Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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07/12/2014 (Nº 50) AVALIAÇÃO DA ALFACE EM CONSÓRCIO COM A BETERRABA EM PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA NO AGRESTE MERIDIONAL DE PERNAMBUCO
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AVALIAÇÃO DA ALFACE EM CONSÓRCIO COM A BETERRABA EM PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA NO AGRESTE MERIDIONAL DE PERNAMBUCO

 

Luan Danilo Ferreira de Andrade Melo1

Eng. Agrônomo. Mestre em Produção Agrícola. Dpto. Agronomia-Tecnologia e Produção de Sementes, UFRPE. E-mail: luan.danilo@yahoo.com.br

 

João Luciano de Andrade Melo Junior2

Eng. Agrônomo. Mestrando em Produção Agrícola. Dpto. Agronomia-Área Entomologia, UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: luciiano.andrade@yahoo.com.br

 

José Jairo Florentino Cordeiro Junior3

Eng. Agrônomo. Mestre em Produção Agrícola. Dpto. Agronomia, UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: jairofcordeiro@hotmail.com

 

Raíssa Cardoso Tenório4

Graduanda em Medicina Veterinária.

UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: raissa_t91@hotmail.com

 

Larice Bruna Ferreira Soares5

Graduanda em Medicina Veterinária. Bolsista de PIBIC/FACEPE

UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: brunaa_soares@hotmail.com

 

RESUMO

 

            Agroecologia é a ciência que estabelece as bases para construção de estilos de agricultura sustentáveis. O consórcio costuma destacar-se como uma alternativa interessante para pequenos produtores com limitações estruturais e financeiras, pois é um sistema de cultivo eficaz praticado há muito tempo e encontrado em todas as partes do mundo, com uma maior diversidade nos trópicos. O experimento foi conduzido entre os meses de agosto a novembro de 2012 nas dependências da Universidade Federal Rural de Pernambuco - no município de Garanhuns-PE/Brasil. Teve como objetivo observar como a alface se comportaria em consórcio com a beterraba em um sistema agroecológico de produção. Os parâmetros avaliados no experimento foram altura e peso total das plantas, peso e número de folhas. Os dados obtidos foram submetidos ao teste estatístico de comparação de médias (canteiros consorciados e não consorciados), utilizando o teste T de Student a um nível de 5% de significância. Com base no teste estatístico comparativo entre médias, T de Student, observou-se que o consórcio entre alface e beterraba apresentou diferença significativa para grande parte das variáveis estudadas, influenciando postivamente no seu crescimento.

 

 PALAVRAS-CHAVE: Biodiversidade; Agroecologia; Sistemas agrícolas.

 

INTRODUÇÃO

 

A alface (Lactuca sativa L.) é uma planta herbácea originária da Ásia, preferida para as saladas devido ao seu sabor agradável e refrescante e facilidade de preparo, pertence à família Asteracea (FILGUEIRA, 2003).

A Beterraba é uma Hortaliça anual herbácea, pertence à família Chenopodiaceae é rica em ferro, cálcio, sódio, potássio e vitaminas A, B e C. condutores de alimentos alternados com faixas de tecidos contendo alimento armazenado (CAMARGO, 1984).

            Agroecologia é a ciência que estabelece as bases para construção de estilos de agricultura sustentáveis (CAPORAL, 2004). Apresenta-se como uma matriz disciplinar integradora, de maneira que se pode compreender e aplicar os conhecimentos de várias disciplinas científicas. De modo geral, a Agroecologia não se preocupa só com o manejo ecologicamente responsável dos recursos naturais, mas também com a integração social e ecológica e suas múltiplas inter-relações e mútua influências (CAPORAL, 2006).

            O consórcio costuma destacar-se como uma alternativa interessante para pequenos produtores com limitações estruturais e financeiras, pois é um sistema de cultivo eficaz praticado há muito tempo e encontrado em todas as partes do mundo, com uma maior diversidade nos trópicos (FRANCIS, 1978). Esse sistema não está associado com o uso de alta tecnologia, nem com a obtenção de altas produtividades (VIEIRA, 1989).

            No entanto para muitos pesquisadores, é uma prática primitiva que deveria ser substituída pelo monocultivo, como consequência natural do desenvolvimento da agricultura moderna, conhecida como agricultura convencional. O sistema de cultivo consorciado tem sido apontado como fator fundamental na manutenção de pequenas propriedades agrícolas, sendo considerado componente de sistemas agrícolas mais sustentáveis (BALASUBRAMANIAN e SEKAYANGE, 1990).

            O trabalho realizado teve como objetivo observar como a alface se comportaria em consórcio com a beterraba em um sistema agroecológico de produção.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

O experimento foi conduzido entre os meses de agosto a novembro de 2012 nas dependências da Universidade Federal Rural de Pernambuco - no município de Garanhuns-PE/Brasil, compreendido nas coordenadas 08º53’25’’S e 36º29’34’’W, a 900 metros de altitude média e que apresenta temperatura média anual de 20,4ºC.

A área encontrava-se, previamente, com uma cobertura vegetal, a qual foi incorporada ao solo durante seu preparo. Realizou-se a preparação de cinco canteiros, com utilização de enxadas e trena para seu dimensionamento, deixando-os com 4m de comprimento por 1m de largura e 20 cm de altura. A preparação incluiu ainda adubação de fundação com esterco e revolvimento do solo com auxílio de enxadas. Não foi utilizado nenhum tipo de insumo químico no experimento.

As unidades experimentais (consórcio e controle) foram distribuídas nos cinco canteiros, de acordo com o seguinte esquema: canteiros I, II e III – Cultivo de alface consorciada com beterraba; canteiros IV e V – Cultivo de alface solteira, controle do experimento. 

A semeadura da Alface (Lactuca sativa L.) cultivar Crespa Cinderela ocorreu de maneira indireta, realizado em uma casa de vegetação, semeadas em bandejas com 200 células, preenchendo-as com o substrato Hortomix®, tomando cuidado para não compactá-las. Colocou-se três sementes em cada célula, a uma profundidade de 1 cm. Foram acondicionadas por um período de 21 dias (do dia 02 de setembro ao dia 23 do mesmo mês). O desbaste foi realizado ainda na casa de vegetação, no dia 16 de setembro, com intuito de selecionar as plantas mais vigorosas.

O plantio da beterraba (Beta vulgaris L.) ocorreu no dia 04 de setembro de 2012, dois dias após a semeadura da alface, diretamente nos canteiros, a no máximo 1 cm de profundidade. De modo que se plantou de forma alternada, a alface e a beterraba. A disposição das plantas no canteiro se deu com bordaduras inferiores e superiores de 5 cm e 10 cm das bordas laterais, com um espaçamento de 30 cm entre linhas e 25 cm entre colunas.

O transplantio da alface foi realizado após apresentar 3 a 4 folhas (dia 23 de Setembro de 2012), possuindo as mesmas condições de espaçamento nos canteiros consorciados e não consorciados.

            Os canteiros foram submetidos a manutenções periódicas, envolvendo capinas manuais, reparo das bordas devido a erosão causada pela irrigação, adubação de cobertura com esterco, catação manual de pragas que atacaram ambas as culturas (Diabrotica speciosa (vaquinha) e Elasmopalpus lignosellus (lagarta-elasmo)) e cobriu-se as beterrabas que estavam expostas a superfície com o solo, evitando a exposição das mesmas ao sol.

O manejo de irrigação foi feito manualmente, duas vezes ao dia utilizando regadores. Durante o decorrer do experimento, cada canteiro recebeu o volume de água correspondente a dois regadores (aproximadamente 10 litros cada) duas vezes ao dia. Já na casa de vegetação, cada bandeja recebeu uma quantidade de água necessária até atingir o ponto de drenagem do substrato.

            Ao término do experimento descartou-se um dos três canteiros consorciados (canteiro III), para igualar o número de amostras entre os canteiros consorciados e não consorciados. Foram retiradas oito amostras de alface de cada canteiro, descartando as das bordas, pois eram as mais expostas às intempéries do meio. Não se avaliou o desempenho da beterraba, pois não havia um controle (canteiro com beterraba solteira) para comparações.

A colheita da alface e da beterraba foi realizada 58 dias após a semeadura da alface, tendo seu escoamento direcionado para a comunidade local (Unidade Acadêmica de Garanhuns).

Os parâmetros avaliados no experimento foram altura e peso total das plantas, peso fresco das folhas e número de folhas. Os dados obtidos foram submetidos ao teste estatístico de comparação entre médias T de Student (canteiros consorciados e não consorciados), a um nível de significância de 5%.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Com base nos parâmetros avaliados, na Tabela 1 pode-se observar a comparação entre médias das variáveis em questão. Nesta verifica-se pelo que para variável altura da planta (AP) não houve diferença significativa entre os canteiros C1 e C4 e entre C1 e C5, entretanto houve diferença significativa entre os canteiros C2 e C4 e entre C2 e C5. Isso indica que o consorciamento entre as culturas da alface e da beterraba não acarreta competição dos fatores do solo que influenciam a produção da cultura. Neste caso, pode-se inferir que o menor desenvolvimento da na altura da planta de alface em consórcio com a beterraba, pode ter ocorrido em função da competição por fatores tal como luminosidade. Segundo Resende e Laranjeira (2010) o consórcio é muito importante, pois proporciona melhorias no manejo do solo e na rentabilidade da área.

Em relação ao peso total das plantas (PTP) nota-se que não houve diferença significativa entre os canteiros C1 e C4, porém para as demais comparações observa-se diferença. Para a variável peso das folhas (PF) observa-se diferença significativa para as comparações entre C1 e C5, C2 e C4, e C2 e C5, somente a comparação entre C1 e C4 não apresentou diferença significativa.  A variável número de folhas (NF) demonstrou diferenças significativas apenas para a comparação C1 e C5, sendo insignificante nas outras comparações. Nos arranjos estudados, a consorciação dessas culturas, demonstrou eficiência superior na utilização da terra, em comparação com os respectivos monocultivo, nas situações citadas anteriormente. A cultura da alface evidenciou possibilidades de participar, como cultura principal no consórcio com a beterraba, quando se torna mais economicamente viável.

 

 

 

Tabela 1. Análise das variáveis altura da planta (AP), peso total da planta (PTP), peso das folhas (PF) e número de folhas (NF) submetidos aos dois tipos de tratamentos.

Comparação entre Canteiros

Valor do teste T de student

 

AP

PTP

PF

NF

C1 e C4

1.03 NS

1.73 NS

1.56 NS

1.58 NS

C1 e C5

0.41 NS

3.24*

4.28*

3.77*

C2 e C4

3.16*

5.37*

3.01*

0.13 NS

C2 e C5

2.19*

7.64*

8.11*

1.17 NS

C1 e C2 - canteiros consorciados; C4 e C5 - Canteiros não-consorciados; NS não significativo ao nível de 5% de probabilidade no teste T de student ; * - significativo a nível de 5% de probabilidade no teste T de student.

 

            Na Figura 1A o cultivo solteiro (monocultivo), nos canteiros 4 e 5, apresentaram um maior crescimento em relação a altura da planta, com médias respectivamente de 27,69 e 27,38 cm, em contraposição o canteiro 2 foi o que exibiu uma menor altura, com média de 25,63 cm.

 

Figura 1. Valores médios da altura (cm) das plantas da alface submetidos a tratamentos consorciados e não consorciados Fig. 1A. Valores médios do peso das folhas da alface submetidos a tratamentos consorciados e não consorciados Fig. 1B.

 

Na figura 1B e 2A, nota-se que o canteiro 5 (cultivo solteiro de alface) foi o que obteve maior rendimento no que diz respeito ao peso das folhas e ao peso total das plantas, com médias respectivas de 0,25 e 0,41 kg. O canteiro 2 (consorciado) foi o que obteve um menor peso das folhas e um menor peso total das plantas, com médias respectivas de 0,16 e 0,26 kg.

Na Figura 2B, observa-se que para o número das folhas, os valores das médias entre os canteiros foram mais uniformes que os observados para as outras variáveis. As maiores diferenças foram entre os canteiros 1 e 5, apresentando médias 18 e 22 folhas, respectivamente. Os canteiros que exibiam uma maior biodiversidade (1 e 2) obtiveram os menores rendimentos para os parâmetros avaliados. Os dados encontrados nas Figuras 1 e 2 contradizem Caporal (2006) que demonstra que uma maior biodiversidade aumenta consideravelmente a quantidade de inimigos naturais de pragas, ocorrendo assim um controle biológico.

 

Figura 2. Valores médios do peso total das plantas da alface submetidos a tratamentos consorciados e não consorciados Fig. 2A. Valores médios do número de folhas da alface submetidos a tratamentos consorciados e não consorciados Fig. 2B.

 

CONCLUSÃO

 

Com base no teste estatístico comparativo entre médias, T de Student, constatou-se que o consórcio entre alface e beterraba apresentou diferença significativa para grande parte das variáveis estudadas, influenciando positivamente no seu crescimento.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BALASUBRAMANIAN, V.; SEKAYANGE, L. Area harvests equivalency ratio for measuring efficiency in multiseason intercropping. Agronomy Journal, Madison, v.85, p.519-522, 1990.

 

CAMARGO, L. S. Hortaliças e seu cultivo. 2. ed. Campinas, Cargill, 1984, 448p.

 

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília : MDA/SAF/DATER-IICA, 2004.

 

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A.; PAULUS, G. Agroecologia: matriz disciplinar ou novo paradigma para o desenvolvimento rural sustentável. 6p. Brasília-2006.

 

FILGUEIRA, F. A. R. Novo Manual de Olericultura: Agrotecnologia moderna na produção de hortaliças. 2. ed. rev. e ampl. Viçosa: UFV, 2003. 412 p.

 

FRANCIS, C.A. Multiple cropping potentials of beans and maize. HortScience, Alexandria, v.13, n.1, p.12-17, 1978.

 

RESENDE, J.V.; LARANJEIRA, M. Consórcio milho safrinha-planta forrageira pode viabilizar integração lavoura-pecuária em SP. Secretaria de Agricultura e Abastecimento – Assessoria de Comunicação da APTA, São Paulo, 24 mar. 2010. Disponível em: http://www.apta.sp.gov.br/noticias.php?id=3578 Acesso em: 20 de agosto de 2012.

 

VIEIRA, C. O feijão em cultivos consorciados. Viçosa: UFV, 1989. 134p.

 

Ilustrações: Silvana Santos