio livre e exportadas para o mercado de São José, Recife-PE, segundo comerciantes, além das espécies já descritas, foram encontradas também conchas das espécies Tellina radiata Linnaeus, 1758, Lucina blanda (Dall & Simpson, 1901) e Codakia orbicularis (Linnaeus, 1758). A maioria das conchas de bivalves identificadas estão presentes na lista de espécies sobre composição do zooartesanato comercializado na cidade do Recife, de Alves e colaboradores3, sendo a C. orbicularis uma espécie nova a ser inserida como outra contribuinte para com o zooartesanato oriundo da Região Metropolitana do Recife.

Os bivalves procedentes dos ecossistemas relacionados ao Litoral de Igarassu, PE têm um importante papel na vida dos marisqueiros e feirantes. O conhecimento da Biologia das espécies identificadas será importante para a conservação e manejo desses moluscos. Nesta direção, faz-se necessário pesquisas mais morosas para se apurar maiores informações acerca dos bivalves utilizados no comércio não só de Igarassu, mas também de cidades circunvizinhas cujos munícipes também encontram neste grupo animal uma fonte de renda.

 

4.    AGRADECIMENTOS

 

A CAPES, pelo auxílio financeiro.

 

5.    REFERÊNCIAS

 

1. OLIVEIRA, J. A. B., MARQUES, H. S., ALVES, A. V. 2009. Malacofauna Bivalvia da Praia do Ramalho In: III Mostra Mercosul De Ciência e Tecnologia, 5, Universidade de São Paulo. Março de 2009.

2. ALVES, R. R. N., NISHIDA, A. K.  Interciencia, 27, 110. 2002.

3. ALVES, M. S., SILVA, M. A., MELO-JUNIOR, M., PARANAGUÁ, M. N., PINTO, S. L. Revista Brasileira de Zoociências, 8, 99. 2006.

4. NISHIDA, A.K. Catadores de moluscos do litoral Paraibano. Estratégias de subsistência e formas de percepção da natureza. Tese (Doutorado em Ecologia) –  Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2000.

5. NISHIDA, A. K. Revista de Biologia e Ciências da Terra, 8, 181. 2008.

6. DAVID, J. A. O. Estudo de Mytella falcata (Mollusca, Bivalvia) como indicadora de efeitos genotóxicos e citotóxicos no estuário de Santos, SP. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) – Instituto de Biociências de Rio Claro.  Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2007.

7. SILVA, E. L. P. A MULHER & LAMA UMA IMBRICAÇÃO CONTEMPORÂNEA: PERSPECTIVA DE GÊNERO E TRABALHO NO ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA, BRASIL. 2009. Disponível em: < http://itaporanga.net/genero/gt5/13.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2013.

8. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Cidades. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=260680&search=pernambuco|igarassu#historico>. Acesso em: ago. 2013.

9. PORTAL IGARASSU TEM. Disponível em < http://www.igarassutem.com/ct/16/pontos-turisticos>. Acesso em: ago. 2013.

10. RIOS, E. C. Seashells of Brazil. 2ª ed. Rio Grande: FURG. 1994.

11. TENORIO, D. O., LUZ, B. R. A., MELO, W. R. Moluscos marinhos do estado de Pernambuco. In: Diagnóstico da biodiversidade de Pernambuco. SECTMA, 1,  p 65. 2001.

12. NISHIDA, A. K., NORDI, N., ALVES, R. R. N. Tropical Oceanography. 32, 53. 2004.

13. SOUZA, A. C. F. F.; VIEIRA, D. M.; TEXEIRA, S. F. 2007. Conhecimento tradicional dos pescadores de molusco da bacia do Pina, Recife-PE In: VIII CONGRESSO DE ,ECOLOGIA DO BRASIL. Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil. Caxambu: SEB. 2007.

 

 

Quadro 1: Sinopse dos bivalves encontrados e identificados no comércio de Igarassu, proveniente de ecossistemas locais.

 

 

Ilustrações: Silvana Santos